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Justiça para Heloísa Gabrielle | Reviver os quilombos de Ipojuca contra a burguesia escravocrata de Porto de Galinhas

Porto de Galinhas, um dos principais pontos turísticos do Brasil, está sob estado de sítio a mando do governador Paulo Câmara (PSB), após moradores da comunidades de Salinas protestarem contra o assassinato de Heloísa Gabrielle pelas mãos da polícia.

sábado 2 de abril de 2022 | Edição do dia

Heloísa Gabrielle estava brincando no terraço quando o BOPE (Batalhão de Operações Especiais) chegou atirando na comunidade, afirmam testemunhas. Um tiro lhe acertou no peito. A menina de apenas 6 anos não resistiu e faleceu. Aconteceu na comunidade Salinas, que fica em Porto de Galinhas (PE), um dos principais cartões postais internacionais brasileiros, um centro turístico recheado de resorts e entretenimento de luxo.

Não é a primeira vez que moradores da comunidade denunciam operações policiais contra seus habitantes, levando a mortes de entes queridos. A comunidade de Salinas, acostumada a viver nas periferias escondidas e esquecidas no fundo de Porto, nos bastidores do luxo, longe das lindas paisagens privatizadas pelo turismo, se rebelou contra o assassinato (que outra palavra dar a essa atrocidade?) da pequena Heloísa.

As primeiras manifestações aconteceram de imediato, queimando pneus, cortando rodovias que dão acesso ao centro comercial. Na linha de frente da manifestação, um carrinho de bebê rosa vazio, a ausência irremediável e irreversível que atingirá todos os familiares e amigos da pequena.

Mas a revolta dos moradores não acabou por aí. No dia seguinte as manifestações tomaram o calçadão do principal centro comercial turístico. Normalmente tomado pelos turistas magnatas de todas as partes do mundo, agora se ouvia apenas o grito de revolta e justiça por Heloísa Gabrielle, concentrados em frente ao batalhão do BOPE. Mais protestos voltaram a acontecer durante a noite. No dia seguinte o enterro de Heloísa é acompanhado por centenas de pessoas da comunidade.

A resposta de Paulo Câmara, Governador de Pernambuco do PSB, é a repressão extrema. Uma tropa de 250 policiais foi enviada para o Porto de Galinhas. Patrulhas ostensivas tomaram a cidade, dia e noite, com armas a tiracolo. Helicópteros militares sobrevoando os céus da orla. Rajadas de tiros se ouviam durante horas ininterruptamente. Porto de Galinhas está em estado de sítio, tomada por tropas dos mesmos assassinos que tiraram a vida de Heloísa e oprimem diariamente a população. Notícias revelam que chegou-se a cogitar um pedido de intervenção federal, tal qual aconteceu nos morros do Rio de Janeiro.

Leia mais: Criança de 6 anos é assassinada pelo BOPE de Pernambuco em operação na comunidade Salinas em Ipojuca

Por sua vez, a patronal dos comerciantes e do turismo de Porto, dirigindo os principais monopólios da mídia e meios de comunicação, começam uma campanha de medo e terror. Paralisam todas as atividades econômicas da região. Acusam aqueles que exigem justiça para Heloísa de serem “traficantes”. Transformam o crime das “instituições de segurança” do estado em um problema de “falta de segurança”, exigindo maior presença dessas mesmas instituições.

O monopólio regional da JC-PE (Jornal do Comércio de Pernambuco), detentora de um punhado de centros comerciais no estado, toma a frente da campanha reacionária. Em seu site, na coluna de “Negócios”, o título “Se o Governo de Pernambuco não livrar Porto de Galinhas de facções, destino turístico internacional já era” revela a verdadeira preocupação da burguesia pernambucana. Dinheiro. Enormes volumes de dinheiro que entram nos bolsos dos milionários donos de resorts de luxo de Porto de Galinhas. Os donos da orla, quem realmente manda na cidade e mexe as cordinhas de fantoche dos políticos e das oligarquias locais, como o próprio Paulo Câmara, o PSB e a família dos Arraes/Campos.

Estes burgueses que se enriquecem através da super exploração da mão de obra negra e de descendência indígena, da pobreza dos moradores marginalizados de Ipojuca, que trabalham nas barracas de praia, nas lojas de artesanato e souvenir ou como ambulantes e vendedores autônomos. Que lucram através das mãos e braços do trabalho precário, onde não regem direitos trabalhistas. São os herdeiros da elite pernambucana escravocrata e traficante de negros escravizados, que comercializavam escravos no Brasil, mesmo após a ilegalidade do tráfico negreiro.

Os escravos chegavam na região que hoje é Ipojuca escondidos, “moqueados” em baixo de galinhas de angola. “Tem galinha nova no porto!” gritavam os traficantes escravocratas, assim batizando o paraíso turístico de “Porto de Galinhas”. Assim escondiam da vista grossa das autoridades inglesas o tráfico de escravos que seguiu existindo mesmo depois da lei que o proibia. Estes, os herdeiros dos verdadeiros traficantes, de pessoas negras escravizadas, não se importam nenhum pouco com a morte de “Heloisas Gabrelles”. O sofrimento e a revolta de seus familiares são um estorvo, prejudicam seus negócios, interrompem o fluxo do dinheiro, estancam seus lucros, atacam seus bolsos, incitam a subversão, são um perigo para seu domínio. Exatamente da mesma forma que as revoltas escravas negras e a resistência dos quilombos eram para estes mesmos senhores na época imperial. Um perigo a ser contido, reprimido, controlado e empurrado para a periferia dos centros urbanos.

Não havia nada de se esperar como resposta destes senhores escravocratas, frente ao assassinato de Heloísa, além de “precisamos de mais assassinos da população pobre e negra presentes em porto de galinhas, mais capitães do mato fardados”. Assim como também não é de se espantar que Paulo Câmara tenha atendido com urgência o pedido de seus patrocinadores, enviando tropas e prometendo um novo posto avançado da polícia.

A burguesia escravocrata brasileira proíbe o comércio de drogas, coloca o uso de alguns entorpecentes na ilegalidade, criam a guerra contra as drogas, mas são os verdadeiros fundadores deste tráfico também. Lucram nas fronteiras, lucram com seus negócios internacionais do crime organizado. Seus agentes comerciais são as milícias, o tráfico e suas facções, os próprios policiais, a máquina de repressão assassina da população negra que tirou a vida da menina Heloísa. Não nos enganemos. O consumo de drogas ilícitas faz parte do entretenimento para os turistas de Porto de Galinhas, e quem está por trás disso é o estado e sua polícia. A ilegalidade hipócrita das drogas é apenas um meio para inflacionar seu preço no varejo. As armas fazem parte dos negócios, é por onde se disputa o monopólio desse mercado.

Estes senhores escravocratas não temem o tráfico, seus parceiros de negócios. Mas temem a revolta da senzala. O terror que jogam sobre os habitantes de Salinas e de Ipojuca é o reflexo do medo dos de cima, herdado de seus ascendentes, das revoltas negras na época do Brasil colonial. É o medo da Revolução Haitiana no Brasil. É o medo de que os quilombos de Ipojuca, da Ilha das Mercês e do território de Suape, que se enfrentaram contra os senhores no século XIX, despertem novamente, e a fúria da comunidade de Salinas se espalhe para o Porto de Suape, entre os trabalhadores de Cabo de Santo Agostinho, atravesse a Região Metropolitana de Recife, erguendo as enormes favelas de Jaboatão, Camaragibe e Olinda, e alcance os milhares de operários da Stellantis em Goiana e os trabalhadores rurais do interior do estado.

Esse é o grande medo dos herdeiros da Casa Grande em Pernambuco, a fúria negra dos quilombos e das centenas de milhares de trabalhadores que vivem nas periferias de Ipojuca, onde reside o complexo industrial de Suape, o maior estaleiro do hemisfério sul e a gigantesca refinaria de Abreu e Lima, concentrando o terceiro maior PIB do estado de Pernambuco e o quarto maior PIB industrial.

A penúria dos trabalhadores e do povo negro não encontra seus limites na fome, nem no desemprego, nem no trabalho precário, na alta dos alimentos e do gás de cozinha, na ausência de uma moradia, e tão pouco irá terminar nas mães que perdem suas filhas e filhos para as armas assassinas da polícia, tão pouco irá terminar após a morte de Heloísa Gabrielle. A burguesia lança sua ganância decadente sobre todo o mundo, e não há desgraça que não seja capaz de alimentar para proteger seu reinado enquanto classe dominante.

Mas enquanto escrevemos esta coluna, mais um protesto foi registrado em Porto de Galinhas. Que esta revolta seja mais uma fagulha para incendiar a senzala moderna do capitalismo. Toda solidariedade aos familiares da pequena Heloísa. Basta de repressão policial contra população de Ipojuca e Salinas! O estado de Pernambuco e o governo de Paulo Câmara são responsáveis. Pelo fim das operações policiais e pela extinção de todas as polícias. Justiça para Heloísa Gabrielle!




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