Lourival Aguiar MahinSão Paulo
terça-feira 25 de agosto de 2015 | 00:00
Após ficarem reunidos durante todo o final de semana participando do I Encontro de Formação Pan-Africanista, militantes negros de vários estados do país, e de várias cidades da Bahia se reuniram para realizar a III Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro, que contou com o apoio de várias entidades nacionais e internacionais, de países como Colômbia, Guiné-Bissau, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, entre outros.
A Marcha, organizada pelo grupo "Reaja ou será morto, Reaja ou será morta, criada em 2005 em Salvador com o objetivo de pautar a discussão do genocídio dos jovens negros realizada pela polícia, teve como objetivo lembrar as mortes desses jovens e pedir justiça contra seus executores
O trajeto da marcha se iniciou com uma caminhada em fila, que utilizou dos métodos de organização do Partido dos Panteras Negras, saindo da UNEB (Universidade Estadual da Bahia) sentido a Vila Moisés, local da segunda maior chacina do ano, a Chacina do Cabula, no qual 13 jovens foram mortos pela polícia militar baiana, além de 5 feridos, no qual a polícia alegou ser um confronto, porém com os jovens não foram encontradas armas, além de vários tiros terem sido desferidos pelas suas costas e em angulo de execução, com eles ajoelhados, e além dos ferimentos de bala, também terem sido identificadas marcas de agressões como coronhadas, dentes arrancados e membros quebrados.
No local, um campinho de terra batida e irregular aonde os jovens foram encontrados, o grupo construiu um pequeno memorial e instalado uma placa de Mármore relembrando os mortos do Cabula, para que este lugar seja eternamente lembrado como palco de uma das mais brutais chacinas já realizadas em Salvador. Estavam presentes mães e familiares de diversos dos mortos nesta chacina, além de familiares de jovens chacinados em outras cidades pelo país. Estas pessoas, em sua maioria mulheres negras, inauguraram o memorial. Em seguida o grupo se deslocou até a favela da engomadeira, onde fizeram reverência a comunidade do bairro do Cabula, que estava em luto pela morte de outros jovens na noite anterior, em Valeriano.
No mesmo dia no final da tarde, saindo do Largo dos Aflitos, em frente ao batalhão da RONDESP, a Marcha contra o genocídio, com cerca de 1200 pessoas, dentre elas centenas de familiares, crianças e idosos, sobreviventes e integrantes das comunidades vítimas do genocídio estiveram reunidos para mostrar sua indiginação contra as mortes de seus filhos, amigos, irmãos, netos e conjugês, vítimas do Estado racista da Bahia, que representado pelo Governador Rui Costa (PT) apaludiu a morte dos 13 jovens do Cabula, dizendo que os policiais do RONDESP fizeram como um artilheiro em frente ao gol, “É como um artilheiro em frente ao gol que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro do gol, pra fazer o gol”, comparando a situação de massacre desses jovens ao uma partida de futebol aonde os policiais são aqueles para quem a população deveria "torcer". “Depois que a jogada termina, se foi um golaço, todos os torcedores da arquibancada irão bater palmas e a cena vai ser repetida várias vezes na televisão. Se o gol for perdido, o artilheiro vai ser condenado, porque se tivesse chutado daquele jeito ou jogado daquele outro, a bola teria entrado”, continuou.
Falas emocionadas podiam ser ouvidas do carro de som, comandado pelas mulheres, aonde mães falavam da dor de terem perdidos seus filhos, e clamavam pelo fim da polícia militar, sobre os gritos de "Polícia Racista". Lágrimas se viam nos rostos de vários dos participantes, que sentiam nas palavras daquelas mulheres, que decidiram trocar o luto pela luta, toda a dor a que elas estavam submetidas. Foi um verdadeiro "fechar a cara", na luta contra o genocídio dos jovens negros. Nas imagens deste ato, podemos ver gravada a mensagem que se fez ecoar ontem nas noites de Salvador:
"CONTRA O GENOCÍDIO DO POVO NEGRO, NENHUM PASSO ATRÁS!!!"
Fotos: Alex Pegna Hercog
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