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Financiando o Bolsonarismo. | Semeando a extrema direita: O governo Lula-Alckmin e o agronegócio

Milhões de brasileiros votaram na chapa Lula-Alckmin esperando se livrar do bolsonarismo. No entanto, olhando a relação política e material com o agronegócio o PT está fazendo todo o contrário, está mais uma vez fortalecendo as bases materiais da reação.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quarta-feira 22 de março de 2023 | Edição do dia

Lula junto ao ministro Favero, ex-presidente da Aprosoja e o bolsonarista Irajá Lacerda que é o ministro adjunto da Agricultura

Depois de discursos eleitorais contra os “fascistas no agronegócio” o governo Lula e o PT estão fazendo todo o contrário que esperariam milhões. Estão fortalecendo material e politicamente o agronegócio e parte de seus representantes mais reacionários. Esse fortalecimento do agronegócio passa por discursos contra as “invasões” do MST por parte de líderes do PT do Mato Grosso do Sul, por manter notórios bolsonaristas e golpistas em postos chave em diversos ministérios, e fortalecimento material através do Plano Safra e de decisões políticas relativas aos biocombustíveis.

Mato Grosso do Sul, um dos pontos pulsantes do agronegócio brasileiro é palco de intensas luta entre agronegócio de um lado e povos indígenas e camponeses do outro lado. Nesse contexto, onde o agronegócio, acusa os indígenas de promoverem 150 “invasões” (em defesa de seus territórios – dizemos nós), o ex-governador do estado, Zeca do PT, discursou o seguinte na assembleia legislativa: “Não contem comigo essa gente que, sem nenhuma razão, ocupa e invade propriedades produtivas, gerando insegurança jurídica e correndo riscos de consequência que a gente não tem dimensão do que possa acontecer”.

Ou seja, a mais importante figura do PT no Estado pantaneiro não só criticou o movimento indígena e defendeu o agronegócio como publicamente deixou declarado que pode acontecer violência contra os indígenas (“correndo riscos de consequência”). O latifundiário em questão que ele defendeu é a José Raul das Neves Júnior, dirigente petista do município de Rio Brilhante (MS). Há inclusive denúncias de assédio contra os indígenas praticado por esse petista e policiais, como denunciou o Conselho Indigenista Missionário (CIM).

Essa relação carnal com o agronegócio, com direito a se tornar latifundiário e a defender violência contra os indígenas, não é nada discrepante com críticas que o governo Lula emitiu contra o MST por ocupar terreno da Suzano Celulose na Bahia. Naquela ocasião até mesmo o ministro de desenvolvimento agrário, o petista Paulo Teixeira exortou o MST a desocupar em entrevista à CNN Brasil. Também não é diferente de procurar estabelecer relação com o “campo” não através de se ligar aos indígenas e a estimular a organização do trabalhadores precários (e como se sabe escravizados através da “porta de entrada” da terceirização) mas através de procurar acordos com as cúpulas. Se nos governos de Lula e Dilma foi buscada relação com líderes da Aprosoja e CNA como Blairo Maggi e Kátia Abreu, no governo Lula-Alckmin o poderoso ministério da Agricultura foi entregue a Carlos Favero (PSD-MT) que tem como currículo nada menos que administrar a Aprosoja-MT. Essa entidade outrora presidida por Fávero foi conhecida por apoiar o locaute do caminhoneiros e por ter diversos membros patrocinando ações de golpistas no governo Bolsonaro.

Como braço direito Favero colocou Irajá Lacerda (PSD-MT), um defensor público de Bolsonaro nas eleições de outubro, como noticiou o Globo. A conciliação petista com o agronegócio se trata de uma escolha aberta: não se trata de desenvolver dois lados e conciliá-los a favor do lado mais poderoso (agronegócio), se trata de colocar todas as fichas na procura de um bilionário latifundiário progressista (Blaggi, Abreu, Tebet). A entrega de ministério para Simone Tebet repete o comportamento histórico do PT diante do agronegócio, a eterna procura do “latifundiário esclarecido”.

Como os modernos emprendimentos da Salton e outras vinícolas demonstram, o agronegócio brasileiro combina pesado investimento tecnológico, pesado uso de agrotóxicos, maquinaria, controle por satélites e trabalho escravo. Trata-se do desenvolvimento desigual e combinado reatualizando o latifúndio e trabalho precário (e mesmo análogo à escravidão) com o mais moderno e alguns dos maiores rendimentos por hectare no planeta.

A atuação do PT em relação ao agronegócio não passa somente por favorecer politicamente o agronegócio, mas por seu favorecimento material. O Plano Safra, um gigantesco financiamento público ao agronegócio, aumentou ano a ano nos governos do PT, e há analistas que defendem que passará de R$320 bilhões com Bolsonaro para cerca de R$400 bilhões sob Lula e Alckmin. Se se confirmar essas previsões será mais um salto qualitativo de fortalecimento da base material, dos lucros e poder daqueles que são a espinha dorsal da bancada do boi, e portanto, do reacionarismo.

Desses 400 bilhões para o novo orçamento público, se for seguido o generoso plano defendido pelo influente agronegócio paranaense que prevê quase duplicar o gasto com pequenos agricultores este ainda não chegaria a 10% do valor bilionário. Ou seja, duplicando-o, não chega a 10%, para os médios agricultores (com faturamento de alguns milhões) as patronais paranaenses também defendem um aumento, para que esses cheguem a 12% do orçamento. O restante, os 78% de muitas centenas de bilhões irão aos gigantes.

Para se aprofundar sugerimos o artigo “O PT plantou e Bolsonaro colheu: agronegócio e classes sociais no interior do país

O favorecimento do PT ao agronegócio e seus agentes políticos reacionários vai muito além de cargos ministeriais, passa por atacar ocupações e alcança um favorecimento material que fortalece o poder político do agronegócio. Com cada vez maiores lucros maiores as ambições políticas e o golpismo dos bilionários, latifundiários e escravocratas do agronegócio. Uma perspectiva dos trabalhadores, partindo da independência política dos trabalhadores frente ao governo Lula-Alckmin passa pelo exato oposto, denunciar a criminosa posição do PT-MS, expor que não há caminho de conciliação não só com o agronegócio bolsonarista mas também com as Kátia Abreu, Blairo Maggi, Simone Tebet, Carlos Favera. A força social para enfrentar o agronegócio não está em buscar bilionários politicamente aliados (momentaneamente) como faz o PT, mas em alentar a organização dos trabalhadores precários, do proletariado do campo e dos camponeses e povos originários.




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