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Chamado à mobilização | Todo apoio à luta do povo peruano contra o governo golpista de Boluarte, apoiado por Lula!

Chamamos a esquerda a se mobilizar no Brasil em solidariedade ativa à luta do povo peruano contra o golpe parlamentar que levou Dina Boluarte à presidência, e em repúdio ao apoio de Lula a este golpe orquestrado pelos partidos da dirieta, o Judiciário e o imperialismo.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

sexta-feira 16 de dezembro de 2022 | Edição do dia

Desde que o Congresso da República removeu Pedro Castillo da presidência por meio de um golpe parlamentar, dando o poder a Dina Boluarte - depois da fracassada medida bonapartista de Castillo de fechar o Parlamento - mobilizações poderosas e ações de protesto ocorreram em várias regiões do Peru, tais como o bloqueio de estradas e de aeroportos, e a ocupação de importantes universidades públicas por federações estudantis, como aconteceu em Cajamarca, Arequipa e Cuzco.

Todas estas iniciativas, que têm como objetivo rejeitar a nomeação de Boluarte, assim como as ações do Congresso e de todas as instituições que fazem parte do Estado, também destacam a profunda crise orgânica que vem ocorrendo no Peru há algum tempo. Esta crise também se manifesta no aprofundamento de grandes problemas sociais como desemprego, pobreza, informalidade e precariedade dos serviços sociais, assim como na crise das principais instituições estatais como o executivo e o legislativo, e na crise e fragmentação dos partidos políticos.

O Judiciário acaba de proferir uma sentença de 18 meses de prisão a Pedro Castillo, mais um sinal de que a arbitrariedade dos tribunais é parte do golpe parlamentar, juntamente com os partidos de direita que respondem à grande burguesia peruana. Estes setores são os que, utilizando as Forças Armadas e a Polícia, estão reprimindo e assassinando trabalhadores e camponeses.

O governo golpista de Dina Boluarte respondeu às ações legítimas da luta do povo com uma repressão policial e militar brutal, que é encorajada pelo Congresso e pela grande imprensa. Essas ações repressivas já custaram a vida de pelo menos 20 pessoas, assim como dezenas de feridos e presos, sem que tenham sido capazes de impedir a população de continuar se unindo às mobilizações e aos bloqueios de estradas e vias de acesso.

Enquanto os protestos se enfrentam contra o ilegítimo governo de Dina Boluarte, a posição de Lula segue sendo a de apoio ao golpe parlamentar desatado contra a população no Peru. Há uma semana, Lula havia saudado o governo Boluarte, afirmando que "É sempre lamentável que um presidente eleito democraticamente tenha este destino, mas entendo que tudo foi submetido dentro da estrutura constitucional [...] O que o Peru e a América do Sul precisam neste momento é de diálogo, tolerância e convivência democrática. [...] Espero que a Presidenta Dina Boluarte tenha êxito em sua tarefa de reconciliar o país e conduzi-lo no caminho do desenvolvimento e da paz social".

Não há diálogo nem tolerância democrática, e sim a repressão das Forças Armadas e da polícia aos manifestantes que se opõem a um golpe baseado na repudiada constituição de 1993 arquitetada por Alberto Fujimori, que lançou as bases para uma política neoliberal, acompanhada pela implementação destas manobras parlamentares adaptadas aos fatores reais de poder no Peru. A "reconciliação" de Boluarte é com a burguesia peruana e o imperialismo norte-americano, que para ver prosperar o golpe recorre ao assassinato e à repressão.

A posição de Lula (em que coincide Gabriel Boric presidente do Chile, que também saudou o governo golpista) em apoio ao golpe parlamentar foi enunciado nas redes sociais, seguindo os passos do governo Biden nos Estados Unidos. A propósito, na mesma semana, Lula recebeu uma delegação de representantes do Partido Democrata, liderada por Jake Sullivan, assessor de segurança nacional de Biden, em que discutiram a região. Biden aposta que o Brasil, como o principal país da América do Sul, será um parceiro confiável sob o governo de Lula.

Tão direitista é a força motriz desse golpe parlamentar-judiciário que as figuras mais asquerosas do regime fujimorista, como Alejandro Cavero, se prontificaram a atacar o que considera ser o "comunismo", afirmando que a tarefa agora seria "varrer o comunismo das ruas".

É reacionária a posição do governo Lula-Alckmin diante do golpe parlamentar no Peru, e não se distingue substancialmente da do próprio Bolsonaro, que também saudou o governo Dina Boluarte. Não apenas indica a força que os setores da direita neoliberal possuem dentro do governo, mas também a aproximação de Lula com Joe Biden e a fração Democrata do imperialismo norte-americano, que sustentou a chapa Lula-Alckmin durante a campanha presidencial. Mais uma vez, fica exposto caráter farsesco da retórica de Lula sobre o resgate "da autonomia regional", com uma política que preserva a América Latina sob o poder das articulações arbitrárias de Washington.

Pedro Castillo foi eleito pela população peruana que rechaçou o programa econômico neoliberal da extrema direita, representada por Keiko Fujimori. Castillo, assim que assumiu o governo, passou a governar com a direita, mas sem a "benção" do grande capital peruano, que quer ataques mais acelerados, que o governo golpista de Boluarte quer implementar.

Portanto, é necessário repudiar a postura de Lula, e não permanecer em silêncio como fazem organizações da esquerda que agora ocupam postos no governo de transição, como o PSOL, tanto por parte da ala majoritária, quanto por parte do MES.

As mobilizações que estão ocorrendo em várias regiões do Peru estão abrindo a grande possibilidade de pôr um fim à casta político-empresarial corrupta que transformou o Congresso Nacional em um antro de todas as forças políticas reacionárias e de direita.

É necessário aprofundar a organização e a mobilização do povo até que o governo golpista de Dina Boluarte seja derrubado. É necessário apoiar os protestos das massas peruanas contra o regime golpista, as Forças Armadas e o Estado capitalista do Peru.

Para deter a repressão, derrubar o toque de recolher reacionário e expulsar este governo golpista, é preciso através da mobilização impor aos sindicatos e às organizações sociais um verdadeiro plano de luta e medidas de autodefesa. Um plano de luta que deve ser discutido democraticamente nas organizações a nível das regiões, cidades e vilarejos. Este seria um primeiro passo importante para lutar por uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana, em que o povo trabalhador, os camponeses e os povos originários possam colocar todas as questões - como saúde, educação, os recursos naturais do país - em discussão, e atacar a propriedade privada dos capitalistas, a posse dos recursos naturais e a precarização do trabalho. Esta experiência, por sua vez, permitiria a compreensão de que, para estes interesses e necessidades, é necessário lutar por um governo dos trabalhadores e do povo pobre.

O Peru é um exemplo importante na América Latina sobre a verdade que se viu na política brasileira: para enfrentar seriamente os golpistas e a extrema direita, é necessário ter uma política de independência de classe e anti-imperialista.

A esquerda brasileira, de maneira independente do governo, precisa organizar manifestações de solidariedade à luta dos trabalhadores e do povo pobre do Peru contra a extrema direita e os golpistas.




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