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CRISE NO GOVERNO | Uma crise militar no governo Bolsonaro?

Até agora seis ministros foram trocados no governo Bolsonaro, para melhor acomodar interesses do centrão e de setores da sua base. A saída do general Fernando Azevedo do ministério da defesa, mesmo sendo substituído pelo general Braga Netto, seguida da ameaça de renúncia dos comandantes militares mostra o nível de tensão existente nas altas esferas do governo.

Thiago FlaméSão Paulo

terça-feira 30 de março de 2021 | Edição do dia

Apesar de não serem apoiadores de primeira hora da candidatura de Bolsonaro, Braga Netto, Ramos e Azevedo embarcaram e se comprometeram profundamente na sustentação do governo Bolsonaro desde o inicio da pandemia, quando Braga Netto assumiu a coordenação do combate à pandemia no governo. O apoio nesse importante núcleo de generais, que atuaram juntos nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, foi fundamental para garantir o majoritário apoio militar ao governo mesmo com a ruptura de uma série de generais importantes, como Santos Cruz ou o general Santa Rosa.

Esse grupo mais pragmático de generais, vendo a vitória de Trump nos EUA e o desempenho que Bolsonaro começou a demonstrar em 2018 nas pesquisas, foi se juntando ao estridente Heleno no apoio a Bolsonaro. Se beneficiaram com os altos salários, com contratos milionários de fornecimento de cloroquina fabricada pelo exército, com compras luxuosas para os oficiais e com uma reforma da previdência militar que deu grandes aumentos para generais e gerou insatisfação entre os praças. Em troca deram sustentação até para o discurso golpista de Bolsonaro e para sua condução catastrófica da economia. Comprometeram as forças armadas com o governo até o ponto de incomodar setores da ativa.

Agora, com o país diante de um abismo, aumenta a pressão das potências estrangeiras e de pesos pesados do mercado financeiro e dos empresários brasileiros por uma correção de rumos na condução da pandemia, as divisões no interior das forças armadas também se expressam com mais força, ao ponto de levar ao que parece ser uma ruptura, forçada pelo próprio Bolsonaro, entre os três generais que até agora representaram o núcleo do apoio militar do governo. Ao mesmo tempo ganha mais destaque uma iniciativa por hora minoritária de generais da reserva por uma “terceira via” mais lavajatista contra Lula e Bolsonaro. Por ora o apoio, ainda que cada vez mais condicionado, ao governo segue sendo majoritário nas forças armadas.

Ainda vamos ver nos próximos dias o sentido e a profundidade das disputas em curso, mas a ameaça de renúncia coletiva dos três comandantes, do exército, da marinha e da aeronáutica mostram que a tensão chegou em um grau elevado.

A resultante mais provável para essa crise no imediato é que depois dessas ameaças de rupturas, se garanta uma maior representação no governo de alguns setores do centrão e que o comandantes militares encontrem uma forma, negociada com o governo, de delimitar mais fortemente as forças armadas do governo, sem levar a uma ruptura que poderia ter consequências imprevisíveis. Porém, mesmo que se chegue a uma saída negociada para o atual tensionamento evitando uma escalada na crise política, isso não vai garantir estabilidade para um governo cada vez mais debilitado e dependente do seu apoio no centrão e nas forças armadas.




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