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[VÍDEO] Encontro Comunista do Pão e Rosas: centenas por um feminismo socialista no Brasil

Redação

[VÍDEO] Encontro Comunista do Pão e Rosas: centenas por um feminismo socialista no Brasil

Redação

Nesse sábado (25/03), com mais de 600 participantes e forte presença LGBTQIAP+, ocorreu o Encontro Comunista do Pão e Rosas, grupo internacional de mulheres e LGBTs. As centenas de participantes são provenientes de quase todos os estados do país, entre eles São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Goiás, Paraíba, Bahia, Maranhão, Sergipe, Piauí, Pará, Paraná e Santa Catarina, que participaram presencialmente e conectadas. Além disso, marcaram o Encontro a participação de metroviárias de São Paulo, professoras, terceirizadas, estudantes e trabalhadoras das mais diversas categorias. Abaixo transcrevemos as falas de abertura e encerramento, assim como disponibilizamos a íntegra do Encontro.

Confira o vídeo de apresentação do Pão e Rosas, que iniciou o Encontro:

Confira o vídeo do Encontro Nacional na íntegra:

Fala inicial de Carolina Cacau:

Oi, gente, boa tarde, estou muito feliz com esse encontro, é muito bom a gente estar reunida com tantas companheiras de vários lugares do país para debater os desafios e tarefas do feminismo socialista neste momento.

Primeira coisa que eu queria dizer é que o nosso feminismo tem uma diferença com todos os outros feminismos que a gente vê por aí, como por exemplo o feminismo liberal, que representa o interesse das patroas e da burguesia, que tentam com discursos vazios de representatividade cooptar nossa luta e indignação. Como a gente viu no vídeo, nosso feminismo é socialista porque para nós a luta contra a opressão as mulheres e negros está totalmente ligada à luta contra a exploração capitalista, este é nosso ponto de partida. Porque o capitalismo se apropria do racismo e do patriarcado para explorar e lucrar cada dia mais.

Por isso, estamos neste Encontro Comunista do Pão e Rosas, por isso tantas companheiras se interessaram não para conhecer o feminismo, mas conhecer mais o marxismo, o comunismo, querem pensar as estratégias revolucionárias, a teoria e prática que possam acabar com a exploração capitalista que é a base de sustentação para qualquer opressão. Nosso país é marcado profundamente pelo racismo, que mostra cotidianamente as marca da escravidão, como o sistema capitalista tem o racismo no seu DNA, isso se expressa no trabalho precário, na desigualdade salarial que faz as mulheres negras ganharem menos, na sua face mais mortal que é a violência policial que mata a juventude e os trabalhadores negros e pobres.

Mas esses ataques não vêm sem resposta. Vimos a luta negra tomar os EUA e o mundo contra a barbárie da violência policial, a geração U majoritariamente negra, feminina e LGBT, construindo seus sindicatos se enfrentando com bilionários parasitas como o dono da Amazon, é essa força antirracista que vimos em categorias majoritariamente negras como os garis no RJ que ensinaram para o país o que é não ter arrego na greve de 2014 e vemos na força diária das mães vítimas da violência do Estado, que se enfrentam com esse Estado assassino. Por isso, nosso feminismo socialista levanta com centralidade a luta das mulheres negras e a luta antirracista, sem separar a luta negra e a luta das mulheres do combate na luta de classes.

Viemos de 4 anos de enfrentamento ao Bolsonaro, todo mundo aqui odeia não somente ele, mas também toda a corja de políticos reacionários, racistas, misóginos, os militares - que inclusive vão querer mais uma vez diante do 1º de abril “comemorar” a ditadura que matou e prendeu milhares de pessoas. Lutamos muito para enfrentá-los nesses anos e continuaremos lutando diante de cada ataque bolsonarista e para derrotar todo o legado de destruição dos nossos direitos que se intensificaram desde o golpe de 2016. Ao mesmo tempo, companheiras, a nossa luta é independente dos governos e dos patrões. Não confiamos nas instituições do Estado, nem no judiciário, nem na câmara, nem no Senado. Não consideramos que temos que ficar esperando um governo como o de Lula-Alckmin, cheio de empresários e setores da direita (que inclusive foram parte do golpe institucional de 2016) como se eles fossem resolver algo, não vão. Esses setores da direita são os mesmos que aprovaram reformas como a reforma trabalhista, da previdência, ataques que atingem em cheio a classe trabalhadora, principalmente as mulheres.

E, para cada um desses combates, a teoria revolucionária é um guia para a ação cotidiana e tenho muito orgulho de cada publicação que fazemos porque ela ajuda a chegar em mais gente a potência revolucionária das mulheres trabalhadoras e as lições tiradas dessas experiências históricas. Estamos lançando um livro agora, Mulheres, revolução e marxismo e se tem algo que esse livro explica muito bem é que nada, absolutamente nada do que nossa classe e as mulheres conquistaram foi “dado”, tudo foi arrancado, com a nossa luta. E as mulheres estavam presentes na linha de frente nos principais processos da luta de classes mundial.

Por isso, me dá muita força ser parte desse encontro com companheiras que estão ombro a ombro há vários anos, outras que estão conhecendo o Pão e Rosas neste momento, porque a primeira vez que eu comecei a militar num coletivo foi no Pão e Rosas apaixonada pela luta que a gente fazia em defesa das trabalhadoras terceirizadas, sem ver nosso país com uma ilha apoiando a luta das haitianas que sofriam com a ocupação das tropas brasileiras enviadas pelo PT e várias outras batalhas, que me fizeram construir esse grupo internacional. É essa força coletiva que me move para lutar contra a violência de gênero que faz uma vítima a cada dois minutos no Brasil, contra a Lgbtfobia que faz do Brasil o país que mais mata LGBT’s no mundo, pelo direito ao aborto, para que tenhamos direito ao nosso corpo e nossa sexualidade, porque para os capitalistas nossos corpos são mercadorias, para tentar impedir que a gente seja rebelde, insurgente, grevistas e revolucionárias.

Por isso tudo, companheiras, abrimos agora nosso Encontro com falas de vários estados e também falas internacionais. Precisamos aqui hoje discutir nossa visão da situação política, mas principalmente nossas tarefas, o que está colocado para o feminismo socialista hoje e creio que várias companheiras vão tocar nesses temas para que façamos um forte Encontro.

Fala final de Diana Assunção:

Fiquei com a difícil tarefa de colocar algumas considerações finais nessa parte geral do Encontro, muito bom estar com todas aqui e que na parte dos encontros estaduais todas possam se expressar. Depois de todas essas falas e saudações impressionantes, queria reafirmar que todos aqueles que decretaram o fim da luta de classes não poderiam estar mais equivocados e isso se reafirma diante de cada levante da nossa classe, mas neste momento, especialmente, na França.

Tive o orgulho de estar ombro a ombro com nossas companheiras do Pão e Rosas na França fundando, no ano passado, uma nova organização revolucionária na França, o Revolução Permanente. E hoje vemos essa situação aberta de luta de classes: como fazer com que esse momento de revolta, de rebelião, não se perca, mas sim avance em um sentido abertamente revolucionário? É esse o caminho que mais pode entrelaçar a luta contra a opressão as mulheres e negros com a luta anticapitalista, como Cacau falou no início. É sobre esse entrelaçamento, essa relação, que o livro Mulheres, revolução e socialismo trata. Gente, esse livro está longe de ser um tratado do século passado, é mais atual do que nunca.

Desde Marx defendendo nas reuniões da Associação Internacional dos Trabalhadores igual salário e igual trabalho, e também seções femininas para as trabalhadoras se organizarem. Passando pela poesia que foi a luta das mulheres na Revolução Russa, discutindo até mesmo o amor livre que poderia ser um amor “com asas” como dizia Alexandra Kollontai e não as amarras do capitalismo, ou como dizia Clara Zetkin “uma sociedade que acomodará os talentos das mulheres trabalhadoras” porque o capitalismo não pode acomodar nossos talentos.

Esses escritos reafirmam apenas que quando permitimos desconectar a luta pelos nossos direitos de uma luta abertamente anticapitalista isso só serve aos capitalistas. Para isso, estão as dirigentes reformistas, as que confiam nas instituições do Estados. Por isso, por exemplo, diante da luta na França, nossas companheiras estão batalhando para que não sejam as burocracias sindicais que dirijam o movimento: “a greve é dos grevistas”, gritam nossas companheiras! Neste momento para batalhar pela auto-organização dos trabalhadores estão defendendo Comitês de Ação pela Greve Geral na França.

Vibramos aqui com essa luta, e pensamos também nas nossas tarefas no Brasil. Em um país que enfrentou o bolsonarismo, mas que, como Cacau apontou, não pode ter sua classe trabalhadora atada pelas burocracias sindicais ligadas ao governo Lula-Alckmin que vão querer impedir a nossa luta. Os setores da esquerda, como o PSOL, que se entregaram para essa estratégia de frente ampla não representam uma alternativa socialista.

Isso porque vemos ainda hoje que as reformas anti-operárias continuam fazendo um inferno na vida da classe trabalhadora, e não vão ser revogadas por esse governo cheio de empresários. Mas, mais que isso, a terceirização continua a pleno vapor e vemos também que é uma porta de entrada para o trabalho semi-escravo.

Nosso grupo de mulheres, fundado por mim e várias companheiras aqui em São Paulo, completa 15 anos, e o Pão e Rosas na Argentina com nossas companheiras Myrian Bregman e Andrea D’Atri completa 20 anos. Tenho muito orgulho de fazer parte dessa história. E o Pão e Rosas no Brasil teve como mote inicial a luta contra a terceirização do trabalho. Nunca abandonamos essas bandeiras, estivemos em cada luta, em vários estados do país. Queremos iguais direitos, iguais salários, efetivação sem concurso ou processo seletivo.

Por isso, companheiras, neste Encontro propomos que em todos os estados discutamos fortemente como levar adiante uma enorme campanha contra a precarização em cada local de trabalho e estudo. Com um Manifesto que expresse tudo isso que queremos lançar, com intelectuais, juristas, personalidades e buscando milhares de assinaturas, fazendo videos, atividades, tudo que for possível, lutas em cada universidade e local de trabalho. Mostrar que o feminismo socialista está na primeira trincheira da defesa dos setores mais oprimidos e explorados.

E a gente tá aqui em um encontro Comunista. O que é o comunismo? Tão atacado pela extrema-direita, tão renegado pelo reformismo que quer administrar o capitalismo, tão falsificado pelo stalinismo. Como diria Marx, o comunismo é um movimento real que anula e supera todas as coisas. O que ele queria dizer com essa frase? Que o comunismo não é uma vontade arbitrária, que sai da cabeça de meia dúzia de pessoas iluminadas. Ele é a expressão do desenvolvimento histórico de uma classe que tem o potencial revolucionário de transformar a sociedade pela raiz, que inclusive necessita de um poderosos partido revolucionário internacional para dar um golpe de morte na burguesia e abrir espaço a uma sociedade sem classes livre de toda opressão. E nós não temos dúvida que as mulheres, negros e LGBT´s, que são a grande parte da classe trabalhadora, vão ser linha de frente desse processo. Nesse livro também, o Trótski no epílogo que publicamos dentre outras coisas levantava a hipótese de se no comunismo a vida não poderia ser ainda melhor que a arte. É por isso que lutamos, porque queremos nosso direito ao pão mas também as rosas.


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