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“Stalin matou foi pouco” é PicBadge de militantes do PCB no Facebook
Tatiane Lima
Guilherme Costa

Hoje, em meio ao caos político dos poderosos golpistas, às vésperas da aprovação final da PEC do fim do mundo, com os atos da direita coxinha-pró Moro e com os ataques às mulheres por reivindicarem o direito ao aborto, fomos surpreendidos no Facebook por fotos de militantes do PCB utilizando uma PicBadge (aqueles filtros para a foto do perfil) com os dizeres “Stalin matou foi pouco”.

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Abrimos essa discussão no Esquerda Diário porque repudiamos a reivindicação dos assassinatos de Stálin contra centenas de militantes e ativistas que lutavam contra a opressão e exploração, como oposicionistas de esquerda, operários, mulheres que fizeram aborto, LGBTs, artistas, camponeses. A brutalidade do regime de Stálin foi decisiva para que décadas depois o capitalismo fosse restaurado na União Soviética. Diante dos tremendos desafios que estão colocados aos ativistas da esquerda brasileira e mundial que lutam contra toda opressão e exploração, nos revolta ver militantes de esquerda fazendo coro, histórico, com toda a brutalidade da direita. Queremos abrir um debate com os militantes do PCB e toda a esquerda sobre os significados mais profundo desses episódios. É repudiável ver militantes repetindo isso.

Para quem não sabe, a frase “Stálin matou pouco” é recorrente em provocações de grupos stalinistas, com comentários à la bolsominions de Facebook e musiquinhas do Congresso da UNE para atacar as organizações e os militantes trotskistas. A frase logo é seguida da rima “ ainda tem muito trosko”.
E sobre o PCB em si (agora já chegou até nós casos ligados ao PCR também) não é menor. Não é um detalhe. Não é um “caso isolado”. Ações como essas são fruto de um ambiente partidário onde se naturaliza (e promove) concepções stalinistas, desde as elaborações teóricas até as formulações políticas, chegando, obviamente, até as “piadas”.

Hoje o PCB se auto-intitula “teoricamente eclético” e “descentralizado teoricamente”, uma espécie de revisão pós-moderna onde convivem no mesmo partido “trotskistas” e “stalinistas”, “althusserianos” e “luckacianos”, e outras tendências teóricas que se contradizem, misturando tudo num liqüidificador teórico bem bolado onde todas as “concepções marxistas”, ou caricaturas disso, cabem. A soma real disso é zero. Mas de fundo permanece a tradição stalinista lapidar do partido. Não é por acaso que militantes do PCB se sentem confortáveis não só a cantar essas aberrações de “stalin matou foi pouco” e “ainda tem muito trosko”, como estampá-las em suas fotos de perfil.

Pois vamos lá, Trostki divergiu das posições políticas de Stalin em diversos momentos. Os mais conhecidos são com relação às polêmicas sobre qual rumo a URSS deveria tomar após a revolução na Rússia, se construir o socialismo em um só país, como Stalin defendia, ou mundializar a revolução, girando todos os esforços da III Internacional para isso. Os métodos de disputa política do estalinismo combinavam cooptação das camadas intermediárias do partido pela via de privilégios materiais e aniquilamento físico da oposição, como foi o que ocorreu com boa parte da velha guarda bolchevique, como Kamenev e Zinoviev, e posteriormente com o próprio arquiteto do exército vermelho Leon Trotski, assassinado pelo espião stalinista que cujo nome ficará para a lata de lixo da história.

“Stalin matou foi pouco” é uma alusão a alguns dos maiores crimes cometidos em nome do comunismo já feitos na história, os processos de Moscou, onde milhares foram fuzilados em base a provas forjadas. Até hoje carregamos o fardo dos crimes de Stalin nas costas do nome “comunismo”, como se “comunismo” se identificasse diretamente com “stalinismo”, um desserviço que ajudou e continua ajudando a confundir gerações de jovens e trabalhadores que almejam a transformação da sociedade. Com isso, o capitalismo sai vencendo.

Outros dados que dizem respeito à política criminosa do stalinismo denunciada por Trotski e os militantes oposicionistas é a orientação esquerdista que dirigiu no VI Congresso da Internacional Comunista, em 1928, que facilitou o ascenso do nazismo com Hitler na Alemanha, pela recusa de construir uma frente política com a social-democracia, rotulando-a de “social-facista”. Também foi desastrosa a política de frentes populares, promovida Stalin, que em síntese consistia em orientar os partidos comunistas a se aliarem às suas respectivas burguesias nacionais a fim de combater o arcaico latifundiário imperialista, e assim criando um suposto “poder popular”. Na década anterior, durante a revolução chinesa, a política stalinista de aliança com setores da burguesia teve sua consequência mais marcante no massacre de milhares de comunistas pelas mãos de Chiang Kai-Shek. Stalin orientou o partido comunista a confiar no partido nacionalista burguês de Kai-Shek e outros senhores de guerra. Aqui no Brasil essa política de aliança com setores da elite nacional se refletiu na política do PCB durante anos, sob direção de Prestes, como vimos a própria política colaboracionista com João Goulart, representante da burguesia nacional, ou até mesmo a aliança com Vargas- O mesmo que antes também reprimiu dezenas de militantes de esquerda e enviou Olga Benário, então companheira de Prestes, às mãos dos nazistas para ser assassinada. Prestes chegou a defender, depois da segunda guerra mundial, que é necessário deixar os remorsos do passado e fazer uma grande unidade nacional pela paz.

A lista de traições e erros é bem longa e balanços são necessários. E longe de querer esgotar esse debate, o intuito aqui é aprofundar essas questões, questionar que história que o “partidão” tanto reivindica e faz questão de reafirmar em cada fala. É essa história de aliança com senhores de guerra do Kuomintang que levou ao massacre de milhares de chineses? É a história da aliança com a burguesia brasileira? É a história das perseguições e assassinatos da camarilha stalinista? É a história do “Poder Popular” em defesa da ‘unidade nacional’ com todos e todas, independentemente da classe? É a história dos processos de Moscou?

Enfim, o ecletismo teórico só tem lugar na inércia política e na paralisia. Ele estimula a reprodução e reivindicação das atrocidades como “Stalin matou foi pouco”. Por essas e outras, e fazendo jus a tantos companheiros de esquerda que continuarão lutando contra os poderosos deste mundo, bem como contra as burocracias mais degeneradas, é que o PCB deveria se retratar e repudiar atos como esse episódio de dezenas de militantes seus. A página da UJC de Campinas chegou a declarar que não se trata de uma linha da organização, mas vimos seguir os filtros e queremos saber se o PCB continuará em silêncio.

 
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