As declarações de Obama ocorrem pouco mais de dois meses após as eleições da maior potencia imperialista do mundo que foram marcadas de um lado pelas declarações racistas, xenófobas e machistas do megaempresário Donald Trump e de outro pelos protestos e manifestações do movimento negro em resposta às declarações de Trump e repudiando os recorrentes assassinatos de negros pelas mãos da policia assassina do governo de Obama. Em plena campanha eleitoral, em uma das declarações mais emblemáticas do que promete aos negros e imigrantes o mega-empresário chegou a dizer que "Quando o México manda seu povo aos Estados Unidos, eles mandam pessoas que têm um monte de problemas e trazem estes problemas para nós. Eles trazem as drogas, trazem o crime, são estupradores. E alguns deles, eu confesso, são boas pessoas. Eu iria construir um muro. E ninguém mais entraria ilegalmente. Eu faria o México pagar por isso.”
Logo após a eleição de Trump reacenderam com mais força ofensas racistas em varias localidades dos EUA incentivadas pelas declarações do candidato do Partido Republicano. Em uma escola o professor ameaçou seus alunos negros e se chegou ao absurdo da prefeita de Clay, Beverly Whaling rir e elogiar uma piada que comparava a ex-primeira-dama dos EUA, Michelle Obama, a um "macaco de saltos". Em meio à crise econômica os imigrantes, negros tem sofrido os impactos da crise com aumento dos índices de desemprego e super-exploração do trabalho, escancarando o quanto o racismo e a xenofobia servem para ampliar a exploração capitalista. Buscando se fazer porta-voz destes setores Obama espertamente reivindicou seu mandato tentado apresentá-lo demagogicamente como um período de grandes conquistas para a comunidade negra. De outro lado, em um momento em que a economia dos EUA demonstra alguns sinais de recuperação, Trump busca dar uma saída pela direita a um sentimento da classe media branca que veio sofrendo os efeitos da crise econômica desde 2008.
Nos Estados Unidos, um pais onde as leis de segregação racial existiram até a década de 60 demarcando lugares onde os negros não poderiam conviver com os brancos, a eleição de Obama foi vista com grande expectativa e esperança não apenas pela comunidade negra, mas também pelos imigrantes, pelas mulheres e homossexuais. Depois de 8 anos de mandato, a realidade é que o fato de eleger o primeiro presidente negro não alterou a situação material e concreta de vida dos negros como se escancarou com os recorrentes assassinatos que incendiaram as ruas de Ferguson, Baltimore. A realidade é que apesar de não existirem mais leis de segregação, em várias cidades a segregação ainda existe na realidade e os negros vivem nas piores moradias, nos piores postos de trabalho, são a maioria entre os desempregados e no sistema carcerário. Neste último critério é aberrante a diferença entre negros e brancos, uma vez que, se por um lado os negros são 12% da população norte-americana somam mais de 40% da população carcerária, além de que os negros em geral são condenados a penas maiores do que os condenados brancos e estes índices se repetem no que se refere ao acesso à educação, aos salários e direitos trabalhistas e acesso à casa própria e de acordo com pesquisas do Urban Institute na variação entre 1983 e 2010, os brancos têm em média seis vezes mais patrimônio do que os negros e hispânicos.
O discurso de Obama e as declarações de Trump em recente coletiva de imprensa (onde além de tratar dos cyberataques, manteve um forte discurso protecionista e seu viés claramente racista e xenófobo ao tratar do tema migratório e do emprego) apontam a um momento de transição da presidência dos EUA marcado pelo clima de incerteza e preocupação tanto nos integrantes da burguesia e do Estado norte-americano quanto nos países que mantem relações com os EUA. Internamente Trump assumira um pais dividido em que a tendencia a uma maior polarização e o ressurgir de novas convulsões sociais. Nestes processos de luta, tal qual nas recentes manifestações do Black Lives Matter (Vidas Negras importam) certamente os negros voltarão a ter um papel de destaque, escancarando o enorme racismo no qual o capitalismo imperialista norte-americano se assenta. Em momentos como estes será necessário desmascarar também o discurso demagógico de Obama e do Partido Democrata, que longe de dar uma resposta as demandas negras estão mais preocupados em moderar o discurso de Trump para manter intactos os elos da cadeia de exploração sob a qual vivem os negros e imigrantes. Nestes processos de luta de classes será fundamental recuperar e colocar a prova um programa e uma estratégia classista, anticapitalista e revolucionária de combate ao racismo.
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