Desde o começo de sua atuação como prefeito, Dória buscou promover diversas parcerias entre a iniciativa privada e a esfera pública. Contrariando até mesmo máximas dos propagadores do livre mercado, como a frase “Não existe almoço grátis”, a alegação do tucano é de que as doações viriam sem a necessidade de nenhuma contrapartida por parte da Prefeitura. Até parece.
Valendo-se de sua ampla rede de contatos na iniciativa privada, alcançada graças a sua empresa de lobby, a LIDE, o prefeito pode contar com o amplo apoio do empresariado. Resgatamos aqui, alguns dos casos expostos que lançam suspeitas sobre essa aparente alegação de bondade do capital privado e como, na verdade Doria parece atuar sistematicamente para favorecer amigos da LIDE e de seus interesses políticos:
1- Remédio Rápido, a ajudinha as grandes drogarias
Em fevereiro, após Dória anunciar uma série de doação de remédios para a prefeitura, que posteriormente verificou-se que muitos desses remédios estavam próximos do vencimento, o tucano anunciou a implementação do programa Remédio Rápido.Trata-se de um programa que acabou com a distribuição de remédios nas UBSs e transferiu esse direito dos cidadãos às drogarias privadas. Os efeitos imediatos dessa medida foram: lucros para os empresários, encarecimento do preço pago pela prefeitura e dificuldade de acesso aos medicamentos.
2- Fraude para ajudar a AMBEV
Em junho, a rádio CBN obteve acesso a uma gravação que mostrava o vice-prefeito Bruno Covas (PSDB) orientado os integrantes da Ambev e da Dream Factory, representante da empresa, a modificar os itens da planilha da proposta para justificar os R$ 15 milhões oferecidos inicialmente e, dessa forma, vencer a empresa SRCOM, parceira da Heineken, que ofereceu R$ 8,5 milhões.
3- A licitação ópera bufa do Theatro Municipal
Em julho, o Tribunal de Contas do Município chegou a suspender a licitação da empresa que ficaria responsável pela administração do Theatro Municipal. Na época, o primeiro colocado da licitação era o Instituto Casa da Ópera (ICO). O ICO foi criado e dirigido até o ano passado por Cleber Papa, que desde janeiro ocupa o cargo de diretor artístico do Theatro Municipal, indicado por Dória. Com o escândalo, a prefeitura foi obrigada a recuar, e a vitória no processo coube ao Instituto Odeon, segundo colocado.
4- Não investiguem a Cidade Linda
Em agosto, Dória tomou a decisão de exonerar a Controladora Geral, justamente quando ela estava a cargo da investigação da máfia do programa “Cidade Limpa”, esquema de propina que remetia até a gestão Kassab, autor do programa. Ano passado o prefeito já havia rebaixado a Controladoria Geral do Município, diminuindo a autonomia do órgão.
A mais recente notícia neste sentido ocorreu na contratação sem licitação de uma empresa para o cuidado dos parques.A Empresa Demax Serviços e Comércio Ltda, que é doadora do programa Cidade Linda, vai receber R$880 mil para realizar trabalhos, fornecer materiais e equipamentos.
5 - Privatizações sem licitação para ajudar amigos
Foto: Ueslei Marcelino
Na série de suspeitas colocadas nos processos de licitação levados a cabo pela prefeitura, quando ocorrem licitações, é a intenção de Dória de gerar lucros pros seus amigos empresários. Dias atrás a manutenção do Parque do Ibirapuera, que ele quer privatizar e colocar catracas, foi entregue a uma empresa "parceira" sem nenhuma licitação.
6 - Gestão técnica ou loteamento para amigos políticos?
Outro eixo central na época da campanha de Dória, foi tentar se apresentar como uma figura “apolítica”, buscando dialogar com o sentimento de crise de representatividade da população. Por isso a frase tantas vezes repetidas: “Não sou político sou gestor”. Entretanto, desde o início de sua atuação como prefeito, Dória vem se valendo das mesmas táticas do consagrado repertório do que há de pior na política brasileira. Para comandar o executivo é necessário apoio do legislativo. Para angariar esse apoio Dória tem se valido das mesmas táticas já tradicionais o loteamento de cargos e a troca de favores.
Além da garantia de reserva de 30 dias para eventos religiosos no Anhembi, outro exemplo da política fisiológica e as trocas de favores entre ele e a bancada religiosa veio com o perdão da dívidas e multas referentes ao IPTU das igrejas.
Outra troca de favores entre Dória e aliados, veio com a nomeação para um cargo na secretaria de Cultura, de um integrante do MBL. A aproximação entre as duas partes se faz cada vez mais visível, com a integração de membros da prefeitura com o MBL, como é o caso do sub-prefeito de Pinheiros Paulo Mathias, que vinculou-se ao grupo.
Na mesma semana em que foi votado um dos seus principais projetos de privatização, foram nomeados 160 cargos, como o cargo de assessora da Coordenadoria de Saúde e Proteço ao Animal Doméstico da Secretaria de Saúde para a filha da vereadora Noemi Nonato.
A lista de absurdos de Doria pode ser muito aumentada, da higienização e expulsão dos pobres, sua destruição das obras de arte, seu ataque ao direito de alimentação das crianças.
A "cara nova" dessa velha política privatista, para os amigos e conservadora, atualiza a necessidade de uma outra "cara" para a crise de representatividade. Essa crise abre espaço para Doria e outros representantes da direita, mas também para a esquerda. Um espaço de raiva contra "esse sistema" que não pode ser ocupado pela velha conciliação de Haddad com Maluf, de Lula com Renan, e tudo que há de mais velhaco na política, mas sim de que os próprios trabalhadores e a juventude comecem a mostrar a necessidade de uma resposta anticapitalista e revolucionária.
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