Segundo os dados do boletim diário no site do sindicato dos metroviários de SP, já foram mais de mil afastamentos na categoria, no último ano, em decorrência de casos confirmados e suspeitos de Covid-19 e um total de 19 óbitos entre funcionários que estavam na ativa e no regime de home office. E esses dados não englobam a situação dos trabalhadores terceirizados na categoria, pois o Metrô de SP e o governo se negam até hoje a passar dados oficiais sobre quantos funcionários se contaminaram ou quantos óbitos há na categoria, seja sobre os efetivos ou terceirizados, o que dificulta o trabalho de coleta dos dados.
Desde o ano passado, depois que os metroviários de SP tiveram de enfrentar uma longa batalha para barrar os ataques ao acordo coletivo, onde Doria e a empresa pretendiam retirar vários direitos e atacar o plano de saúde em meio à pandemia, Doria não desistiu de continuar atacando a categoria ao longo do ano e avançou na terceirização das bilheterias, retirada de direitos como adicional de periculosidade e de bilheteria, precarizando serviços, e outros direitos que nossa greve havia garantido. No começo desse ano mais medidas contra os metroviários foram implementadas, como o não pagamento da PR e dos Steps aos funcionários que não tem seus salários equiparados com a função que exercem. Além de corte de adicionais para chantagear os trabalhadores idosos e do grupo de risco a voltarem para as estações e locais de trabalho, quando deveriam ter afastamento garantido sem corte de remuneração.
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É de conhecimento de todos a situação precária dos terceirizados no Metrô de SP, que além da enorme diferença salarial em comparação aos efetivos, não possuem acesso ao plano de saúde Metrus, onde o grupo de risco não foi afastado com remuneração garantida e muito menos foram disponibilizados os EPIs necessários e em quantidade suficiente. Além de terem que usar a mesma máscara por 15 dias, como denunciamos amplamente aqui no Esquerda Diário, o Metrô e as empresas terceirizadas, com conivência total do governador Doria, demitiram centenas de trabalhadores terceirizados em meio à pandemia.
Veja a fala de Fernanda Peluci, diretora do sindicato dos metroviários pela Chapa 4 Nossa Classe, na live de 06/04 transmitida pela página do sindicato:
O Metrô de SP, assim como as demais categorias do setor de transportes, não pararam um dia sequer durante toda a pandemia. Ao mesmo tempo, também não foi garantida a licença remunerada e de valor adequado, de pelo menos um salário mínimo, aos demais serviços não essenciais para que se pudesse ter uma quarentena racional e evitar assim mais contaminações no transporte lotado e nos locais de trabalho. Uma situação dramática para os trabalhadores que precisam sustentar suas famílias.
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Em reunião entre o sindicato dos metroviários e o secretário de transportes, Alexandre Baldy, no último dia 30, foi feita a reivindicação de vacinação para os trabalhadores do transporte público, o que ficou sem resposta até hoje. E temos que exigir que a vacina seja para todos, independente do contrato, efetivo ou terceirizado. Além disso, se aproxima o período de campanha salarial e de discussão sobre a renovação do acordo coletivo e já sabemos que mais ataques estão por vir.
Por isso devemos aprovar o indicativo de greve. Mas não basta aprovar, o sindicato precisa tomar as medidas para contruir de verdade e pela base. É preciso que a categoria tenha ampla participação nas discussões sobre as medidas a serem tomadas e também nas propostas a serem levadas para votação na assembleia, com direito a falas e tempo de defesa das propostas. Isso é tarefa central que nós da Chapa 4 Nossa Classe defendemos que deve ser levada a frente por toda a diretoria do sindicato nesse momento. Setoriais e reuniões de base, com segurança sanitária e podendo ser online, são centrais para organizar a categoria. Assim como debater uma organização de base da categoria em conjunto com as CIPAs, para organizar comissões de higiene e saúde que acompanhe os casos e tenha autonomia para exigir e garantir condições sanitárias e EPIs e organizar o trabalho em cada local de trabalho de forma que só seja realizado com segurança, com todas as medidas necessárias, e independetemente de supervisores e chefes.
O indicativo de greve está apontado para o dia 20, quando há um chamado de greve também dos rodoviários. Os ferroviários estão debatendo a possibilidade de indicar a mesma data para paralisar. Unidos somos muito mais fortes, temos que batalhar por essa perspectiva! Precisamos chamar nossos companheiros rodoviários a somar as nossas forças, e para exigirmos juntos que todos os nossos sindicatos construam e levem essa luta até o fim!
Para nós da Chapa 4 Nossa Classe a luta por vacina para os trabalhadores dos transportes e demais direitos não está descolada da necessidade de nosso sindicato reivindicar um programa de resposta à crise sanitária, econômica e política que Bolsonaro e seu governo de militares, com seu negacionismo, mas também Doria, governadores, STF e congresso, com sua demagogia, descarregam sobre os trabalhadores e toda a população, como vacina para todos, que deve se dar pela quebra das patentes que só alimentam os lucros, e intervenção estatal em todos os laboratórios e indústrias farmacêuticas para produzir em massa, sob controle dos trabalhadores, atendendo rapidamente toda a população.
Precisamos lutar também contra a situação que vemos todo dia, de milhões de pessoas obrigadas a lotar os transportes. Mas aqui há um debate importante: nossa luta deve ser pela paralisação de todos os serviços não essenciais, com liberação e garantia de remuneração integral e estabilidade no emprego. Mas não devemos defender a repressão, prisão ou multa contra quem estiver na rua, porque, como já estamos vendo em muitos lugares, os governos vão reprimir é na periferia, e porque vão cortar o nosso direito de nos manifestar e lutar, e nossa luta é a única coisa que pode acabar com essa catástrofe. Os governos reprimem na periferia, e quem se manifesta, e só pode circular quem estiver indo trabalhar: isso é o que muitos chamam de lockdown. Por isso apontamos que foi um erro a diretoria do nosso sindicato pedir ao governo e à prefeitura que faça triagem, com suas forças de segurança, para impedir as pessoas de circular e usar o transporte.
Além da necessidade de um auxílio emergencial com valor de pelo menos um salário mínimo a todos que precisem, proibição das demissões, testagem massiva, liberação de todos os pertencentes ao grupo de risco, comissões independentes de higiene e saúde nos locais de trabalho, intervenção estatal e centralização de todo o sistema de saúde (público e privado), reconversão da produção sob controle dos trabalhadores para garantir equipamentos e insumos para o combate à pandemia, congelamento de preços e revogação de todas as reformas contra os trabalhadores.
Para isso, precisamos exigir que as centrais, como CUT e CTB que têm uma base de milhões de trabalhadores e são majoritárias em nosso sindicato, saiam da trégua que estão com esses governos, e organizem assembleias em todos os locais de trabalho para construir a luta unificada da nossa classe.
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