No cenário com Lula, o ex-presidente segue Bolsonaro nas intenções de voto com 23,7%, antecipando um segundo turno entre ambos. Depois deles, Sérgio Moro, Dória, Ciro Gomes, Luciano Huck, João Amoedo obtiveram entre 6,7% e 4,1% das intenções de voto, com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco amargurando 0,6% dos votos.
A pesquisa também mediu a avaliação do governo Bolsonaro no estado: 33,8% consideram a gestão do presidente como ótima ou boa; 18,7% a veem como regular e 42,1% a consideram ruim ou péssima. Apenas 1,3% não opinaram. Quando a pergunta é se aprovam ou desaprovam a gestão, há uma divisão entre os paulistas: 45,6% aprovam e 49,4% desaprovam, enquanto 4,9% não responderam.
O que a pesquisa nos diz é que, apesar do aumento da rejeição de Bolsonaro nacionalmente frente às 400 mil mortes da pandemia, a piora do desemprego e da fome, sua base reacionária se mantém estável em cerca de 30% do eleitorado, e que São Paulo, cuja capital é o maior colégio eleitoral do país, ainda concentra uma rede de fiéis importantes ao presidente.
Na pesquisa publicada pelo mesmo instituto sobre a disputa pelo governo estadual, as intenções de voto são muito divididas, embora Alckmin apareça com maioria de 20% das intenções. A mesma pesquisa mostra que a avaliação de Dória no estado é muito ruim, com 65,3% de desaprovação. 54% consideram ruim/péssima sua gestão, apenas 15,8% como boa/ótima e 29% regular. É evidente que o PSDB é incapaz ainda de se recuperar como principal mediação à direita do regime, como era antes do golpe institucional de 2016, onde a disputa política era marcada entre PT e PSDB.
A eleição de Bolsonaro em 2018 foi marcada também pelo vergonhoso resultado de Geraldo Alckmin do PSDB. Com quase metade do tempo de TV o tucano obteve apenas 7% dos votos. Os atores do bonapartismo institucional queriam garantir a eleição do tucano para aprofundar a agenda de reformas neoliberais, privatizações e rebaixamento das condições de vida da população. Para isso se utilizaram de todo arsenal golpista da Lava-Jato para controlar o voto popular. A prisão de Lula e a prescrição de sua candidatura é fenômeno disso, a cassação da biometria de milhões de eleitores, particularmente do Nordeste, também não é coincidência (dentre outras) e foram feitas sob conduta do STF e pressão favorável dos militares.
Porém, o herdeiro desse avanço autoritário do regime não foi a velha direita do PSDB, mas Bolsonaro, o filho bastardo do golpismo que arrastou uma parcela significativa do eleitorado tucano para si.
O governador de São Paulo João Dória, que em 2018 era BolsoDoria, representando uma ala de extrema-direita que buscava “renovar” os quadros do PSDB, hoje busca alavancar sua candidatura liderando uma demagógica “oposição racional” de governadores. Junto ao STF, Centrão, chegou a ser anunciado pela grande mídia como o “pai da vacina” do Butantan, projetando sua figura como quem estaria se enfrentando com o negacionismo de Bolsonaro... com os fins de tê-lo candidato em 2022. Mas a pesquisa demonstra que o efeito esperado não aconteceu. Mesmo com Bolsonaro debilitado, Dória não conseguiu se constituir como candidatura de “terceira via” contra o bolsonarismo até mesmo onde governa. As disputas internas ao PSDB certamente ainda vão se expressar mais abertamente.
Pois Bolsonaro segue sendo essa principal mediação à direita, disputando a mesma base conservadora que apoia Doria e o PSDB em São Paulo. Os atos bolsonaristas, como nesse último 1 de Maio não deixa dúvidas nesse sentido. Em cada uma dessas ações São Paulo segue tendo uma importância grande em termos de adesão, embora a popularidade de Bolsonaro seja maior em outros estados, como no Centro-Oeste/Norte e Sul do país.
Esse cenário difícil para Dória mostra, pra além de São Paulo, o fracasso nacional do chamado "centro" de constituir seu candidato próprio, e que a aposta em uma "terceira via" do regime vai se mostrando cada vez mais distante de 2022.
No cenário onde a disputa de Bolsonaro é com Haddad, o PT sai de 23,2% para 14,5% das intenções de voto, mas essa diferença é distribuída mais ou menos igualmente entre os demais candidatos, e não Bolsonaro. É revelador de que os votos contrários a Bolsonaro por hora são bastante fechados inclusive em setores que apoiam candidaturas da direita, mas que votariam em Lula contra Bolsonaro.
Ganhar essa direita para si é o que Lula e o PT estão buscando a todo custo. A reabilitação de Lula pelo lava-jatista Fachin, não foi por qualquer senso de “democracia”, como diz o PT, dos árbitros do STF, que validaram o golpe e cada ataque contra os trabalhadores. Mas porque o STF, Centrão, setores militares e capitalistas, quiseram de maneira preventiva arrastar descontentamento crescente contra Bolsonaro para a disputa antecipada pela presidência em 2022. Querem legitimar pelo voto a aprovação da reforma trabalhista, da previdência, das privatizações, salvando a principal herança do golpismo. E Lula, como bom negociador com os capitalistas que é, entendeu bem a mensagem e promete, caso seja eleito, preservar tudo isso e ainda avançar com privatização da CAIXA. Para essa estratégia do “vale-tudo” para voltar a governar para os capitalistas, Lula e o PT buscam canalizar essa direita para uma aliança eleitoral em 2022.
O apoio efusivo à CPI da COVID e a articulação de um super-pedido de impeachment junto com ex-bolsonaristas como Frota e Joice Hesselmann, são expressão dessa estratégia de “combater” (entre trocentas aspas) Bolsonaro através de conchavos parlamentares e de aparatos partidários com a direita um pouco menos raivosa que Bolsonaro. São políticas para desgastar Bolsonaro eleitoralmente, e não de “salvar vidas” como diz o PT. Nada disso, a CPI da COVID investiga o óbvio que é a culpa de Bolsonaro de ter potencializado a pandemia, mas esconde a responsabilidade de todos os atores do bonapartismo institucional, que apesar da oposição discursiva, sustentam o governo depois de terem facilitado a sua eleição, além de que estão absolutamente juntos em atacar os direitos e condições de vida dos trabalhadores.
O superimpeachment é tão nefasto quanto, pois teria como resultado Mourão na presidência, defensor da ditadura entre outras infinitas barbaridades. Essa “guerra de desgaste” para obter “nada mais que 2022”, leva os trabalhadores e setores oprimidos para o abismo do apoio à direita como “mal menor”, que pode inclusive ter apoio do PSDB, a exemplo do convite para que Dória participasse do 1 de Maio da CUT e CTB, e mesmo que vença às eleições, não vai derrotar a extrema direita.
A unidade necessária para derrotar Bolsonaro não é se apoiando na decadente oligarquia tucana de São Paulo, muito menos em bolsonaristas “arrependidos” ou que se colaram na figura de extrema-direita para se eleger. É a unidade independente dos trabalhadores, mulheres, negros e LGBTs, que coordene as distintas lutas que ocorram pelo país, como vemos hoje na greve de rodoviários do DF e outros estados, dos professores de BH, das metalúrgicas da LG, por um programa de emergência à pandemia, com vacina para todos quebrando as patentes sem indenização, com controle dos trabalhadores da produção e distribuição da vacina, de um auxílio emergencial de pelo menos 1 salário mínimo, pela liberação remunerada e proibição das demissões de todos os serviços não essenciais. Para arrancar essa demanda será necessário fazer como os colombianos, chilenos, que impuseram derrotas aos ataques dos seus governos se auto-organizando, e que aqui no Brasil teria que ser enfrentado contra todos os atores do golpismo institucional. Uma luta que inclua a revogação de cada inquérito aberto pela LSN e sua imediata e completa revogação, contra a escalada autoritária no país, e para impor uma nova Constituinte que altere não só os jogadores, mas todas as regras desse regime, começando por revogar as reformas aprovadas nos governos Temer, Bolsonaro e também nos dos governos do PT e PSDB.
Essa unidade poderia estar sendo construída hoje, mas a CUT e CTB se recusa convocar uma coordenação dessas lutas, a serviço de levarmos sucessivas derrota sem luta, pavimentando o caminho do PT para 2022, mas também o fortalecimento da direita golpista. É fundamental que organizações como PSOL e PSTU, que compõe a unidade do super-impeachment com o PT e os ex-bolsonaristas rompam com isso e denunciem essa política do PT, batalhando conosco por exigir das centrais sindicais um plano de lutas.
|