O escândalo e a indignação gerados pelas denúncias de corrupção em torno da compra de vacinas, que vai desde o superfaturamento até a cobrança de propinas por parte de integrantes do governo Bolsonaro, incluindo militares de alta patente, abriu uma ótima oportunidade para as organizações e os partido de esquerda levantarem uma política e um programa independente da burguesia que coloque as mobilizações e todas as lutas da classe não apenas a serviço da derrubada do presidente genocida e de todo esse governo que inclui o General Mourão, Paulo Guedes e demais ministros, além dos mais de sete mil militares encastelados em postos chaves da gestão do estado que é produto e herdeiro do golpe institucional de 2016, mas a serviço da revogação das privatizações, da lei do teto dos gastos, da lei da terceirização irrestrita e de todas as reformas que retiram os direitos que classe trabalhadora brasileira conquistou ao longo de mais de um século de lutas. E, por fim, uma política que coloque a força das mobilizações também a serviço da luta por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, imposta pela força da mobilização da classe trabalhadora e dos setores oprimidos que seja um espaço para que os próprios trabalhadores discutam e decidam as soluções de fundo para os problemas estruturais que afligem os trabalhadores e o povo pobre do nosso país.

Isso seria uma política de independência de classe que é muito mais potente e muito mais benéfica para a classe trabalhador do que a política de impeachment de Bolsonaro, algo que, infelizmente, tem sido a política adotada pelas organizações e partidos de esquerda, como PSOL, PSTU e UP.

Com essa política, esses partidos da esquerda se colocam lado a lado com partidos burgueses e setores da direita mais reacionária, numa frente que permite aos setores da burguesia desviar a força das mobilizações das massas para saída do impeachment. Saída essa pela qual a burguesia conseguiria descartar o Bolsonaro, que nunca fez mais do que criar crises após crises, e alçar ao posto de presidente, ninguém mais, ninguém menos que o General Hamilton Mourão, que é vice-presidente da mesma chapa, com o mesmo programa antioperário, que é tão defensor da ditadura e dos torturadores quanto o próprio presidente, tão autoritário e tão genocida e corrupto quanto o próprio o Bolsonaro e que vai dar continuidade à política de privatizações e das reformas, como a reforma administrava, preservando assim todo o regime do golpe e seus objetivos, como as reformas e todos os ataques já aprovados. Ou seja, com essa política de frente ampla com amplos setores da burguesia a esquerda, na prática, subordina as lutas e a força das massas mobilizadas à tarefa de, no caso de se tornar inevitável a queda de Bolsonaro, garantir à burguesia a continuidade de um governo de extrema direita encabeçado pelo general Mourão, a manutenção do regime do golpe e a continuidade da agenda de reformas e privatizações.

Por isso, nós do Esquerda Diário/MRT e do Movimento Nossa Classe chamamos todas as organizações da esquerda a romperem com a frente ampla pelo impeachment de Bolsonaro que, em última instância acaba sendo pela ascensão de Mourão e preservação do regime do golpe e os ataques, e encabeçarem a luta pela convocação de uma greve geral pela derrubada de Bolsonaro, Mourão e o Militares, pela restituição dos direitos arrancados da nossa classe pelo regime do golpe, através da revogação das reformas e das leis de ataques já aprovadas, nesse governo e nos anteriores, incluindo os ataques dos governos do0 PT, e a lutar por uma Assembleia Nacional Constituinte, LIVRE E SOBERANA.