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Debate com a esquerda
Sobre a construção de um Pólo Socialista e Revolucionário proposto pelo PSTU e ativistas
Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

O PSTU está levantando junto a lideranças, ativistas e militantes dos movimentos sociais e de trabalhadores a proposta de construção de um Pólo Socialista e Revolucionário. Neste artigo buscamos dialogar com esta proposta.

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Em seu site o PSTU publicou um artigo chamado “Estratégia: Manifesto propõe a construção de um pólo socialista e revolucionário” e, ainda que não haja nenhum link para o Manifesto, o artigo aponta linhas gerais da proposta e coloca depoimentos de lideranças que estão encabeçando a iniciativa, portanto, faremos aqui um primeiro diálogo com este conteúdo preliminar, que podemos desenvolver após a publicação do Manifesto.

Consideramos progressista o caráter de debate que a proposta envolve, como coloca o artigo: “Esse programa do Polo deve ser construído por todos os que se disponham a ser parte desse processo, em uma discussão plural, coletiva, aberta. Assim, os grupos e ativistas que se incorporem a esse processo serão sujeitos de uma construção aberta, que recém se inicia (...) Essa é justamente a proposta do Polo: levar a discussão para todos os setores dos trabalhadores e construí-lo não como um bloco homogêneo, mas envolvendo os mais diversos setores, mantendo suas identidades e diferenças”. Consideramos saudável este método na esquerda e elaboramos este primeiro artigo nesse sentido de colaborar para o debate aberto na vanguarda, buscando os pontos de comum acordo para atuarmos, mas sem precisar com isso ocultar as diferenças, fazendo os debates que possam fortalecer a busca por uma orientação e concepções para a constituição de um polo que possa efetivamente fazer diferença na luta de classes concreta no Brasil.

Em primeiro lugar, sobre a análise da situação política no Brasil concordamos que o país enfrenta uma profunda crise social, econômica e sanitária e que, ao mesmo tempo, os grandes capitalistas seguem lucrando em cima do nosso suor e sangue enquanto Bolsonaro e Mourão fazem todo tipo de ameaças golpistas. Mas consideramos importante ver o papel do conjunto das instituições do regime político, como o judiciário e o Congresso Nacional que não são citados como responsáveis dessa grave situação política que passa o país. Isso é importante quando verificamos que essas instituições, junto à maioria dos governadores, estão unificados com Bolsonaro em todos os ataques e reformas anti-operárias que atingem as massas trabalhadoras e que todos eles foram protagonistas do impeachment de Dilma Roussef em 2016 implementando um golpe institucional com o objetivo de levar adiante um plano de ajustes mais duro do que o PT vinha fazendo.

Cada vez mais setores da direita e diretamente burgueses se auto-denominam como “oposição” a Bolsonaro e passam a defender em palavras o “Fora Bolsonaro” e o impeachment como uma tentativa de preservar este regime degradado e buscar uma “terceira via” para as eleições de 2022 que consiga garantir que a crise seja descarregada sobre as nossas costas. Várias das instituições do regime inclusive apoiam essa política. Por isso é um contrassenso total que as centrais sindicais, como CUT e CTB, mas também a CSP-Conlutas, tenham publicado uma carta pedindo a instituições como o STF e o Congresso Nacional que “assumam as rédeas do país”, enquanto a burocracia sindical se mantém em uma verdadeira trégua com o governo, mantendo as lutas isoladas e organizando uma agenda de mobilização de pura pressão eleitoral. Em nossa visão, não “reeditar” uma política de conciliação de classes, como colocam os companheiros em seu artigo, passa por denunciar o conjunto do regime político e também demonstrar o papel que vem tendo as grandes centrais sindicais como a CUT e a CTB, exigindo que rompam com essa paralisia e organizem de imediato um plano de lutas que possa colocar de pé uma poderosa frente única operária, ou seja, a unidade dos trabalhadores ao lado dos movimentos sociais, indígenas e da juventude para realmente derrotar este governo, e não assinar cartas junto com a burocracia sindical com sua política de apoio e subordinação às instituições do regime. Estas são questões fundamentais que consideramos necessário avançar em debate.

Em seguida da análise, o texto dá um salto e faz a proposta do Pólo Socialista e Revolucionário para a necessidade de fazer uma revolução no Brasil. Mais uma vez, é um objetivo que estamos de acordo, mas é importante debater a relação entre este objetivo da defesa do socialismo e da revolução e a política atual que este Pólo levaria adiante. Por isso, em nossa visão, seria fundamental debater o caráter do regime político atual no Brasil para definir qual política levar adiante, uma vez que a política de impeachment tal como defendida pelo PT, PCdoB, PSOL, PSTU, UP, PCB, PDT, PSB e agora MBL, Cidadania, Rede, Solidariedade, PV, (todos estes que compõe a convocatória do dia 2 de outubro inclusive), João Doria e outras figuras da direita serviria apenas para salvar este regime, colocando Mourão no poder, desviando e contendo a mobilização e impedindo que a classe trabalhadora entre em cena como sujeito político independente. Viemos abordando a necessidade de que a esquerda levantasse a defesa de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, imposta pela força da mobilização. Esta é uma diferença que não impede nossa unidade em distintos níveis, mas que deveria ser abordada inclusive pelo fato dos companheiros apontarem contra a política de conciliação de classes petista que tem como ponto central neste momento a defesa do impeachment junto da direita, o que mostra como é equivocado os companheiros assinarem e participarem dessa mesma política. Não podemos considerar que exista uma “etapa” na qual tenhamos que nos aliar com instituições e partidos burgueses que estão nos atacando para uma suposta luta em unidade de ação contra Bolsonaro, quando estes estão garantindo e sustentando todos os ataques contra a nossa classe. Deveríamos juntar forças para denunciar que estes setores burgueses que se dizem pelo “Fora Bolsonaro” estão em unidade de ação com Bolsonaro contra a classe trabalhadora, aprovando a cada dia ataques no parlamento, nos tribunais e onde governam. O que precisamos é da unidade de ação da classe trabalhadora contra todos eles. É preciso ter uma política de independência de classe desde já como parte de construir um caminho concreto no sentido de uma revolução operária e socialista. A independência de classe não se restringe a apresentar uma alternativa organizativamente independente nas eleições, é algo que está relacionado ao programa, que não pode ser adaptado ao regime democrático burguês como o impeachment, mas também à estratégia agora, pois para construir um polo como este, é necessário dar passos concretos no sentido da unidade de ação da classe trabalhadora, começando por unirmos todos os nossos esforços no terreno da luta de classes concreta agora.

É por isso que nós do MRT viemos fazendo vários chamados à conformação de um Pólo anti-burocrático e classista, com o objetivo em primeiro lugar de reunir a esquerda, seus parlamentares e os sindicatos que dirige, com uma política de solidariedade ativa para cada uma das lutas que surjam e pela coordenação destas lutas, que podem ser um contraponto a política de paralisia das centrais sindicais. Acreditamos que isso seria completamente necessário e possível porque temos acordo em diversos elementos de defesa da nossa classe contra os ataques. Por isso também queremos dialogar com a proposta de Pólo Socialista e Revolucionário feita pelo PSTU e ativistas porque consideramos que a oportunidade de debater estes grandes problemas do país pode contribuir em iniciativas unitárias começando pela defesa da consigna Fora Bolsonaro e Mourão que opinamos que deveria ser um eixo importante, mesmo que consideremos que é uma contradição defender essa consigna e o impeachment. Neste sentido, consideramos prematuro definir objetivos para as eleições de 2022. Deveríamos partir de buscar unidade entre nós na luta de classes concreta agora, começando por somar todos os esforços para fazermos a diferença em cada uma das lutas de resistência que surjam e que estão em curso.

Infelizmente as lutas que têm surgido têm ficado isoladas e não são coordenadas, como a dos indígenas em Brasília, a greve da Carris em Porto Alegre, a da metalúrgica Sae Towers em Betim (MG), a da MRV de Campinas, da Rede TV em São Paulo e a do Detran no Rio Grande do Norte e da Proguaru neste momento em Guarulhos. Nós do MRT viemos dedicando todos nossos esforços para que triunfem e na tentativa de gerar apoios mútuos no sentido de coordenação não corporativa, o que veio sendo reivindicado por todas essas categorias, mas não há comparação com o que poderia ser feito se toda a esquerda se une neste propósito. Teríamos outra força para exigir das burocracias sindicais e das direções majoritárias que se movam. Teríamos outra força para exigir um plano de luta no caminho de uma greve geral a partir dos processos concretos e contra os ataques em curso. Não negamos a necessidade de em algum momento debater a política para as eleições e que todas as nossas lutas se localizam num marco mais amplo de uma perspectiva socialista, mas a melhor forma de avançar posições nesse sentido é com a unidade entre os setores revolucionários para enfrentar os ataques em curso, e alertamos para o risco que isso termine ficando secundarizado frente a debates eleitorais que estejam separados de iniciativas nesse sentido.

São alguns primeiros apontamentos que colocamos para um diálogo fraternal com o PSTU e os setores que estão construindo o Manifesto e propondo um polo socialista e revolucionário, que consideramos que deveria contemplar algumas questões como essas também para os debates e para uma prática em comum.

Marcello Pablito,
pela Direção Nacional do MRT

 
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