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Eleições Rio de Janeiro
Marcelo Freixo quer governar Rio com neoliberal Arminio Fraga e com repressão policial “humanizada”
Jean Barroso

Dentro do golpista PSB, Marcelo Freixo prepara um programa que agrada grandes capitalistas e empresários e deixa intacta a obra do golpe institucional, sem sinalizar nenhuma mudança expressiva no histórico de ajustes contra o povo e da política repressiva do Estado.

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imagem: Ricardo Stuckert/PT

A degradação das condições de vida da população do Rio de Janeiro já ultrapassou há muito tempo os limites de um problema regional. Desemprego, brutalidade policial, ataques aos trabalhadores e corrupção da casta política, para favorecer meia dúzia de empresários enquanto o povo passa fome, são os retratos de uma realidade que já existiam fortemente durante os governos petistas, mas que se agravaram muito com o golpe institucional e a ida de Bolsonaro ao poder.

A contínua destruição das condições de vida do proletariado, do povo pobre e das classes médias baixas, seja através da precarização das condições de trabalho e desemprego, do custo caro para viver no Estado, do sucateamento dos serviços públicos e da ausência de estrutura para viver nos bairros pobres e nas favelas pode fazer parecer que qualquer mudança que tire o atual grupo de governo do poder será benéfico. Se aproveitando dessa situação, Marcelo Freixo busca preparar um programa que agrade grandes capitalistas e empresários, sem sinalizar nenhuma mudança expressiva no histórico de ajustes contra o povo e da política repressiva do Estado.

Freixo tem sinalizado abertamente em todas as suas entrevistas que tem buscado conversar com empresários e policiais. O vale tudo eleitoral de Freixo não vem de hoje mas há um pronunciado salto à direita. Freixo "dialogava com as instituições” disputando pelo PSOL. Agora ele dialoga diretamente com os capitalistas desde o início de sua campanha dentro do Burguês e golpista PSB. Seu programa ganhou contornos ao sabor do golpe institucional com o convite a nada menos que Armínio Fraga para contribuir com seu programa econômico.

Candidato com a benção dos banqueiros

Armínio Fraga é referência do capital financeiro no que se trata de ajustes neoliberais: começou a carreira Wall Street e rapidamente virou agente das privatizações e da redução do poder de compra dos trabalhadores quando era Presidente do Banco Central durante a gestão de FHC, de 1999 a 1 de janeiro de 2003. Defensor da autonomia do Banco Central, nas eleições de 2014 foi anunciado pelo candidato derrotado Aécio Neves como nome para o Ministério da Fazenda.

Questionado sobre sua contribuição na elaboração do programa de Freixo, Fraga afirmou que não fará parte do governo estadual. O nome dos ajustes neoliberais, no entanto, está jogando alto: em outra ocasião, afirmou que assumiria o Ministério da Economia em 2022 se lhe dessem liberdade para implementar sua agenda econômica. Em um aceno tanto para Lula quanto para Bolsonaro, Armínio ainda criticou a atual gestão por não dar andamento às reformas administrativa e tributária. Depois do naufrágio com a tentativa de emplacar Luciano Huck como candidato, Fraga agora é recebido de braços abertos por Freixo.

O programa de Armínio Fraga significa ataques aos trabalhadores, e é um aprofundamento do vale tudo eleitoral de Freixo. Se em outras eleições, pelo PSOL, Freixo acenou para banqueiros, hoje ele já é porta voz destes, abraçando o programa de ataques da direita tradicional. E Freixo faz isso em nome de uma frente ampla tão ampla que não deve nada a Lula e nela também cabe Geraldo Alckmin.

Com isso, o governo de Freixo propõe deixar intacta a obra do golpe institucional no Estado do Rio de Janeiro. Recentemente, criticou Claudio Castro não pela obra criminosa da privatização da Cedae, rifada pelo governador bolsonarista com ajuda do centrão, da Rede Globo e do PT, através de André Ceciliano, deputado estadual, presidente da ALERJ. A crítica, pelo contrário, era da incapacidade de Castro para negociar o Regime de Recuperação Fiscal:

Ou seja, Freixo vai manter o Rio de Janeiro dentro deste regime de recuperação fiscal que impede investimentos nos serviços públicos, valorização dos servidores da saúde e dos professores, impondo o aumento da idade para se aposentar e congelamentos salariais dos servidores estaduais que vão se refletir também no resto dos trabalhadores. Freixo ensaia, assim, a comprovação do que nós do Esquerda Diário afirmávamos: é impossível dar uma resposta à crise do Rio de Janeiro pensando que “governar é possível”.

Ao invés de um governo com a direita neoliberal, o que o RJ precisa é de uma Reforma Urbana Radical, que transforme os bairros pobres e as favelas em locais com condições plenas de habitação, com plena infraestrutura. Que transforme a relação entre a capital e as cidades da baixada, aonde estão concentrados a grande maioria do proletariado e do povo pobre, que vive em condições miseráveis e só veem a ação do estado através das brutais e assassinas invasões policiais. Um plano como esse poderia resolver também o problema do desemprego, colocando centenas de milhares de trabalhadores na sua realização.

Mas para que qualquer coisa do tipo pudesse ser pensada, seria primeiro necessário romper com qualquer austeridade fiscal. O Regime de Recuperação Fiscal deixa intacta a riqueza do capital financeiro representado por Armínio Fraga, deixando intactas a dívida pública e as grandes fortunas, isenções fiscais bilionárias e a corrupção, fazendo com que sejam os trabalhadores que paguem pela crise. Um programa desses afastaria a Rede Globo, afastariam os empresários com quem Freixo priorizou conversar no lugar dos trabalhadores, e também afastaria Lula, que já governou e se prepara para governar novamente com todos estes.

Mantendo a crise para os trabalhadores, Freixo deverá manter também a repressão

Não é só de Armínio Fraga que Freixo recebe conselhos. Freixo também recebe conselhos de ninguém menos que Raul Jungman, secretário de Segurança Pública do governo Golpista de Michel Temer e organizador da Intervenção Federal no Rio de Janeiro. Tal colaboração começou em junho de 2021 e coincide com o período em que Freixo abaixou o tom das denúncias sobre as brutalidades cometidas pela PMERJ. De lá para cá, Freixo privilegiou o diálogo com os policiais, e sobre as chacinas de Jacarezinho (capital) e Salgueiro (São Gonçalo), preferiu opinar que o que falta é investimento nas polícias, na prática absolvendo a polícia assassina de seus crimes. Esse pequeno “detalhe” sinaliza que investigações e punições de policiais assassinos de negros e pobres durante um eventual governo de Freixo, se existir, será feita de maneira a não desagradar Coronéis e PMs desta instituição assassina.

Mais que isso, foi durante a intervenção comandada por Raul Jungmann que Marielle Franco foi assassinada junto a seu motorista Anderson Gomes. Freixo sequer assume como plataforma eleitoral a necessidade de investigar e punir os mandantes desse assassinato político bárbaro. E como governador ele teria plenas condições de fazer isso! Mas como ele poderia assumir essa luta e, ao mesmo tempo, convidar um dos vários responsáveis por este crime ter ficado impune para ser consultor no programa de segurança pública?

Governar o regime do golpe é possível

A transformação de Freixo com sua saída para o PSB significou um grande giro à direita que já podia ser previsto quando este era candidato pelo PSOL. Vendo que isso era impossível convencer a Globo estando em seu antigo partido, Freixo foi convencido a governar com estes capitalistas, se aliando com representantes da direita neoliberal e repressiva e assumindo como seu o programa de Armínio Fraga. A volta a uma situação de "mais democracia", desta maneira, por via institucional e não da luta de classes e pelas mãos de um programa burguês de ataques aos trabalhadores é outra ilusão que agora é vendida pelo próprio Freixo. Em nome de sua frente amplíssima, Freixo promete não mexer em nada na obra do golpe institucional.

A história se repete como tragédia e depois como farsa, pois se antes era impossível usar o Estado capitalista com um "governo de esquerda" para acabar com o desemprego, arrancar direitos trabalhistas e melhorar as condições de vida do povo do Estado do Rio de Janeiro; hoje também impossível reverter a obra do golpe institucional e a obra do bolsonarismo dando as mãos com Alckmin, Armínio Fraga, Raul Jungmann e a Globo. Freixo sabe disso e por isso mudou seu discurso. É nisso que consiste seu giro político, convidando as figuras golpistas como consultores, apoiadores, aliados de chapa, etc.

A esquerda organizada e os setores progressistas cariocas, em especial os que foram seguidores e base votante do PSOL precisa tirar profundas lições do que foram estes anos com toda a esquerda carioca por trás de Marcelo Freixo, que agora até o PSOL reconhece, que ele nem dialoga com a esquerda. Anos perdidos atrás de um caudilho que sempre deixou claro que nunca teve nada de socialista. O PSOL está pagando com crises e rupturas essa estratégia. É necessário construir uma outra alternativa nacionalmente e no Rio em particular, que supere a crise do PSOL pela esquerda, desde um ponto de vista de independência de classe.

E nesse mesmo caminho, a situação da classe trabalhadora, dos negros e do povo pobre só piorou. Á luz dessas lições é preciso reagrupar a esquerda independente do PT para atuar na luta de classes e construir uma alternativa política que se contraponha a esse estado, combatendo o bolsonarismo e, também, todas as outras alternativas burguesas, sendo isso o contrário de subordinar programa e atuação ao vale tudo eleitoral, é para contribuir nesse sentido que o MRT constrói o Polo Socialista e Revolucionário junto a outras organizações.

 
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