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Direita machista
Arthur do Val e Gabriel Monteiro, duas expressões do machismo e reacionarismo do regime político
Juliane Santos
Estudante | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

As recentes acusações machistas envolvendo o Mamãe Falei e o vereador Gabriel Monteiro expressam a lógica que os atores do atual regime brasileiro lidam com as mulheres e os demais setores oprimidos, destilando discursos e ações machistas e realizando inúmeros ataques. Somente a força das mulheres autoorganizadas, em unidade com a classe trabalhadora e demais setores oprimidos pode lutar verdadeiramente contra o patriarcado e pelas nossas demandas

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IMAGEM: REPRODUÇÃO

Vieram à tona no último período dois casos absurdos que expressam o machismo presente no atual regime político brasileiro. O primeiro foi o caso de Arthur do Val, o Mamãe Falei, que teve áudios divulgados contendo frases machistas e absurdas contra as mulheres ucranianas, que estão no meio de uma guerra no momento, dizendo que elas "são fáceis porque são pobres" e realizando uma comparação entre as filas de refugiadas e as filas de baladas em São Paulo, dizeres que causaram revolta em diversos setores pelo nível de absurdo presente. De acordo com Arthur do Val, ele teria ido à Ucrânia para uma suposta ajuda humanitária no país. De lá pra cá abriram muitos pedidos de cassação de seu mandato, o que foi aprovado na comissão de ética da ALESP durante essa semana.

Outro caso nojento que nos chama atenção são as denúncias envolvendo Gabriel Monteiro, ex-soldado da Polícia Militar e ex-membro do Movimento Brasil Livre (MBL), atual vereador da cidade do Rio de Janeiro, filiado ao Partido Liberal (PL). Há denúncias envolvendo filmagens de Gabriel tendo relações sexuais com uma menina de 15 anos, e a divulgação de um vídeo em que o político assedia uma criança de 10 anos de idade que estaria em situação de rua. Além dessas acusações envolvendo casos de pedofilia, ex-funcionárias de Gabriel Monteiro o acusam de assédio e diretamente estupro. Agora, Gabriel também responderá na Câmara de Vereadores do Rio.

Tanto Arthur do Val quanto Gabriel Monteiro são expressão dos valores machistas e deturpados da direita e extrema direita reacionária, que atacam profundamente e de diversas maneiras as mulheres, os trabalhadores e demais setores oprimidos, utilizando para isso falsos discursos moralistas. Mas qual a saída contra eles e todo o machismo da extrema direita e da direita?

Nós do Grupo Internacional de Mulheres Pão e Rosas nos somamos a toda a indignação sentida pelas mulheres e pela população de conjunto contra atitudes repugnantes como essas, que traz um sentimento de revolta e de que algo precisa ser feito. Por isso o debate de qual estratégia devemos ter para realmente impedir que situações absurdas como essas aconteçam é fundamental, e nesse sentido é preciso que nosso objetivo vá muito além da cassação de mandatos para garantir que não aconteçam mais coisas do tipo, porque o que ocorre na prática é apenas a substituição desses por outros políticos, sejam dos mesmos partidos deles ou de outros partidos conservadores, que seguirão defendendo o ataques às mulheres, disseminando o machismo e se utilizando do patriarcado para os seus interesses. Além disso, os próprios atores do regime que sustentam figuras desse tipo, buscam se separar nesses momentos como se não fossem ideias também compartilhadas por eles. Não à toa contra Arthur do Val vimos até Sérgio Moro contra e muitos representantes da direita que até ontem andava lado a lado com ele. Não são apenas Arthur do Val e Gabriel Monteiro, esse é o regime político brasileiro, e essas ideias são expressões da direita patriarcal e escravocrata desse país e de um regime golpista que se ergueu sobre o sangue e suor de mulheres negras e trabalhadores. Portanto, não há saída institucional contra isso, como defende o PT e setores da esquerda como o PSOL, colocando a estratégia apenas no âmbito parlamentar.

Diante da profundidade do problema, somente a auto organização das mulheres, junto com a classe trabalhadora e todos os setores oprimidos que sentem na pele as mazelas do capitalismo podem dar uma resposta a esses absurdos. Não podemos confiar que esse regime político apodrecido que temos no país, que ataca as mulheres com reformas e precariza ainda mais a nossa vida, que aprofunda o machismo existente e que nega às mulheres o direito ao próprio corpo irá dar uma resposta às nossas demandas e verdadeiramente fazer justiça em casos como o do Arthur do Val e do Gabriel Monteiro.

O movimento de mulheres, aliado aos trabalhadores, já mostrou inúmeras vezes na história, em diversos países, a sua potência quando vai para as ruas lutar pelas suas demandas. Um exemplo forte que aterroriza a direita e extrema direita no Brasil são as fortes lutas da Maré Verde que ocorreram na Argentina e arrancaram a legalização do aborto. Isso com certeza tira as noites de sono de Bolsonaro, Damares Alves, e todos os direitistas e conservadores que no nosso país tentam retroceder o direito ao aborto mesmo nos casos em que são legalizados, como em casos de estupro, risco de vida da mãe e de feto anencéfalo.

Bolsonaro possui uma longa lista de ações e discursos machistas, que fortalecem e abrem mais espaço para conservadores e machistas de todo tipo. Um episódio que causou grande repugnância foi quando Bolsonaro disse à deputada federal Maria do Rosário (PT) que ela não mereceria ser estuprada porque era feia. Outros casos como o assédio sofrido pela Isa Penna pelo deputado Fernando Cury, ou mesmo a denúncia de tentativa de estupro e agressão física de Marco Feliciano à jornalista Patrícia Lelis demonstram o quanto todo tipo de machismo são intrínsecos à lógica de atuação da direita e da extrema direita e das instituições.

Por isso, diante de absurdos como esses que citamos as instituições brasileiras se mobilizam para "dar uma resposta a nossa indignação", propondo a cassação destes políticos para garantir que outros tão machistas e tão reacionários entrarão em seu lugar e continuarão a atacar as mulheres e os demais setores oprimidos, sem que isso desperte a nossa revolta.

Não podemos mais aceitar que situações como essas aconteçam, que nós mulheres sejamos assediadas e violentadas, que a gente sinta na pele todas as reformas e ataques que precarizam ainda mais a nossa vida nas duplas e triplas jornadas de trabalho que temos. Não aceitamos mais estar nos piores postos de trabalho, em uma sociedade em que uma mulher negra ganha menos da metade do salário de um homem branco, e ainda ter que passar por situações de ameaças e assédio nos nossos locais de trabalho.

O capitalismo aprofunda o patriarcado e faz questão de garantir a existência do machismo, pois essa lógica é lucrativa aos interesses dos grandes empresários, que buscam garantir que as mulheres estejam em suas casas, cuidando dos afazeres domésticos e das crianças, sem tempo para até lutar pelos seus direitos, o que enfraquece a classe operária de conjunto, e se aproveitam das opressões para nos colocar nos piores postos de trabalho, pagando menores salários que vão direto para seus bolsos.

O Golpe Institucional no país veio para aprofundar ainda mais os ataques que o governo do PT já vinha fazendo, com o objetivo de garantir o lucro da burguesia nesse momento de crise, e para isso as reformas e privatizações são fundamentais. Com a Reforma Trabalhista e a Lei da Terceirização Irrestrita, aprovadas no governo golpista de Michel Temer, nos reservam os piores postos de trabalho, com a Reforma da Previdência aprovada no governo misogeno e anti-operário de Bolsonaro tiram a possibilidade de nos aposentarmos, afetando profundamente a classe trabalhadora de conjunto, a juventude e as mulheres.

Para derrotar todos os ataques de Bolsonaro, que com seu extremo machismo abre espaço para figuras como Arthur do Val e Gabriel Monteiro, precisamos confiar somente na força da nossa autoorganização, sem expectativa de que uma política de conciliação de classes atenderá às nossas demandas, como fez o PT em 13 anos de governo, que em nome de "conciliar" os nossos interesses com os da burguesia impediu o avanço da luta das mulheres, como quando o PT cedeu a presidência da Comissão de Direitos Humanos a Marcos Feliciano, pastor homofóbico, racista e machista, que carrega uma acusação de estupro e deu declarações em defesa da ditadura e dos torturadores, ou quando a Dilma, em 2010, fez uma Carta ao Povo de Deus, em que assegurava às lideranças religiosas conservadoras a defesa da família tradicional e que o aborto não seria legalizado em seu governo.

Recentemente Lula demonstrou mais uma vez seu disciplinamento aos interesses mais conservadores do atual regime, após uma declaração sua de que "o aborto deveria ser um direito de todo mundo" para logo em seguida dizer que pessoalmente sempre foi contra o aborto, dialogando assim com os setores mais conservadores que recebem o aceno de que, pela via do PT não haverá nenhuma tentativa de fazer o movimento de mulheres avançar, ainda mais agora que Lula estará em uma chapa com Alckmin, reacionário membro da Opus Dei, que é contra o aborto e aos direitos das mulheres. Nesse sentido, o caminho que o PSOL trilha de estar em uma federação com um partido burguês como a Rede, de Marina Silva, partido que foi parte da aprovação da Reforma da Previdência e que é contra as pautas das mulheres, como a legalização do aborto, em que Marina Silva já disse que se fosse ser aprovada em um governo seu ela vetaria, ou mesmo o apoio do PSOL a chapa Lula/Alckmin, em que o PSOL busca ser parte da coordenação de campanha, também se mostra enquanto um grande equívoco.

A conquista das nossas demandas só ocorrerá por meio da luta das mulheres organizadas, em unidade com a classe trabalhadora de conjunto e todos os setores oprimidos, em luta contra esse regime político degradado que vemos que seus agentes tem como hierarquia aprofundar o conservadorismo e aplicar ataques em nome de atender aos interesses dos grandes empresários. Precisamos nos inspirar no que foi a luta das educadoras e dos educadores de Minas Gerais, que conseguiram uma importante conquista por meio de uma forte greve, que foi a derrubada do veto do governador Romeu Zema, o que permite uma garantia de que haja parte do reajuste do piso salarial, somando cerca de 40% de reajuste, conquista que agora exige a continuação da organização para garantir que essa medida será cumprida.

Contra o sistema capitalista que aprofunda o machismo e o conservadorismo para manter a lógica de exploração e opressão, precisamos responder com a força da nossa auto organização, batalhando pela construção de uma nova sociedade.

 
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