Kristalina Georgieva, diretora do FMI, disse que os conflitos na Ucrânia trarão sérios problemas para as economias pequenas. No entanto, a saída do FMI é a típica desse organismo: o empréstimo aos países menos desenvolvidos para sua recuperação; isso, como sempre, implica maiores medidas de ajuste econômico contra a classe trabalhadora. Embora anteriormente o FMI tivesse dito que, para apoiar as economias mais atrasadas, iria reduzir a taxa de juro para entre 2,5% e 5,5% para os países mais pobres, a verdade é que a própria recessão econômica global já vem provocando o aumento das taxas de juros, como aconteceu na crise de 2008. Outro indicativo de que as palavras desta organização não são confiáveis é quando se trata de cobrança de dívidas.
A inflação mundial é uma realidade que, embora tenha começado a ser palpável no início deste ano, se agravou nos últimos meses. Os estragos econômicos, causados pelo péssimo manejo da pandemia, já são vistos até nos países mais desenvolvidos da Europa, onde a base da população já sofre com a escassez e a miséria. Esta situação já vem tendo respostas por parte da classe trabalhadora, com mobilizações e greves contra a fome e pelo aumento dos salários.
Especula-se que a inflação suba para 5,7% nas economias mais avançadas, a mais alta dos últimos 58 anos. Enquanto isso, nas economias em desenvolvimento, a inflação seria de 8,7%, algo não visto desde a crise de 2008. Especificamente, segundo especulações do FMI, o crescimento econômico na América Latina não será o esperado, pois terá um crescimento de apenas 2,5%, 1% menos do que se acreditava no início do ano.
Soma-se a isso a guerra na Ucrânia e todas as perdas materiais que ela implica, principalmente vidas humanas, mas também o ataque aos meios de produção do país, além das diversas sanções de exportação contra a Rússia. Toda a estabilidade econômica se converteu em processo de regressão e incerteza. As chaves para entender a inflação mundial incluem, além das sanções na guerra, a quebra das cadeias de valor no campo geopolítico, ou seja, um conjunto de conflitos e tensões com reflexos econômicos que terão repercussões diretas sobre os pobres e a classe trabalhadora.
A diretora do FMI se baseia no fato de que os preços de grãos, óleos comestíveis, combustíveis e fertilizantes estão aumentando. Segundo a agência de alimentos da ONU, a redução nas exportações de trigo e grãos após o avanço da Rússia na Ucrânia ameaça lançar entre 11 e 19 milhões de pessoas a uma situação de fome nos países mais pobres, já que esses dois países são responsáveis pelo abastecimento de alimentos e quase todo o suprimento mundial de trigo.
Outro dos elementos envolvidos na desaceleração econômica global é o grande investimento no rearmamento da Europa. Por exemplo, após os conflitos na Ucrânia, a Alemanha deu uma virada histórica em sua política de armamento quando o chanceler Olaf Scholz fez um discurso dizendo que até 100 bilhões de euros serão alocados para fortalecer a defesa armada do país. Essa mudança é tão importante que a Alemanha investiu mais de 2% de seu PIB em gastos militares, mais ainda do que a própria OTAN exige.
Um dos efeitos mais palpáveis dessa política de militarização envolveu o FMI, muito presente naqueles países mais atrasados cuja economia é em si uma bolha prestes a estourar, como foi sua presença no Sri Lanka para militarizá-lo, cujas consequências têm provocado uma série de revoltas, produto da própria inflação e do descontentamento social, ao ponto que manifestantes tomaram a casa do presidente e do primeiro-ministro. Essa militarização, além de gerar mais dívida com o FMI, traz consigo perseguição, repressão e assédio à classe trabalhadora.
O FMI divulgou comunicados à imprensa informando sobre danos econômicos futuros, principalmente devido ao conflito armado na Ucrânia. No entanto, a inflação mundial é mais complexa do que parece e essa organização só procura aproveitar a recessão econômica mundial para introduzir a sua política de pilhagem enquanto o proletariado mundial se esgota para pagar a dívida, causada pelos próprios governos e nos interesses dos grandes capitalistas.
A saída da inflação não é através de bancos mundiais ou organizações como o FMI, que são apenas ferramentas para controlar as políticas de governos relacionados. Precisamos de uma solução da classe trabalhadora para a crise, que deve incluir uma política abrangente que enfrente todos os problemas internacionais. É por isso que, em primeiro lugar, temos uma postura de guerra à guerra na Ucrânia, ou seja, para acabar com a intervenção de Putin, mas também para acabar com organizações criminosas como a OTAN, que, como já vimos, só geram morte a cada centímetro de sua expansão. Por outro lado, as mortes e a desaceleração econômica do COVID poderia ter sido evitada se os governos não estivessem ao lado dos empresários e das elites.
Uma verdadeira saída em favor da classe trabalhadora implicaria como medidas mínimas: aumento dos salários e reajuste de acordo com a inflação, controle de preços de produtos e serviços básicos, distribuição das horas de trabalho entre empregados e desempregados, trabalhando 6 horas e sem redução salarial. Tudo isso seria possível se questionássemos os lucros capitalistas. A única maneira de fazer com que os capitalistas paguem pela crise —porque são eles que a provocaram— é através da mobilização nas ruas, um exemplo disso são, como mencionamos, as mobilizações e greves que percorrem a Europa.
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