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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Lula na USP: a reedição do velho projeto de conciliação é uma saída para a juventude e os trabalhadores?
Mariana Duarte
Estudante | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

Na última segunda-feira, dia 15/08, Lula esteve presente na Universidade de São Paulo. Poucos dias após a USP ter sido o centro do dia 11 de agosto, com a leitura da “Carta aos brasileiros e brasileiras” na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Lula fez um discurso na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Queremos aqui dialogar com cada um que quer derrotar o bolsonarismo, a direita e seus ataques.

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foto: reprodução

O debate sobre como derrotar Bolsonaro e a extrema direita é uma discussão que permeia várias das conversas entre estudantes e trabalhadores na universidade. No último período estamos vendo como se reafirma a ideia, instalada mais fortemente com a leitura da carta aos brasileiros e brasileiras na USP e com a posse de Alexandre de Moraes de que isso irá se dar pela via das instituições que apoiaram e aplicaram cada um dos ataques que enfrentamos no último período. Para nós da Faísca, é preciso enfrentar o bolsonarismo, a direita e os ataques na luta de classes. É nesse sentido que queremos aqui dialogar com os estudantes que estavam presentes no último dia 15/08 na FFLCH na aula com Lula.

O evento reuniu estudantes, professores e funcionários da universidade, tendo sido organizado pelo coletivo “USP pela democracia”, com o quEM realizamos um debate no Esquerda Diário aqui. Algumas das falas que antecederam a de Lula foram da professora Marilena Chauí, Ermínia Maricato e Fernando Haddad.
O grande ausente do evento, como já era esperado, foi Geraldo Alckmin, simbolo inequívoco da direita neoliberal que agora aparece ligado ao PT na tentativa de reeditar o velho projeto de conciliação de classes petista, e cuja presença na chapa presidencial tem um amargo gosto para a comunidade uspiana, que durante anos sofreu os impactos diretos de seu governo no Estado de SP. Frente a isso, nós do Esquerda Diário nos demos a tarefa, no evento e aqui, de relembrar qual é o legado de Alckmin na USP: precarização, ataques e repressão.

Geraldo Alckmin governou o Estado de SP dos anos 2002-2006 e 2011-2018, tendo o título de político que passou mais tempo no cargo de governador do estado. Levando a frente com afinco a tarefa de satisfazer a todo o custo os interesses da burguesia paulista, com o PSDB sendo responsável por um terrível histórico de ajustes e repressão, como foi no massacre do Pinheirinho e mais tantas outras operações policiais de uma das polícias mais assassinas do país. Foi um dos principais expoentes do desmonte da educação pública no estado, tendo se enfrentado com diversas greves de várias categorias do funcionalismo público, tendo criado nos professores e estudantes estaduais seus piores inimigos, que sempre lutaram contra as políticas de precarização de seu governo.

Na USP, universidade que foi fundada para atender as necessidades dessa mesma burguesia, e que até os dias de hoje funciona com o objetivo de formar aqueles que irão seguir dirigindo a sociedade a serviço desta mesma classe dominante, seu papel foi de contribuir para uma universidade mais precarizada e elitista. Foi durante o governo Alckmin, no ano de 2011, que a polícia militar passou a ser oficialmente aceita dentro do campus universitário, cuja presença hoje é ostensiva. Essa mesma polícia, que nem no momento da ditadura militar era permitida dentro da USP, foi o que garantiu as inúmeras repressões que vimos dentro do campus para reprimir greves e mobilizações dos estudantes, professores e funcionários que sempre lutaram contra o projeto de privatização do PSDB para a universidade. Essa política incluiu a aprovação sob bombas dos Parâmetros de Sustentabilidade, em 2017, ainda sob governo Alckmin, a chamada “PEC do Fim da USP” que é responsável pela absurda situação que chegamos hoje com falta de recursos destinados para a permanência estudantil, sobrecarga de trabalho para os funcionários da USP frente às inúmeras demissões que ocorreram, além da extrema precarização do ensino docente, com professores que ganham o valor de uma bolsa para darem aulas para alunos de graduação. Foi também durante seu governo que vimos a reitoria da USP e Alckmin desvincularem da universidade o HRAC (Hospital de Reabilitação de Anomalias Cranio-faciais) e o Hospital Universitário ser cada vez mais desmontado, o que também ocorreu não sem resistência da população, coletivos e movimentos sociais em aliança com os três setores da universidade em diversas lutas contra o projeto de desvinculação do HU, um dos grandes objetivos do reitor Marco Antônio Zago, grande aliado de Geraldo Alckmin. E foi no marco dessa mesma aliança que vimos um dos principais ataques ao direito de organização dos trabalhadores da USP, com o despejo de sua sede histórica do SINTUSP, sindicato de uma das categorias mais combativas do país, que sempre defendeu a universidade pública dos ataques de cada um do PSDB. Não é demais mencionar que Lula chegou a dizer em sua vinda a USP que os trabalhadores da USP tiveram reajustes salariais acima da inflação durante o seu governo o que ele não disse é que esses reajustes e as conquistas só foram possíveis graças às greves e lutas dos trabalhadores aliados aos estudantes contra os ataques do seu atual candidato a vice-presidente e em defesa da educação.

Cabe também lembrar da defesa de Alckmin nas eleições de 2018, do projeto de cobrança de mensalidades nas universidades públicas, que veio acompanhado da ideia de que “o Brasil não investe pouco na educação pública” demonstrando a realidade nua e crua de qual seu projeto privatista para a educação no país.
Com este legado que hoje nos apresenta ao cenário atual da universidade, seria no mínimo improvável que Alckmin marcasse presença no evento realizado na FFLCH, no entanto o candidato a vice presidente foi sequer citado por nenhum dos presentes no palco, com falas como a da professora Ermínia Maricato ressaltando a importância dos três pilares da universidade, ensino, pesquisa e extensão, com ênfase na prática da extensão e a necessidade de que a universidade atenda a população, sem dizer como será que um futuro governo do PT irá fazer isso ao lado de um dos principais responsáveis pela precarização da USP. No entanto, apesar de sua ausência neste dia, Lula já deixou claro que o candidato a vice-presidente irá marcar forte presença em seu governo, cumprindo o papel de dar total segurança para o mercado financeiro, a FIESP, os bancos e o agronegócio que nenhuma das reformas será revogada.

Ao longo de seu discurso, Lula retomou dados e políticas dos governos petistas em comparação com a terrível situação colocada pelo governo Bolsonaro. De um “país que era orgulho, virou paria”, dados sobre a inflação e a geração de empregos - sem mencionar o aumento de postos de trabalho terceirizados - . No entanto, assim como nós não esquecemos de seu vice, também não esquecemos qual foi o percurso traçado para que pudéssemos chegar ao governo Bolsonaro. O atual presidente não foi um raio num céu azul. O fortalecimento da extrema direita no país foi fruto de uma política de anos dos governos do PT, baseada no crescimento dos principais setores de sua base social, o agronegócio, as igrejas evangélicas, os militares e por aí vai.

E qual papel cumpriu o PT? O de, ao longo de mais de uma década de governo, fortalecer cada um desses atores, A questão é que em 2016, quando esses mesmos atores consideraram que o governo Dilma já não era mais suficiente para implementar os ataques que a crise capitalista internacional exigiu, deram um golpe institucional que foi parte do que abriu caminho para que Bolsonaro em 2018, com eleições manipuladas pelo poder judiciário pudesse chegar ao poder. Tudo isso aconteceu com o PT, nos sindicatos e entidades estudantis, cumprindo um verdadeiro papel de freio, sem organizar a luta dos estudantes e trabalhadores para derrotar o golpe e o avanço autoritário do poder judiciário. E hoje vemos que para Lula, a saída segue sendo reeditar esse mesmo projeto de conciliação de classes.

Em relação ao discurso para a educação, é preciso retomarmos alguns dados recentes. Hoje, mais de 80% dos jovens no país não têm acesso ao ensino superior, sendo que muitos destes são parte de ocupar as vagas no ensino privado, mercado que os governos do PT foram parte de fortalecer. Não à toa, Haddad foi um dos sócio-fundadores da “Todos pela educação”, um movimento empresarial de disputa das políticas educacionais que reúne setores de empresas como Natura, Vivo e bancos como Bradesco e Itaú. Para além disso, também é preciso dizer como a expansão do ensino superior realizada não foi sem precarização, assim como os demais programas como Prouni e o FIES, serviram para fortalecer ainda mais o ensino privado, tendo como resultado o endividamento de um setor da juventude, assim como isenções fiscais milionárias para essas mesmas empresas. Mesmo o REUNI, iniciativa reconhecida pela expansão das universidades federais, abriu margem para a atuação da iniciativa. Essas movimentações combinadas ajudaram a crescer grandes conglomerados que lucram com cada um dos ataques às universidades. Um caso bastante exemplar é o da Cogna Educação (novo nome da Kroton Educacional) que é o maior conglomerado de educação superior privada do mundo foi fundada por Walfrido Mares Guia um dos ministros de Lula.
A verdade é que a situação não é mais a mesma que no momento em que vimos o boom das commodities em seu segundo governo, que permitiu uma maior margem de disponibilização de créditos para a população mais pobre do país, medida que Lula em seu discurso fez questão de retomar, dizendo que o BNDS irá voltar a disponibilizar crédito para a classe trabalhadora O que vemos hoje é uma crise capitalista internacional de grandes proporções, que se aprofundou com os efeitos da pandemia e da guerra da Ucrânia ao longo dos últimos anos a história demonstrou como governos que se pretendem a governar em conjunto com a burguesia neste marco, tem como papel aprofundar a aplicação de ataques contra os trabalhadores e Lula já deixou claro que não irá desfazer a obra econômica do golpe, suas reformas, privatizações e cortes. Como transformar a vida das trabalhadoras domésticas sem revogar a reforma trabalhista?
Como recuperar a situação de precarização das universidades sem revogar a lei do teto de gastos e a lei de responsabilidade fiscal que suga todo o dinheiro dos cofres públicos para o pagamento da fraudulenta dívida pública?

Lula colocou que é preciso decidir o país que queremos. A verdade é que não tem como atender as demandas da população brasileira sem rever a obra econômica do golpe, revogando as reformas e cada um dos ataques aplicados e por fora de um programa que possa de fato apresentar uma saída para a fome e o desemprego, como a redução da jornada de trabalho para 30h semanais sem redução salarial, distribuindo as horas de trabalho entre empregados e desempregados e a expropriação das grandes indústrias alimentícias, assim como outros pontos de programa que defendem as candidaturas do MRT nacionalmente que em São Paulo são Marcello Pablito para deputado federal e Maíra Machado para deputada estadual.
Por fim, Lula, ao longo de todo o seu discurso, buscou dialogar com a ideia do papel da juventude universitária frente ao momento que vivemos, no marco das universidades serem centros de pensamento, colocando o papel histórico que a juventude tem de votar no dia 2 de outubro. É verdade que a universidade é um centro de pensamento e produção de conhecimento, mas sabemos que hoje por hoje o conhecimento nela produzido está a serviço não de atender às necessidades da maioria da população, mas os lucros de uma minoria. A USP mais especificamente cumpriu e cumpre o papel de produzir parte dos principais quadros dessa mesma burguesia, que comanda as grandes empresas, bancos e até mesmo a política nacional. Nesse marco, qual é a verdadeira tarefa histórica da nossa geração? Depositar toda a nossa confiança nas frágeis ilusões de um novo governo de conciliação de classes que irá preservar todos os ataques contra o nosso futuro? Ou batalhar na universidade (e fora dela) para que os estudantes não sejam uma ferramenta da burguesia a serviço de seus interesses dominantes, mas para que sirvam ao objetivo de transformar essa realidade como um todo? Isso somente pode vir por meio da luta e da nossa organização, em aliança com a classe trabalhadora, que ao se colocar como um sujeito político independente, é a única classe capaz de dar uma resposta de fundo a cada uma das mazelas desse sistema capitalista. É por essa saída que nós da juventude Faísca e do Esquerda Diário batalhamos todos os dias.

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