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Editorial MRT
Feminismo socialista para enfrentar o bolsonarismo, as reformas e a direita na luta de classes
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED
Flávia Telles

O primeiro debate dos presidenciáveis mostrou a unidade pelas reformas, o machismo da extrema direita e a demagogia do feminismo liberal. É preciso um feminismo socialista para enfrentar o bolsonarismo, as reformas e a direita na luta de classes.

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imagem: Bruno Santos - 23.jun.22/Folhapress

O primeiro debate dos presidenciáveis foi uma expressão cabal dessas eleições: um veto à esquerda socialista, unidade pelas reformas e ataques, machismo da extrema-direita, demagogia liberal com as demandas das mulheres, disputa do voto religioso e defesa da reprimarização da economia brasileira enquanto “fazenda do mundo” baseada no agronegócio. Uma enorme campanha em prol do liberalismo e do capitalismo, que levou a economia brasileira à catástrofe do atraso, da dependência, do desemprego e da fome, fazendo com que a fatia do PIB nacional na América Latina caísse de 44% a 31% em dez anos. Nesse ambiente artificial que não expressa as contradições sociais, a classe trabalhadora e suas demandas não foram convidadas para falar. O principal vencedor do debate foi o regime político do golpe institucional.

A tensão esperada entre Bolsonaro e Lula não chegou. Destilando seu reacionarismo negacionista atroz e dizendo que “a economia tá bombando”, Bolsonaro recebeu de Lula um tom ameno, direcionado a tentar captar uma base de direita, com alusões ao neoliberal Alckmin e com garantia de manutenção das reformas e dos ataques, tudo pra agradar a burguesia. Com esse debate “morno” coube a todos os outros candidatos buscarem um lugar ao sol. Ciro Gomes apareceu com seu clássico discurso fantasioso neodesenvolvimentista sem tocar em nenhuma reforma aprovada. Felipe D’avila foi uma representação caricatural do velho liberalismo do Partido Novo querendo privatizar tudo. Soraya Thronicke, representante do União Brasil e ex-amiga de Bolsonaro, e Simone Tebet do MDB promoveram o bate-bola do feminismo liberal do centrão que nada sabe da realidade das mulheres trabalhadoras. Buscaram surfar no movimento feminista, dizendo que essa não é uma pauta nem da direita, nem da esquerda, com Tebet causando um certo alvoroço nas mídias burguesas e nas redes sociais depois do naufrágio eleitoral da terceira via.

Veja mais em: Debate na Band: a unidade pelas reformas, o machismo e a demagogia liberal com a vida das mulheres

As demandas das mulheres foram protagonistas do primeiro debate eleitoral, mas somente aquelas que a direita liberal de Tebet selecionou para fazer sua demagogia. A senadora, que é aconselhada por ninguém menos que o golpista da reforma trabalhista Michel Temer, afirmou que defende a igualdade salarial entre homens e mulheres, ou seja, puro oportunismo eleitoral no país onde uma mulher negra ganha em média 60% a menos que os homens brancos e que a reforma trabalhista defendida por ela legalizou o trabalho informal e uberizado. Milhares foram levadas às condições de trabalho semi-escravas, mostrando que a única igualdade que essa direita de Tebet defende é a “igualdade” de que todos possam estar na miséria, na fome e na precarização. Vale dizer que Simone Tebet é frontalmente contra o direito ao aborto legal, seguro e gratuito.

Outros temas ausentes foram um plano de emergência contra a violência à mulher, e não só palavras ao vento se dizendo contra a violência machista e os feminicídios. O direito aborto apareceu somente na boca do reacionário Bolsonaro para se contrapor a esse direito elementar, todos os outros calaram sobre esse tema. Não poderia aparecer na boca de Lula, já que governar com a direita também significa rifar direitos elementares dos setores oprimidos, como vimos nos acordos firmados nos governos do PT com pastores e com direito até a ‘Carta ao povo de Deus’ para garantir que com Dilma também não haveria qualquer avanço na pauta do aborto legal.

Diante de toda essa situação é preciso entender que o bolsonarismo é também uma reação ao forte movimento de mulheres que se levantou nos últimos anos, porque identificam nas mulheres em luta um setor social que pode colocar um questionamento aos seus planos conservadores, de defesa da família tradicional, que na prática busca manter as duplas jornadas, a exploração do trabalho com as reformas, como também é a reforma da previdência, e o controle dos nossos corpos em nome do reacionarismo religioso. O feminismo liberal é uma resposta inofensiva diante dessa reação da extrema-direita, uma vez que na prática estão unificados no que diz respeito aos ataques, divergindo, em partes, no que é chamado de “costumes”. Se apropriam da luta das mulheres junto com empresas e bancos, buscando traduzir nossa angústia por direitos em território livre para pautas neoliberais e explorar mais homens e mulheres da classe trabalhadora. Nossa luta, das mulheres trabalhadoras, terceirizadas, professoras, jovens, indígenas, negras e LGBTQIAP+ não tem absolutamente nada a ver com Simone Tebet e Soraya Thronicke, que representam a voz feminina do plano de ajustes. Nossa luta é para que elas e todos os capitalistas paguem pela crise e não nós.

Por isso nosso feminismo socialista é anticapitalista e revolucionário e defende justamente que esse movimento de mulheres internacional possa se ligar às demandas da classe trabalhadora, já que somos “Nós mulheres, o proletariado”, como mostra nossa mais recente elaboração das Edições Iskra, para expressar a força das mulheres no interior da classe operária, maioria feminina e negra no Brasil, e de seus processos de luta. Essa é uma visão que também buscamos fortalecer com as lentes do marxismo revolucionário nos quase 100 episódios do podcast “Feminismo e marxismo" do grupo de mulheres Pão e Rosas, ferramentas para ser um golpe de morte no feminismo liberal.

Um feminismo socialista com independência de classe para enfrentar o bolsonarismo, confiando na nossa força organizada pela base e não na direita de Alckmin, vinculado às alas mais reacionárias da Igreja Católica. Um feminismo socialista que resgata a experiência histórica da nossa classe na luta pelo comunismo, separados da tradição stalinista que foi a contrarevolução especialmente no que diz respeito aos direitos das mulheres e que trata nossas demandas como divisão da classe trabalhadora.

Nessa perspectiva apresentamos as candidaturas de Marcello Pablito, referência na luta negra, como mobilização que conquistou cotas na USP, e da professora Maíra Machado, reconhecida nas lutas pelo direito ao aborto legal seguro e gratuito em São Paulo, de Flávia Valle em Minas Gerais que esteve em todas as greves da região, de Carolina Cacau no Rio de Janeiro, referência na luta das mulheres negras, e Valéria Muller no Rio Grande do Sul, que esteve apoiando as importantes lutas de rodoviários de Porto Alegre. Nossas candidaturas socialistas revolucionárias são parte do Polo Socialista e Revolucionário, que reúne setores diversos da esquerda que defendem em comum a independência de classe, com posições distintas. Nessas eleições, chamamos voto para presidente em Vera Lúcia do PSTU e Raquel Tremembé, que foram impedidas de estarem no debate, nas sabatinas e na TV - assim como as candidaturas do PCB e da UP -, o que expressa o caráter antidemocrático das eleições burguesas.

Nossas candidaturas defendem a revogação de todas as reformas, ataques e privatizações que passaram desde o golpe institucional de 2016, a começar pela reforma trabalhista, e o direito ao aborto legal, seguro e gratuito. Contra a barbárie capitalista que suga a vida dos trabalhadores nos locais de trabalho enquanto milhares estão no desemprego, propomos reduzir as jornadas de trabalho para 30h semanais sem redução salarial. Uma medida assim aplicada somente nas grandes empresas significaria mais de 5 milhões de novos empregos no país. É preciso dividir as horas de trabalho entre empregados e desempregados para garantir emprego com direitos para todas e todos. E para atacar a fome e a miséria social levantamos a necessidade de expropriar a grande indústria do agronegócio e reajustar os salários de acordo com a inflação.

Para organizar a luta dos trabalhadores e das mulheres nessa perspectiva é preciso exigir que as centrais sindicais, que estão numa trégua eterna com a extrema-direita, chamem um plano de lutas real organizado em cada local de trabalho, que possa responder ao bolsonarismo, que quer se expressar no dia 07, para fazer calar essa extrema-direita e colocar os trabalhadores em cena. Para enfrentar Bolsonaro, a direita e as reformas só existe um caminho: a auto-organização dos trabalhadores ao lado das mulheres, negros, indígenas e LGBTQIA+, e é nesse caminho que nosso feminismo socialista aposta para fazer com que sejam os capitalistas que paguem pela crise, como parte de abrir espaço à luta por uma sociedade socialista, o que é imprescindível para a verdadeira emancipação das mulheres. Convidamos todas e todos a conhecerem o grupo de mulheres Pão e Rosas, o Podcast Feminismo e Marxismo, a coleção mulher das Edições ISKRA, centenas de elaborações teóricas no Suplemento Teórico Ideias de Esquerda e nossas candidaturas socialistas revolucionárias para atuar lado a lado conosco na luta contra a opressão e a exploração capitalistas e pelo socialismo desde a base.

 
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