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A cena do Rap em Recife
Batalha na Várzea: “É amor pela cultura, ninguém aqui é remunerado de forma alguma”
Redação

Reproduzimos aqui uma entrevista com May, apresentadora da Batalha na Várzea, concedida a Renato Shakur. Ela contou um pouco como vê a cena do rap em Recife, a relação com os mc’s da batalha, as questões políticas que envolvem o rap e muito mais.

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Renato Shakur (R.S.): Como que é o corre da organização da batalha na Várzea e como ela surgiu?

May: Então, eu não sou a pessoa que iniciou o processo da batalha, eu não iniciei… Quando eu cheguei já estava acontecendo, quem organizava eram meus amigos e que me chamaram justamente porque eu sempre gostei da cultura, já acompanho rap, tipo de batalha assim desde 2015. E Aí, eu vim pra curtir mesmo. Quando eu cheguei aqui eu notei que tinham algumas coisas que precisavam de ajuste assim né… No meu conhecimento de batalha, de já ter frequentado. Na época não tinha folhinha, logo no início, folhinha pros mc’s né que entrega [quando ganha a batalha]. Aí pronto, porra vou fazer pra ajudar vocês. Chega aí com as folhinhas impressas, vou fazer a arte e aí vcs já colocam para dar por mc. Que aí fica uma coisinha mais legal, mais organizada. Fiz isso, chegou na outra semana os meninos já foram e escalaram, “fica aí pô anotando os nomes porque a letra de todo mundo é feia…tu já fica aí responsável por isso”, aí eu, “beleza, nenhuma”. Aí fiquei, de boinha. Nisso, daqui a pouco a galera fez “porra, tu já faz parte da organização”. Me colocaram no grupo da organização e começou a fazer.

Tinha uma hora que quem apresentava era Fly, no início. Daí Fly, fez, “pô não quero mais porque pra mim tá difícil lidar com tudo”, porque ele tinha que fazer as entregas dele e não batia com o horário. Ele tinha que se comprometer porque é uma parada que tem uma responsabilidade grande. Só ficou eu, Átomo e Marquinho. O que aconteceu foi que Marquinho também tava nas correrias dele,tinha passado em concurso, aí ficou mais eu e Átomo na frente da situação mesmo. Não tinha ninguém para apresentar, aí eu…“porra boy, vou fazer o que? Vou apresentar né”. Aí fui e meti as caras, vou apresentar essa porra. Apresentei! Aí deu certo, a galera curtiu, daí já foi uma parada maior ainda, porque são poucas as mulheres que estão à frente do rap aqui, na cena do rap, pouquíssimas. Aí tomei essa frente, peguei essa voz pra mim, essa responsa e eu comecei e daí foi fluindo até chegar onde tá, basicamente isso.

A relação que a gente tem com os mc’s, acho que a diferença da gente em relação às outras batalhas é que a gente fornece apoio a eles, coisas que eu acho que outras batalhas não tem porque a gente se preocupa, a gente é tipo uma família gigante, tá ligado. Então a gente se preocupa desde o momento da chegada deles a volta. Se o mc diz, “porra não tenho passagem não, vei, tô pulando catraca para poder vir”, a gente chega junto com passagem. “Ah, porra, é muito longe véi,vou ter que voltar de uber porque não vai ter mais ônibus”, a gente chega junto no uber. A gente tem o intuito de fornecer o melhor que a gente tem pra eles. A gente sabe do corre, o corre não é fácil para eles que são mc’s e tipo tão numa luta só para mostrar o que sabem fazer e tipo não tem remuneração, porra nenhuma. é mais umlazer né, só que eles fazem isso como um seviço, um trabalho.

R.S.: Como você vê a cena do rap em Pernambuco?

May: A cena de Pernambuco, ela não tem muita representatividade, porque não é dada a oportunidade pra isso. São moleques muito bons que sabem fazer o que fazem e entregam da melhor forma só que não é uma parada que tem tanta… Não sei dizer, credibilidade. Culturalmente, o pessoal não enxerga dessa forma, ainda é um público restrito, pessoas vêem como se fosse, “ah é coisa de marginal”, “coisa de bandido”, “de menino que não tem o que fazer da vida”. Enfim, é uma cena que ainda não tem tanto espaço, porém é algo que pode crescer muito, se for feito e induzido da forma correta. Eu vejo a cena daqui também, o que acaba prejudicando é justamente o fato de todos quererem ser mais do que o outro. não ter uma conexão, ao invés de querer se ajudar e se fortalecer, tipo, se juntar e se unir para fazer uma coisa grande, massa. O pessoal é bem restrito, fica numas picuinhas, sabe? Umas coisas de inveja, não sei dizer. Mas eu vejo que existe muita falsidade na cena do rap daqui de Pernambuco. A batalha na Várzea veio justamente para desconstruir tudo isso porque a gente não visa esse lade de “porra eu não quero te ajudar, eu quero que tu se dane”. A gente tá pelo contrário, a gente quer ajudar quer fornecer o melhor que a gente puder para poder ter algo massa, porque é amor pela cultura, ninguém aqui é remunerado de forma alguma. A gente não tem nada. A única coisa que a gente ganha é o reconhecimento dentro da cena. Tá aí o motivo da Várzea ser uma batalha que em pouco tempo conseguiu ter seletiva pro estadual, jornada. Então a gente tá ganhando espaço.

R.S.: Como que você vê a questão política na batalha da Várzea?

May: O rap é crítico, por si só já é uma parada que é extremamente crítica porque é um movimento de preto. É um movimento totalmente marginalizado, ele é periférico. A gente não vê tipo, um monte de brancão no meio do hip hop, é muito distinto isso. A partir do momento que é de preto e a maior parte que sofre são pretos isso aí já se torna grandioso. A gente justamente quando fala de polícia, que não pode ser machista, não pode ser homfóbico, não pode ter preconceito nenhum, é justamente porque a gente quer agregar todos os públicos, a gente não quer separar ninguém de ninguém. A gente tá aqui pra juntar que é justamente a ideia de fazer o movimento ser algo massa.

A gente quer que caia a ficha por todas as razões, não só politicamente… De ter o conhecimento, sabe? O fato da gente ser uma das batalhas que não promove mc’s que tem histórico da cena casos de agressão, assédio, aqui a gente não deixa rimar, aqui a gente barra na tora. Por mais que você seja artista, na cena você seja visto como artista, a partir do momento que você fez isso com sua vida, você assediou uma mulher, você foi agressor, disseminou ódio de alguma forma você já não é uma pessoa correta. Já não tem uma visão, eu quero liberdade para todo mundo. A gente tenta fazer justamente o inverso, o que a gente tem interesse é de “vamos conscientizar a galera véi, vamos fazer uma coisa para que a galera cresça, tenha um pensamento crítico, seja formulado isso dentro da cabeça dele. A gente tem mc’s que tem 15 anos ainda. A partir do momento que a gente tá dentro de um movimento e que a gente justamente une tudo isso para que não aconteça, essa pessoa que tem 15 anos e que ainda não tem um pensamento crítico formado, vai olhar assim e vai dizer “porra, dou valor, tá vendo…por que que eu vou ser assim? por que que eu vou ser um cara escroto? Então, é um meio de educação. A gente tá fornecendo algo para que seja visto como algo grandioso. Não como, “porra tô aqui só pra curtir um rolezinho e tá de boa”. É para que você tenha o conhecimento para quando acontece esse tipo de situação, porque a gente sabe, é numa rima, é improvisado, então você pode tá pensando aqui e falar uma coisa esdrúxula que você nem imaginava que ia sair, mas saiu. Então a gente chega e vai trocar uma idea, “pô, faz isso mais não”. E o ato político está a partir do momento que a gente luta justamente contra todas as coisas nas quais quem sofre somos nós mesmos.

Então a gente tem que lutar contra isso. E se a gente pode chegar e dar voz num movimento que a gente acredita, então a gente faça dessa forma. É um ato de protesto querendo ou não, porque a gente não concorda com o que é feito. A gente já teve várias vezes abordagem dentro da batalha e a forma que todos foram tratados, já teve tapa, já teve tudo, então tipo, a gente só tá ali fazendo o movimento e a gente é tratado como bicho. A pessoal só tá ali para fazer um movimento cultural…é você cortar as asas de quem quer voar, real. É pesado, então a gente luta contra isso.

 
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