www.esquerdadiario.com.br / Veja online / Newsletter
Esquerda Diário
Esquerda Diário
http://issuu.com/vanessa.vlmre/docs/edimpresso_4a500e2d212a56
Twitter Faceboock
Ideias de Esquerda
Ameaça de golpe ou "passar a faixa", o que pretende Bolsonaro?
Danilo Paris
Editor de política nacional e professor de Sociologia

Desde o reacionário 07 de setembro bolsonarista, algumas questões do quadro político brasileiro merecem ser analisadas.

Ver online

Após sua realização, era inegável atestar que foram atos fortes, mantendo a proporção do anterior. Evidenciou uma base social que segue ativa, e serviu para alimentar naquele momento uma expectativa de que a reversão do quadro eleitoral não era impossível.

Neles, a tônica do discurso de Bolsonaro foi eleitoral, e o questionamento às urnas não foi o que primou. A crítica ao STF foi pensando milimetricamente para não criar incidentes mais graves. Buscou evitar o episódio do ano passado, quando após atacar nominalmente Alexandre de Moraes, teve que recuar em carta articulada por Temer. Expressão de uma correlação de forças desfavorável a um discurso golpista, uma vez que poderosas frações burguesas como a FIESP e a Febraban, além do próprio imperialismo dos EUA, emitiram diversas declarações contra esse discurso. Esses setores que já participaram das mais variadas intervenções autoritárias, dizem defender a democracia, mas o que não querem são novas instabilidades políticas que possam gerar efeitos colaterais, colocando em risco as reformas e privatizações já aprovadas.

Contudo, a demonstração de força nas ruas não se expressou nas últimas pesquisas. Na DataFolha publicada logo após o 07 de setembro, Bolsonaro oscilou dois pontos para cima, gerando uma expectativa de algum impacto eleitoral dos atos, mas as duas outras pesquisas, Ipec e DataPoder, mostraram seu estancamento, sendo que na primeira Lula avançou um ponto, totalizando 51% dos votos válidos. Em nova DataFolha, publicada no dia 15/09, Bolsonaro oscilou um ponto para baixo, e Lula se manteve, mostrando a mesma tendência.

Fruto das pesquisas, Lula voltou a afirmar ser possível vencer no primeiro turno. Essa possibilidade também depende da desidratação de Ciro Gomes e Tebet. Isso não é certo, menos ainda o destino desses votos, mas 57% dos eleitores afirmam poder mudar de candidato. De todo modo, é difícil que a eleição se resolva no começo de outubro, ainda que não seja impossível. Desesperado com essa possibilidade, Ciro chamou de “terrorismo e fascismo de esquerda” a campanha do PT pelo voto útil, o que mostra que vai batalhar para não ver suas intenções de voto evaporarem até as eleições.

A política eleitoral bolsonarista

Desde então, Bolsonaro e seu clã vieram buscando um discurso mais "pacificado", em um sentido oposto do que muitos esperavam após o 7 de setembro.

Em um podcast dirigido por pastores evangélicos, e direcionado ao setor mais jovem, Bolsonaro se retratou de declarações que são menos aceitas por esse setor: pandemia, declarações machistas, e uma tentativa de limpar a barra do seu racismo. Nas considerações finais, e mais chamativa das declarações, afirmou que se Deus não quiser que ele seja eleito "passaria a faixa" e que se aposentaria da vida política.

A condenação de Eduardo Bolsonaro e de Tarcísio de Freitas ao novo ataque promovido por Douglas Garcia contra Vera Magalhães também se insere nesse mesmo contexto. A jornalista foi consecutivamente atacada pelo clã, inclusive pelo próprio Bolsonaro no debate da Band há pouco tempo atrás. Uma diferença evidente de tratamento, que expressa esse movimento.

Bolsonaro tem a contradição de buscar conservar uma base dura de extrema-direita, ao mesmo tempo que aposta em amenizar seu discurso para atrair um eleitor de "centro". Aquele bloco social que conseguiu capitalizar em 2018 não existe mais, quando a união entre os que queriam a retirada do PT e a qualquer custo e setores da extrema direita, convergiam em torno de sua candidatura. Um pilar fundamental da campanha do atual presidente segue sendo o agronegócio, de onde tem recebido doações milionárias dos ruralistas latifundiários, a expressão da fome e do atraso no país.

Mesmo com um discurso mais "ameno" podem continuar se expressando sinais de polarização social, com casos extremamente grotescos, mas que do ponto de vista de uma análise podemos identificar que são menores que em 2018 e por ora isolados, de maior violência da base bolsonarista. O caso brutal de um assassinato de um trabalhador do campo, que defendia Lula e foi morto por um eleitor de Bolsonaro com consecutivas facadas, ganhou grande repercussão. Não faz muito tempo, também ocorreu o assassinato brutal em Foz do Iguaçu, do militante petista que fazia aniversário com a temática de Lula e foi morto por um bolsonarista. Também a ameaça com arma de um bolsonarista contra Boulos e Ediane Maria durante uma panfletagem em São Bernardo do Campo se inserem nesse mesmo contexto. Há denúncias nas redes sociais de um carro que foi perseguido e sofreu uma colisão traseira por estar com adesivos do PT. Por ora, são casos que não são generalizados, mas que são elementos moleculares de uma maior polarização de uma fração de sua base mais radicalizada.

Diante dos absurdos ataques da base de extrema direita e da demagogia eleitoral de Bolsonaro, o que Lula, o PT e a CUT apostam?

Deixar a direita desfilar, esperar as eleições e paralisar a luta dos trabalhadores.

No tradicional "Grito dos excluídos", ocorreram pequenas manifestações, e no dia 10 de setembro, data alternativa proposta por essas direções, foram atos menores ainda, com pouca ou nenhuma expressão na mídia.

A política de esvaziar as ruas, e não ter nenhum plano de luta contra a extrema direita, tem os seus motivos. Lula e sua aliança com a direita, representada por Alckmin, não querem aparecer como promotores de mobilizações sociais. Agora, está divulgando com toda a centralidade o apoio de Marina Silva, da federação Rede-PSOL, para dizer que a frente ampla está conformada em torno de sua candidatura. Inclusive, além das alianças e do programa, também estamos vendo a conciliação de classes no financiamento das campanhas nessas eleições, com enormes quantias de dinheiros provenientes de mega empresários não somente por partidos burgueses como PSB, PDT, mas também pelo PT, PCdoB e PSOL.

Essa é a lógica da frente ampla, unir-se com os burgueses, desunir e paralisar a classe trabalhadora. Ainda que a chapa Lula-Alckmin não tenha o programa econômico de Bolsonaro, não se propõe a revogar as reformas e privatizações, como disse Lula na CNN, para apresentar-se como uma opção viável para diversos setores burgueses.

A tendência política principal continua sendo o de uma transição controlada para um novo governo Lula. Ela pode ser mais tumultuada, com ações da base de extrema-direita mais dura, ou mais disciplinada pelo próprio regime político, com Bolsonaro "passando a faixa". Nesses dois pólos, o que mais se fortalece diante dos últimos acontecimentos é o segundo. Contudo, os tons do quadro dessa transição ainda estão por se ver.

Os militares, que participaram da cerimônia de lacração das urnas, fizeram um acordo com Alexandre de Moraes, e tiveram parte de suas demandas atendidas no processo eleitoral. Apesar de não terem controle do processo eleitoral, avançaram posições, e conseguiram incluir o teste de biometria em 56 das 640 urnas que serão utilizadas no teste de integridade no dia das eleições. Além disso, pela primeira vez vão fazer sua contabilização paralela a partir dos boletins de urnas nas seções eleitorais. Um autoritarismo imenso com a anuência do TSE e de Alexandre de Moraes, este que setores do progressismo vem depositando ilusões de ser algum tipo de aliado na luta contra a extrema direita. Enquanto isso, novos casos de autoritarismo judicial seguem ocorrendo, como a decisão da justiça eleitoral em barrar a candidatura de Renato Freitas, ex-vereador de Curitiba do PT, por ter se manifestado contra o assassinato do jovem congolês Moïse Kabagambe. Essa é a justiça que se vai se manter como um pilar reacionário no regime político, para seguir buscando arbitrar nas disputas políticas.

O autoritarismo judicial também mostrou novamente sua cara anti-operária, como já havia feito em outras ocasiões, por exemplo vetando o aumento conquistado pelos educadores de MG. O STF que queria se apresentar como responsável diante da pandemia, agora vetou o piso salarial da enfermagem, o setor que esteve na linha de frente e mais sofreu com a Covid. Bolsonaro foi obrigado a sancionar a lei, e faz demagogia declarando-se favorável, mas o que não diz é que seu filho e coordenador da sua campanha Eduardo Bolsonaro votou contra a lei quando ela tramitava no Congresso.

Para além das eleições, a extrema direita se mostrou capaz de manter uma base organizada, que vai seguir existindo mesmo após as eleições. Esse setor não vai deixar de disputar suas pautas e seu projeto reacionário, aos moldes do que foi o trumpismo nos EUA. Essa tendência foi expressa por grandes meios da burguesia internacional, como a The Economist e o New York Times, pois são fatores que podem gerar novas crises políticas em 2023.

Reafirmamos que é uma tarefa urgente todos os setores de esquerda defenderem que as centrais sindicais rompam a paralisia e convoquem imediatamente um plano de luta contra os ataques da extrema-direita, contra os militares e contra as reformas que afetam a vida das massas. Nós do MRT estamos chamando voto em Vera Lúcia do PSTU para presidência, e através das nossas candidaturas no Pólo Socialista e Revolucionário e também do Esquerda Diário, vamos seguir denunciando essa extrema-direita, e cada ataque que qualquer setor sofra, batalhando ao mesmo tempo por um saída de independência de classes, sem aliança com a direita e os patrões.

 
Izquierda Diario
Redes sociais
/ esquerdadiario
@EsquerdaDiario
[email protected]
www.esquerdadiario.com.br / Avisos e notícias em seu e-mail clique aqui