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Eleições do CAELL
Unir a esquerda independente contra o bolsonarismo, Tarcísio e os ataques à educação
Redação

Nesta próxima semana vão acontecer as eleições para o nosso centro acadêmico na Letras-USP. Frente aos desafios de um novo governo Tarcísio em SP e um bolsonarismo que mesmo após a derrota eleitoral, sai fortalecido, é preciso unificar a esquerda independente do governo eleito para organizar os estudantes em defesa da educação pública.

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Amargando os quatro anos de governo Bolsonaro, passamos por situações inacreditáveis de tão reacionárias, discursos conservadores que atacam a nossa existência, ajustes e cortes que sentimos na pele com a precarização da nossa vida, a inflação, o desemprego, o risco do nosso futuro. Nos últimos meses, nosso curso esteve na linha de frente da luta contra os ataques à permanência estudantil e à educação, paralisando três vezes em um período de um mês, vinculando o ódio aos ataques e cortes de Bolsonaro à educação, com a situação que vivemos dentro da USP com as décadas de PSDB no governo do Estado de São Paulo.

Agora, terminadas as eleições nacionais, mesmo diante da derrota eleitoral de Bolsonaro com o recém governo Lula-Alckmin eleito, o que vai ficando cada vez mais evidente é que vamos precisar enfrentar a extrema direita e lutar pela revogação das reformas e dos cortes na educação com a nossa mobilização. Os bloqueios nas estradas foram a mostra nacional de como o bolsonarismo vai seguir atuando fora do governo, o que também estamos vendo com setores bolsonaristas que estão se encorajando dentro da FFLCH, como vimos com as recentes pixações reacionárias nos banheiros do prédio da Ciências Sociais e Filosofia.

Nas universidades estaduais paulistas vamos ter que nos enfrentar com o bolsonarista Tarcísio de Freitas e o legado de 30 anos de PSDB. Para isso será necessário fortalecer nossa entidade estudantil, o CAELL, defendendo uma política que tenha no centro a autoorganização dos estudantes de forma independente do novo governo que já declarou que não vai revogar nenhuma reforma, está disposto a governar um regime degradado em meio a crise e que contará com exímios representantes do neoliberalismo brasileiro, a começar pelo vice Geraldo Alckmin que tanto atacou nossa universidade.

É nesse sentido que o CAELL e todes estudantes da Letras podemos cumprir um papel na organização nacional do movimento estudantil frente aos desafios do próximo ano. É por tudo isso que, mesmo com diferenças que todos conhecem que temos com os companheiros da atual gestão Balalaica (composta pelo PSTU e estudantes independentes), algumas que apresentaremos aqui, outras sempre discutidas fraternalmente nos espaços do curso, achamos que é necessário unir os setores independentes do governo nessas eleições. É neste sentido que propomos que façamos uma discussão sobre qual programa de centro acadêmico seria necessário para fortalecer essa perspectiva, constituindo uma chapa unificada para essas eleições de CAELL, que aglutine também todes estudantes que querem defender essa perspectiva nessas eleições da nossa entidade estudantil.

Acreditamos que com essa unidade no maior centro acadêmico do país, podemos contribuir para fortalecer no movimento estudantil uma oposição à política das atuais direções da União Nacional dos Estudantes (UNE), que aliadas ao PT, pretendem manter a paralisia, apostar na via institucional (em aliança com a direita) e não organizar a luta: uma política de conciliação que desde o golpe institucional de 2016 já mostrou que só fortalece a extrema direita. Nesse mesmo caminho do PT estão indo setores do PSOL, como o Afronte, que também pretende lançar chapa nessas eleições de centro acadêmico da Letras.

Contra essa política de conciliação com a direita, nacionalmente construímos juntos com os companheiros do PSTU e demais organizações e coletivos que apostam na independência política, o Polo Socialista e Revolucionário. Mesmo com as diferenças que temos com eles - por exemplo com relação a estes não considerarem o impeachment de 2016 um golpe institucional e também ao apoio que deram à prisão de Lula em 2018 -, apoiamos no primeiro turno das eleições nacionais de 2022 as candidaturas da Vera Lúcia e Altino do PSTU, como forma de expressar a importância da esquerda apontar para uma saída de independência de classes para combater o bolsonarismo, sem alianças com a direita. E consideramos que é importante seguirmos debatendo as nossas diferenças, mas atuando em comum em torno do fundamental que estamos de acordo, ainda mais em momentos como o que vivemos hoje.

O ano de 2022 foi marcado por mudanças e desafios importantes para o movimento estudantil e toda a juventude. Com o retorno presencial, se escancarou a precarização da Universidade e especialmente de nosso curso de Letras. A falta de professores que se expressa na absurda redução de vagas no Espanhol, a estrutura precária do prédio que é provisório há mais de quatro décadas, o baixo investimento para as demandas de permanência acarretando uma maior demanda de bolsa auxílio, no corte e ausência de impressão na pró aluno, a ampla maioria do curso, não a toa composto majoritariamente por mulheres, negros, LGBTs, trabalhamos em estágios exaustivos, mal pagos e que roubam nossa energia e disposição para o estudo, o engajamento e a vida na universidade.

O que vimos enquanto isso, foi a reitoria num descaso completo, não garantindo sequer as medidas mínimas para que pudesse haver um retorno 100% presencial e seguro. Nesse sentido, nós da Faísca Revolucionária estivemos em cada assembleia, discussão e mobilização pelo retorno seguro, junto a diversos estudantes do curso e nosso centro acadêmico, dirigido pela gestão Balalaica (PSTU e independentes), assim como em ricas trocas com docentes do curso. Os espaços de discussão democrática, pensando formas de pressionar e solucionar nossas demandas, foram fundamentais para que já na calourada deste ano o curso de Letras estivesse na vanguarda, na linha de frente do movimento estudantil da USP, fazendo ato embaixo de chuva na frente da reitoria em exigência a salas de aula, a segurança sanitária, assim como demandas mais históricas que se escancararam, como contratação de professores e funcionários, e pela garantia de construção de um novo prédio para o curso.

Conseguimos mais salas de aula ao redor da FFLCH e outros institutos, alguns inclusive bem distantes, impactando na rotina e vida dos estudantes que começaram a ter que escolher entre chegar no horário da aula ou jantar no bandejão com filas quilométricas. Uma solução mais imediata foi garantida, fruto de nossa mobilização unificada, sem confiar em promessas feitas pela direção ou demais órgãos.

Seguimos em um prédio precário, que não comporta o maior curso da USP, muito menos nas condições estruturais que está. Seguimos com o problema de falta de contratação de professores, com habilitações que do país todo, só existem na Letras-USP, correndo risco de fechar, com sobrecarga de trabalho, com contratos temporários informais que precarizam o trabalho dentro da dita melhor universidade do Brasil.

A precarização dentro da USP de fato não foi somente uma pauta ou demanda mais imediata, mas permeou cada mês e cada episódio vivido por centenas de estudantes de nosso curso. O atraso no pagamento das bolsas, a falta de impressão e computadores na pró aluno, a falta de água e precarização profunda da moradia estudantil no CRUSP que afeta vários de nós.

Após 2 anos de pandemia em que a fragmentação pesou muito na vida de cada estudante que se sentiu sozinho e separado do conjunto de seu curso, uma organização massiva mais constante, fomentada das mais diversas formas, através tanto de assembleias, mas também de mesas de debate, aulas públicas, cervejadas, saraus. Nós da Faísca vemos que precisa ser encarado como um desafio a ser alcançado. Acreditamos que a atual gestão do CAELL teve o limite de não ter buscado massificar o movimento estudantil na Letras, e avaliamos que isso se deu por faltar iniciativas para além das assembleias para politizar os debates que estavam sendo feitos pelos estudantes todos os dias nas salas de aulas (de literatura, linguística, arte, cultura).

Imaginem o quanto não envolveria dezenas, senão centenas de estudantes e professores de nosso curso para debater, em São Paulo, em pleno ano convulsivo politicamente, o centenário da Semana de Arte Moderna, com vivos debates, intervenções, mesas, palestras, que vinculasse todo o conteúdo que vemos em sala de aula com a sociedade e política atual? Ou ainda se organizassem um grande Congresso da Letras, que buscasse debater qual conhecimento queremos discutir em nosso curso, e também refletir quais as demandas mais urgentes contra a precarização do curso (permanência, contratação, estágios precários…)?

Ao longo de todo ano vivemos importantes momentos e mobilizações, mas precisamos ir por mais. Uma coisa que ficou muito clara é que as coisas não nos são dadas. Agora em 2022 completamos 10 anos da lei de cotas, exemplo maior de uma demanda que foi arrancada com a força do movimento estudantil, do movimento negro, articulado com centenas de estudantes e trabalhadores, negros e brancos que viam o elitismo das universidades públicas que contam com o filtro racial e social do vestibular para deixar milhões de jovens de fora. Justamente, nada do que conseguimos esse ano nos foi dado, mas conquistado através da nossa mobilização unificada, e que em nosso curso ficou marcado como existe disposição, ocupando a linha de frente em muitos momentos deste ano. E ainda vemos muitas demandas a serem batalhadas, arrancadas e conquistadas, dentro e fora da USP para que essa seja uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre, sem vestibular e com permanência para toda a demanda.

E no fim das contas, nossa entidade, o centro acadêmico, na nossa concepção de pra que serve um CA, tem esse papel, de organizar as reuniões, caminhos e planos de como conseguir demandas urgentes que se colocam, cada vez em espaços de tempo menores, por conta da crise que vivemos. Mas também de buscar fomentar que exista um curso vivo, que a gente se aproprie do que estudamos para pensar a sociedade e atualidade, nos vendo como sujeitos para transformá-la, em uma unidade constante com os trabalhadores de nosso curso e universidade, percebendo que somente com as nossas forças conseguiremos não somente responder aos ataques, mas arrancar vitórias.

 
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