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Grupo de Estudos Marxismo e Luta de Classes
Estudantes debatem Manifesto Comunista e Primavera dos Povos na UnB
Luiza Eineck
Estudante de Serviço Social na UnB

Com o debate “Primavera dos Povos e o Manifesto Comunista: a política em Marx” fechamos as discussões do ano do grupo de estudos Marxismo e Luta de Classes na UnB, com dezenas de estudantes. Os estudos serão retomados em janeiro com mais duas sessões para finalizar o livro.

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livro “Marx e Engels - uma biografia”, escrito pelo bolchevique David Riazanov, e como vimos nelas, Marx havia formulado um ponto de vista inteiramente novo na história do pensamento social e político do século XIX. Ele se valeu de toda ciência e toda filosofia de seu tempo e a elevou com materialista histórico e dialético, uma guinada no pensamento filosófico da época.

Leia mais sobre a 2ª sessão aqui.

Portanto, como nos relata muito bem Riazanov:

“Marx destaca que é impossível compreender a história de seu tempo se não conhecemos o estado da indústria, as condições diretas da produção, as condições materiais da vida do homem, as relações que se estabelecem entre os homens no processo da satisfação de suas necessidades materiais. Marx começa então a trabalhar energicamente sobre essa questão. Nós veremos mais adiante onde ele chega no curso dos dois anos seguintes, antes da Revolução de 1848. Ele mergulha no estudo da economia política para melhor compreender o mecanismo das relações econômicas da sociedade contemporânea. Mas Marx não era somente um filósofo que desejava explorar o mundo; era um revolucionário que queria transformá-lo.

Nele, o trabalho teórico se igualava ao trabalho prático.”

O movimento operário, a luta de classes entre burguesia e proletariado, estava posto na realidade dos mais diferentes países europeus, permeados por tendências políticas particulares. A partir de extrair as determinações filosóficas do próprio desenvolvimento objetivo do capitalismo e da luta de classes, Marx e Engels se dedicam ao trabalho preparatório da organização política da classe trabalhadora, em paralelo ao trabalho de propaganda e crítica política das tendências dentro do movimento operário. Eles penetraram com entusiasmo nos círculos operários e confluíram com as alas mais radicais dos operários da Inglaterra, Bélgica, França, Alemanha, etc. Criaram as Sociedade de Correspondência, círculos secretos internacionais de comunicação entre os operários comunistas, gérmen da futura Liga Internacional Comunista, mostrando como Marx e Engels viam como crucial a organização internacional da classe trabalhadora. Se por um lado, a luta contra o capitalismo é primeiramente nacional, ela só o é em sua forma imediata, por em seu conteúdo e conclusão só pode ser mundial, tal qual o capitalismo. Contrariamente ao que gostam de pintar sobre Marx e Engels, ambos não eram homens de gabinete mas sim de partido.

Entender Marx como organizador, foi o primeiro ponto de reflexão da sessão, ou seja, qual foi o papel de Marx até a formulação do Manifesto Comunista, concretização do programa da Liga Comunista. Chegamos assim à segunda questão: "Como o Manifesto Comunista antecipou os movimentos da classe operária na Revolução de 1848?”. Essa questão se liga diretamente à importância da luta política entre as tendências do movimento operário, da qual o próprio Manifesto é parte. O Manifesto Comunista, publicado próximo dias antes da Revolução de fevereiro em 1848, a Primavera do Povos, não pôde ter influência nos acontecimentos, porém como o marxismo é uma teoria viva do movimento real da sociedade, foi colocado à luz da experiência concreta e permitiu Marx tanto tirar conclusões mais avançadas sobre suas concepções a partir da Revolução, mas também antecipar no Manifesto elementos que se concretizaram de maneira mais forte.

Uma questão clara foi como a luta de classes é o motor da história, e como a classe trabalhadora é o sujeito revolucionário da nossa época histórica. Nesse sentido, junto das lutas políticas anteriormente travadas com o voluntarismo “blanquista” de Weitling, de que apesar de entender que a luta de classes é violenta, acreditava que bastava um bando de pessoas armadas e dedicadas para organizar o lumpemproletariado (bandidos, presos etc) para a revolução; e com Proudhon, opositor da propriedade privada, mas que era um pacifista que não acreditava na luta por meio de greves, manifestações etc., mas que era necessário que os operários se tornassem pequenos proprietários; o Manifesto opõe ao socialismo pacífico, utópico e que evita a luta política, o programa revolucionário do novo comunismo crítico do proletariado demonstrando cientificamente a possibilidade da emancipação material de toda a humanidade. Isso parte das importantíssimas definições sobre a burguesia e o proletariado, o modo de produção capitalista, caráter do Estado - como balcão de negócios da burguesia (elemento que vai desenvolver posteriormente em suas obras) e a importância de um partido. Naquele momento, Marx foi especialmente brilhante, visto que tirou conclusões em um momento onde o capitalismo ainda estava em pleno desenvolvimento, era uma época onde as revoluções proletárias não estavam na ordem do dia, como hoje, no momento que vivemos do capitalismo em sua fase imperialista. Marx se antecipa nessa época “pré-revolucionária” que vivia e elabora uma teoria revolucionária em que suas bases se mantém até hoje.

Outra conclusão, se não a mais importante, que tirou à luz da derrota da revolução foi sobre o papel que a burguesia cumpriria no processo revolucionário. Marx tinha dúvidas sobre o caráter da burguesia, se ela poderia ainda cumprir um papel revolucionário na história como em 1789 na Revolução Francesa. Ainda que a Primavera do Povos abriu caminho para a burguesia de diversos países tomassem o poder político do Estado e superassem resquícios absolutistas e feudalistas, a burguesia foi completamente empurradas pelos anseios das massas não conseguindo levar suas reivindicações até o final. Como relata o próprio Marx:

"A burguesia alemã se desenvolveu tão frouxa, temerosa e lentamente que, no momento em que se levantava contra o feudalismo e o absolutismo, viu-se hostil ao proletariado e a todas as camadas da população urbana cujos interesses e ideias
se relacionavam aos do proletariado. Viu que tinha um inimigo não somente em uma classe atrás dela, mas em toda a Europa diante dela. Contrariamente à burguesia francesa de 1789, não foi a classe que defendeu toda a sociedade contemporânea
contra os representantes da velha sociedade, da monarquia e da nobreza. Rebaixou-se ao nível de uma categoria social oposta à monarquia e ao povo, indecisa diante de cada um dos seus adversários, pois os teve sempre adiante ou atrás dela; desde o início inclinou-se a trair o povo e comprometer-se com o representante coroado da velha sociedade, pois ela mesma pertencia a essa velha sociedade; (...)"

Nesse sentido, concluiu que era impossível qualquer tipo de alianças mesmo com a ala mais democrática da burguesia. Algo fundamental para os dias de hoje. E, ressaltou a importância da organização e independência política do proletariado. Junto dessa conclusão, aprofunda sua concepção sobre partido, que antes tinha como exemplo o partido jacobino da Revolução Francesa, que poderia ser construído no curso dos acontecimentos revolucionários e não era independente da burguesia. Chega a uma conclusão oposta, e esses elementos dariam as bases para a teoria de partido elaborada por Lênin no século seguinte. Inclusive, os bolcheviques aprofundam estrategicamente as grandes sínteses de Marx e seu legado hoje encontrado no trotskismo, na teoria da revolução permanente, é o fio de continuidade do marxismo revolucionário (debate que aprofundaremos na 5ª sessão dia 07/02/2023).

O grito do Manifesto ainda ecoa até os dias de hoje “Proletários do mundo, uni-vos”, vivemos uma crise do capitalismo aprofundada pela pandemia, seguida de uma guerra na Ucrânia, e com os últimos acontecimentos da luta de classes como na China e noIrã, provam como a classe trabalhadora está mais viva do que nunca, os ventos internacionais da luta de classes provam isso, essa é a potência que faz as classes dominantes tremerem. Precisamos olhar para o passado com uma perspectiva de atuar no presente para se organizar e transformar o mundo. Hoje, no Brasil de uma democracia profundamente degrada, com o autoritarismo do judiciário de um lado, e do outro os militares, arbitrando sobre a política; no país das reformas de Bolsonaro e Temer, que fazem a juventude negra e periférica pedalar 14 horas no iFood sem direitos trabalhistas; com uma extrema-direita institucionalizada e com uma base ultrarreacionária ativa, as lições do Manifesto e da Revolução de 1848 se colocam com toda atualidade. Só podemos fazer um combate consequente à extrema-direita e às reformas se nos organizarmos de forma independente do novo governo Lula-Alckmin que está de mãos dadas com os antigos golpistas de 2016, com o capital financeiro imperialista, figuras grotescas que odeiam a educação e apoiam os cortes e o teto de gastos como o banco Itaú, Paulo Lehman, e uma corja inteira de inimigos. Precisamos combater de forma independente e com um programa para que os capitalistas paguem pela crise!

Agradecemos todes que participaram e contribuíram com os debates, chamando todes a continuarem as discussões e para conhecerem mais as ideias da Faísca Revolucionária!

Retomaremos o grupo no dia 31/01 com o tema “O Capital: a crítica da economia política em Marx” e finalizaremos no dia 07/02 com o tema “Marx e Engels e sua continuidade no legado bolchevique”, os textos estarão aqui!

Para mais informações envie uma mensagem para (61) 99903-2711 (Luiza)

 
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