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Yanomamis
Militares ontem e hoje: As portas abertas do garimpo ao genocídio indígena
Redação

A exploração de terras indígenas para mineração no país tomou visibilidade nos últimos dias após visita de Lula à Terra Indígena Yanomami (TIY). Cenas absurdas de altos índices de desnutrição, miséria e violência escancararam o desastre que se aprofundou desde o governo de Michel Temer, seguido com Bolsonaro e os militares, aliados ao agronegócio e ao garimpo que lucram às custas das vidas dos Yanomamis e da destruição da natureza. Em pesquisa de documentos públicos e privados, o UOL Notícias registrou a presença do garimpo em Roraima há 60 anos, intensificado na década de 1970 com projetos da ditadura militar.

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11.nov.1975 - Grupo de indígenas yanomamis caminha pela rodovia BR-210, a Perimetral Norte Imagem: Bruce Albert/Acervo ISA

O período da ditadura, que foi de profunda repressão da classe trabalhadora brasileira com o apoio do imperialismo estadunidense, também foi marcado pela intensificação do acesso à terra Yanomami em Roraima. Os documentos visitados pelo UOL Notícias remontam que foi ao final do século 18 que abriram-se fazendas pelos pecuaristas na região de Boa Vista, a então capital de Roraima. Os contatos com funcionários do governo e missionários católicos e evangélicos ocorrem na primeira metade do século 20, e em 1958 o Serviço de Proteção aos Indígenas (SPI) emite um documento da administração local, órgão que antecedeu a Funai, indicando medidas contra a exploração da mão-de-obra indígena na mineração. Segue um trecho do documento:

“É de absoluta necessidade a instalação (...) de um posto de atração. Seria, assim, possível evitar [que] fosse o índio explorado pelo civilizado, quer usado como trabalhador na extração de minérios, como na invasão das terras em busca de produtos extrativos”
Telegrama da "ajudância de São Marcos", administração local do SPI, em junho de 1958

O início da ditadura militar foi responsável por executar três projetos que mudaram a posição dos Yanomamis, sendo eles:

Em 1970, o governo criou o projeto Radam, voltado a mapear recursos naturais da Amazônia. Nos anos seguintes, a iniciativa descobriu grandes jazidas minerais no subsolo de Roraima, especialmente ouro e diamante.
Em 1973, começou a construção da BR-210, chamada de Perimetral Norte. A abertura da estrada, que nunca foi concluída segundo o plano original, levou várias aldeias yanomamis a ter contato forçado com os trabalhadores da obra
No ano seguinte, em 1974, começou a construção da BR-174, a rodovia Manaus-Boa Vista. A estrada não atingiu diretamente o território dos yanomamis, e sim de outro povo, os waimiri atroaris.

Ao tratar sobre as violações dos direitos dos indígenas ocasionadas por estas obras, a Comissão Nacional da Verdade, executada de 2001 a 2014, durante o governo Dilma, aponta que os Yanomami foram afetados principalmente por epidemias, com casos de omissão de vacinação. Mais tarde, em 1985, ocorre a entrada massiva de garimpeiros nesse território, com apoio não só da ditadura, mas do governo da “redemocratização” na figura de José Sarney, então apoiador do atual presidente Lula.

“Não há um número oficial de mortos em decorrência dessas invasões, mas se estima que chegue aos milhares. Comunidades inteiras desapareceram em decorrência das epidemias, dos conflitos com garimpeiros, ou assoladas pela fome. Os garimpeiros aliciaram indígenas, que largaram seus modos de vida e passaram a viver nos garimpos. A prostituição e o sequestro de crianças agravaram a situação de desagregação social”
Trecho do relatório da Comissão Nacional da Verdade

A demarcação da terra Yanomami em 1992 ocorre após anos de pressão de indigenistas e antropólogos, ocorrendo durante o governo de Fernando Collor, exímio representante da implementação do modelo neoliberal no país, com escândalos de corrupção, desvio de dinheiro e uso de dinheiro público para interesses pessoais.

Ainda que a terra Yanomami seja a maior demarcada no Brasil, nunca se viu livre da exploração do garimpo. Dado que mostra que é impossível conciliar os interesses dos povos indígenas com os da iniciativa privada, dos grandes empresários que assolam as vidas dos povos com violência, estupros, mortes e exploração do trabalho. A redemocratização com a constituição de 1988 não foi garantia de terras demarcadas, os 13 anos do governo do PT não foram garantia de acabar com o garimpo nas terras Yanomami, e o atual governo Lula-Alckmin, ainda que apareça com um indígena passando a faixa, Sônia Guajajara do PSOL no Ministério Indígena e Joenia Wapichana da Rede na FUNAI, tem como carta na manga a proposta de Marina Silva em Davos de conciliar o cuidado ao meio ambiente com o capitalismo, com um chamado ao capital internacional.

Veja mais em: Justiça aos Yanomami! Bolsonaro, militares, o Estado e o agronegócio são responsáveis!

A luta unificada dos povos indígenas em 2021 foi ofensiva contra o Marco Regulatório de Bolsonaro, com manifestações durante semanas em Brasília que sofreram repressões brutais, ao mesmo tempo em que representantes do PT se aliavam com a direita para um pedido de impeachment contra Bolsonaro.

Leia mais: Os indígenas mostram o caminho, basta de trégua das centrais sindicais e da UNE

É urgente mobilizar medidas de garantia do tratamento médico dos Yanomami, bem como de todos os povos indígenas no país, ao passo em que a luta histórica dos povos indígenas precisa ser apoiada pelas centrais sindicais, como a CUT e a CTB dirigidas pelo PT e PCdoB, assim como a UNE que é dirigida pelos mesmos partidos, através de assembleias de base em cada local de trabalho e estudo, colocando também as universidades à serviço do povo Yanomami.

Não é a aliança com a direita e a burguesia que vai apontar o caminho para acabar com a exploração dos povos indígenas, já que são estes setores que lucram diariamente com o extermínio sistemático desses povos. Só a luta da classe trabalhadora junto a todos os povos oprimidos é capaz de dar uma resposta à gana capitalista que de positiva não tem nada, a não ser para aqueles que dela usufruem. Por isso o programa precisa ser no sentido da expropriação das empresas garimpeiras para utilização dos povos indígenas, defendendo uma reforma agrária radical que ataque diretamente o latifúndio para expansão das áreas de proteção ambiental e territórios indígenas. Que haja inspiração na luta do povo peruano contra o regime golpista de Dina Boluarte, unindo o campo e a cidade, trabalhadores e estudantes, contra um projeto de nação apoiado pelo imperialismo estadunidense e também pelo governo de conciliação de Lula.

 
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