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Análise
Eleições da Câmara e Senado: O PT de mãos dadas com o centrão
Willian Garcia

Hoje acontecem as eleições à presidência da Câmara e Senado. O centrão deve levar as duas casas, mas dentro de si há divergências, rachas e disputas partidárias. Aqui analisamos brevemente os possíveis resultados e qual papel cumpre o governo Lula-Alckmin nessa disputa.

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Hoje acontecem as eleições à presidência da Câmara e Senado. O centrão deve levar as duas casas, mas dentro de si há divergências, rachas e disputas partidárias. Aqui analisamos brevemente os possíveis resultados e qual papel cumpre o governo Lula-Alckmin nessa disputa.

A posse dos novos parlamentares se dá em meio às eleições dos novos presidentes das duas casas, no entanto as principais tendências apontam para a reeleição de Lira, praticamente certa, e a reeleição de Rodrigo Pacheco, onde há mais dúvidas.

Lira em um grande acordo nacional

Na Câmara as eleições parecem já estar definidas com um grande acordo entre centrão, o governo do PT e oposição bolsonarista. Lira caminha para se reeleger sem grandes dificuldades e com uma votação recorde próxima de 490 votos (a maior votação de um presidente da Câmara se deu com 430), reunindo 20 partidos, mostrando força enquanto ator político capaz de costurar esse grande acordo do regime. Mas não sem contradições de poder. Se por um lado Lira sai fortalecido com uma enorme votação, que não se via desde o primeiro governo do PT, por outro lado Lira terá que articular os grandes blocos dirigidos por Lula e Bolsonaro se quiser controlar com totalidade os recursos da Câmara.

Em relação a Lula, Lira veio fazendo sinalizações ao PT de que facilitaria a votação da PEC de Transição de Geraldo Alckmin, além de ter sido o primeiro líder de estado a reconhecer a votação das urnas na noite do segundo turno. Com a PEC aprovada, agora o PT dá sua contrapartida e apoia com toda sua bancada a reeleição do presidente da Câmara.

Já em relação a Bolsonaro, a moeda de troca com o PL se deu pela via das comissões e cargos na mesa diretora da casa. O partido de Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto fica com a vice presidência e disputa com o PT a Comissão de Constituição e Justiça, e aqui se encontra a primeira grande contradição para Lira.

Historicamente a CCJ fica com a maior bancada da composição, pois se trata de uma comissão com poderes de barrar propostas do governo, podendo provocar fortes crises no poder executivo. No entanto, se o PL, que tem a maior bancada nesse momento, consegue o controle dessa comissão, a vida do governo fica dificultada demasiadamente e os tramites congressuais podem se tornar verdadeiras batalhas dantescas dentro da Câmara.

O que Lira busca fazer nesse momento é garantir que a CCJ fique com o PT, mas em troca dê ao PL inúmeras comissões que possam costurar um acordo provisório entre governo e oposição dentro da casa. Para afeitos de análise, é preciso observar com atenção se o PL irá aceitar esse acordo, o que pode dar pistas de qual será a linha de parte do bolsonarismo institucional em relação ao governo.

Pacheco e a incerteza do bolsonarismo no Senado

No Senado nem sequer as eleições estão certas, com o PSD de Kassab trabalhando para garantir os votos para Pacheco dentro da sua própria bancada partidária, evitando traições de última hora que possam levar Marinho do PL ao segundo turno.

Segundo o próprio PSD, Pacheco já teria os 41 votos para se reeleger presidente do senado em primeiro turno. No entanto, o PL contra com traições dentro do bloco de Pacheco e espera conseguir levar Marinho para o segundo turno, assim ganhando tempo para costurar um maior acordo com mais partidos, ampliando sua base que hoje conta apenas com o apoio do PP e Republicanos.

Para garantir a reeleição, Pacheco tem negociado nos batidos com deputados do PP e Republicanos, tentando minar a base de 23 votos de Marinho. Esses dois partidos, apesar de buscarem o controle da casa com Marinho, também sabem que podem ganhar muito com traições que assegurem a reeleição de Pacheco, como por exemplo comissões e cargos na mesa.

Em meio a possíveis traições de ambos os lados, Lula entrou em cena. Na noite de ontem o governo licenciou 5 ministros senadores para que voltem ao senado e garantam a eleição de Pacheco, evitando que seus suplentes traiam as orientações de bancada e votem em Marinho. Esse é o caso, por exemplo, de Carlos Favaro, da agricultura pelo PSD, que volta ao senado impedindo que sua suplente bolsonarista, Margareth Buzetti, possa votar em Marinho.

As eleições na Câmara e Senado como primeiro teste político das novas forças no congresso

Mesmo o grande acordo na Câmara ao redor de Lira vem cheio de contradições e limites impostos pela distribuição de forças entre o bolsonarismo e a frente ampla. A indefinição no senado também aponta nesse sentido, mostrando que mesmo que Pacheco vença, o partido de bolsonaro deve ter uma votação bastante expressiva e tensionar essa casa nos próximos anos.

O que fica claro é que a política de conciliação de Lula tem levado as bancadas do PT a fazerem cada vez mais concessões ao centrão, sendo totalmente funcional as reeleições de Lira e Pacheco, que deram sustentação a Bolsonaro nos últimos anos. Essa política além de fortalecer setores da direita representados pelos partidos mais espúrios da política nacional - como Daniela do Waguinho, miliciana nomeada ministra do turismo, José Múcio, militar bolsonarista agora no ministério da Defesa - também desarma os trabalhadores, chamando nossa classe a confiar na institucionalização de suas demandas. Ou seja, confiar em nossos inimigos.

Nesse sentido, se faz ausente uma política de independência de classe que use o congresso nacional não como um espaço de disputa entre diferentes setores burgueses, mas sim como tribuna para denunciar o próprio bolsonarismo, o centrão e inclusive o governo de frente ampla de Lula-Alckmin. Essa orientação seria o oposto do que tem feito o PSOL, que apesar de lançar uma candidatura própria para as eleições da Câmara, se associou ao partido burguês de Marina Silva, a Rede, e está disposto a votar em tudo que o governo propor, chegando inclusive a participar reuniões do governo com o centrão de Lira, como no escandaloso jantar da semana passada que reuniu Boulos, Rosângela Moro e até Eduardo Bolsonaro. Portanto, não é com jantares com todo o tipo de reacionarismo que se faz política para os trabalhadores, mas sim com independência de classe e denúncias contra esse congresso nacional que funciona, nas palavras de Marx, como um verdadeiro balcão de negócios da burguesia.

 
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