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GREVE GERAL FRANÇA
Greve geral na França: o silêncio que grita
Thiago Flamé
São Paulo

Neste 7 de março, o movimento de trabalhadores viveu uma jornada histórica. Uma massiva mobilização em toda a França, que seguiu como greve renovável em setores estratégicos como as refinarias, os portos e as ferrovias, exigindo dos sindicatos que chamem uma greve geral até a derrubada da reforma.

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Desde o início do movimento contra a reforma da previdência de Macron e da enorme mobilização da greve geral de janeiro , a insatisfação vem crescendo na França e atingiu seu ponto mais alto da greve geral desta terça-feira. A pressão sobre as direções sindicais vem num crescente, pelo que os franceses chamam de greve “reconduzivel”, ou seja, uma greve geral por tempo indeterminado.

Cresce a ideia de que há que enfrentar a dureza do governo Macron, que dá mostras de total intransigência com uma ampliação maior da mobilização. Como está expresso nesta entrevista que publicamos no Revolution Permanente, a classe trabalhadora e a juventude francesa lutam contra uma classe dominante cada vez mais radicalizada e o que se coloca na ordem do dia é a luta para superar o corporativismo e o conservadorismo das direções sindicais e unificar as diversas demandas, salariais, contra a repressão policial, em defesa dos imigrantes, com a luta contra a reforma da previdência para que a perspectiva de uma greve geral por tempo indeterminado se concretize.

Ou seja, o que está em jogo na França neste dias é enorme e suas consequências são da maior importância para a luta da classe trabalhadora a nível internacional. Não é de se estranhar, portanto, o silêncio dos grandes jornais do país sobre a greve geral na França. Temem que o exemplo francês possa influenciar a classe trabalhadora do outro lado do Atlântico e seu temor tem bastante fundamento. O que chama atenção é o gritante silêncio, ou a pequena importância, que inclusive organizações de esquerda estão dando para um acontecimento de tamanha importância. A imprensa petista publicou notas informativas protocolares sobre a greve geral francesa e o PSOL reproduziu no seu site radar internacional uma nota informativa, que foi replicada pelo site esquerda online e só. Acontece que se tomarmos seriamente a análise da situação francesa e o que ela pode trazer de ensinamos para nós aqui no Brasil, o exemplo francês se torna uma pedra no sapato para a política de integração ao governo Lula e a estratégia de pressão popular sobre as instituições.

A França passou por eleições presidenciais ano passado e o segundo turno se polarizou entre a direita mais tradicional agrupada em torno de Macron e a extrema-direita de Marine Le Pen. Se tomarmos os resultados dessas eleições, o que vemos é um país dividido entre direita e extrema-direita, com o novo reformismo de Mélenchon e sua França Insubmissa ficando em terceiro lugar. Porém, menos de um ano depois das eleições, a maioria dos franceses diz estar contra a reforma da previdência e apoiar as mobilizações. Mélenchon têm pouco a dizer no momento atual, e o protagonismo passa a estar nas mãos dos sindicatos, das organizações sociais e das assembleias de base, que pressionam as direções pela radicalização e ampliação da luta.

Essa dinâmica deixa em um lugar muito incômodo os que veem a luta de massas como um apoio para a luta institucional. O que parecia impossível um ano atrás, derrotar Macron e a extrema-direita foi colocado como a tarefa do dia pelo movimento de massas, que para avançar neste sentido precisa superar as direções sindicais que se negam a ir a uma greve por tempo indeterminado e a levantar junto com a luta pela aposentadoria a luta em defesa dos salários, o que poderia incorporar grandes batalhões da classe trabalhadora precária numa greve ativa e conjunta, superando as greves por procuração, em que os setores estratégicos fazem a greve e o restante da classe trabalhadora apoia.

Se isso já é um incômodo para a esquerda que escolheu se integrar à frente ampla e ao governo Lula, como se essa fosse a única forma de enfrentar a direita, algo ainda mais incômodo está em curso na esquerda francesa. Incômodo para toda a esquerda adaptada às instituições da cada vez mais restringida democracia dos ricos, porém uma nota de esperança e otimismo para quem simpatiza com a ideia de uma luta anticapitalista e revolucionária.

Nos últimos anos o Novo Partido Anticapitalista , que surgiu com a ideia de uma aproximação entre revolucionários e reformistas passou por uma profunda crise em função dessa sua indefinição estratégica. Os setores que apostaram na ocupação de espaços institucionais e nas alianças com o novo reformismo da França Insubmissa se enfraqueceram, enquanto os que apostaram na luta de classes, na construção no interior da classe trabalhadora e da juventude, e numa estratégia revolucionária e anticapitalista, se fortaleceram.

Hoje o NPA explodiu e corre o risco de simplesmente deixar de existir. Um acontecimento enorme, se temos em vista que foram os teóricos do NPA que inspiraram em todo o mundo partidos como o próprio PSOL brasileiro. No entanto, sua ala revolucionária, organizada em torno do diário digital Revolution Permanente que foi expulsa do NPA ano passado por cometer o sacrilégio de propor um trabalhador revolucionário, filho de imigrantes argelinos, como candidato presidencial do partido, fundou uma nova organização, que pode dar um novo salto de construção se o movimento atual se aprofunde e se radicalize, como ficou expresso neste oito de março, nas colunas do Pão e Rosas, que só em Paris reuniu mil pessoas.

A luta de classes na França e novos processos de reorganização da esquerda revolucionária em curso lá, ainda embrionários, mas muito significativos, porque conseguem unir os diversos movimentos em torno de uma estratégia revolucionária em que a classe trabalhadora é o sujeito central, trazem lições que a esquerda institucional prefere ignorar.

 
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