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Movimento operário | Começou uma contundente paralisação geral na Argentina, que pode ser um passo para parar os ataques e derrotar a Lei Bases

Ontem às 22:00, em muitas empresas, fábricas e serviços do país começou a paralisação geral convocada pelas centrais operárias e sindicatos. No turno da noite já se sentiu com força a raiva com uma fortíssima adesão, que continua nesta manhã. Mondelez, Coca Cola, Fate, Techint, UTA, começam a chegar a imagens da greve. A mensagem tem que ser contundente. Pra cima com os salários, abaixo o ajuste. Que nesta jornada se sinta a força da classe trabalhadora para derrubar todo o plano de Milei e dos grandes empresários. A esquerda defende: assembleias para debater como continuar, paralisação ativa e mobilização quando a Lei Bases for pautada no Senado.

quinta-feira 9 de maio | Edição do dia

Um pouco antes das 21:00, nas linhas da fábrica Mondelez Pacheco não voava nem uma mosca. Não se movia uma máquina. A paralisação tinha sido preparado com conversas nos refeitórios e nos setores. As imagens das bolachas oreo paradas em cima da máquina eram um símbolo de quem são os que movem o país. Assim começava a noite uma nova paralisação geral do 9 de maio. Uma paralisação que a CGT e a CTA, Centrais Sindicais argentinas, demoraram o quanto puderam mas acabou se impondo pela raiva que geram todos os ataques de Milei.

Não foi somente Mondelez. Antes das 22:00, em muitas empresas as máquinas começaram a ser paradas. Chegaram informes da fábrica da Coca-Cola em Pompeya, das fábricas de pneus, das siderúrgicas como SIAT e outras do grupo Techint, das sedes de muitos terminais de ônibus. Na Fate, a empresa mandou todos os ônibus e chegaram vazios. Somente dois carneiros que não conseguem carregar nada.

A troca de turno foi o sinal para começar a greve. E começou de forma contundente. Antes dos grandes meios de comunicação e do governo começar a operar com a história das pressões e chantagens, da falta de transporte, dezenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras se pronunciaram.

Mondelez Pacheco. Poco antes de las 22 la fábrica ya estaba paralizada.

Bem cedo na manhã, as imagens das grandes cidades e zonas industriais de todo o país começaram a circular e demonstraram a contundência que se expressará durante todo o dia.

Na capital Buenos Aires, zonas emblemáticas como Constitucuión, Once, Retiro, estão vazias. Também aeroportos, rodovias

Na grande Buenos Aires também se sente fortemente. Não circulam trens, nem ônibus. Na zona sul, as plataformas da linha Rocca estão completamente silenciosos. O aeroporto de Ezeiza está completamente parado como se pode ver nas próximas fotos.

No interior, a imagem é a mesma. Em Mendoza, a paralisação começou a ser sentida no transporte. O aeroporto está completamente paralisato e os ônibus funcionam com frequência reduzida, com pouco movimento nas ruas. As escolas estão quase vazias, enquanto os escritórios estatais e bancos também estão totalmente paralisados. A partir das 10 da manhã, convocada pela Assembleia de Necessidade e Urgência, que nucleia assembleias socioambientais, de trabalhadores da cultura e organizações sociais e políticas, será realizada um ação no Nudo Vial, à qual também se somarão a Assembleia Interfaculdades da UNcuyo e estudantes secundaristas e licenciandos. Pela tarde também haverá uma mobilização no KM0 às 18:00.

Em Córdoba, a imagem da cidade é a mesma. A paralisação é total no aeroporto, colégios, no transporte tanto urbano, quanto interurbano. Os comércios estão quase todos fechados e a maioria das principais fábricas também.

Em Rosário, estado de Santa Fé, o posto está totalmente paralisado. Ante este panorama, a ministra de Segurança, Patricia Bullrich, anunciou que será aplicado o protocolo anti-piquete em Cargill.

No sul da Argentina, a paralisação geral começou forte e será ativa no estado de Neuquén. A paralisação do transporte é total, não existem aulas em nenhum nível educativo, os hospitais funcionam com equipe mínima, não abriram portas os organismos públicos, nem os bancos. A partir das 10 da manhã se realizará uma mobilização de organizações sociais e diferentes sindicatos ao monumento San Martín na capital. Também existem concentrações em Cutral Co, Plaza Huincul, San Martín de los Andes, Zapala e Junín de los Andes.

É necessário fazer uma paralisação contundente e preparar a derrota da Lei Bases e todo o ajuste. A paralisação começou formalmente na meia-noite desta quinta-feira. O último sindicato a confirmar sua adesão foi a UTA, ainda que empresas como o grupo DOTA pressionam para que o serviço funcione. Este fato é importante porque a greve do dia 24 de janeiro, além de parcial, não ajudou com que milhões de trabalhadores e trabalhadoras precárias, informais ou com sindicatos “carniceiros” possam aderir à medida.

As cúpulas da CGT e da CTA asseguraram que a medida será "total". No entanto, em alguns lugares setores de ativistas vão participar de ações para que a paralisação seja real.

A esquerda vem defendendo três ideias centrais.

Primeiro, que a paralisação geral deste 9 de maio tem que ser total e contundente. Será uma mensagem clara para um governo que insiste em avançar com seus planos de “motoserra” e “liquidificador” contra o povo trabalhador. Vamos colocar todas as nossas forças a serviço disso.

Segundo, que é necessário defender todas as demandas do povo trabalhador. Um aumento de emergência para os salários, aposentadorias e planos sociais, o fim das demissões, a homologação de todas as paritárias e a luta por um salário que cubra a “cesta familiar” (equivalente ao salário mínimo do DIEESE na Argentina), o rechaço a todas as medidas de ajuste e às leis de Milei e o não pagamento da dívida, entre outras reivindicações.

Terceiro, e muito importante, tem que nos dar força para avançar em uma batalha chave: a derrota da Lei Bases e a anulação da DNU. Por isso, exigimos da CGT e da CTA e de todos os sindicatos uma paralisação ativa com mobilização quando sejam pautadas a Lei Bases e Fiscal no Senado.

Neste caso fazemos um alerta: os blocos do peronismo e da UCR colocam centro ou buscam criar a ilusão de que o Senado pode “corrigir” alguns aspectos do projeto de lei que foi aprovado na Câmara de Deputados. Se isso acontece, a lei tem que “voltar” para serem tratadas as mudanças na Câmara de origem. Como denunciou o deputado nacional do PTS-Frente de Esquerda, Christian Castillo, é um engano: “os artigos da Lei Ómnibus e o pacote fiscal que sejam rechaçados por menos de ⅔ podem ser recolocados na Câmara dos deputados pela maioria dos presentes. Se o rechaço não é contra a lei completa, é apenas uma mímica de oposição”. Por isso vamos pela derrota total da lei no Senado e nas ruas.

Piquete na Fate, fábrica de pneus de San Fernando

Nenhum pacto, nenhuma armadilha

O 9 de maio será uma jornada chave. Colocará em jogo a força da classe trabalhadora para paralisar o país. Somos aqueles que fazemos funcionar os transportes de carga e de passageiros, a energia, as escolas e hospitais, os campos, aqueles que produzimos todas as riquezas e temos a capacidade de paralisar o país e mudar a história.

A esquerda, junto ao sindicalismo combativo, as organizações sociais e assembleias de bairro, vem à frente da resistência. Mas também exigindo das centrais sindicais que convoquem um plano de luta. É o único caminho possível. A única linguagem que a direita “libertária” que quer arrancar todos os direitos entende. Mas também aqueles que querem nos utilizar para pressionar a negociar seus próprios interesses.

Por isso, a esquerda, enquanto está na primeira fileira de cada luta e cada paralisação, denuncia a passividade das cúpulas sindicais que vem deixando passar os ataques e a Lei na Câmara de Deputados. Também os deputados da União Pela Pátria se limitaram a votar contrários, sem apelar por mobilização. Isso acontece porque seu objetivo político é administrar o país à serviço do FMI e dos grandes empresários mas com um pouco mais de regulação estatal, como vimos no governo anterior. Não querem derrotar o conjunto do plano de Milei com a ação do povo trabalhador. A paralisação precisa ser tomada como uma jornada de luta, mas também para colocar frente a milhões um caminho para que a classe trabalhadora se levante e para que a crise seja paga pelos empresários e seus governos.




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