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SEMANÁRIO

[Argentina] Jujuy prepara o futuro

Melina Doguino

Segundo Asse

[Argentina] Jujuy prepara o futuro

Melina Doguino

Segundo Asse

A luta em Jujuy antecipa o que está por vir, pelo ataque que se desenha e porque mostra onde está a força para enfrentá-lo. De um lado, os políticos de sempre, sem nenhuma exceção, governando para os empresários, aprofundando os ajustes, o extrativismo e reprimindo ferozmente. De outro, um povo trabalhador começa a se rebelar contra o poder para defender seus direitos, acompanhado pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade (FIT-U), que acaba de fazer uma grande eleição na província.

Este artigo foi originalmente publicado em 25 de junho, na edição argentina do semanário Ideias de Esquerda.

A imagem de Misael Lamas, de apenas 17 anos, com um olho vendado depois de o ter perdido devido à repressão da polícia de Morales, foi reproduzida por milhares nas redes sociais. Alejandro Vilca, gari e deputado nacional pela FIT-U, publicou recentemente uma famosa frase de Eduardo Galeano que descreve a situação que Jujuy está vivendo: “Todos nós temos sangue indígena, uns nas veias, outros nas mãos”.

As imagens da luta de Jujuy estão por toda parte. Até a ONU teve que se pronunciar contra a repressão brutal que o governador da frente Juntos por el Cambio, Gerardo Morales, desferiu contra professores, servidores públicos, comunidades originárias e a juventude que se fez presente: estudantes universitários, secundaristas, jovens precários. São comoventes as imagens de filas intermináveis ​​com tochas na mão, que vão de Quiaca a San Salvador. Estão lutando contra a reacionária e antidemocrática reforma da constituição provincial, promovida pela UCR [1]], endossada e votada pelo peronismo, pelas costas de todo o povo.

Como estopim do conflito, a luta dos professores teve papel fundamental, abrindo caminho para uma reivindicação generalizada, que uniu bandeiras no grito de “Acima os salários, abaixo a reforma”. Uma greve muito dura que desafiou as ameaças de Morales e a repressão [2].

Essa greve ganhou o apoio ativo de grande parte da comunidade; o que permitiu o surgimento de outras e diversas lutas. Se alguém tiver alguma dúvida de que os professores lutando também estão ensinando, olhe para Jujuy. Os salários dos professores estavam entre os mais baixos do país. As comunidades originárias veem como seus territórios foram destruídos por décadas, contaminando as águas e as salinas. A precariedade na juventude é de 90%. Estudar é privilégio de uma minoria. O dilema cotidiano é conseguir chegar ao fim do mês, pagar o aluguel, sem falar em ter tempo para se divertir e sair para beber com os amigos.

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Nas redes sociais (como vimos em algumas publicações do Franja Morada [3]]), surge o comentário: “É o que o povo votou”. Para começar, seguindo o processo eleitoral, Morales foi votado por cerca de 32% da população. Mas isso não significava dar ao governador o poder de avançar com a reforma e a repressão. Isso logo ficou claro. Por isso, uma professora disse em uma manifestação: “Morales filho da ****, votei em você e você nos traiu”. É a dinâmica eleitoral dos partidos burgueses, que fazem campanhas cheias de mentiras e demagogias, para depois responderem unicamente aos apelos dos empresários.

O lítio, cobiçado pelas multinacionais, é a base do negócio que Morales quer garantir com seus direitos de “propriedade” e suas limitações ao protesto social. Trata-se de negócios para poucos e é aí que sua política é direcionada. Mas uma coisa é ganhar as eleições e outra coisa é poder passar por cima do povo. Como dissemos nesta nota [em espanhol], existe uma relação de forças que ainda não está definida: a classe trabalhadora e os setores populares não estão dispostos a abrir mão de seus direitos como se nada tivesse acontecido. Diante de ataques maiores, a única coisa que se pode esperar é mais revide, mais luta de classes. Isso foi expresso e continua se expressando, de forma concentrada em Jujuy.

Ainda que alguns lutem para que as demandas dos povos originários, dos trabalhadores, dos jovens, das mulheres e ambientais caminhem separadamente, vimos as comunidades nos bloqueios de estradas de Purmamarca, com trabalhadores e estudantes da área da saúde organizando postos sanitários para atender os manifestantes feridos; mineiros que chegavam nas praças vindo de seus locais de trabalho cantando em marcha e recebendo aplausos; universidades que se abriram para receber as comunidades originárias e professores, contribuindo para forjar a importantíssima unidade operária-estudantil, chave na hora de reagir à repressão.

Um espaço de organização da juventude

Como em distintos processos de luta, no calor da mobilização vão surgindo experiências e formas de organização que valem destaque para se compreender a profundidade do fenômeno. Ao mesmo tempo em que as comissões da Convenção Constitucional (órgão onde se discutia a reforma da constituição) começaram a se reunir, começou a surgir o Comitê de estudantes e professores contra a reforma. A juventude do PTS o compôs desde o primeiro dia.

Ali se buscou retomar as melhores tradições do ativismo estudantil, realizando aulas públicas, assembleias, arrecadações solidárias, noites artísticas, cine debates e decidindo abrir a universidade para receber os professores e as comunidades que vinham do interior, da Faculdade de Letras da Universidade Nacional de Jujuy, para abrigá-los e poder oferecer-lhes um prato de comida quente.

A solidariedade e a importância de manter os espaços democráticos nos permitiram conquistar a unidade, e que este Comitê estivesse aberto a estudantes e trabalhadores que buscavam um espaço onde se organizar para sair e lutar contra a reforma. Tratou-se de um espaço onde tudo se decidia em assembleias, e onde se propunha intervir ativamente nos momentos decisivos.

Na Universidade Nacional de Jujuy, o peronismo está enraizado nas sedes dos centros acadêmicos desde 2019, sem convocar novas eleições, com uma infinidade de desculpas, com a cumplicidade da Franja Morada e de todo o regime universitário. É lógico que nenhuma dessas agrupações fez absolutamente nada para promover a organização do corpo discente e sua articulação com outros setores. Seu papel é justamente o contrário: facilitar aos poderosos a passagem dos ataques. A necessidade de coordenação foi outra discussão, desta vez com o CEPA, grupo estudantil do PCR, partido que integra a Frente de Todos. Apesar de terem sido uma força impulsionadora desse Comitê, a experiência comum neste organismo deixou em aberto um debate sobre qual deveria ser o papel do movimento estudantil nos conflitos dos trabalhadores e das comunidades originárias. Existe uma relação entre a solidariedade mais elementar que estabelecemos na universidade, recebendo os professores e apoiando suas marchas, ou trazendo apoio às comunidades que resistem em Purmamarca, e o passo seguinte, desenvolvendo assim uma unidade na ação onde o movimento estudantil esteja na vanguarda. Lado a lado nos piquetes junto aos setores em luta, e ainda mais no enfrentamento da repressão policial. Esta última perspectiva é a defendida pela juventude do PTS na FIT-U, e seu desenvolvimento requer instâncias democráticas de coordenação porque se trata de planejar as medidas a serem tomadas entre estudantes, professores, trabalhadores e comunidades originárias contra o mesmo inimigo. As divergências com o CEPA surgiram porque eles não veem a necessidade de uma coordenação desse tipo. Por isso, não estimularam que o Comitê fosse um espaço de coordenação, chegando ao extremo de se opor a que os estudantes apoiassem os bloqueios de ruas que enfrentavam a repressão, para depois romper e promover uma “assembleia autoconvocada” apenas de estudantes, sem professores ou setores das comunidades originárias. Este debate é muito importante porque de fundo trata-se de ter uma estratégia para vencer e não apenas para resistir.

É por isso que a juventude do PTS segue impulsionando o Comitê, propondo que seja um espaço de organização e coordenação, uma verdadeira instituição dos estudantes e professores que queiram discutir democraticamente, junto com as comunidades originárias e todo o povo trabalhador, como derrotar a UCR e o Partido Judicialista [4]], e como derrotar a reforma. A conclusão é clara: somos mais fortes quando nos unimos. É preciso um espaço para que possamos agregar mais setores à luta, nos fortalecer, debater na base, coordenar. Assim faremos os poderosos retrocederem e, assim, podemos vencer.

@keilazequeiross Ganamos una buena, ahora vamos por todoooo. Luchar sirve. Paro provincial hasta que caiga la reforma #Jujuy #ParaTi #Influencers #Reforma #LuchaDocente #CapCut #marchadeantorchas #Protesta #lucharportussueños #lucharsirve ♬ sonido original - keila zequeiros

Enquanto em Jujuy promovemos esta política, no resto das universidades do país lutamos contra a Franja Morada (a mesma que acabou de suprimir as eleições anuais na Universidade de Buenos Aires) que denunciava a “violência” em geral, e contra o peronismo que não quis mover uma palha para que as faculdades se mobilizassem. Com campanhas de fotos, assinaturas de professores e intelectuais, apoio de artistas como Dillom, e percorrendo cada curso para denunciar a repressão, buscamos mobilizar o movimento estudantil em favor do triunfo do povo de Jujuy. Talvez por isso a Franja Morada tenha se sentido tão incomodada e começado a mostrar sua verdadeira face, justificando a repressão, arrancando cartazes e travando os corredores, tudo para silenciar a campanha.

Explode a raiva

No cenário de semanas de greve dos professores por tempo indeterminado, com grande apoio popular e mobilizações, no sábado, 17 de junho, começaram os ‘piquetes em Purmamarca, no cruzamento das rodovias 9 e 52, uma das rotas importantes para a produção de lítio e também um importante ponto turístico. Foi uma das primeiras ações desse tipo. Também a primeira repressão brutal. Dezenas de detidos e feridos, entre indígenas, trabalhadores e estudantes, entre eles Nati Morales, legisladora eleita pela FIT, e Lucho Aguilar, jornalista do Izquierda Diario.

Foi a prova de fogo do Comitê. Ir apoiar o piquete foi uma proposta da Juventude do PTS. “É preciso colocar o corpo, não podemos deixar as comunidades lutando sozinhas nas ruas”. E assim partiram duas vans e carros com estudantes, professores, trabalhadores da saúde e artistas rumo a Purmamarca. Centenas chegaram durante o dia com comida, remédios e abrigo, para que o piquete não fosse interrompido pela fome ou pelo frio dos manifestantes. Formaram sua coluna junto com as comunidades que estavam ali desde a madrugada. Os trabalhadores da saúde montaram um posto de saúde que foi fundamental para atender os feridos na repressão. “Nunca estive em um confronto como este. No começo fiquei com medo porque o barulho das balas que ecoavam nos morros era atordoante. Olhei para os meus companheiros e encontrei a segurança que me faltava naquele momento. Nós resistimos da forma mais organizada possível junto com as comunidades, que depois não pararam de nos agradecer por estarmos presentes”, disse uma estudante da Universidade Nacional de Jujuy após a repressão. O CEPA, irritado com essas cenas comoventes da coordenação, rasgou a bandeira do Comitê enquanto os estudantes se dirigiam ao piquete. Isso não impediu a chegada de apoios para enfrentar a repressão e sustentar o bloqueio.

O corte em San Salvador foi impulsionado por estudantes do Comitê que realizaram uma assembleia junto a centenas de professores, trabalhadores empregados e desempregados, que faziam uma ocupação no acesso sul da capital. “Não podemos ficar à beira da estrada enquanto nossos companheiros estudantes, professores e as comunidades são reprimidos por defender suas terras e nosso direito de protestar. Se eles não têm medo, nós também não podemos ter”. Minutos depois, mãos levantadas foram vistas votando a favor de avançar para a rodovia. Contra toda a ideia de que a juventude vem se tornando de direita, no dia da repressão, estudantes que poderiam ter ficado em casa resolveram ir enfrentar a repressão e apoiar as comunidades. Inclusive, um dos alunos de História, que foi com o Comitê, levou um tiro no olho por ter voltado para a linha de frente, para ajudar as mulheres que não conseguiam se levantar por causa das balas nas pernas.

Em muitas partes do país, quando nos inteiramos do que estava acontecendo, desde a esquerda e junto a organizações políticas, de direitos humanos, movimentos sociais, agrupações estudantis e sindicais, o PTS impulsionou atos de rua para exigir a liberdade dos presos, e no encontro Memória, Verdade e Justiça foi convocada uma mobilização na cidade de Buenos Aires.

Enquanto isso, Morales publicou um anúncio de campanha que dizia: “Com um único artigo, acabei com os bloqueios de estradas na província”. A resposta popular foi de mais de 15 bloqueios, mantendo muitos nas ruas centrais. Antes mesmo dessas ações nas estradas, o governador havia sido obrigado a retirar alguns dos artigos mais repudiados da reforma, como a eliminação das eleições de meio mandato e a escandalosa resolução de que o vencedor nas eleições a governador obteria também a maioria legislativa. Porém, na segunda-feira, dia 19, após a resistência maciça nos bloqueios, ele teve que tentar uma manobra, apresentando outra modificação nos artigos como concessão. Não era uma concessão, e os povos originários entenderam assim. Por isso, a luta seguiu. Nesse momento, fazendo crescer a luta, os mineiros se somaram à batalha, as comunidades mantiveram os cortes de estrada e os professores continuaram a greve. Eles queriam que a reforma como um todo retrocedesse.

Na terça-feira, dia 20, a legislatura de Jujuy acordou com uma importante manifestação de repúdio à manobra. A reação popular foi ouvida. A resposta do governo foi uma repressão feroz: 70 detidos, mais de 180 feridos. Nesse momento, a central CGT [Confederação Geral do Trabalho da República Argentina] convocou uma greve de 48 horas. Como dissemos nesta nota [em espanhol], “A CGT Jujuy está alinhada com o peronismo provincial. O mesma que deu a Gerardo Morales o apoio e os votos para aprovar uma reforma constitucional que é rejeitada em toda a província. Talvez por isso a central sindical tenha ficado à margem de qualquer luta séria contra essa constituinte fraudulenta”. A nível provincial e nacional, desde a esquerda não paramos de exigir da CGT e da CTA [Central de Trabalhadores da Argentina] um plano de luta até que caia a reforma. Em todo o país, a primeira não foi além das palavras, a segunda mobilizou-se apenas na quarta-feira, 21 de junho, sem convocar a greve. Nenhuma apareceu na marcha de terça-feira na cidade de Buenos Aires, que foi massiva.

Mas além das burocracias sindicais e estudantis funcionais aos governos de plantão, nas ruas ninguém ficava alheio. “Tenho 14 anos, falei para minha mãe que ia comprar ração para meus cachorros, mas na verdade queria uma desculpa para me somar à marcha e enfrentar a repressão. Tenho muito ódio, estou cansado de viver assim e que tudo seja mais difícil. Vi as notícias e sabia que tinha que sair para a rua”, disse um estudante secundarista, enquanto gritava para a polícia “Olha, olha, eu trouxe comida para os cachorros de Morales”, com um saco de ração de cachorro em uma mão e, na outra, uma placa para se defender de balas. Explosões de raiva como essa podem chegar aos milhares.

As imagens rodaram o país inteiro e abriram um debate nacional. Falaram as figuras da direita e do peronismo. Alguns tacharam os manifestantes de “violentos”, inventaram fake news e exibiram o macarthismo típico de quem tem medo ao ver os trabalhadores levantarem a cabeça, como José Luis Espert (recém-incorporado à frente Juntos por el Cambio) que pediu diretamente que Nico del Caño e Myriam Bregman fossem expulsos do Congresso. O peronismo, por sua vez, denunciou demagogicamente a repressão, depois de vários dias de silêncio, e ocultando que fazia parte de impulsionar e votar a repudiada reforma.

Jujuy, um laboratório em dois sentidos

Como disse Fernando Rosso, pode-se dizer que Jujuy é um laboratório em dois sentidos. De um lado, para os de cima, um laboratório dos ataques e da repressão. É uma das províncias onde esses planos mais foram testados, atualmente com a reforma, e de forma autoritária; outro exemplo disso foi a prisão do líder indígena Milagro Sala em 2016. Gerardo Morales, atual pré-candidato a vice-presidente na corrida eleitoral encabeçada por Horacio Rodríguez Larreta, é governador desde 2015, quando venceu o peronismo. Mas, naquela época, a província já liderava o ranking das piores condições de vida. Natalia Morales, eleita deputada pela Frente de Esquerda em 2015, disse quando Morales venceu: “Outros eram a favor de uma mudança, já que os baixos salários, o emprego precário e as organizações clientelares predominantes na província não são consideradas conquistas”. As promessas quebradas por ambas as forças é o que causa a explosão da raiva.

Os planos de ataques, porém, não são exclusividade da direita. Ao lado de Jujuy, em Salta, está Sáenz, governador amigo de Sergio Massa, candidato a presidente da Frente de Todos, agora rebatizada de Unidos por la Patria [Unidos pela Pátria]. Esse é o peronismo que reprimiu os professores que lutavam por seus salários, deixando um saldo de mais de 20 detidos, e que tentou proibir os protestos. Isto sem contar os ataques por todo o país.

O que os une nessa confusão é o consenso sobre “o país do FMI”. Nem um, nem outro questionam que o Fundo é quem decide nossos destinos. Ninguém questiona o modelo extrativista e saqueador a que nos submetem. E eles sabem perfeitamente que esse modelo não funciona sem repressão. Por isso eles ficam atentos ao que está acontecendo em Jujuy e atacam a esquerda, porque seja lá quem governe, vê nesse conflito um espelho do que está por vir. Estão buscando uma forma de romper a relação de forças a serviço do grande capital e dos poderosos, mas não a encontram. É por isso que Jujuy também é um laboratório em outro sentido…

Um laboratório para os de baixo

O levante de Jujuy mostra a vontade de luta da classe trabalhadora e dos setores populares. Enquanto alguns lamentavam que “a rebelião é da direita” (enquanto engoliram sapo atrás de sapo e sucessivas direitadas no fechamento das chapas para as eleições argentinas neste ano), a realidade superou os jornais e as pesquisas (na última semana não houve uma única notícia do ultradireitista Javier Milei).

É que embora alguns queiram esconder, houve um fato que foi destacado por todo o jornalismo minimamente sério. Nas eleições de 2021 e 2023, a Frente de Esquerda realizou eleições históricas em Jujuy. “Alejandro Vilca, o deputado nacional do PTS que encabeçou a chapa como candidato a governador, alcançou 12,8% dos votos e ficou em terceiro lugar na votação. Na capital de Jujuy ele saiu ainda mais forte, com 18% dos votos, permanecendo confortavelmente – pela quarta vez consecutiva – como a segunda força política. O crescimento eleitoral da FITU é exponencial, de 300%, sendo que nas eleições executivas de 2019 obteve 12.630 votos e, nesta última eleição, chegou a 50.500 votos”. E isso não é por acaso, aliás, faz parte da relação de forças. Até Carlos Pagni no La Nación (que ninguém poderia acusar de “trosko”) destacou isso como um elemento para entender por que exploravam Jujuy.

Há uma frase que não para de ser repetida entre a classe trabalhadora e os setores populares. “Vilca é um dos nossos”. Depois de anos de política tradicional, de peronistas e radicais da direita que nada têm a ver com o povo e que não param de beneficiar os empresários, um gari de origem coya [5] que faz política defendendo que as prioridades devem ser invertidas, conquistou a simpatia e o apoio de dezenas de milhares, fartos do mesmo de sempre. Toda a campanha da esquerda se concentrou em denunciar a reforma reacionária dos peronistas e da UCR, e em apontar que só há saída para os de baixo se organizando e lutando nas ruas.

Essa influência colocou-se em movimento na luta atual. Na convenção constituinte de Jujuy, a FIT conquistou 6 legisladores. Os companheiros do PTS, como Ale Vilca, mas também Natalia Morales, Gastón Remy, Keila Zequeiros, usaram suas bancadas, naquele ninho de ratos onde estava sendo preparado o ataque, para denunciar o que estava acontecendo. Quando a UCR e o PJ quiseram discutir à portas fechadas, os constituintes da FIT exigiram que o “debate” fosse transmitido, para defender o direito do povo de saber o que se passava. Tentaram censurar Gastón Remy quando ele transmitiu uma sessão de seu celular, mas graças à luta que travamos, ele conseguiu. Quando se preparavam para votar a reforma e esgotaram-se as possibilidades de aproveitar as bancadas para divulgação e chamado à luta, nossos constituintes renunciaram para estar nas ruas.

Leia também: A luta contra a reforma constitucional em Jujuy e o papel da esquerda

@alejandrovilcajujuy No vamos a ser parte de una Convención que conspire contra el pueblo trabajador. Esta lucha sigue hasta que caiga la reforma ✊🏾 #Reforma #Morales #jujuy ♬ sonido original - AlejandroVilca

Além disso, vale destacar que desde a esquerda, em todo o país, junto com organizações de direitos humanos e sindicatos combativos, estivemos na primeira fila mobilizando continuamente contra a repressão e em apoio ao povo de Jujuy. Da Patagônia a Quiaca, dezenas de mobilizações, cortes de rua e pronunciamentos foram realizados para dar visibilidade ao que estava acontecendo e pedir a liberdade dos detidos. Por sua vez, nossos companheiros Myriam Bregman e Nicolás de Caño, assim como outros dirigentes do PTS, viajaram a Jujuy para denunciar nacionalmente a repressão em todos os meios de que dispunham. Nico, em particular, sofreu essa repressão. Ele estava presente na província na terça-feira, dia 20, quando ocorreu.

O PTS, em cada local de trabalho e estudo, em cada bairro e recanto da província onde atua nossa militância, vem levantando a necessidade de colocar de pé uma Assembleia Provincial de trabalhadores e comunidades originárias, juntamente com os movimentos sociais, setores estudantis, para avançar na coordenação dos distintos setores, e discutir democraticamente, em comum, consensuando e coordenando desde baixo como aprofundar a luta para derrubar a reforma. Tal organização seria uma ferramenta poderosa para forçar os sindicatos e centros a romper com a passividade, lutar por uma greve ativa na província e um plano de luta em nível nacional.

Essa sinergia entre a influência conquistada na eleição e a intervenção na luta de classes é a aposta que o PTS está assumindo para enfrentar o que está por vir. Os tempos que vêm são de ataques, não importa quem governe. Por isso, é necessário aproveitar cada oportunidade e intervir em cada luta que temos para impulsionar, com toda a organização desde baixo, a coordenação e a atividade de todo o povo trabalhador para colocar de pé uma poderosa força social e política que se prepare para enfrentar o futuro em todo o país.


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FOOTNOTES

[1União Cívica Radical, partido de direita do qual faz parte o governador de Jujuy, Gerardo Morales [N. T.

[2No sábado, dia 24 de junho, em assembleia do Cedems (um dos sindicatos dos professores), em uma votação bastante apertada, uma pequena maioria votou por aceitar o último acordo salarial oferecido pelo governo (240 votos a favor, 214 contra). Nesta assembleia, a Agrupação 9 de Abril composta por docentes independentes e do PTS, Partido dos Trabalhadores Socialistas, organização irmã do MRT na Argentina [N.T.] foi parte do amplo setor que votou pela continuidade da luta por considerar a proposta insuficiente neste momento político. Foi proposto continuar a paralisação por pelo menos 48 horas, para ter tempo de realizar uma ampla consulta democrática nas bases sindicais sobre como seguir a luta. Então, ao votar apenas pela rejeição ou aprovação, ganhou a proposta de rejeição e pela paralisação para se ter tempo de organizar, com as comunidades originárias e com todos os setores em luta, as medidas mais fortes que poderiam ser realizadas conjuntamente no momento atual. Por outro lado, na assembleia foi decidida a formação de uma Comissão de Solidariedade para continuar a luta contra a reforma junto com as comunidades originárias. No último domingo, aconteceu o Congresso da Adep, que reúne os docentes do ensino primário. Lá foi discutido como seguir a luta pelas reivindicações. Até agora, as assembleias regionais votaram pela rejeição à proposta do governo, sendo a Agrupação 9 de abril parte desses setores.

[3juventude da UCR, partido do governador Morales [N.T.

[4do presidente Alberto Férnandez [N.T.

[5Povo indígena originário do altiplano boliviano.
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