Brasília fez 63 anos ontem (21). Uma cidade construída sob o trabalho semi-escravo negro e nordestino, Brasília é contraditória como o próprio Brasil: lar da burocracia estatal parasita, do alto escalão militar, juízes e políticos que vivem privilegiados no Plano Piloto, no Lago Norte e Sul, todos vizinhos da maior favela do mundo, o Sol Nascente. Brasília é a síntese da incapacidade da burguesia nacional de resolver suas próprias contradições, expremida por um valente proletariado negro e insurreto e do imperialismo de outro. Fico com a Brasília da luta de classes, dos candangos, da juventude de 2013 que invadiu o Congresso, contra os palácios e ministérios, contra o Estado. Para isso escrevo esses poemas.
os céus as ruas
os prédios de Brasília é concreto
é direto
trabalho humano abstrato
trabalho candango no tempo
ato falho
movimento seco
e negro
estende a mão
que a vida fez por contradição
são milhões de trabalhadores
negros, empregadas domésticas,
terceirizadas, carteiros, professores,
bancários, agricultoras, assistentes
[administrativos
mulheres
as gay, bi, trava, sapatão, queer
a humanidade ainda não chegou
mas faz até flor germinar
no planalto central cerradão de pedra
a flor da libertação
classe operária
quero sonhar com os olhos abertos
sentir os pés no chão
se a forma pela qual se faz a sombra
ombro à ombro
pois é do trabalho
que se faz a vida
mesmo em tempos de solidão
e trabalho suspenso no tempo
luta, história,
disciplina é ter coragem
concretização
estende a mão
Ipê Amarelo
Grande Sertão
Vasto como monocultura em latifúndios
Dói como o ar seco que respiro,
Mas forte como o trabalho
que ergue o mundo.
a luz do sol queima a pele
Ipê Amarelo
floresce na seca
esperando a primavera
lamento sertanejo
se alguém tem que morrer
que seja pra melhorar
se você não entendeu
não perde por esperar
cadiuéu ticuna xavante
grande sertão veredas
será vingado por nossas mãos
a lágrima derramada
é o rio de sangue da história
é a história da luta de classes.
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