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Vitória Terceirizados! | Terceirizados da D&L da UFRN vencem, garantem o pagamento do salário e do retroativo em 3 vezes!

A manhã desta terça (15) começou com a comemoração dos trabalhadores do canteiro da UFRN! Depois de uma semana paralisados e tendo arrancado o pagamento dos salários, a força da luta conquistou também o pagamento do retroativo em três parcelas, colocando em xeque os atrasos da D&L e a conivência da Reitoria!

sexta-feira 18 de agosto de 2023 | 18:45

A volta às aulas na UFRN começou diferente neste semestre. As primeiras horas da segunda-feira (14) tiveram os corredores de setores de aula e a reitoria preenchidos por trabalhadores terceirizados da construção civil que gritavam:

“Ô Reitoria, que baixaria! Retroativo não está em dia!”

A mensagem era a seguinte: ninguém voltaria ao serviço se não fosse pago o retroativo atrasado pela D&L. Um dos trabalhadores pediu para falar aos estudantes que a universidade não funcionava sem eles, que eram eles que consertavam os ar-condicionados, a iluminação, toda a estrutura que era utilizada para viabilizar as aulas. Estes trabalhadores que recebem ameaças dos supervisores até por darem bom dia aes estudantes estavam ali não só dando bom dia, mas demonstrando a força que tem ao se unirem por suas demandas, contando o valor que seu trabalho tem em um dos maiores centros de ensino, pesquisa e extensão do mundo, fazendo a universidade saber que eles estavam em luta!

A caminhada até a reitoria já havia acontecido na semana anterior, antes do início das aulas, direcionando o grito para esta que é aresponsál pelas condições de trabalho precárias das terceirizadas e terceirizados da UFRN. A manutenção do contrato com a D&L - empresa que acumula denúncias de atraso de salários, de não pagamento de insalubridade, de perseguição e demissão de terceirizados - só comprova a conivência da reitoria com as condições absurdas relatadas pelos trabalhadores, sendo uma delas exposta nesta nota que mostra a forma de armazenamento da comida que é improvisada em "chocadeiras" pelos trabalhadores pela falta de refrigeração, o que se soma com o café da manhã insuficiente que é servido. Como disse Marina Alves, estudante de Letras da UFRN e militante da Faísca Revolucionária, “foi uma luta energizante e inspiradora, para qual a Faísca doou suas gargantas, batuque e tudo que poderia, aprendendo dia após dia da força destes trabalhadores”.

Erika Thuanny, bolsista PET da Ciências Sociais, afirmou: “Não havia melhor maneira de começar o semestre do que receber estes trabalhadores de cabeça erguida, gritando que trabalhador unido jamais será vencido no nosso setor de aulas. Depois de vários dias de greve poder dividir esse momento com meus colegas de curso foi emocionante, por ver a concretização do que debates todos os dias sobre quem mantém a universidade funcionando, um mar de trabalhadores negros que mostraram novamente o que aprendemos com a história, o negro dócil é um mito”.

Ao longo das negociações a reitoria tentou lavar as mãos ao dizer que havia feito os pagamentos dentro do prazo e que a responsabilidade era exclusiva da empresa, chegando a insinuar que a paralisação dos trabalhadores não prejudicava a empresa, mas sim a comunidade universitária que estava retornando às aulas. É preciso ressaltar que não se trata de um caso isolado e que a terceirização é um mecanismo utilizado pela Reitoria justamente para não se responsabilizar pelos trabalhadores, pra que sejam instáveis e possam sofrer perseguições e punições como se não fizessem a universidade funcionar todos os dias. A posição de responsabilizar os terceirizados pelos prejuízos aes estudantes é absurda, mas não surpreende, já que vem desse setor que quer que os trabalhadores trabalhem de graça para os patrões e sustentem o falso equilíbrio da imagem de uma UFRN de excelência, mas que é sustentada pela terceirização que abre caminho ao trabalho análogo à escravidão e abriga o trabalho semi-escravo.

Os estudantes bolsistas que conquistaram o reajuste no semestre passado, que dependem do circular e do Restaurante Universitário, também sentem na pele o fardo de serem o lugar onde a reitoria desconta todos os cortes, com casos de bolsistas precisando escolher entre almoçar ou jantar no final do ano passado, no mesmo período que coincide com o atraso de salários das terceirizadas da limpeza da Criart e dos motoristas da D&L que, à época, arrancaram o pagamento com a paralisação.

Por isso, ao caminharmos pelos corredores junto dos terceirizados, cantamos em coro:

“Terceirizado, vê se me escuta! A sua luta é a nossa luta!”

Rodrigo Franco, estudante de Ciências Sociais e militante da Faísca Revolucionária, foi parte de fazer diversos chamados às entidades estudantes, como o DCE (Diretório Central Estudantil), o CACS (Centro Acadêmico de Ciências Sociais), o CALET (Centro Acadêmico de Letras) para cercarem a luta destes trabalhadores de solidariedade ativa. Construiu também junto a outros estudantes uma forte campanha de fotos de apoio, que contou com a solidariedade de professoras como Angela Facundo, da Antropologia e Telma Santos, da Sociologia. Estes chamados foram fundamentais para cercar de apoio e fazer a força destes trabalhadores transcender o canteiro de obras da UFRN. Rodrigo disse ao Esquerda Diário: “Fizemos estes chamados porque é a aliança operário-estudantil que é capaz de concentrar forças dos explorados e oprimidos para barrar todos os ataques, não somente na universidade, mas no sistema de miséria de conjunto que o capitalismo quer nos reservar.

Os trabalhadores receberam apoios de outras partes do país, como vídeos de saudação de Iuri Tonelo, Professor de Sociologia da UFPE, de Gonzalo Rojas, professor de Ciência Política da UFCG, Kelber, petroleiro, Marília Dutra, parte da diretoria do sindicato de metroviários de São Paulo e do SINTUSP, sindicato dos trabalhadores da USP que historicamente luta ombro a ombro e representa os terceirizados.

Entre os dias de greve conversamos com muitos trabalhadores, dividimos cancioneiros e levantamos juntos nossos punhos, escutamos sobre suas vidas e contamos das nossas, vimos jovens cheios de vida, de rima, de arte. Um deles nos disse:

"A terceirização é a escravidão moderna. Vez ou outra quando eu me olho no espelho, eu vejo um monte de sonho perdido, não vou mentir. Mas vocês me deram força, sou faísca até o final!"

Nós começamos o semestre com um exemplo de disposição de luta desses trabalhadores, alguns que estão há mais de vinte anos, outros com menos tempo de trabalho, todos gritando “Thiago, presente!”, o menino de 13 que tinha um sonho de ser jogador de futebol e que foi morto na chacina do RJ pela polícia do bolsonarista Cláudio Castro (PL). Um deles dizendo que:

"A gente homenageou esse menino do Rio de Janeiro e lembrei do menino do meu bairro, Geovane Gabriel que também foi assassinado pela polícia indo ver a namorada. A polícia faz isso."

E com outra frase que sintetiza a necessidade de unidade da classe trabalhadora e setores oprimidos:

"Eu mesmo já falei que branco correndo é atleta, negro correndo é bandido. Hoje eu vejo que isso que coloca o trabalhador um contra o outro".

Que pode se unir com a fala de outro colega sobre as pessoas trans ao saber sobre a bandeira:

“São gente, e por isso mesmo merecem respeito como todo mundo”.

Começamos assim um semestre em que há promessas de reconstrução do Brasil pelo novo governo Lula-Alckmin, mas que na prática ataca a saúde e a educação com o novo Arcabouço Fiscal e, pasmem! Abre mais espaço para a terceirização, se recusando a revogar as reformas trabalhista e da previdência.

Começamos assim um semestre em que no RN, a governadora Fátima Bezerra (PT) acaba de judicializar a greve do DETRAN e a greve de trabalhadores da saúde, atacando o direito de greve e cuja PM matou Geovane Gabriel em 2020, é essa a conciliação de classes do PT, que fortalece a direita e a extrema-direita.

Começamos assim um semestre em que os trabalhadores arrancaram da empresa e da reitoria seus pagamentos, as mesmas que demitiram Maxwell depois de 19 anos de trabalho no semestre passado e que, diante da morte de Aldo - terceirizado encontrado morto no auditório da reitoria em 2019 - emitiu uma nota de suposto pesar e mandou os funcionários seguirem o trabalho normalmente.

A luta contra a terceirização precisa ser independente dos governos, dos patrões e da reitoria! É urgente a efetivação de todes es terceirizades sem necessidade de concurso público, que tenham alimentação e transportes dignos, inclusive com acesso gratuito ao restaurante universitário.

"Conhecer vocês me fez recuperar a confiança na humanidade. Até agora só fomos maltratados aqui"

"Faz mais de dez anos que trabalho aqui, nunca me senti assim que estamos sendo ouvidos."

“A gente era uma folha seca dentro do campus universitário, mas quando vocês chegaram foi pra unificar mermo, tá ligado? A gente era uma folha só, pô, de um caderno, muito fácil de ser rasgada, né? Mas quando vocês chegaram aqui, pô, foi só pra unificar o livro, tá ligado? E eu quero ver eles rasgar o livro inteiro, parceiro!”

A emoção de ler os relatos vem regada pela inspiração nos trabalhadores em greve que mostram o caminho nessa volta às aulas e abrem espaço para as denúncias dos trabalhadores da jardinagem, por exemplo. Apontam a urgência da luta contra todos os ataques e reformas, contra toda a aliança com a direita e os patrões que é o que fortaleceu e segue fortalecendo a extrema direita no nosso país. Essa experiência nos dá energia de lutar com ainda mais decisão por fundar uma nova tradição no movimento estudantil, radicalmente oposta à das selfies nos gabinetes dos pró-reitores, que tanto a gestão atual do DCE (UJS, PT e Levante), que apoiam o Arcabouço Fiscal de Lula, Alckmin e Haddad, quanto a anterior (Juntos e Correnteza), que se dizem oposição, mas compõem esse governo. Por uma tradição no movimento estudantil irredutível na aliança com os trabalhadores e independente dos governos e da reitoria, que batalhe com unhas e dentes cotas étnico-raciais proporcionais à população negra e indígena do estado, rumo ao fim de ENEM e vestibulares, filtros sociais e raciais, e que dispute o conhecimento da universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre.

Sigamos lado a lado com os trabalhadores, negres, mulheres, LGBTQIAP+, com a confiança na aliança operário-estudantil contra tudo aquilo que nos tira os sonhos! Pelo direito ao pão, mas também às rosas, às rimas, à poesia!




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