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SEMANÁRIO

A juventude dos Estados Unidos se levanta pela Palestina

Jimena Vergara

A juventude dos Estados Unidos se levanta pela Palestina

Jimena Vergara

A brutal ofensiva de Israel sobre Gaza que comoveu o mundo, que assiste com raiva e choro o genocídio do povo palestino em tempo real, o apoio incondicional - moral, político, financeiro e militar do regime bipartidário a esse massacre e a ofensiva macartista sobre o direito ao protesto fizeram despertar novamente a juventude multirracial nos Estados Unidos. Diferentemente do Black Lives Matter, que rompeu com a quarentena Pandêmica e encontrou nas ruas sua máxima expressão, esse movimento pró Palestina tem as ruas do seu lado, mas seu epicentro está nos claustros universitários e nas escolas, trazendo o espectro do poderosíssimo movimento estudantil contra a guerra do Vietnã dos anos setenta. Será possível que a juventude arraste consigo o movimento operário estadunidense?

Do rio ao mar, a Palestina será livre.

“Stop the Genocide” grita a juventude estadunidense em todos os lugares. “Free Palestine”. Como um sopro de ar fresco, apenas dois dias após o ataque do Hamas e do registro dos primeiros bombardeios contra Gaza, realizaram as primeiras manifestações nos Estados Unidos convocadas por organizações políticas como o Party for Socialism Liberation e organizações árabes como Within Our Lifetime, protagonizadas por setores de juventude e a importante comunidade muçulmana e árabe que conta com umas 3 milhões de pessoas nos Estados Unidos.

Não só nos Estados Unidos. Em todo o mundo, desde os países imperialistas até os países do mundo árabe, temos visto crescer a solidariedade com a Palestina, apesar da dura repressão e dos ataques aos protestos como na Alemanha e França.

No dia 12 de outubro, o primeiro “walkout” estudantil pela Palestina, chamado por organizações estudantis árabes junto a mobilizações espontâneas de composição multirracial em dezenas de universidades do país, sacudiu a opinião pública. A imprensa respondeu ou com silêncio ou com difamação: ‘são terroristas’ disseram, ‘são antissemitas’. As mobilizações foram crescendo, mas apenas uma semana depois de iniciadas, a comunidade judia antissionistas começou a levantar a voz: Não em nosso nome.

No dia 14 de outubro os estudantes de Harvard, uma das principais instituições universitárias privadas da inteligencia estadunidense, responderam contundentemente com uma marcha interna na universidade diante da linha oficial do comitê diretivo - ditada pela Casa Branca - de que a instituição estava incondicionalmente com Israel e seu direito de se defender. Diante da imprensa atônita, incluindo o progressista New York Times, os estudantes disseram: “Free Palestine”.

No final de outubro, as mobilizações em todos os campus universitários do país espalharam-se como pólvora (New York University, Penn State, Temple, Columbia, Barkley, Yale, CUNY). A organização judia antissionista mais importante dos Estados Unidos, Jewish Voices for Peace ocupou a Grand Central no dia 13 de outubro - a famosa estação de trem que representou o esplendor da grande burguesia norte americana encarnada na família Vanderbilt - em Nova York com o cineasta Michael Moore filmando ao vivo através de sua conta de Instagram. Centenas de judeus antissionistas foram presos naquele dia enquanto gritavam consignas muito claras: “Não em nosso nome”, “Cessar fogo”, “Free Palestine”, “End the Occupation”, “Let Gaza Live”. O protesto judeu antissionista viralizou e rodou o mundo expondo a falsa emulação entre antissionismo e antissemitismo. A mobilização judia não caiu do céu e é a expressão atual de uma ruptura geracional que vem fermentando há vários anos entre a diáspora judia que repudia cada vez mais a política de Israel sobre a Palestina e que alimentou o movimento BDS da época.

Mesmo assim, Israel avançou. O genocídio começou, não se deteve e todos os dias todos nós acordamos e vemos com horror que o genocídio continua. Pelo menos 10.000 mortos, milhares de feridos, milhões de deslocados em Gaza, sem contar as atrocidades perpetradas pelo exército e pelos colonos organizados como paramilitares na Cisjordânia. Por trás das cifras existem nomes, muitos nomes de crianças palestinas. Estamos vendo uma das mais violentas e cruéis faces do imperialismo em sua manifestação sionista. Mas também estamos vendo a esperança em movimento e o internacionalismo surgindo.

O movimento internacional pela Palestina e sua expressão no coração do império resgatou-nos da propaganda genocida, dos ataques por “antissemitismo” que estão a serviço de fortalecer a islamofobia e das divisões raciais entre a classe operária e os oprimidos, das “fake news” e dos incansáveis discursos marcartistas contra qualquer tipo de manifestação pró Palestina. Não podem nos calar: nem Macron na França, nem o governo Alemão, nem Biden nos Estados Unidos. Free Palestine.

Dos campus à Washington, de Washington aos campus

O protesto em solidariedade à Palestina no dia 4 de novembro em Washington D.C. marcou o ponto mais alto até agora de um amplo movimento de vanguarda; mais concretamente, uma juventude multirracial está liderando um setor de massas nos protestos contra os ataques genocidas de Israel contra a Palestina e a ocupação.

Cem mil pessoas inundaram a capital do país, precedentes de lugares remotos da costa oeste, Virgínia, Nova York e dezenas de estados. Nesse mesmo dia, dezenas de manifestações ocorreram em outras cidades como Detroit, Nova York, Chicago, Las Vegas, Portland e Cincinnati. O alcance nacional do movimento relembra ao do BLM em seu apogeu em 2020. Esses protestos também reúnem as comunidades muçulmanas e árabes, a geração forjada no Black Lives Matter e uma juventude que desperta para a vida política. Nas mobilizações mais massivas como a de Washington, não apenas a juventude se mobilizou, mas também famílias inteiras, crianças e muitos palestinos que têm família em Gaza. Em Washington, os manifestantes entoaram as consignas que marcaram o movimento até agora. Mas também dirigiram sua ira ao ocupante da Casa Branca: “Genocide Joe”.

A novidade, talvez, seja a marca do movimento estudantil como não víamos em décadas, trazendo de volta às universidades o espectro do movimento contra a guerra do Vietnã. Nos claustros universitários, esse movimento renovado está sendo liderado por organizações palestinas e árabes que têm sido perseguidas e proibidas em algumas escolas, como o Estudantes pela Justiça na Palestina e em menor escala, mas muito significativa, por organizações judaicas antissionistas.

No dia 9 de novembro, o caráter estudantil do movimento se manifestou de forma contundente em uma grande jornada de luta em todo o país com ações deslocadas de desobediência civil dos estudantes universitários e secundaristas. Em Nova York, tendo como pano de fundo os gritos dos estudantes da New School, uma das universidades de elite da cidade, gritando “Free, free Palestine”, quatro crianças negras de 12 anos levantaram uma bandeira palestina em uma quadra de basquete.

Na véspera do dia 9 de novembro, os estudantes de serviço social da Columbia ocuparam seu departamento em solidariedade à Palestina. Embora ainda não estejamos diante da massividade e alcance que teve o movimento contra a guerra do Vietnã, é quase impossível não evocar a primavera de 1968 quando, também estudantes da Columbia, ocuparam todo o campus em solidariedade ao Vietnã e mais de 700 estudantes foram presos pela polícia de Nova York.

Enquanto os estudantes de Nova York e outras cidades mantinham a polícia local em suspense, ativistas e periodistas ocuparam a sede do New York Times, a quem batizaram de “The New York Crimes” exigindo cessar fogo e denunciando a cobertura pró genocídio de um dos mais prestigiados meios massivos de comunicação.

O movimento se desenvolve e cresce apesar da resposta macartista do Estado, dos patrões e das autoridades universitárias, embora seja limitada por hora porque o regime não tem a correlação de forças necessária para criminalizar o movimento de conjunto.

Uma ofensiva macartista ganhando forma e um movimento democrático em resposta

O partido republicano e o partido democrata lançaram uma ofensiva contra os parlamentares pró Palestina no congresso; por exemplo, a Câmara dos Representantes censurou a democrata e membra do Democratic Socialists of America, a palestino-estadunidense Rashida Tlaib, por se manifestar em solidariedade à Gaza e dizer “do rio ao mar” no congresso, e mais de 20 democratas se colocaram ao lado dos republicanos. Os patrões e funcionários universitários responderam o movimento de forma esmagadora restringindo o discurso pró-palestino, difamando e proibindo protestos “antissemitas”, permitindo e encorajando que os ativistas sejam assediados por sionistas e inclusive despedindo pessoas por falar a favor da Palestina ou defender o cessar fogo no setor de saúde e outras indústrias. Plataformas como o Instagram eliminaram contas pró Palestina, como uma das contas do Jewish Voices for Peace e do Eye on Palestine, ambas com milhões de seguidores.

Os Estados estão votando orçamentos extraordinários, como o aprovado em Nova York e Flórida, para “lutar contra o antissemitismo” nos campus, investindo em mais vigilância e tecnologia para criar uma espécie de “lista negra” de pessoas que se manifestam a favor da Palestina.

Há apenas dois dias, em resposta à ocupação pacífica do departamento de serviço social da Columbia, a organização estudantil árabe “Students for Justice in Palestine” (SJP) e a organização judia “Jewish Voices for Peace” (JVP) foram “suspensas pelas autoridades por utilizar a intimidação e uma retórica ameaçadora”.

A ofensiva macartista é, além de uma resposta preventiva ao avanço do movimento, o resultado do peso do lobby sionista americano na decisões do Estado e do bipartidarismo norte-americano, que pressiona fortemente por medidas macartistas contra o “antissemitismo”.

A ofensiva contra os direitos democráticos, unida à brutalidade do ataque de Israel em Gaza, que comove o mundo com cenas chocantes de um genocídio em tempo real, e o poderoso movimento internacional a favor da Palestina, alentou a aparição de uma resposta democrática que vai além das pessoas que se mobilizam nas ruas e dos estudantes; inclui aqueles que estão boicotando marcas como Starbucks e McDonalds por “promover o genocídio”, aqueles envolvidos no movimento BDS e aqueles trabalhadores, profissionais e donas de casa que exigem um cessar fogo nas redes sociais e também nos seus locais de trabalho e estudo.

Trata-se de uma vanguarda muito ampla que está movendo a consciência dos trabalhadores e das classes médias exigindo o “cessar fogo” junto à consignas como “Palestina livre”, “Parem o genocídio”, “Parem a ocupação”, “Parem com toda a ajuda financeira e militar dos Estados Unido à Israel”, e cantos como “Israel bombardeia, Estados Unidos paga. Quantas crianças mataram hoje?”

O movimento tem contra si os dois grandes partidos do capital imperialistas, Israel, o presidente, Donald Tramp, a ultradireita antissemita, os meios de comunicação, o lobby sionista, a polícia, e ainda assim segue crescendo.

“Genocide Joe”

Se existe algo que Joe Biden não precisava em sua carreira até a reeleição em sua difícil agenda internacional era de uma potencial guerra regional no Oriente Médio e de um movimento antiguerra com caráter antimperialista em casa. O governo de Biden tem enfrentado importantes desafios desde que estourou a crise entre Israel e Palestina, tanto a nível nacional como internacional.

Depois de respaldar rapidamente a resposta de Israel aos atentados do dia 7 de outubro e respaldar cada uma das “fake news” divulgadas pelo governo israelense, a administração Biden passou a defender uma “pausa humanitária” e setores do regime estão exigindo que o governo se comprometa novamente com a política de dois estados e uma possível mudança de regime em Gaza para as mãos da desprestigiada Autoridade Nacional Palestina.

Embora tal proposta seja uma farsa, não deixa de ser o resultado de um amplo apoio internacional à Palestina. O movimento nos Estados Unidos é parte de um fenômeno internacional mais amplo que mencionamos anteriormente, que vai desde o Iêmen, passando pelo Egito e Jordânia, o Estado Espanhol, França, Alemanha, México, Costa Rica até a Austrália. O atual movimento pró-Palestina está enraizado na dificuldade dos Estados Unidos em manter Netanyahu alinhado com o interesse primordial estadunidense na região: manter a todo custo o status quo de uma hegemonia norte-americana enfraquecida.

Embora publicamente a administração Biden apoie plenamente as ações de Israel, nos bastidores está tratando de evitar que Netanyahu intensifique sua resposta até um nível que possa gerar consequências imprevisíveis.

Neste contexto, a administração de Joe Biden não está imune à crescente perda de legitimidade das ações de Israel - questionado por dezenas de países e pelas ONU - e suas ações estão gerando uma crise que está questionando seriamente sua corrida à reeleição.

No dia 12 de outubro, Josh Paul, um alto funcionário do departamento de estado renunciou ao seu cargo por desacordo com o apoio “cego” de Joe Biden à Israel e seu respaldo ao “status quo da ocupação” (destaque nosso). Alguns dias depois, 11 membros do staff de Biden se somaram a Paul por conta de suas “sérias diferenças” com a política de Biden sobre Israel. Existem fundados rumores filtrados pela imprensa de que está circulando nos altos níveis do governo um memorândum interno de crítica à política de Biden à Israel.

Além da enorme raiva e antipatia da juventude estadunidense por Joe Biden, na semana passada, as pesquisas eleitorais mostraram resultados que preocupam muitíssimo os democratas. O apoio do presidente Joe Biden entre os árabes norte-americanos, que são votantes cruciais em estados eleitorais disputados (swing states), caiu de uma cômoda maioria em 2020 para apenas 17%, segundo mostra uma nova pesquisa, em meio da crescente ira pelo apoio do presidente democrata aos ataques de Israel contra Gaza. O apoio dos árabes norte-americanos a Biden, de 59% em 2020, caiu para 35% antes de estourar a violência no Oriente Médio, segundo a pesquisa encomendada pelo Instituto Árabe Estadunidense, mas caiu para a metade desde então. Isso no marco de pesquisas recentes em que Biden está quatro pontos abaixo da intenção de voto em comparação à Donald Trump para 2024.

Ao mesmo tempo, a influência do Partido Democrata e de todos seus “tentáculos” sobre as massas e o movimento é significativamente mais débil do que comparado com outros temas sensíveis que tem levado as massas às ruas, como os direitos reprodutivos; o Partido Democrata enfrenta desafios significativos na hora de tentar controlar o movimento desde baixo.

É um cenário diferente ao da guerra na Ucrânia, em que a administração teve êxito em aglutinar os votantes democratas, simpatizantes, uma camada de independentes e um setor não desprezível dos republicanos sob sua política. Sobre a Ucrânia, Biden tem sido capaz de executar a operação ideológica de marcar a guerra como uma luta pela democracia e pela liberdade contra a tirania.

Na Palestina é uma história diferente; os desafios da administração e do regime em geral alimentam o movimento pró-Palestina e estão se convertendo rapidamente em um problema importante não apenas para os democratas, mas para setores da burguesia que não querem a imprevisibilidade e o aventureirismo de uma segunda administração Trump.

Bernie Sanders, a burocracia sindical e um sentimento pró-Palestina crescente na classe trabalhadora

Como temos dito, o movimento aponta cada vez mais para Biden, mas não apenas para ele. Há poucos dias foram realizadas eleições para governador em Kentucky, Louisiana e Mississippi, legislaturas estatais, assim como numerosas iniciativas cidadãs, prefeituras e outros cargos locais. O Partido Democrata não teve uma performance desprezível, mas isso não se deve à sua força de atração sobre os votantes, mas à agenda progressista da base social-democrata, por exemplo em relação aos direitos reprodutivos.

O descrédito do Partido Democrata diante da crise Palestina chegou à base de Bernie Sanders, que protestou dentro de seu gabinete semana passada gritando: “Bernie Sanders não pode se esconder, te acusamos de genocídio!”. O senador de Vermont defendeu o “direito de Israel de se defender”, está alinhado à política de pausa humanitária de Biden e chamou a polícia contra os manifestantes em seu gabinete.

A crise também tem movimentado setores dentro do DSA, com o exemplo de seu grupo de trabalho Palestina Libre que rompeu com a organização há poucos dias.

O movimento operário, em um processo de recomposição subjetiva que vem de antes, com a greve do UAW como ponto mais alto da agitação operária dos últimos anos, não é imune à crise na Palestina e à agitação doméstica.

A AFL-CIO respalda Biden e Israel, e a direção bloqueou a aprovação de uma resolução pelo cessar fogo. Kooper Caraway, dirigente do SEIU, foi expulso do sindicato por expressar seu apoio à Palestina. Embora a direção da AFL-CIO apoie a agenda imperialista do Partido Democrata como sempre, em muitos sindicatos (não apenas Starbucks que expressa os elementos mais avançados da Geração U) há uma grande pressão desde a base para que as direções se pronunciem a favor da Palestina.

Também temos visto ações do movimento operário, como a paralisação dos trabalhadores portuários de Oakland há alguns dias em apoio aos protestos pró Palestina e para bloquear os barcos com destino à Israel; esse sindicato também realizou paralisações trabalhistas durante o BLM, mas o movimento já era bastante massivo. Dezenas de declarações das bases sindicais assinadas por milhares de trabalhadores têm circulado amplamente para exigir que suas direções tomem partido pela Palestina.

Com os conflitos trabalhistas em desenvolvimento, motivados pela inflação, as lutas pela sindicalização e o descontentamento operário em geral, Biden tentará intervir em nome dos trabalhadores para manter sua casa em ordem e bloquear a possibilidade de que a classe operária assuma a luta por uma Palestina livre.

No geral, a máquina do Partido Democrata já está em marcha, embora discretamente, dado que a luta pela libertação palestina vai no sentido contrário ao ADN do imperialismo norte-americano, que tem Israel como aliado estratégico incondicional.

A ala social-democrata do partido - em particular Tlaib, Bowman e Omar - está agitando um cessar fogo e está sendo perseguida pela ala do establishment do regime bipartidário. Essa corrente interna, hoje perseguida e marginalizada, pode ganhar terreno no futuro se o Partido Democrata necessitar conter o movimento. As ONGs, em particular as que organizam as comunidades muçulmanas e árabes nos Estados Unidos, já estão participando de mobilizações como a de Washington, com um programa de “castigar Biden nas eleições se não houver cessar fogo”.

É muito possível que as lutas operárias em curso sejam apoiadas por Biden, como fez com a greve da UAW desde a primeira paralisação até o final, com o interesse estratégico de resolvê-la rapidamente antes que se conectasse com a luta em solidariedade à Palestina. É essencial para a administração manter a movimento operário sob controle e a melhor maneira é fazer concessões ao mesmo tempo que se alia com a AFL-CIO em seu acordo incondicional à política para Israel. As iniciativas de Biden para o movimento operário, que têm o objetivo estratégico de conter a luta de classes, não podem obscurecer o fato de que para crescentes setores da população o atual presidente passará para a história como o executor do genocídio em Gaza.

A nova burocracia de esquerda, como a de Shawn Faine na UAW, surgida no calor de um processo de recomposição da classe operária com uma nova geração de sindicalistas injetando energia às organizações sindicais tradicionais, não se posicionaram pela Palestina. Resta saber se a indignação das bases operárias pode impor que seus dirigentes rompam com a política do Partido Democrata e atuem de maneira independente, com uma política internacionalista a favor da Palestina.

Desenvolver uma perspectiva socialista revolucionária no seio do movimento por uma Palestina livre

Left Voice é parte da Fração Trotskistas a nível internacional que está intervindo com todo o movimento em solidariedade pela Palestina em todos os países em que estamos: França, Alemanha, Estado Espanhol, Itália, Argentina, Chile, México, Brasil, Bolívia, Peru, Uruguai, Venezuela e Costa Rica. Na França e na Alemanha em particular, nossos camaradas estão enfrentando a forte repressão de seus governos imperialistas junto a dezenas de milhares de ativistas que tomaram as ruas pela Palestina mesmo com a criminalização. Na França, quatro camaradas do Revolucion Permanent foram presos pela polícia enquanto faziam um grafite pela Palestina. Na Argentina, nossa camarada Myriam Bregman do PTS, candidata à presidência pela FIT-U foi ameaçada e atacada pela ultra-direita Argentina por sua defesa do povo palestina contra os ataques de Israel.

Nos Estados Unidos, com nossas modestas forças, nosso site se converteu em uma das referências do movimento pró-Palestina na vanguarda, mostrando as mobilizações contra o cerco midiático e dando voz à juventude árabe, judia e multirracial que se mobiliza pela Palestina.

Desde nosso site, redes sociais e em nossos locais de trabalho e estudo, estamos agitando que necessitamos de um movimento de massas pela Palestina e pelo direito ao protesto e à liberdade de expressão, contra a islamofobia e o antissemitismo.

Como o próprio movimento está colocando, Biden e o regime bipartidário são responsáveis pelo genocídio materializado em ajuda financeira, política e militar e por isso gritamos junto a centenas de manifestantes: Nem um centavo para que o imperialismo norte-americano e Israel executem seu programa genocida em Gaza! Nem um centavo para a matança de crianças palestinas! Abaixo o pacote de 105 bilhões de dólares de Biden! Fim a toda ajuda dos EUA à Israel!

No movimento estudantil somos parte, junto a outras organizações, coletivos e ativistas, do comitê “CUNY for Palestine” com professores e estudantes da imensa universidade pública da cidade de Nova York de pelo menos 400.000 estudantes, muitos deles negros, árabes, judeus, provenientes de famílias de trabalhadores.

Na Columbia, como parte da coalizão “What is it: Social Workers for Palestine”, fizemos parte da ocupação do departamento do serviço social no último dia 8 de outubro, denunciando a ofensiva macartista sobre o movimento.

Em particular nas universidades, o movimento deve se articular a uma audaz campanha democrática contra a expressão doméstica da agenda imperialista de Biden para a Palestina, que é impedir, através da reação macartista e repressão, que um movimento de massas entre no cenário político dos EUA. Por isso, tanto no CUNY quanto na Columbia, estamos defendendo a mais ampla unidade para defender o movimento da repressão e parar o macartismo: defendamos nosso direito a protestar nas ruas e nas universidades. Abaixo as represálias contra o Movimento pró Palestina e a criminalização das organizações estudantis árabes. Abaixo o antissemitismo e a islamofobia. Abaixo a caça às bruxas nas universidades. Liberdade de expressão. Parem as demissões, a intimidação e o assédio aos ativistas pró Palestina.

Tanto as organizações árabes e judias como a esquerda em geral, têm sido atacadas pelo governo e pelos dois partidos imperialistas. O movimento deve se pronunciar categoricamente contra toda sanção e censura contra Rashida Tlaib e os congressistas pró Palestina, contra os ataques contra organizações estudantis e comunitárias como Estudantes pela Justiça na Palestina e Vozes Judías pela Paz e organizações de esquerda com os Socialistas Democráticos da América e o Partido pela Libertação Socialista. Defendemos essas organizações e indivíduos incondicionalmente contra os ataques do Estado, a extrema direita e os sionistas, fazendo chamados à unidade contra esses ataques e junto à comunidade judia antissionista dizemos que antissionismo não é antissemitismo e que nosso movimento é antirracista e contra todo o tipo de discriminação.

O desenvolvimento de um movimento de massas que não seja cooptado pelo Partido Democrata, nem abatido pela repressão e diluído no cansaço das constantes mobilizações de rua passa pela entrada em cena da classe trabalhadora. Para torcer o braço de Israel e dos Estados Unidos em sua guerra unilateral contra o povo palestino, a classe trabalhadora estadunidense deve tomar a libertação da Palestina como sua e pôr em jogo seus métodos de luta como as paralizações, os cortes de rua e os piquetes. Não podemos ganhar as demandas de “pão e manteiga” em casa quando nossos irmãos e irmãs na Palestina estão sendo massacrados pelos Estados Unidos.

Os trabalhadores da saúde do Left Voice são parte do comitê “Healthcare workers for Palestine” que organiza mais de 100 trabalhadores da saúde (enfermeiras, médicos e parteiras). Esse comitê impulsionou um abaixo assinado exigindo às direções dos sindicatos de trabalhadores da saúde que se pronunciem e se ativem em solidariedade com a Palestina e já tem milhares de assinaturas. Na última sexta, dia 3 de novembro, organizaram uma vigília pela Palestina que reuniu 300 pessoas, muitas delas trabalhadoras da saúde. A mensagem de nossos camaradas foi muito clara, entre outras coisas, em sua exigência para que as organizações operárias rompam com a política do partido democrata pró Israel e tomem a causa Palestina em suas mãos e que sua ação arrasta a classe trabalhadora internacional para que rompam com a política de seus governos e assim frear o genocídio.

O desenvolvimento do movimento está decantando distintas estratégias para seu desenvolvimento e para a libertação da Palestina. Nossa posição é que existem bases objetivas para que o movimento estudantil e o movimento operário convirjam em uma luta antimperialista, inspirem o proletariado mundial e ponham em xeque a ofensiva de Israel e dos Estados Unidos sobre as massas palestinas.

Um setor da esquerda inclina-se a se apoiar na diplomacia internacional para conseguir uma saída “humanitária” que contrasta com a agressividade assassina do exército israelense, ao mesmo tempo que esperam que uma ala do partido democrata possa impactar na orientação do partido. Esse setor está recriando a utopia de que é possível lutar por dois estados sem perceber que Israel é um enclave imperialista que existe organicamente ancorado na opressão do povo palestino. Outro setor participa do movimento sem nenhuma delimitação do Hamas, cuja estratégia é opor ao estado de Israel outro etno estado teocrático e cujos métodos pouco ajudam para soldar a unidade árabe-judia contra o sionismo que de fato está se expressando nas ruas dos Estados Unidos.

Nós, socialistas revolucionários, ao mesmo tempo que apoiamos com tudo o movimento de massas, defendemos incondicionalmente às organizações pró Palestina contra a repressão macartista e marchamos em unidade com todos aqueles que lutam contra o genocídio em Gaza, estamos lutando e agitando nas ruas, nas nossas escolas e locais de trabalho a luta por uma Palestina livre e socialista do rio ao mar onde árabes, judeus e cristãos possam viver em paz, livres do jugo do sionismo e do imperialismo.

Como durante a guerra do Vietnã, o regime bipartidário fará de tudo para reprimir e cooptar o movimento e evitar a todo custo a unidade operário estudantil.

Nesse sentido, estamos defendendo também que o crescente sentimento anti Biden que se estende para além da vanguarda e a experiência acelerada que a vanguarda está fazendo com seus líderes, como Bernie Sanders, está colocando a possibilidade de que do seio do movimento surja finalmente uma alternativa política da juventude e da classe trabalhadora ao Partido Democrata. A juventude está com nojo das políticas imperialistas dos grandes partidos do capital que bombardeiam os palestinos e nos exploram, oprimem e reprimem em casa. Essa desconfiança crescente no Partido Democrata está tocando profundamente a classe trabalhadora. A estratégia de Bernie Sanders – e, portanto, da direção do DSA - está mostrando todos seus limites demonstrando que o Partido Democrata é um partido imperialista, sempre o será e, portanto, é inimigo da juventude, do movimento operário e dos oprimidos. Dessa experiência, a vanguarda deve tirar lições e impulsionar a construção de um partido da classe trabalhadora com uma perspectiva socialista que seja incondicionalmente antiimperialista e que esteja do lado da Palestina e dos oprimidos do mundo.


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