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Greves contra Tarcísio | Sobre as greves, algumas questões para pensar a respeito

Uma coisa que precisa ser analisada e bem discutida, porque estão se tornando cada vez mais comuns, são as críticas contra as greves como legítimo e histórico meio de luta da classe trabalhadora.

terça-feira 16 de janeiro | 13:25

Desde os veículos oficiais de comunicação (radio, TV, grandes jornais, etc), aos discursos de sindicalistas conciliadores (auto denominados modernos) ecoam o apelo por formas de lutas diferentes das greves que, supostamente, teriam se tornado obsoletas, e que precisam ser superadas, substituídas por outras formas “modernas e mais atuais de luta”.

Mas, de fato, ninguém diz o que seriam, e nem como poderiam ser aplicadas essas “formas” supostamente mais atualizadas de lutar pelos direitos e condições de vida d@s trabalhador@s. Enquanto isso, a negação da greve como instrumento legítimo, vai sendo usada por governos e patrões, burocratas sindicais e por pelegos em todas as oportunidades, ou sempre que esses inimigos d@s trabalhador@s necessitem, de alguma forma, lançar dúvidas sobre a eficácia e a legitimidade dos movimentos grevistas e também disseminar entre @s trabalhador@s um certo descrédito, ou até mesmo desconfiança, não só em relação às greves, mas também em relação aos setores mais conscientes e combativos da vanguarda e da própria classe, a fim de tentar isolar esses setores para poder perseguir e punir sem que o restante assuma a defesa dos lutadores.

Dessa forma, não restam dúvidas de que os críticos das greves e suas as críticas estão a serviço da burguesia (classe dos patrões) e também dos distintos governos, que, como se sabe, independente de suas matrizes ideológicas, são meros gerentes dos negócios da burguesia. Por isso se faz necessário desmascarar os farsantes e suas tentativas de deslegitimar o meio de luta mais legítimo e eficaz já empregado pela classe trabalhadora em sua luta permanente contra a opressão e exploração patronal da classe trabalhadora. Para isso, nada melhor do que desnudar a farsa por traz de seus discursos contra as greves.

Comecemos por colocar algumas perguntas para nós mesmos refletirmos a respeito:

Por pelo menos dois séculos, temos visto a burguesia (os patrões) usarem desde guerras, inclusive mundiais, golpes de estado e ditaduras, até o arrocho salarial, a redução dos direitos trabalhistas, a precarização do trabalho, as várias outras formas de aumento da exploração da força de trabalho, além de demissões e outros ataques contra a classe trabalhadora, como forma de sanar as crises capitalistas (chamadas de crises econômicas) ou simplesmente como meio de aumentar sua competitividade em relação aos seus concorrentes, bem como, aumentar suas taxas de lucro.

Ora, e porque ninguém, nem governos, nem sindicalistas “modernos” ou “civilizados”, diz para os patrões que suas formas de defender e aumentar seus lucros em meio às sucessivas crises, são as mesmas dos últimos duzentos anos, que estão muito arcaicas e precisam ser superadas por outras formas “modernas” de exploração? Porque ninguém vai dizer aos burgueses e aos governos, gerentes dos negócios da burguesia, que nenhum interesse político ou econômico justifica o derramamento dos rios de sangue humano já levado aos oceanos pela carnificina das guerras? Porque os “modernos”, os “civilizados” e os “inovadores” atacam apenas as greves que sempre foram e continuam sendo o único meio, antes das revoluções, que se comprovou eficaz na luta em defesa dos direitos e condições de vida da classe trabalhadora contra a ganância e a voracidade dos capitalistas?

As perguntas são várias, mas, a resposta é uma só:

Nem patrões, nem governos, nem burocratas sindicais e nenhum outro espécime dessa fauna de degenerados, que questionam a validade e eficácia das greves, estão de fato preocupados com modernidade, atualidade ou coisa semelhante. Na verdade todas as suas críticas e questionamentos contra as greves estão a serviço de sua necessidade de evitar as greves a qualquer custo e, para isso buscam sempre dividir @s trabalhador@s, buscam fazer com que @s explorad@s deixem de acreditar nas suas próprias forças, buscam desestimular sua organização e suas lutas, em especial as greves que continuam sendo o meio de luta da nossa classe que os nossos exploradores mais temem. Pois as greves fazem mais do que paralisar a produção e/ou distribuição das mercadorias e desnudar a impotência do estado e dos patrões que nada podem produzir e nada podem fazer pra sociedade funcionar, sem contar com os braços e as mentes d@s trabalhador@s, que tudo fazem e tudo produzem.

Leia mais: O apoio popular às greves contra a ofensiva das privatizações de Tarcísio em SP

Tanto é assim, que todo governo de extrema direita, como o de Bolsonaro, no Brasil, e o de Milei, na Argentina, tratam de proibir e de criminalizar as greves, as manifestações e os piquetes, pois essa é a única forma de proteger os lucros dos banqueiros e empresários, nacionais e internacionais em geral, assegurando as condições para que os patrões possam aprofundar as exploração da classe sem que @s trabalhador@s possam resistir e contra atacar.

Já a falácia dos questionamentos à eficácia das greves, essas foram desmascaradas por declarações de dois ex-reitores da USP:

Quando acusado por seu sucessor Marco Antônio Zago, de haver comprometido o orçamento da USP com concessões de reajustes salariais e pagamento de prêmios, o ex-reitor João Grandino Rodas declarou que os prêmios pagos e os reajustes de salários foram necessários para evitar as greves. Ou seja, ao contrario da crença reproduzida entre @s trabalhador@s, de que “o Rodas foi um reitor muito legal”, todas as conquistas da categoria durante sua gestão, desde prêmios até os reajustes e a elevação dos pisos salariais da carreira, foram produtos de se enfrentar com nossas nossas lutas, depois da ocupação da reitoria em 2010.

Essa declaração do Rodas foi apropriada pela Folha de São Paulo que a reproduziu nessa reportagem como se fosse uma constatação do próprio jornal ou do redator. “Ficou evidente desde esse começo o objetivo de evitar greves. Rodas foi escolhido pelo então governador de São Paulo, José Serra (PSDB), apesar de ter sido o segundo mais votado pelo colégio eleitoral da USP para a lista tríplice encaminhada ao chefe do Executivo em novembro de 2009. Antes mesmo de tomar posse, o reitor nomeado passou a ser sistematicamente alvejado pela militância do PT e de outros partidos e entidades de oposição, que tradicionalmente têm grande poder de mobilização nas universidades brasileiras.” Obviamente não foi o PT que organizou e deflagrou as greves d@s funcionári@s da USP e, muito menos, a ocupação da reitoria.

Por sua vez, quando perguntado pela reportagem da Revista Veja, em junho de 2014, o reitor Marco Antônio Zago afirmou que a implantação do seu modelo de universidade pautado na meritocracia, na redução dos salários e do quadro de funcionári@s; dependiam de “questões políticas e leis federais. Mas internamente era preciso a dinâmica de sindicalismo na vida universitária...”. Ou seja, era necessário acabar com as manifestações, com os piquetes, as ocupações de reitoria e, com as greves.

Por isso podemos afirmar que os meios de luta tradicionais da classe trabalhadora, como as greves, bem como os sindicatos e todos as formas de auto-organização, não só são legítimos e atuais, como são imprescindíveis, no momento em que estamos vivendo. Dizer o contrário, implica, inevitavelmente em fortalecer e apoiar a propaganda anti sindical e anti greve que servem aos objetivos dos governos e dos patrões.




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