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USP em Greve | Nos tempos da educação com vara: Resposta à Opinião do Estadão sobre a Greve da USP

Em sua publicação intitulada Cabulando Aula, o jornal burguês o Estadão provou que não faltou a nenhuma aula de autoritarismo e de estudos sociais e cívicos da época da ditadura. Faltou, no entanto, um pouco de história, além da noção.

Patricia GalvãoDiretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

segunda-feira 30 de outubro de 2023 | Edição do dia

Foto: Estadão

O editorial saúda a reitoria da USP por querer punir com reprovação em massa os estudantes da USP que legitimamente se levantaram por contratação de professores. Isso na mesma semana em que Tarcísio atacou frontalmente uma das categorias que mais lutou contra a privatização no país, demitindo 8 metroviários explicitamente por motivos políticos. Embora reconheça a legitimidade da pauta e atribua ao movimento grevista a conquista das 1027 contratações de professores (o déficit é de mais de 1600) ao que parece o jornaleco acredita que tal conquista veio do bom coração da burocracia universitária, esta casta improdutiva e parasitária cujo único trunfo é estar no comando da mais bem rankeada universidade da América Latina. Isso porque, é apesar dessa burocracia e suas alianças empresarias que estudantes e pesquisadores tem conseguido, a duras penas, avançar com suas pesquisas.

Um exemplo de como essa burocracia infértil atua contra a excelência na pesquisa e extensão e contra a população é a desvinculação do Hospital de Reabilitação de Anomalias Crânio-faciais (HRAC), o Centrinho de Bauru. O Centrinho é um hospital mundialmente reconhecido pela recuperação principalmente de crianças. No entanto, foi essa gestão aclamada pelo Estadão, com o médico Carlloti e a socióloga Maria Arminda, os responsáveis por transferir o hospital, e bilhões de reais de dinheiro público, para as mãos de uma fundação privada gerenciada, veja só, por membros dessa mesma burocracia universitária aclamada pelo Estadão. E todo o processo passou ao largo dos editores deste jornal.

Mas nem precisaríamos ir tão longe. O coreano, a habilitação do curso de Letras da USP que não iria mais existir, é a única pós -graduação da língua no país. E desde 2012 a USP não contrata um especialista, embora exista a vaga. O diretor da faculdade, unha e carne com a vice-reitora, chegou a culpar o governo da Coreia pelo problema. Obviamente há quem acredite nessas falácias, mas estudantes muito mais jovens que os experientes editores dos tempos da ditadura do Estadão não caíram nessa. Afinal, é o futuro dessas gerações que está em jogo e esses estudantes não estão para brincadeira.

Na EACH, também chamada de USP Leste, a situação é bem dramática há muitos anos. O curso de obstetrícia, único do país, composto majoritariamente por mulheres, desde 2011 vive sob ameaça de não ter formandas, dada a situação terrível de falta de professores. Há pelo menos 12 anos os estudantes estão em luta por contratações de professores e funcionários, além dos problemas de contaminação do solo e a ausência de políticas de permanência voltada para as estudantes mães, principalmente. Talvez o Estadão não estivesse prestando atenção, mas essa luta já é bem antiga.

O ofício da Pró-reitoria de Graduação da USP (PRG 005/2023) estabelece que o calendário da graduação deve se manter inalterado, mesmo depois de 5 semanas de greve estudantil e duas de paralisação de professores, fazendo com que todos os estudantes dos cursos que aderiram a greve tenham sua frequência alterada para menos, podendo serem reprovados caso a frequência não atinja 70%. Para os cursos que ainda se mantém em greve, justamente nas unidades onde a situação é mais dramática, isso já significaria reprovação em massa e jubilamento de todos os calouros. Um ato extremamente autoritário e sem precedentes na história da universidade. E o Estadão acha que é pouco.

Essa atitude autoritária que faz cair a máscara da chamada gestão democrática e de inclusão l da reitoria é um escárnio com a população em primeiro lugar. Além de um filtro social absurdo que priva quase 100 mil estudantes todos os anos de entrarem na USP, os cerca de 11 mil que passam no vestibular teriam suas matrículas jogadas fora. Milhões de reais de dinheiro público, saído dos bolsos dos trabalhadores que pagam impostos sobre tudo o que consomem em São Paulo, jogados fora pelo autoritarismo privatista de gestores que não são capazes de entender que se não há professores e funcionários na universidade, não tem como o estudante se formar. E não é que não haja dinheiro, afinal, a USP tem cerca de 5 bilhões de reais em reservas. Reservas para quê, afinal?

O que faz com que a universidade não tenha contratações imediatas de professores para suprir as vagas que se apresentam por causa de exonerações, aposentadorias ou falecimento de professores e funcionários, o gatilho automático, é uma política que foi votada, com bombas e balas de borracha sendo atiradas sob professores, funcionários e estudantes que protestaram contra, em 2017, os Parâmetros de Sustentabilidade Econômica da USP. Tais parâmetros são parte da política levada a cabo pelas últimas gestões da reitoria, alinhada com a política privatista dos governos tucanos, de submissão das pesquisas aos interesses privados de empresas multimilionárias como Samsung, Natura, Nike, Monsanto, a indústria farmacêutica, etc. Para tal, é preciso, nas palavras do reitor da época dos parâmetros e atual presidente da FAPESP, "acabar com a a dinâmica de sindicalismo na USP", traduzindo, golpear à morte o movimento sindical dos trabalhadores (Sintusp e Adusp) e o movimento estudantil. Como bons herdeiros dessa tradição, Carlos Carlotti, Maria Arminda, e seus capangas pró-reitores e certos diretores de unidade, tem deixado o mestre orgulhoso. Ou quase. Afinal, tirando alguns editores à moda antiga, sedentos pelo retorno da palmatória, a opinião pública concorda com a greve. As históricas greves e mobilizações do movimento estudantil, dos trabalhadores e de uma parcela dos professores contra o desmonte da universidade levado a cabo pela reitoria e pelo governo mostraram que esses estudantes são os defensores da universidade e da educação pública, gratuita e de qualidade.

O futuro pertence a vocês, juventude de lutadores!




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