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Distrito Federal | Brasília: a capital fundada na segregação, repressão e desigualdade

Em matéria recente, foi divulgado que o número de pessoas em situação de rua no DF atingiu o maior percentual do Brasil. Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Brasília tem 7.924 pessoas nessa situação, o que representa 0,28% da população da capital federal. Sabemos que estes números não representam a exata realidade, e provavelmente existe um subdimensionamento, mas este percentual mostra como a capital do país foi estruturalmente pensada para garantir a desigualdade e segregação dos trabalhadores e da população pobre.

Eduardo MáximoEstudante da UnB e bancário na Caixa

domingo 5 de novembro de 2023 | Edição do dia

Os dados recentes, divulgados pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, mostram através dos números uma realidade que pode ser observada todos os dias ao caminhar por Brasília. O número de pessoas em situação de rua (e uma marca no DF é que não são apenas indivíduos, mas famílias inteiras) está aumentando e chegou ao maior percentual em comparação com a população do Brasil. São 7.924 pessoas nessa situação, o que representa 0,28% da população da capital federal.

Vale relembrar que a população em situação de rua no DF foi constantemente atacada durante o governo de Ibaneis Rocha que em meio a uma onda de frio histórica mandou sua polícia racista tomar os pertences de pessoas em situação de rua na região do Setor Comercial Sul, que durante a pandemia reprimiu duramente a Ocupação CCBB e outras ocupações. Ibaneis que é dono da mansão mais cara do DF, comprada por R$ 23 milhões, também é dono de mais 11 imóveis e uma imobiliária, enquanto milhares de famílias estão na rua.

Com os dados divulgados pelo Censo 2022 veio à tona outro fato que demonstra o problema estrutural da segregação e da desigualdade da capital federal, neste ano o Sol Nascente se tornou a maior favela do Brasil. Segundo o censo, o Sol Nascente tem 32.081 domicílios, enquanto a Rocinha (segunda maior do Brasil) tem 30.955. Em comparação com 2010, a favela da capital cresceu 31%, enquanto a região do Rio de Janeiro aumentou 20%.

Soma-se a este cenário a imensa disparidade em relação a renda domiciliar per capita mensal, que atinge em regiões administrativas como o Lago Sul o valor de R$ 10.979 próximo de países europeus como a Espanha (R$ 9.487) ou de países desenvolvidos como a Coréia do Sul (R$ 10.638) enquanto a Estrutural, região administrativa mais pobre da capital federal, com renda per capita de R$ 695 é menor do que países como Bangladesh (R$ 843) e a Índia (R$ 702).

As comparações são muitas e históricas, no documentário “Noruega e Congo no centro do Brasil”, publicado em 2013 no Youtube e que pode ser assistido através deste link, a comparação realizada demonstra como naquela época o IDH do Lago Sul estava em um patamar comparável ao da Noruega de índice muito alto e o da Estrutural comparável ao do Congo de índice baixo.

Já discutimos também aqui no Esquerda Diário como a segregação no DF e nas cidades do Entorno ocorre também através do transporte público extremamente limitado, de péssima qualidade em uma configuração espacial que construiu longas distâncias entre o Plano Piloto e as diferentes regiões administrativas dentro do DF e ainda mais distantes para aquelas cidades do Entorno onde grande parte dos trabalhadores residem e saem todos os dias para fazer funcionar a capital do país.

A solução para as famílias que estão em situação de rua no DF deve ser pensada de forma profunda, questionando a estrutura de segregação da própria capital federal. Uma reforma urbana radical realizada através de um grande processo de mobilizações dos trabalhadores no DF e Entorno, em aliança com a população pobre, poderia garantir a expropriação dos prédios desocupados, das mansões e dos grandes proprietários como Ibaneis para garantir a demanda habitacional da população priorizando as famílias em situação de rua. Entre outras medidas necessárias como a realização de um plano de obras públicas e construção de habitações, escolas, hospitais, saneamento básico, espaços de lazer e cultura, restaurantes públicos que poderiam garantir emprego para milhares de desempregados e servir as reais necessidades da população. Aqueles trabalhadores e trabalhadoras que fazem funcionar Brasília diariamente são também aqueles que podem transformar de cima a baixo esta cidade que hoje é símbolo do poder de poucos, dos parlamentares representantes dos empresários, do agronegócio, dos capitalistas que nos oprimem diariamente.




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