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Genocídio na Palestina | Frente a pressão, governo suspende compra de blindados israelenses: é preciso batalhar por cancelamento da licitação e ruptura de todas as relações com o Estado israelense!

Em meio a pressões de importantes setores contra escandalosa compra, no valor de quase R$ 1bi, de veículos blindados do Estado genocida israelense, o governo Lula anuncia a suspensão da assinatura do contrato. É preciso seguir a luta pelo cancelamento total dessa licitação, bem como pela total ruptura de relações militares, comerciais, tecnológicas e políticas com o Estado israelense!

sexta-feira 10 de maio | Edição do dia

Há poucas semanas, tornou-se conhecida a vitória da empresa israelense Elbit Systems e suas subsidiárias brasileiras, a Ares Aeroespacial e Defesa e a AEL Sistema, de uma licitação bilionária do exército brasileiro para a compra de obuseiros autopropulsados sobre rodas, um tipo de veículo militar blindado. Finalizada mais de seis meses após o início da campanha de limpeza étnica do Estado colonial israelense contra a população de mais de dois milhões de palestinos da Faixa de Gaza, que àquela altura já havia vitimado quase 40 mil pessoas, por volta de 70% das quais mulheres e crianças, a licitação é um insulto aos milhares de mortos, mutilados, feridos e torturados pelo exército sionista e escancara a hipocrisia de um governo que, enquanto em certos momentos tencionou publicamente suas relações com o Estado israelense, seguiu financiando o genocídio do povo palestino, e no processo se armando com essas armas testadas contra escolas e hospitais palestinos para reprimir também seu próprio povo. E, coroando tudo isso, o fato de que a compra, que prevê a aquisição de 36 veículos, como parte do programa Obtenção da Capacidade Operacional Plena (OCOP), será financiada com recursos do Novo PAC de Lula!

À ocasião do anúncio da vitória da Elbit Systems na licitação, Lula chegou a endossar publicamente a compra, ressaltando a "transferência de tecnologia" e a "criação de empregos". Nesse último ponto, fez coro com a própria empresa israelense, que se gaba de que "prevê integração e montagem final" no Brasil, com "colaboração com alguns potenciais parceiros nacionais a serem definidos em conjunto com o Exército Brasileiro, entre eles, a Atech (Embraer), Agrale, RF COM Sistemas, Imbel, CSD Defense Components & Systems, além do Senai-RJ e do Arsenal de Guerra de São Paulo".

A notícia causou justificado choque e revolta entre aqueles que, no Brasil, se solidarizam com o sofrimento do povo palestino.

Agora, dias após a divulgação de uma carta assinada pelo coletivo Vozes Judaicas pela Libertação, pela Anistia Internacional e apoiada por importantes personalidades como o cantor Chico Buarque e o petista José Dirceu, pedindo a Lula que voltasse atrás na licitação, o exército anunciou que a assinatura do contrato de compra será suspensa, podendo ser adiada em pelo menos 60 dias, para que o projeto seja mais uma vez analisado pela assessoria jurídica do Ministério da Defesa, visando justificar os motivos técnicos da escolha da empresa, em razão de alterações feitas na fase final da licitação.

O anúncio ocorre, também, dois dias após o início do Acampamento Palestina Livre na USP, que, seguindo o movimento que começou na universidade americana de Columbia e se espalhou pelo mundo, ocupa o espaço da Universidade para lutar contra o genocídio do povo palestino, bem como exigir a ruptura das relações entre sua universidade e o apartheid sionista.

A suspensão, no entanto, não é o fim da luta. Primeiramente porque, como denunciam organizações da causa palestina, a suspensão é somente um "atraso" e não um cancelamento definitivo, e os dois meses de hiato podem servir justamente para esperar que a atenção acerca da compra se dissipe. Neste sentido, é preciso seguir lutando pelo cancelamento imediato da licitação com a Elbit! É especialmente importante pontuar que o adiamente permite a entrega do primeiro lote da compra, de dois obuseiros, para "testes" pelo exército, após os quais o resto dos lotes seria entregue, caso o contrato seja assinado.

Para além disso, é importante ressaltar que esta não é a única ligação que o governo brasileiro, sob a Frente Ampla de Lula-Alckmin, mantém com o Estado que já chacinou mais crianças em Gaza nos últimos 7 meses do que foram mortas nos últimos 4 anos durante conflitos armados em todo o mundo. Não é, sequer, a única compra de equipamentos militares atualmente em andamento com os sionistas. Pouco antes da notícia da compra dos blindados, em meados de março, vinha a conhecimento público a compra de drones, pela Força Aérea Brasileira, de ninguém menos que a Israel Aerospace Industries (IAI), estatal israelense ligada ao Ministério da Defesa do país. Sobre o modelo negociado pela FAB, o VANT Heron, o CEO da IAI, Boaz Levy, disse que “desempenharam um papel fundamental” no genocídio em Gaza, sendo usado em operações de ataque.

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E essa é apenas a ponta do iceberg! O Brasil possui um longo histórico de compra de armas israelenses. Os caveirões que matam crianças de uniforme escolar nas favelas cariocas são realizados com materiais israelenses, assim como as armas que a polícia brasileira ostenta para assassinar trabalhadores negros são as mesmas que as Forças de Defesa de Israel (a infame Tzahal) usam para massacrar a população em Gaza, ou para fuzilar palestinos para abrir caminho ao assentamento ilegal de colonos na Cisjordânia. Esses acordos militares e de fornecimento de armas, que já existiam na década de 2000 durante os governos do PT, foram expandidos em nova escala por Bolsonaro em acordo de 2019 (ratificado por decreto legislativo em 2022) e seguem de pé! Assim, no governo Lula-Alckmin, dinheiro público é enviado por meio do cumprimento de acordos para os cofres israelenses, verba que contribui no fortalecimento da máquina de guerra desse enclave imperialista no Oriente Médio!

Mas para além das relações militares, o fato é que as ligações orgânicas entre o capitalismo brasileiro e o Estado israelense, mediadas pelo imperialismo, são muito maiores do que se poderia inicialmente pensar. Começando desde a mediação do diplomata brasileiro Oswaldo Aranha sobre a sessão da ONU que aprovou a partilha da Palestina e a criação do Estado israelense, abrindo caminho para a Nakba, o Brasil sempre manteve boas relações com a colônia sionista, mesmo com o pretexto de sua posição "neutra", reconhecendo oficialmente o Estado Palestino. Estas relações melhoram significativamente em especial a partir do primeiro governo Lula, quando os israelenses começam a figurar fortemente tanto como compradores de nossos produtos primários, quanto como fornecedores de tecnologia e insumos.

Ainda mais do que produtos militares, o que o Estado israelense mais exporta para o Brasil são adubos, fertilizantes químicos, inseticidas e similares representando 56% das exportações que, em 2023, geraram uma balança comercial de aproximadamente US$2 bilhões. Enquanto isso, 58% do que o Brasil exporta (equivalente a mais de US$600 milhões) são óleos brutos do petróleo, soja e carne bovina. Ainda, das cerca de 150 empresas israelenses no Brasil, a maioria é da área de agrotecnologia. Essas empresas se beneficiam de licitações e acordos de cooperação para escoar no mercado brasileiro tecnologias, por exemplo, de irrigação.

Desnecessário comentar como essa relação, alimentada durante o "boom das commodities" no qual surfaram os governos petistas, consolidou as pontes entre o agro brasileiro e os israelenses, desembocando hoje no íntimo vínculo entre os reacionários empresários desse setor escravocrata e golpista, a extrema direita que o representa politicamente e o sionismo.

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Ainda sobre os produtos primários vendidos pelo Brasil, cabe destaque o óleo bruto de petróleo. Sendo um dos cinco maiores fornecedores dos sionistas, o Brasil, particularmente através da Petrobrás, não só diretamente abastece a máquina de guerra genocida, como lucra com isso!

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Estes são apenas alguns exemplos de como, por baixo da demagogia superficialmente radical de Lula, reside um emaranhado profundamente enraizado de conexões por meio das quais o capitalismo brasileira sustenta o banho de sangue colonial que se desenrola na Palestina há 75 anos.

Para nos desembaraçar desse sistema, é preciso que a luta para que a compra bilionária de blindados da Elbit Systems seja cancelada completamente seja um ponto de partida para lutar, primeiramente, pelo fim de toda e qualquer licitação ou cooperação do Estado brasileiro com o israelense, em especial os eufemisticamente nomeados "de defesa"! Mais além dessa luta, é preciso exigir que a ruptura com o Estado israelense seja total! Lutemos pela relação de todas as relações comerciais, militares, tecnológicas e diplomáticas! Nenhuma gota de Petróleo da Petrobrás para israel! Nenhum apoio ao Genocídio dos Palestinos!

Finalmente, é preciso atacar os laços orgânicos de setores como o reacionário agronegócio com o Estado israelense, o que passa necessariamente por atacar a propriedade privada destes grandes empresários reacionários e sua relação com o imperialismo. Pelo confisco sem indenização de todas as terras de latifundiários, em especial os que cooperam com o genocídio dos palestinos, colocando essa produção sob controle de seus trabalhadores, mediante uma reforma agrária radical!

Esse programa só pode avançar em concretizar-se mediante a luta massiva da nossa classe, organizando-se no Brasil em solidariedade ao povo palestino. Por isso, é preciso exigir que as grandes centrais sindicais, como a CUT e a CGT, que organizam os grandes batalhões da nossa classe, rompam com sua criminosa paralisia a cumplicidade com o governo da Frente Ampla e construam uma luta séria contra o genocídio, a exemplo dos milhares de trabalhadores por todo o mundo que se levantam pela Palestina! Igualmente, os estudantes que, dos EUA, incendiaram o mundo em lutas nas universidades devem ser exemplo para que exijamos da UNE não só que mova-se em apoio à greve das federais, mas também em apoio aos acampamentos e que construa, entre os estudantes, uma luta em defesa do povo palestino!

Será a força organizada de nossa classe, que não tem fronteiras, que fará desta a geração que irá desmantelar o Estado colonial e genocida israelense e verá o povo palestino livre, por suas próprias mãos, com sua luta e organização junto a seus irmãos de classe em todo o mundo, na totalidade de suas terras!




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