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América Latina | Lula apoia governo golpista do Peru que reprime e assassina indígenas

“Somos Aimaras, não somos terroristas” gritam milhares de mulheres indígenas contra a repressão no Peru e contra o governo de Dina Boluarte. O governo de Lula-Alckmin não só reconheceu e legitimou o golpe parlamentar ocorrido no Peru, como autorizou o envio de materiais repressivos que estão sendo utilizados contra os indígenas, trabalhadores, camponeses e estudantes que estão tomando as ruas e rodovias há dois meses.

quinta-feira 16 de fevereiro de 2023 | Edição do dia

A história da América Latina desde o início de sua colonização é a história da perseguição e opressão aos povos originários do continente com intuito de explorar comercialmente a região. Hoje, esta perseguição está a serviço de garantir os interesses de setores reacionários como o garimpo e o agronegócio com o apoio do Estado, como cristaliza o escandaloso caso das mais de 500 mortes de Yanomamis, catástrofe de responsabilidade direta do ex-governo Bolsonaro e da política nefasta da extrema direita e dos militares, que possuem mil e um laços com o garimpo ilegal, assim como com a conivência do conjunto das instituições como o STF, através do Marco Temporal.

No entanto, esta crise não é apenas resultado de políticas de determinados governos, é uma crise estrutural do capitalismo que se liga à exploração dos recursos naturais em biomas como a Amazônia e o Pantanal. Ainda que uma série de empresas imperialistas tenha seus lucros diretamente ligados à exploração desenfreada do meio ambiente e à perseguição aos povos originários, a preservação do meio-ambiente é um tópico que vem ganhando cada vez mais destaque nos últimos anos. O governo Bolsonaro ficou reconhecido internacionalmente por sua retórica que negava os efeitos das mudanças climáticas no planeta, inseparável do negacionismo ambiental que facultou grandes latifundiários e empresários rurais a acentuar a devastação dos biomas brasileiros, e assolar a população indigena na miséria.

Lula e Alckmin, dado o escândalo dos Yanomamis, levantam uma retórica contra o desmatamento e em defesa dos povos indígenas, como expressa a criação do Ministério dos Povos Indígenas ocupado por Sônia Guajajara (PSOL).

É fundamental a defesa dos direitos das comunidades indígenas em toda a sua amplitude, o que implica a defesa de um programa que exproprie os grandes latifundiários, distribua a terra a todos os que nelas trabalham e vivem, a devolução de todas as terras respectivas a cada etnia, a abolição do garimpo e a nacionalização de todos os recursos minerais sob controle e administração dos trabalhadores junto aos povos indígenas. Apenas atacando os capitalistas é possível levar até o final as demandas legítimas dos povos originários, aliados dos trabalhadores.

O governo Lula, de conciliação com os capitalistas e a direita, não pode levar adiante seriamente essas demandas profundas. O governo toma medidas que aparentemente preservam o meio ambiente e os povos originários, especialmente em comparação com o desastre promovido por Bolsonaro, concentrando a atenção em medidas institucionais. Entretanto, na própria fronteira amazônica, nas relações com o Peru, o governo Lula apoia um governo golpista de Dina Boluarte que reprime e assassina a população indígena, as comunidades aimáras e quechuas, permitindo inclusive o envio de munições brasileiras aos agentes da repressão estatal.

A repressão do governo golpista de Dina Boluarte já assassinou mais de 70 manifestantes e agora condena lutadores a 30 meses de prisão. Lula, além de permitir o envio de munições e equipamentos de repressão civil, segue a linha do imperialismo estadunidense ao promover reuniões entre seu chanceler e o do Peru na CELAC, para articular uma reunião dos presidentes ainda neste ano. É essa a defesa dos povos originários? Estar ao lado de seus assassinos no país vizinho?

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O apoio à luta do povo peruano contra o regime golpista é uma tarefa de primeira ordem para a esquerda e os trabalhadores latinoamericanos. É preciso denunciar a colaboração do novo governo brasileiro com a repressão racista e assassina em curso no Peru, sustentada com a aprovação do imperialismo norte-americano e suas multinacionais. A esquerda brasileira, as centrais sindicais, movimentos sociais e entidades estudantis deveriam exigir o fim das relações diplomáticas com Boluarte e o bloqueio de todo e qualquer envio de armamentos e munições ao país vizinho. Sendo parte do governo Lula, a oposição do PSOL à repressão do governo peruano se torna absolutamente inconsistente. De fato, terminam avalizando a politica de Lula.

Os povos originários como os de origem quechua e aimara foram e são historicamente explorados, perseguidos e atacados pelas elites no Peru. A constituição de 1993 imposta por Fujimori através de um golpe representou o assentamento das bases neoliberais no país, sendo atualmente profundamente questionada pelo conjunto do povo peruano. Os indígenas estão sendo linha de frente dos protestos, partindo em caravanas que marchavam do Sul em direção a Lima, expressando muita radicalidade e disposição de luta para se enfrentar com o governo racista de Dina que busca aprofundar ainda mais os ataques às condições de vida dos povos originários e dos trabalhadores peruanos.

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Além do papel internacional de sustentador de um governo golpista assassino, Lula e Alckmin defendem uma coexistência pacífica entre o agronegócio e os povos indígenas (como se isso fosse possível), o que na prática é deixar claro a este setor de maioria bolsonarista que seus interesses serão garantidos. Cabe lembrar que foi um deputado do PT que em 2013 fez a proposta de lei que determinou que basta a palavra do vendedor para comprovar se a origem do ouro é legal ou ilegal. Ou seja, esta medida, que foi sancionada pelo governo Dilma, abriu espaço para a maior inserção do Garimpo ilegal na região e que só veio a aumentar depois do Golpe de 2016, com Temer e Bolsonaro. Nos anos de governo do PT, as obras do PAC massacraram povos indígenas e comunidades ribeirinhas, destruindo o meio-ambiente e evidenciando o que significa administrar o capitalismo brasileiro.

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À nível internacional, o reformismo dos governos latino-americanos explicita os limites do combate institucional aos ataques aos povos indígenas e ao meio-ambiente, justamente por buscar conciliar estes interesses com o de setores reacionários do imperialismo e das burguesias nacionais. Lula, que é no momento a figura presidencial com maior peso na América Latina, foi chave para a legitimação e sustentação de Dina Boluarte, que se alçou à presidência com um golpe protagonizado pelo Congresso fujimorista no Peru. Aos milhões de indígenas, camponeses, trabalhadores e estudantes que foram às ruas lutar contra o golpe e o governo de Dina, Lula não expressou solidariedade, pelo contrário, autorizou o envio de materiais repressivos que Bolsonaro havia negociado para a polícia e as forças armadas peruanas.

O mesmo governo que se coloca em defesa do meio-ambiente, está lado-a-lado dos interesses do extrativismo, anunciou que financiará obras do gasoduto de Vaca Muerta na Argentina, um projeto conhecido pela extração de fracking, técnica predatória e extremamente danosa ao meio-ambiente, e pelos protestos de ambientalistas, indígenas, trabalhadores e comunidades afetadas. Gabriel Boric, presidente do Chile, também faz demagogia quanto ao tema, mas militarizou Wallmapu, região ocupada pelos Mapuche, povo originário que foi decisivo para a radicalidade da rebelião que tomou o país em 2019. Nenhuma administração do capitalismo é alternativa para a defesa dos povos originários e da Terra.

Não é simples responder ao nível de opressão e exploração estatal e empresarial que hoje e historicamente sofrem os povos originários na América Latina. Somente defendendo a demarcação de terras e uma reforma agrária radical, que exproprie as empresas ligadas ao agronegócio e o extrativismo, questionando as bases da exploração capitalista no continente através da luta e da unidade dos trabalhadores, povos indígenas, juventude e demais setores oprimidos, seguindo o grande exemplo da luta no Peru, será possível varrer a extrema direita e impor um programa que atenda às nossas demandas mais urgentes, diretamente na contramão dos lucros e privilégios capitalistas.




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