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ELEIÇÕES 2015 – ARGENTINA | “Pelos direitos das mulheres, milhares de jovens apoiam a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores na Cidade”

Com este slogan, as jovens e mulheres do Pão e Rosas na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores [FIT, pela sigla em castelhano] sairão às ruas em campanha militante pela legalização do aborto, a separação da Igreja e do Estado e para denunciar os casos de violência machista e exploração sexual das mulheres. La Izquierda Diario entrevistou Cecilia Mancuso, conselheira da Faculdade de Sociais (Universidad de Buenos Aires, UBA), dirigente da Juventude do PTS e candidata a vereadora pela Cidade de Buenos Aires.

quarta-feira 8 de abril de 2015 | 00:00

A FIT tem entre suas principais consignas de campanha o direito ao aborto. Por que opinam que é uma hierarquia na Cidade?

Cecilia: A exigência do aborto livre, legal, seguro e gratuito é um dos principais eixos de nossa campanha e é parte da luta que impulsionamos há anos. Na Argentina o PRO e a Frente para la Victoria têm um acordo com o Vaticano para não permitir que avance o projeto de lei de interrupção voluntária da gravidez, que conta com o apoio de nossos deputados da FIT Nicolás Del Caño (PTS) e Néstor Pitrola (PO).1

De fato, quando em 4 de novembro de 2014 se reuniu a Comissão de Legislação Penal para tratar o projeto apresentado pela quinta vez pela Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto, os macristas e kirchneristas se aliaram para não permitir quórum e impedir uma decisão favorável.

Na Cidade de Buenos Aires a situação é escandalosa porque em 2012 [Maurício] Macri homologou a resolução 1.252/2012 que impõe obstáculos aos abortos não puníveis em situações de estupro, tal como está contemplado no artigo 86 do Código Penal. O caso mais emblemático foi o de uma mulher de 35 anos, vítima de uma rede de exploração sexual, que teve negado este direito fundamental pelas autoridades do Hospital Ramos Mejía, apoiadas pelo PRO e a justiça.

O cinismo do macrismo não tem limites! Recentemente, a vice-chefe do governo, Maria Eugenia Vidal, comemorou o “Dia da criança que nascerá” entregando enxovais de bebês para mulheres gestantes da Vila 1-11-14. Enquanto isso, continuam sendo as mulheres mais pobres e dos bairros populares quem morre por abortos clandestinos.

Outro dos eixos da campanha tem a ver com a denúncia da violência contra as mulheres. Qual a opinião da campanha do PRO e o que a FIT propõe?

Cecilia: No país morre uma mulher a cada 30 horas por feminicídio e estima-se que até 50% das trabalhadoras têm sofrido diversos graus de assédio sexual em sua vida. Por sua vez, sabemos que as mulheres recebem, na média, 30% menos que os homens como remuneração por igual trabalho e 40% estão precarizadas.

O PRO já demonstrou que nada tem para oferecer às vítimas da violência machista. Não é casual que o governo da Cidade reduza cada vez mais os gastos sociais, enquanto aumenta os recursos para a Justiça e a Segurança, de 9,5% para 11% somente neste último ano. Ou seja, ao mesmo tempo em que pretende encerrar o Programa de Atenção às Vítimas de Delitos Sexuais e só mantém três abrigos para mulheres em situação de violência, outorga cada vez mais recursos para compra de pistolas Taser e métodos para repressão.

Além disso, em Santa Fé, o macrismo tem como candidato a governador Miguel del Sel, conhecido por sua campanha e seus comentários misóginos. E ainda temos de lembrar quando o próprio Maurício disse que as mulheres gostam de “cantadas” e que lhes digam “que bela bunda”. Ou o inesquecível folheto que propunha a abstinência sexual para as mulheres como prevenção da Aids.

No Pão e Rosas e na FIT queremos firmar este ponto que está ausente na agenda eleitoral dos partidos tradicionais porque lutamos por uma vida livre de discriminação às mulheres e à comunidade LGTB. Por isso, exigimos mais recursos orçamentários aos abrigos e subsídios às vítimas e um acesso igualitário a oportunidades trabalhistas. E nesse caminho estamos convencidas de que devemos construir uma força material, um poderoso movimento de mulheres em luta por nossos direitos, contrapondo-se às diferentes formas em que se expressa a violência contra as mulheres, uma grande organização independente por nossos direitos.

Em seu material eleitoral vocês denunciam o negócio de tráfico de mulheres para a prostituição. Como funciona este negócio na Cidade de Buenos Aires?

Cecilia: O negócio do tráfico de mulheres move milhões de dólares em todo o mundo. Na Argentina estima-se que há mais de 600 mulheres desaparecidas e somente na Cidade de Buenos Aires funcionam mais de 1.200 prostíbulos. É sabido que este negócio que lucra com a vida de milhões de mulheres está muito ligado ao narcotráfico, aos desmanches de carros e ao grande crime, organizado e sustentado por juízes, polícias, funcionários políticos dos partidos patronais e até serviços de inteligência [dos governos]. Na Cidade nós viemos denunciando que até o pai da ex-Side2 e vice-reitor da UBA, Richarte, estava implicado numa das redes de tráfico mais importantes da Cidade. Ele está liberado pela impunidade garantida por ser pai de um ex-membro da Side. Raul Martins foi outro dos casos mais renomados pela denúncia que sua filha fez, que se fez empresário e cafetão apoiado pelo macrismo. Nós, perante as próximas eleições, queremos também colocar esta denúncia nos temas centrais a debater na cidade e um dos que mais nos preocupa, como jovens que são alvo fácil deste negócio, pois sabemos que apenas podemos contrapor a isso a organização de um grande movimento de mulheres, independente destes partidos políticos que só fazem proteger estes empresários.

Por isto e por todos nossos direitos, para quinta-feira, 9 de abril, estamos convidando todas as mulheres que apoiam a FIT na Cidade para participar da grande agitação que realizaremos entre as trabalhadoras do metrô, telefônicos, professores, aeronáuticos etc., no Obelisco, contando com a presença da nossa companheira e candidata a governadora Myriam Bregman.

1- PRO (Propuesta Republicana), partido de centro-direita, cujos seguidores são conhecidos como macristas pelo nome do seu principal dirigente, Maurício Macri, governador da província (estado) de Buenos Aires; Frente para la Victoria (FPV), aliança eleitoral kirchnerista, hoje dirigida pela presidente Cristina Kirchner; PTS (Partido de los Trabajadores Socialistas) e PO (Partido Obrero) são os principais partidos da FIT (Frente de Izquierda y de los Trabajadores).

2- Serviço de Inteligência do Estado (Side), nome do serviço de inteligência da Argentina até 2001.




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