×

Eleições Pernambuco | Por que Marília Arraes não é alternativa para a classe trabalhadora e o povo pobre?

Marília Arraes lidera com folga, desde o início da campanha, as intenções de voto para o governo de Pernambuco. Segundo a última pesquisa IPEC, a candidata do Solidariedade tem 33% das intenções, enquanto, Danilo Cabral (PSB), Raquel Lyra (PSDB), Miguel Coelho (União Brasil) e Anderson Ferreira (PL) aparecem empatados disputando a segunda posição, com 11%.

Cristina SantosRecife | @crisantosss

domingo 25 de setembro de 2022 | Edição do dia

Foto: Blog do Finfa

Se olhar superficialmente, alguns podem se enganar. Em uma conjuntura eleitoral bastante polarizada nacionalmente, onde o PT faz uma campanha proclamando um golpe de Bolsonaro (que seria dado sem o apoio do imperialismo e de fatias importantes da burguesia nacional como os banqueiros da Febraban e industriais da Fiesp que estão alinhados, por sua vez, com a chapa de conciliação de classes de Lula/Alckmin), além de semear a ilusão de que é possível derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo nas urnas com a cumplicidade das direções das centrais sindicais e entidades estudantis, que vem deixando passar todo tipo de ataque sem preparar nenhuma luta. Neste contexto, Marília Arraes conseguiu colar sua imagem à de Lula, rendendo alguns vai e vens jurídicos por parte do candidato “oficialmente” apoiado por Lula, Danilo Cabral do PSB, atual partido do vice ao cago de Presidente, Geraldo Alckmin, e também o que vem governando o estado de Pernambuco por mais de 16 anos.

O balanço do povo pernambucano de todos estes anos de governo do PSB parece estar pesando na escolha, já que nestes anos o estado seguiu entre os piores índices de desemprego, informalidade e miséria. A disputa para o segundo turno, parece cada vez mais que poderá reproduzir regionalmente a polarização nacional, pois o candidato que se destaca em algumas regiões de grande colégio eleitoral, como a região metropolitana de Recife, é o bolsonarista Anderson Ferreira. Isso mostra que a extrema direita no estado conseguiu capitalizar os atos reacionários do 7 de setembro, fato possível pela capitulação das direções das centrais sindicais e entidades estudantis, que novamente escolheram subordinar nossos organismos de representação ao calendário eleitoral em vez de organizar a nossa luta para enfrentar a extrema direita nas ruas.

É nesse cenário, de nenhum enfrentamento à extrema direita e da ausência de um programa de esquerda de ruptura com os empresários e os patrões que Marília Arraes aparece como candidata favorita ao governo, mas por trás de toda demagogia de que vai governar para o povo e de renovação, ela representa um projeto político de direita e oligárquico e por isso aqui vamos apresentar algumas razões do porquê ela não é alternativa para o povo trabalhador do nosso estado.

1. Fala de renovação, mas ela mesma trilhou grande parte da sua trajetória política junto com o PSB.

Arraes fala que é preciso “renovar” para angariar votos na sua candidatura, mas não diz que ela própria governou junto com o PSB durante muitos destes anos em que eles estão no governo do estado – quase 10 anos, de 2007 a 2016. Marília pertence a uma parte da oligarquia pernambucana, a família Arraes, que estiveram junto com a família Campos por anos controlando o PSB no estado você pode encontrar uma análise mais profunda desse tema neste texto.

O resultado dos anos de governo do PSB são estarrecedores. Nosso estado possui 44% da população na pobreza, enquanto a média nacional, que já é bastante alta, é de 23%. As inundações deste ano mostraram o quanto as prioridades do governo estão longe da população mais pobre, foram 129 vítimas de uma tragédia anunciada e totalmente evitável. Arraes, quando critica o PSB, esquece de dizer que a maior parte dos anos de governo de descaso deste partido no estado, ela esteve junto com eles. Esse discurso de renovação não cola.

2. Seu vice é Sebastião Oliveira do Avante, que já votou inúmeros ataques à classe trabalhadora.

O seu vice-governador não é ninguém menos que Sebastião Oliveira do Avante, deputado federal que foi favorável à Reforma da Previdência e à privatização da Eletrobrás e que, assim como Arraes, também possui seu histórico com o partido que atualmente governa o estado. O Avante de Oliveira estava coligado com o PSB até junho deste ano. Sebastião iniciou sua carreira política no PFL, partido herdeiro do antigo ARENA da ditadura. Migrou então para o PL, atual partido de Bolsonaro, ficando até 2020, quando foi para o Avante. Além de Sebastião Oliveira, outra figura central da sua campanha é o golpista André de Paula do PSD, candidato apoiado por Marília para a corrida ao senado.

Como denunciamos neste texto, seu vice, Sebastião Oliveira, assim como Marília, segue a tradição das oligarquias locais. Foi impulsionado na política por seu tio, Inocêncio de Oliveira. Irmão do prefeito de Serra Talhada, cidade do sertão pernambucano, começou sua carreira no ARENA, sendo Deputado Federal. Após ser impulsionado na política pelo irmão, resolveu impulsionar o sobrinho Sebastião pelo então PFL. Uma história típica das oligarquias estaduais. Inocêncio foi condenado por trabalho escravo em sua fazenda em Gonçalves Dias, no interior do Maranhão, após ação aberta em 2002.

Enquanto o tio se envolvia em trabalho escravo, Sebastião votava medidas que também atacavam os trabalhadores. Quando foi Deputado Federal, votou a favor da Reforma da Previdência e se posicionou a favor da Reforma Administrativa e da proposta de Bolsonaro e Guedes de Reforma Tributária

3. Fala de mulher na política, mas se coloca contra a legalização do aborto.

A ilegalidade do aborto mata, e mata principalmente as mulheres pobres e negras, que são 3 de cada 4 vítimas. Segundo o Conselho Federal de Enfermagem, 1 milhão de abortos induzidos ocorrem por ano no Brasil, levando 250 mil mulheres à hospitalização. Um procedimento que poderia ser feito de maneira segura no hospital. A garantia do direito ao aborto não obriga ninguém a abortar, apenas garante o direito humano de toda mulher e pessoa com útero que engravide de decidir sobre o seu próprio corpo e principalmente, garante que uma maioria de mulheres negras e pobres não sejam obrigadas a se exporem à situações de insalubridade e risco de morte. Marília Arraes, em sabatina no UOL, disse ser contra a legalização do aborto, uma nítida expressão de que seu projeto de governo não vê a realidade dos milhões de mulheres trabalhadoras, pobres e negras do nosso estado que necessitam a garantia deste direito.

No seu programa, mulher é apenas reprodutora, nenhuma palavra sobre igualdade salarial, direito reprodutivo, combate à violência de gênero. Por isso dizemos e repetimos: nem mesmo o gênero nos une e a classe definitivamente nos separa!

4. Em um dos estados mais violentos contra a juventude negra, Arraes defende proteger a polícia e dar melhores condições de repressão.

Estamos no estado onde 97% dos assassinados pela polícia foram pessoas negras no ano de 2021 segundo a Rede de Observatórios da Segurança. A polícia racista do estado sob mando de Paulo Câmara do PSB e Luciana Santos do PC do B, literalmente arrancou os olhos de 2 trabalhadores que passavam pela primeira manifestação do Fora Bolsonaro de 2021. Heloysa Gabrielly, de apenas 6 anos, foi assassinada por uma ação do BOPE em Ipojuca em abril deste ano e até hoje o estado não divulgou os resultados dos laudos. O Pacto pela Vida do PSB, longe de diminuir a violência como tenta fazer crer o governo estadual, promove uma política de violência policial generalizada sobre as periferias.

Neste contexto, o programa de Arraes é “valorizar” e equipar as polícias, traduzindo para o português real: deixá-los melhor preparados para nos reprimir e assassinar a juventude negra.

No marco do significado social das forças de repressão, não é possível defender qualquer investimento naqueles que reprimem nossa luta e assassina nossa juventude.

No seu programa, coloca que irá criar programas de aproximação da polícia com a população, foi esse discurso que utilizaram na instalação das UPP’s no Rio de Janeiro (Unidade de Polícia Pacificadora), que ao final desapareceram o Amarildo e se tornaram os “administradores” dos delitos nos locais onde foram instaladas.

5. O que seu programa não fala, fala por si mesmo.

Um dos grandes problemas para a população de Recife e região metropolitana é o serviço de transporte sobre trilhos, o Metrô. Este tema brilha por sua ausência no programa de Marília Arraes e isso não é por acaso. Nitidamente, há uma campanha em busca de ganhar a opinião pública para justificar a entrega deste serviço para a iniciativa privada. O governo do PSB / PCdoB já fez um primeiro ensaio no primeiro semestre deste ano, o que foi temporariamente barrado pela mobilização dos metroviários. São constantes as campanhas da mídia burguesa para tentar apresentar o serviço como ruim e falho, quando o que há de fato é um projeto de desinvestimento do governo para beneficiar empresas privadas que venham a ficar com a concessão. A entrega deste serviço para empresários sedentos de lucro já mostrou em outros estados que quem paga a conta são os trabalhadores e a população, por isso defendemos um Metrô público, controlado por trabalhadores e usuários e total apoio à mobilização dos metroviários contra a privatização e por melhores condições de trabalho. Nesta queda de braço, Arraes fica do lado dos empresários e patrões.

Outro elemento que brilha por sua ausência é a questão da dívida pública estadual. Nesta matéria, denunciamos como o valor escoado para banqueiros internacionais poderia ter sido utilizado para a resolução de grande parte do déficit habitacional no Recife e região metropolitana, evitando grande parte do problema que vivemos todos os anos por conta das chuvas e particularmente a grande tragédia deste ano que nos tirou tantas vidas.

A questão das reformas não são tocadas nem de longe, afinal, Lula e Alckmin já garantiram para o mercado que vão tutelar a obra do golpe institucional e não haverá revogação das reformas. Este elemento é especialmente sensível no estado de Pernambuco e particularmente no Recife, onde o governo do PSB com João Campos conseguiu passar a nível municipal e em meio a pandemia, uma reforma da previdência de dar inveja no ministro da economia bolsonarista Paulo Guedes, como já denunciamos aqui

Podemos ver que a corrida ao Palácio das Princesas está marcada por políticos dos empresários e patrões, que utilizam das nossas pautas ao seu bel prazer para tentar ganhar nosso voto. Enquanto isso, nosso estado vem sendo palco de mobilizações em distintas categorias, como enfermeiras, agentes de saúde, rodoviários, metroviários e recenseadores. A unidade das lutas em curso pode ser o caminho para de fato barrar os ataques e também a extrema-direita pernambucana e servir como um exemplo para todo o país. Por isso levantamos a necessidade da construção da unidade da classe trabalhadora junto ao povo oprimido e aos movimentos sociais, de maneira independente dos empresários e dos patrões, pois os interesses deles estão na trincheira oposta aos nossos interesses.

Nestas eleições, apoiamos as candidaturas do Pólo Socialista Revolucionário que vem se colocando como alternativa aos políticos dos patrões e nos locais onde estamos nos apresentando com candidatos do Movimento Revolucionário de Trabalhadores, apostamos em candidaturas que levantam a necessidade de unir a classe trabalhadora para enfrentar Bolsonaro e o conjunto da direita com greves e paralisações, sem aliança com os golpistas.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias