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DEBATE SOBRE A PARALISAÇÃO NACIONAL | Por que os metroviários de SP não pararam no dia 29/05?

Felipe GuarnieriDiretor do Sindicato dos Metroviarios de SP

sexta-feira 29 de maio de 2015 | 10:00

Mais de 500 trabalhadores encheram a assembleia no último dia 26/05, na quadra do Sindicato dos Metroviários em SP, para decidir os rumos da campanha salarial e a adesão ao dia de paralisação nacional convocado pelas centrais sindicais.

Diante uma conjuntura difícil, em meio aos ajustes do Governo Dilma, a intransigência de Alckmin contra os professores em SP aplicando o corte de ponto há 2 meses na greve, e a proibição de Greve no Metrô imposta pela “cláusula de paz” do TRT, foi uma assembleia representativa. Nela se expressou a força da categoria mesmo depois da derrota da greve do ano passado, que culminou na demissão de 42 metroviários, sendo que depois de 1 ano, 38 permanecem sem retornar ao trabalho.

Entretanto, nesse momento que a categoria volta se reerguer, mais uma vez a diretoria do Sindicato (PSTU e PSOL ) se dividiu, entre realizar o atraso da operação comercial no dia 29/05, defendida pela Alternativa/PSTU (maioria do Sindicato), a oposição da Antiga Diretoria/CTB, e por nós do MRT junto aos trabalhadores que compõe conosco a agrupação Metroviários pela Base. E a proposta apresentada pelo PSOL e outros diretores, aprovada em decisão apertada, de aderir ao Dia apenas com a participação do Sindicato no Ato na Avenida Paulista e na distribuição de Carta Aberta nas Estações.

Abrimos um dialogo com os metroviários e trabalhadores de outras categorias, sobre o problema do papel das centrais sindicais nesse dia de paralisação nacional, e como o Sindicato dos Metroviários, mesmo dirigido pela esquerda antigovernista, não consegue se apresentar como uma alternativa independente dos trabalhadores.

A importância dos metroviários lutarem contra a terceirização e os ajustes do Governo Dilma.

Há anos o Metro é uma das principais vitimas da política de privatização e terceirização do tucanato em SP. A Linha 4 amarela e as PPP’s do plano de expansão são o resultado final, mas que já vem ocorrendo em diversas áreas nas linhas estatais. O sistema de recarga do Bilhete Único, a limpeza das estações, além de diversos ramos da Manutenção, a terceirização invadiu rebaixando salários, direitos, dividindo os trabalhadores e aumentando o lucro dos patrões. Vale lembrar que se hoje o Congresso Nacional quer aprovar uma Lei que amplia ainda mais a terceirização, isso é fruto de décadas do governo do PT, onde “nunca antes na história desse país” os empresários encheram tanto seus bolsos com a terceirização. Se não bastasse, Dilma impõe uma série de ajustes a direitos históricos dos trabalhadores, através das MP´S 664 e 665, para blindar esses setores da crise econômica e descarregar sobre as nossas costas.

Em última instância, entrar nessa briga é defender os nossos empregos, dos nossos filhos e dos nossos netos. Se essa lei passa as bilheterias, segurança, o trabalho na Estação, a manutenção, tudo passaria ser terceirizado. O trabalhador jovem teria seus salários e direitos rebaixados, e os mais antigos teriam sua aposentadoria comprometida. Mas não apenas os metroviários, pois não se trata de uma luta corporativa, mas sim uma luta de classe, a nossa dos trabalhadores contra dos capitalistas. Por isso, os metroviários, que estão num centro estratégico dessa batalha, saírem em luta nesse dia não só fortaleceria a categoria novamente, como seria um reforço importante para outros trabalhadores conseguirem golpear mais forte os governos e patrões.

A desconfiança em relação a Centrais Sindicais e a “cara de pau” da CTB/CUT na Assembleia.

Se há muito receio dos metroviários atualmente aderirem a lutas “gerais”, em grande parte vem da desconfiança em relação ao papel das principais centrais sindicais. As experiências foram muitas, a CTB se constitui nacionalmente como central, com anos de aparatismo do PC do B no sindicato, onde os trabalhadores sozinhos e abandonados pelos Diretores arriscavam seus pescoços na greve (como foi na Emenda 3). Além disso, ninguém é bobo! Não adianta na categoria falar que é contra a terceirização, mas depois na TV e Jornais, CUT e CTB pousar ao lado de Dilma nos ajustes aos direitos dos trabalhadores, propor “Planos” que reduzem os salários e isso sem falar na Força Sindical, que diretamente se junta ao lado dos patrões para aprovar a lei da terceirização.

Mesmo com aparatos gigantescos, CUT e CTB não fizeram nada para os metroviários, estamos há um ano travando sozinhos a luta pela readmissão de nossos companheiros, e não chegaram nem participar das assembleias da categoria. E depois aparecem com discursos inflamados cobrando os metroviários de pararem? Como o trabalhador diz “é muita cara de pau!”. É tanta, que nos lugares principais onde essas Centrais dirigem no dia 29/05 também não acontecerá nada. E se houver alguma coisa, pode garantir que o destaque será para defender Dilma e o governo petista. Tudo isso, em troca de manter os privilégios que possuem a frente dessas centrais, sem precisar trabalhar.

Sindicato dividido, falta de trabalho de base e preparação das lutas!

É verdade que a CST (PSOL) teve uma política equivocada pressionada pelo corporativismo em votar contra o atraso da operação comercial, juntando-se ao discurso já conhecido “do medo” (onde a todo e qualquer momento a justificativa principal de não entrar em luta é o risco de retaliação) de outros diretores. Mas o PSTU também tem responsabilidade pelo resultado da votação, pelo seu peso no sindicato, inclusive na figura do seu presidente, Altino Prazeres.

O problema é mais profundo do que a realidade que o PSTU quer enxergar. Assim como não adianta ficar repetindo “greve geral”, sem denunciar o papel das Centrais Sindicais, embelezando o papel da burocracia sindical no dia de paralisação. Também não adianta, chegarmos ao momento de decisão sem estar com uma batalha preparada, e isso é responsabilidade das duas alas do sindicato. Novamente, como no encerramento da greve de 2014 com 42 demissões, a diretoria do Sindicato estava dividida. Novamente, passamos de uma campanha salarial para outra sem trabalho de base, sem a presença dos Sindicatos nas áreas, sem uma campanha política pela readmissão dos metroviários, sem articulação com outras categorias de transporte, com um Congresso que se discutiu muito como funcionará o Sindicato, mas pouco ou quase nada de plano de luta, e com medidas mínimas de mobilização (como o uso de colete) chegando nas últimas semanas.

E tudo isso, novamente, também não foi por falta de aviso! Durante todo esse último período junto a dezenas de trabalhadores que compõe o Metroviários Pela Base, nos consolidamos como uma 3ª força na categoria não somente pontuando esses problemas, como apresentando uma plataforma constantemente negada pelo Sindicato. E seguiremos nessa batalha, para que o Sindicato dos metroviários possa de fato ser uma alternativa independente dos trabalhadores contra os governos, os patrões e a burocracia sindical.




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