×

CIÊNCIA E POLÍTICA | Por que socialismo? Einstein nos explica

Em 2015, vimos declarações de uma das mentes mais brilhantes do século XXI, o cosmólogo e físico Stephen Hawking, sobre os perigos do sistema capitalista e como o sistema vai nos levar ao fim da civilização se não mudarmos radicalmente o modo de produção. Por que o socialismo? Einstein, o grande físico do século XX, nos explica.

terça-feira 2 de fevereiro de 2016 | 00:01

Não é a primeira vez que um intelectual de nome opina sobre o modelo capitalista e as implicações de seu modo de obtenção de riqueza, a desigualdade, a pobreza, o crime ambiental e o fim de uma civilização sustentável.

Em 1949, Albert Einstein, uma das mentes mais brilhantes do século XXI, escreveu um ensaio em que critica o capitalismo e com isso manifesta uma inclinação ao socialismo não burocratizado, (como o da então União Soviética [da época stalinista - NdT]). As exposições feitas por estas personalidades vêm a questionar o capitalismo das últimas décadas evidenciando os problemas em que estamos imersos.

Einstein, uma crítica ao capitalismo

No artigo publicado em 1949 na Monthly Review, Einstein começa questionando se "Deve quem não é um estudioso em questões econômicas e sociais opinar sobre o socialismo? Por uma série de razões creio que sim". Nos parágrafos seguintes Einstein faz uma reflexão a respeito.

Parafraseando Einstein, existe na natureza uma série de leis que regem o comportamento do universo, desde o menor até o maior. Desde esse ponto de vista, a física se encarregou de explicar como funcionam essas leis. Por outro lado, em questões econômicas e sociais, deve existir uma série de leis que regem o decorrer da sociedade. No entanto, em questões econômicas, existem fatores que vão mais além do livre devir de algumas leis de mercados, isto é, muita das riquezas das nações vem precisamente da conquista e exploração de outras.

Visto esse contexto, Einstein menciona que o socialismo do futuro deve superar a frase depredadora das épocas passadas da humanidade e leis econômicas devem apontar na direção de um socialismo não burocratizado.

Em 1939, Einstein enviou uma carta ao presidente Roosevelt na qual explicava a importância de desenvolver a fissão nuclear do Urânio. Isso contribuiu para a criação do projeto Manhattan que desenvolveu a bomba atômica. Einstein ficou perplexo e arrependido de ter enviado a carta a Roosevelt, depois que em 1945 lançaram as bombas de Hiroshima e Nagasaki. Desde então, Einstein temeu que a seguinte guerra mundial, uma guerra nuclear, terminaria com a civilização inteira. A possível guerra nuclear foi talvez a razão que influenciou Einstein a redefinir-se em termos de um socialismo ético, deixando para trás os modelos econômicos que favoreceriam o uso de armas (e, por consequência, as guerras), para abrir espaço a novos mercados.

Analisando o devir social e o papel do homem em uma sociedade cada vez mais tecnológica é que Einstein defende que a sobrevivência do homem ou de pequenas comunidades de maneira completamente independente já não é possível como em outras épocas da humanidade. "Alcançou-se uma comunidade planetária de produção e consumo. Uma produção e consumo desmedidos que Einstein define como Anarquia Capitalista é a verdadeira fonte do mal da sociedade contemporânea". No que segue, Einstein explica com suas palavras o que qualquer estudioso de O Capital de Marx saberia sobre as implicações do Capitalismo:

"A situação que prevalece em uma economia baseada na propriedade privada do capital está assim caracterizada no principal: primeiro, os meios de produção (capital) são possuídos de forma privada e os proprietários dispõem deles como o consideram oportuno; em segundo lugar, o contrato de trabalho é livre.

Sendo assim, não existe uma sociedade capitalista pura nesse sentido. Em particular, deve-se notar que os trabalhadores, através de lutas políticas longas e amargas, têm tido êxito em assegurar uma forma um tanto melhor de ‘contrato de trabalho livre’ a certas categorias de trabalhadores.

Porém, tomada em seu conjunto, a economia atual não se diferencia muito do capitalismo ‘puro’. A produção está orientada ao lucro, não ao uso. Não está garantido que todos os que têm capacidade e queiram trabalhar podem encontrar emprego; existe quase sempre um ‘exército de desempregados’. O trabalhador está constantemente atemorizado com perder seu trabalho.

Desde que desempregados e trabalhadores mal pagos não proporcionam um mercado rentável, a produção dos bens de consumo está restrita, e a consequência é uma grande privação. O progresso tecnológico produz com frequência mais desemprego em vez de facilitar a carga de trabalho para todos. A motivação do lucro, conjuntamente com a concorrência entre capitalistas, é responsável de uma instabilidade na acumulação e na utilização do capital que conduz a depressões cada vez mais severas. A concorrência ilimitada conduz a um desperdício enorme de trabalho, e a esse amputar da consciência social dos indivíduos que mencionei antes.

Considero essa mutilação dos indivíduos o pior mal do capitalismo. Nosso sistema educativo inteiro sofre desse mal. Se impõe uma atitude competitiva exagerada ao estudante, que é treinado para adorar o êxito ganancioso como preparação para sua carreira futura".

Finalmente, Einstein conclui que diante da análise do sistema capitalista, com grandes recursos, a solução é logicamente uma Economia socialista acompanhada do estabelecimento de uma educação focada nas metas sociais. Ou seja, um modo de produção focado nas necessidades da sociedade em si e não no lucro, uma economia planificada com compromisso social entre seus indivíduos.

Não obstante, esclarece que uma economia planificada não é um socialismo e que tem que lidar com os problemas que implicaria o estabelecimento de uma burocracia, fazendo uma crítica ao regime burocratizado da URSS.

Veja o texto original de Albert Einstein, Por que Socialismo?


Temas

Teoria



Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias