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Editorial Pernambuco | Quais são os desafios da esquerda em Pernambuco?

Os bloqueios e atos golpistas pelo Brasil todo e também em Pernambuco mostraram que o bolsonarismo é um fator político de peso nacional e aqui no estado, apesar do grande rechaço a Bolsonaro nas urnas, conserva uma base social ativa e reacionária.

Renato ShakurEstudante de ciências sociais da UFPE e doutorando em história da UFF

domingo 6 de novembro de 2022 | Edição do dia

Anderson Ferreira (PL) ficou em 3º lugar na corrida para chegar ao segundo turno das eleições estaduais com uma diferença apertada para as duas primeiras colocadas, Raquel Lyra (PSDB) e Marília Arraes (Solidariedade). Os quatro deputados mais bem votados no estado para as câmaras estaduais e para o Congresso também são bolsonaristas. Esse resultados eleitorais mostram que a extrema direita conseguiu capitalizar a crise do PSB, como desenvolvemos aqui.

Os bloqueios nas rodovias e atos em frente aos quartéis pedindo intervenção militar também são expressão disso. Eles ocorreram em municípios onde se expressaram o peso eleitoral do bolsonarismo Jaboatão dos Guararapes que Anderson é ex-prefeito e em cidades como Caruaru, Taquaritinga do Norte e Bezerros regiões onde Raquel Lyra tem um peso importante. Vale lembrar que Raquel para não
perder os votos petistas no estado declarou uma suposta neutralidade, mas por baixo se apoiava no bolsonarismo duro ou naqueles que apoiaram Bolsonaro no 2º turno, como Miguel Coelho (União Brasil).

Alepe segue com um peso oligárquico do PSB mantendo a maioria. O PSB tem 14 deputados, o PP 8, em seguida o PL e União Brasil tem 5 cada um; PT, PV, PSDB e Solidariedade cada um com 3, Republicanos 2 e Patriota, PCdoB e PSOL/Rede respectivamente com 1 deputado. Além disso, houve um fortalecimento do bolsonarismo que ganhou mais cadeiras, chegando a 5 além das duas cadeiras no Progressistas que compõe a ala bolsonarista do partido.

Com a vitória da direitista Raquel Lyra e fortalecimento do bolsonarismo no estado, sobretudo na região metropolitana de Recife, a situação da política regional também mostra que há uma maior institucionalização da direita no regime pernambucano, ainda que haja um amplo rechaço a Bolsonaro entre a juventude e os trabalhadores, conforme se expressou nas eleições.

Nesse cenário, de fortalecimento da direita regional e institucionalização do bolsonarismo a nível nacional, mais do que nunca é necessário defender um programa operário e anticapitalista e se enfrentar nas ruas com esse governo que irá aprofundar ataques e também com o bolsonarismo, sem nenhuma aliança com a direita e as oligarquias.

O ponto zero de qualquer posição política hoje é a luta pela revogação integral de todas as reformas, o que não será conquistado com alianças com a direita e o grande capital. É preciso batalhar pela redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais, sem redução salarial, assim como a revogação de todas as reformas e privatizações. Da mesma maneira, e ligado a isso, é necessário lutar pela distribuição das horas de trabalho disponíveis a todos os trabalhadores, a fim de unificar empregados e desempregados.

Os bloqueios nas rodovias e atos em frente aos quartéis pedindo intervenção militar também são expressão disso. Eles ocorreram em municípios onde se expressaram o peso eleitoral do bolsonarismo Jaboatão dos Guararapes que Anderson é ex-prefeito e em cidades como Caruaru, Taquaritinga do Norte e Bezerros regiões onde Raquel Lyra tem um peso importante. Vale lembrar que Raquel para não
perder os votos petistas no estado declarou uma suposta neutralidade, mas por baixo se apoiava no bolsonarismo duro ou naqueles que apoiaram Bolsonaro no 2º turno, como Miguel Coelho (União Brasil).

Alepe segue com um peso oligárquico do PSB mantendo a maioria. O PSB tem 14 deputados, o PP 8, em seguida o PL e União Brasil tem 5 cada um PT, PV, PSDB e Solidariedade cada um com 3, Republicanos 2 e Patriota, PCdoB e PSOL/Rede respectivamente com 1 deputado. Além disso, houve um fortalecimento do bolsonarismo que ganhou mais cadeira, chegando a 5 além das duas cadeiras no Progressistas.

Com a vitória da direitista Raquel Lyra e fortalecimento do bolsonarismo no estado, sobretudo na região metropolitana de Recife, a situação da política regional também mostra que há uma maior institucionalização da direita no regime pernambucano, ainda que haja um amplo rechaço a Bolsonaro entre a juventude e os trabalhadores, conforme se expressou nas eleições.

Nesse cenário, de fortalecimento da direita regional e institucionalização do bolsonarismo a nível nacional, mais do que nunca é necessário defender um programa operário e anticapitalista e se enfrentar nas ruas com esse governo que irá aprofundar ataques e também com o bolsonarismo, sem nenhuma aliança com a direita e as oligarquias.

O ponto zero de qualquer posição política hoje é a luta pela revogação integral de todas as reformas, o que não será conquistado com alianças com a direita e o grande capital. É preciso batalhar pela redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais, sem redução salarial, assim como a revogação de todas as reformas e privatizações. Da mesma maneira, e ligado a isso, é necessário lutar pela distribuição das horas de trabalho disponíveis a todos os trabalhadores, a fim de unificar empregados e desempregados.

Mas também viemos defendendo que é necessário uma reforma agrária radical e a expropriação da grande indústria do agronegócio. Além do reajuste salarial automático de acordo com a inflação, para que a inflação altíssima sobre os alimentos e gás de cozinha, por exemplo, não diminua o poder de compra do trabalhador e assim combater a fome no estado e no país. Também é preciso uma reforma urbana radical para acabar com um problema estrutural das enchentes e deslizamentos e expropriar os imóveis vazios dos que lucram com a especulação imobiliária. É necessário acabar com o Pacto Pela Vida, esse programa racista e assassino que recentemente deixou mais uma vítima, o jovem negro de 22 anos, Isaías de Andrade Lima, morto covardemente pela PM racista em Recife, no bairro da Várzea.

Mas a esquerda pernambucana ao invés de defender a independência política dos trabalhadores foi para o caminho oposto. O PSOL-Rede e o PCB de Jones Manoel apoiaram “criticamente” no 2º turno das eleições estaduais Marília Arraes (Solidariedade). Como denunciamos diversas vezes no Esquerda Diário, Marília Arraes representa um projeto político da velha oligarquia Arraes. Seu giro à direita, indo para o partido de Paulinho da Força e Sebastião Oliveira ambos a favor dos ataque e reformas anti operárias, marcou sua candidatura que era contra o direito das mulheres ao aborto. Não bastasse essa extensa lista de motivos para não apoiar a chapa de Marília e Sebastião Salgado, eles também receberam o apoio do PSB no 2º, ou seja, o partido de Alckmin que colocou Pernambuco nos piores índices de saneamento básico, desigualdade social, desemprego, fome e violência policial.

Um debate com a esquerda Pernambucana sobre independência de classes

Como apoiar "criticamente" uma chapa como esta? Só podemos responder de uma forma: Jogando fora a independência de classes. Não é possível que o PCB e PSOL-Rede acham que é dando apoio político à chapa de Marília e Sebastião Salgado é que vamos conseguir nos enfrentar com a direita e a extrema direita em Pernambuco. Tanto não é verdade que rapidamente isso já se provou, Raquel Lyra ganhou nos 10 maiores colégios eleitorais e em 104 dos 184 municípios. Na região metropolitana de Recife perdeu apenas em Itapissuma.

Mas vejamos o que Jones Manoel e o PCB falam sobre isso. Nesse vídeo aqui, Jones Manoel diz que “Quando você apoia Marília Arraes, você não está apoiando um projeto progressista, você não está apoiando um projeto de esquerda, você está apoiando um projeto de oposição ao PSB”. Além disso, reafirma algo que já havíamos denunciado aqui, que a família Sebastião Oliveira é uma oligarquia regional tradicional que votou várias contra-reformas e que a coligação de Marília Arraes tem inúmeros partidos de direita. No entanto, a declaração de voto no 2º turno em Pernambuco do PCB foi voto crítico em Marília Arraes para “derrotar o bolsonarismo”, mesmo sabendo que não se trata de uma oposição de esquerda e por tanto não tem nada para contribuir para a classe trabalhadora e setores oprimidos.

A aritmética dos “comunistas” do PCB é fácil de entender, somou a palavra “crítico” a palavra “voto”, num passe de mágica se esquece que Sebastião Salgado apoiou a reforma da previdência e sua família tem ligação com trabalho escravo, que Marília é contra a legalização do aborto e queria criar o “Novo Pacto Pela Vida” num estado onde 97% pessoas mortas pela polícia são negras, em Recife esse número chega a 100%, que no partido de Marília tem ninguém menos que Paulinho da Força, principal dirigente da Força Sindical, uma central patronal que apoiou a reforma da previdência e trabalhista. Segundo o PCB de Jones Manoel, mesmo com essa lista extensa de motivos para rechaçar e combater a chapa de Marília Arraes e Sebastião Oliveira essa “seria” a única forma de combater o “fascismo” e “ampliar a votação de Lula” no estado.

Ao contrário disso, Raquel Lyra que se apoiava na base bolsonarista no estado venceu com 58% dos votos, no seguinte que se seguiu à eleição os bolsonaristas pernambucanos não demoraram muito para mostrar os dentes e pedir intervenção militar bloqueando estradas em diversos municípios. A fórmula mágica do “mal menor” em menos de 24h mostrou que é tão ineficaz quanto a conciliação de classes para combater o bolsonarismo. Além de semear a ilusão de que seria com a chapa Lula-Alckmin que tem o apoio da fração democrata do imperialismo norte-america, da Febraban e Fiesp que derrotaria a extrema-direita, ao contrário, Bolsonaro se postula como principal líder da oposição de direita e o bolsonarismo está ainda mais institucionalizado.

Mas também não podemos esperar muito de Jones Manoel, que desde seu programa de governo já dava indícios que a conciliação de classes era quem daria o tom de suas “propostas” para Pernambuco. Como desenvolvemos aqui, o programa reformista nacional desenvolvimentista que não enfrenta os grandes latifúndios que são base de sustentação inúmeras oligarquias regionais.

Não foi apenas Jones Manoel e o PCB-PE que semearam a ilusão que a chapa de Marília Arraes era a forma correta de combater o “fascismo” no estado, a coligação PSOL-Rede também fez isso. Não é de hoje que viemos alertando sobre o giro à direita do PSOL-PE que há muito tempo jogou fora a independência de classe e apostou todas as fichas na conciliação e se jogou de cabeça na chapa Lula Alckmin. Sem contar a própria federação com a Rede, o partido de Marina Silva que é contra o direito das mulheres ao aborto e também de Túlio Gadelha que apoio Raquel Lyra no 2º turno se somando aos apoios que recebeu de famílias reacionárias como os Tércio e os Collins.

O PSOL-Rede apenas seguiu o rumo da conciliação de antes e declarou apoio “crítico” à chapa Marília-Sebastião Oliveira e entregou um carta-programa
à própria Marília com pautas a serem incorporadas ao seu programa de governo. Essa carta é tão importante para o apoio do PSOL-Rede a essa chapa oligárquica, a condição exclusiva, única, para dar esse apoio crítico que é difícil encontrar na internet. No perfil nas redes sociais do ex-candidato ao governo, João Arnaldo e do presidente do PSOL em Pernambuco, Tiago Paraíba, nem sinal dela. Vai ver as “críticas” sejam para Marília Arraes ler junto ao direitista Sebastião Oliveira em particular, para ver quais pontos de programa irão “incorporar” a uma coligação que no 2º turno já tinha o apoio do PSB, PMDB e Republicanos. Talvez a pauta que pudessem incorporar fosse contra o direito ao aborto que João Arnaldo fez questão defender ao longo de sua campanha.

Segundo a resolução de apoio crítico da federação PSOL-Rede: "A Federação delibera o apoio à candidatura de Marília Arraes no segundo turno para o governo do Estado a partir de uma avaliação sobre a luta contra o fascismo que seguirá no pós eleição. Necessitamos que sejam fortalecidas as forças políticas que declaradamente se dispõem a levar adiante essa luta. Eleger Lula e Marília é a necessidade política que nos mobiliza e move."

Mais uma vez o erro de semear a ilusão de que para combater a extrema-direita é preciso esta aliado ou nesse caso apoiando uma chapa oligárquica repleta de inimigos dos direitos da mulheres, dos negros e dos trabalhadores. O PSOL-Rede dá passos ainda mais largos ao caminho sem volta da conciliação de classes, se diluindo por completo na chapa Lula-Alckmin e adaptando ainda mais a direção do PT-PE que também deu total apoio à Marília Arraes. Sua diluição no PT regionalmente é tão profunda que conseguiu apenas 1 cadeira na Alepe e 1 suplente no congresso nacional de Túlio Gadelha (Rede) que apoiou Raquel Lyra (PSDB) no 2º turno.

Enfrentar Raquel Lyra e o bolsonarismo com independência de classe em Pernambuco

Está mais que evidente que o suposto apoio crítico tanto do PCB quanto do PSOL-Rede não ajudou a combater em nada o bolsonarismo em Pernambuco que segue até agora se manifestando em frente ao Comando Militar do Nordeste pedindo intervenção militar. A vanguarda de trabalhadores e juventude que viram nos resultados do processo eleitoral, tanto regional quanto nacional, o bolsonarismo se estabelecer como uma força social importante e a institucionalização do bolsonarismo ganhando espaço no senado e no congresso deve tirar uma lição muito cara ao marxismo, a independência de classe.

Do ponto de vista nacional, a estratégia de conciliação de classes da chapa Lula-Alckmin tão pouco contribui para a luta contra o bolsonarismo, pelo contrário, Bolsonaro diminuiu ainda mais a margem de votos que tinha entre ele e Lula. Por outro lado, Lula está cada “vez mais ao centro”, sendo empurrado pelos setores burgueses que fez aliança a adequar seu programa e ministérios aos interesses deles, ou seja, mantendo a obra econômica do golpe instucional sem reverter reformas e ataques anti operários. Isso mostra que o bolsonarismo seguirá sendo um fator importante no regime político e não será com alianças com a direita que iremos conseguir derrotar a extrema direita, precisamos confiar na nossas próprias forças combatendo as ilusões de que as alianças com a direita fortalecem nossa luta e nos enfrentando nas ruas assim como fizeram os trabalhadores do estaleiro no Rio de Janeiro, a população de alguns municípios e as torcidas organizadas que acabaram com os bloqueios golpistas em várias regiões do país.

A estratégia do PT e das direções sindicais e dos movimentos sociais de canalizar o ódio a Bolsonaro exclusivamente para via eleitoral, em torno de um projeto de conciliação de classes, não apenas mostra sua ineficácia em combater o bolsonarismo, colocando todo o movimento de massas como reféns das instituições antidemocráticas, como o STF e o TSE de Alexandre de Morais, que foi conivente com a ingerência bolsonarista da Polícia Rodoviária Federal que buscava diminuir o peso eleitoral do Nordeste, dificultando o voto no dia 30, mas também impediu o desenvolvimento de lutas fundamentais que poderiam ter sido exemplo nacional no último período.

Nos últimos meses vimos inúmeros processos de luta da classe trabalhadora se expressando em Pernambuco. Estavam se mobilizando trabalhadores da prefeitura, recenseadores do IBGE, rodoviários, metroviários, estudantes das Universidades Federais e com o pano de fundo de enormes mobilizações e paralisações de milhares da enfermagem lutando pelo pagamento do piso. Neste cenário a estratégia da burocracia sindical foi separar as lutas, e postergar a continuidade das mobilizações para após as eleições. Ao contrário, a unificação das lutas de todos esses setores poderia ter colocado em cena um protagonismo proletário dando um exemplo nacional de como enfrentar a direita e a extrema direita de forma independente e com os métodos de luta da classe trabalhadora.

Este é o desafio da esquerda em Pernambuco, atuar para unificar as lutas dos trabalhadores, da juventude, dos movimentos sociais, das mulheres, da população negra e indígena, se enfrentando com as burocracias sindicais e dos movimentos de massas através da auto organização, levantando um programa anticapitalista e de independência de classe para enfrentar a direitista neoliberal Raquel Lyra no estado, mas também a extrema direita bolsonarista que seguirá sua política reacionária nas ruas e nas instituições, ao mesmo tempo se enfrentar com um governo nacional de conciliação com os grandes empresários e o capital financeiro. É nessa perspectiva que nós do Esquerda Diário e do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) seguiremos atuando e convocamos a todes a atuar conosco.




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