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Greves | Rebelião de trabalhadores têxteis em Bangladesh

Há anos que os trabalhadores de Bangladesh realizam greves e manifestações contra as más condições de trabalho. Existem centenas de milhares de trabalhadores que produzem roupas para as marcas líderes mundiais. Esta semana eles voltaram às ruas e entraram em greve em mais de 300 fábricas para exigir um aumento dos salários ao nível da inflação.

terça-feira 7 de novembro de 2023 | Edição do dia

Dezenas de milhares de trabalhadores do setor têxtil de Bangladesh entraram em greve, abandonaram seus postos nas fábricas e saíram às ruas para protestar.

Em Bangladesh, as roupas das principais marcas mundiais são produzidas às custas de uma força de trabalho semi-escravizada, majoritariamente feminina, que luta há anos por melhores condições de trabalho e salários.

Desde quarta-feira da semana passada, mais de 300 fábricas não estão operando devido à greve (mais 50 foram saqueadas ou queimadas) e começaram protestos em que os trabalhadores exigem que os seus salários sejam triplicados (de 75 para 210 dólares).

Milhares de trabalhadores abandonaram as fábricas localizadas na zona industrial de Mirpur, na capital, Dhaka, paralisando a sua atividade.

O presidente do Grupo Epyllion, Reazuddin Al Mamoon, que dirige um dos maiores grupos têxteis do Bangladesh, com mais de 24.000 funcionários, e que também é parte de impor essas condições de trabalho e salários miseráveis, afirmou que mantiveram todas as suas fábricas na região fechadas "como uma precaução." Em outras ocasiões, os trabalhadores tomaram as fábricas do Grupo Epyllion como ponto de referência para lutar pelas suas reivindicações devido ao impacto tanto na produção interna como nas marcas que representa internacionalmente.

Os e as trabalhadoras têxteis de Bangladesh iniciaram os seus protestos na semana passada exigindo melhores salários e, embora tenham sido majoritariamente pacíficos, tornaram-se violentos na segunda-feira, após a brutal repressão policial que deixou pelo menos dois trabalhadores mortos, o que acendeu o estopim da raiva, impulsionando as marchas de quarta-feira.

Segundo o diretor executivo do Centro de Solidariedade dos Trabalhadores de Bangladesh, Kalpona Akter, os trabalhadores exigem um salário mínimo mensal de 23 mil taka (cerca de US$ 210) para compensar a inflação no país asiático, mas os empresários só concordam em pagar 10.400 taka (cerca de US$ 94).

Estes protestos ocorrem em um contexto de tensão crescente em Bangladesh, onde a disputa entre a oposição e o Governo custou pelo menos 11 vidas desde que a Polícia frustrou uma grande manifestação da oposição em 28 de Outubro, segundo a organização internacional Human Rights Watch.

O setor têxtil no Bangladesh é responsável por quase 85 por cento do total das exportações do país, com um valor de 55 bilhões de dólares anuais (em 2022).

A indústria do vestuário emprega milhões de trabalhadores e 80% são mulheres. As 50 principais fábricas, que reúnem a maioria dos trabalhadores do sector, e produzem para cadeias internacionais como Zara, H&M e Uniqlo, são conhecidas pelas suas condições de exploração, pelos baixos salários e pela insegurança das suas instalações.

Há anos que o Bangladesh enfrenta questões relacionadas com as más condições de trabalho, especialmente após o colapso do complexo Rana Plaza em 2013, no qual 1.100 trabalhadores morreram e 2.500 ficaram feridos. As principais marcas de roupas que ali terceirizam sua produção preferem ficar caladas ou emitir declarações dizendo que irão investigar as acusações, embora elas nunca sejam feitas de fato.

Em toda a região do Sudeste Asiático, bem como na Baía de Bengala, as condições de trabalho dos trabalhadores são insuportáveis. O setor têxtil, em particular, destaca-se por isso e pelos seus baixos salários. No entanto, os trabalhadores do Bangladesh têm saído às ruas há anos e aprenderam com as traições dos empregadores e do Ministério do Trabalho, aprenderam sobre o papel da Polícia e sentiram a repressão em primeira mão. Mas os trabalhadores vêm realizando exercícios de greves, mobilizações e protestos que crescem em força e organização ano após ano.




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