No dia 27 de outubro publicamos neste Diário o texto “InterUnesp retorna a Araraquara, cidade em foi promovido o ‘Rodeio das Gordas’ em 2010” com a denúncia das opressões que ocorrem durante o campeonato Inter e rememorando os casos de violência que ocorreram no InterUnesp em 2010. A Assessoria de Imprensa do Inter Araraquara 2015 entrou em contato com o Esquerda Diário para solicitar espaço para a publicação de uma nota da organização do evento em resposta ao artigo citado acima. Segue a nota e a resposta a ela.
segunda-feira 2 de novembro de 2015 | 19:33
No dia 27 de outubro publicamos neste Diário o texto “InterUnesp retorna a Araraquara, cidade em foi promovido o ‘Rodeio das Gordas’ em 2010” com a denúncia das opressões que ocorrem durante o campeonato Inter e rememorando os casos de violência que ocorreram no InterUnesp em 2010.
A Assessoria de Imprensa do Inter Araraquara 2015 entrou em contato com o Esquerda Diário para solicitar espaço para a publicação de uma nota da organização do evento em resposta ao artigo citado acima. Segue abaixo a nota e a resposta a ela.
Informação à imprensa
Em resposta ao artigo “InterUnesp retorna a Araraquara, cidade em que promoveu o ‘Rodeio das Gordas’ em 2010”, assinado por Beatriz Gonçalves e publicado neste veículo, a Liga Interuniversitária de Esportes, entidade responsável pela organização do Inter Araraquara 2015, esclarece que:
Assessoria de imprensa – Inter Araraquara 2015
Comentários do grupo Pão e Rosas UNESP sobre a nota de esclarecimento
Ainda que o título esteja ambíguo, reiteramos que em momento algum foi dito que o “Rodeio das Gordas” foi realizado diretamente pela organização do Inter. No entanto mantemos o argumento que será melhor desenvolvido abaixo, de que o evento cria as condições e o ambiente propício para a ocorrência de casos de opressão.
Sabemos que, como uma das maiores festas universitárias do país, que rende altas cifras em dinheiro, não é desejável aos organizadores do Inter terem sua imagem associada a violências machistas, LGBTfóbicas, gordofóbicas, racistas, etc. Mas as campanhas contra a violência de gênero e contra a homolesbotransfobia citadas através do projeto “Inter Diversidade” não são suficientes para considerarmos medidas efetivas de combate às opressões uma vez que toda a tradição do evento caminha no sentido oposto.
Existem exemplos claros de incentivo ao assédio que são naturalizadas em vários ambientes do evento que ficam evidentes se fizermos uma breve pesquisa, por exemplo, sobre o histórico dos hinos das Atléticas - que colaboram na realização do evento. Encontramos aí todo tipo de incentivo à cultura do estupro e à violência de gênero e sexualidade. Os hinos são apenas representações da tradição da festa na qual essas violências se repetem ano a ano.
Cantos sobre homens que ficam “loucos” por bebida, que “mostram sua força”, fazem “putaria” com as “vagabundas”, reduzidas a “bucetas” e “cus”, são estas as palavras-chave dos hinos e do tipo de comportamento que as Atléticas e baterias incentivam e lucram sobre.
“Araraquara vai ser putaria/ Com as vagabundas de Botucatu/ ficar locão de noite e de dia/ chupo buceta e meto no seu cu/ Comi no pelo as mina de Marília/ Não me aguentava de tanto tesão/ As de Assis vieram em segundo/ Porque meter é a nossa profissão...” (hino da Atlética de Guaratinguetá) e “Nós não toma no cú/ Nós toma na cuneca/ Vem pra cá suas vagabundas/ Eu vou comer sua perereca/ Eu ponho na buceta/ Eu ponho no seu cú/ Vou mostrar a minha força/ Vou mostrar quem é Bauru” (hino da Atlética de Bauru). Versos como esses são encontrados aos montes sendo extremamente naturalizados no interior do evento, já fazendo parte de sua tradição – basta observarmos as músicas cantadas nas batalhas de baterias e nas torcidas. É evidente que, além de serem opressores em si, criam um ambiente muito favorável a naturalização e a ocorrência de casos de opressões. Expressam uma concepção de “diversão”, de “sexualidade” e uma “visão sobre a mulher” e “seu papel” na sociedade e na festa que em grande medida influenciam e orientam as relações sociais que se darão no interior do evento. E orientam em que sentido? No sentido do machismo, da mulher como simples objeto, dos padrões de beleza opressores e racistas, da gordofobia, das condições que favorecem o surgimento de opressões como o “Rodeio das Gordas”.
Assim, não basta responsabilizar os indivíduos ou algumas Atléticas para eximir a organização do evento da responsabilidade sobre os assédios e violências que ocorrem e que ocorrerão se o próprio evento cria um ambiente em que conteúdos opressores como esses são propagados e naturalizados sem nenhum questionamento e combate mais profundo por parte da organização.
O papel da Unesp diante disso
Da mesma forma, não é pelo fato de desde 2013 o nome da “Unesp” não estar mais no nome do evento que não há vínculo algum com a instituição e que esta não tenha responsabilidade pelos atos de violência que ocorrem. A Liga é composta pelas Atléticas e por Centros Acadêmicos da Unesp. A Universidade cede verba e espaços para que as Atléticas se organizem e façam a divulgação do evento. Assim, ideias como essas estão presentes de antemão nos tão naturalizados trotes universitários, em diversas festas universitárias locais e são ensaiadas por muitas Atléticas em diversos campi da Unesp. Não atoa, para os opressores que protagonizaram o “Rodeio das Gordas” penas muito brandas. Para os que lutam contra as opressões, por permanência estudantil, por uma universidade menos elitista e a serviço dos trabalhadores: sindicâncias, suspensões e expulsões. Logo consideramos que a Unesp também possui responsabilidade pelos casos de opressão ocorridos no evento que são apenas uma continuidade daquilo que ocorre nos trotes e demais ambientes universitários sob sua conivência.