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ARGENTINA | 24 de Março: massivas mobilizações em todo o país

sábado 26 de março de 2016 | Edição do dia

Mauricio Macri viajou a Bariloche para se despedir de Obama e sua família. Seguramente, antes de começar uma viagem exageradamente “protocolar”, pode ver como o país inteiro era sacudido pelas massivas mobilizações no 40° aniversário do golpe genocida de 1976.

Apesar do bombardeio midiático e da tentativa do governo nacional de fazer tudo girar ao redor da visita de Obama à Argentina, na tarde de quinta emergiu um profundo descontentamento político e social, que foi visto em todo o país.

Há 40 anos do golpe genocida, um número que superou globalmente as 200.000 pessoas se mobilizou em todo o país. As marchas ocorreram na CABA e nas principais capitais das províncias, mas também em muitas cidades médias e pequenas de todo o país.

O rechaço foi em dobro. Em todas as marchas, junto à reivindicação de prisão aos genocidas e seus cúmplices civis, houve críticas sobre o plano de ajustes que está sendo levado adiante pelo governo nacional.

Dentro do enorme conglomerado social e político que se mobilizou nessa quinta, teve dois chamados. Por um lado, o de aqueles organismos de direitos humanos e organizações sociais e políticas que seguem reivindicando o governo kirchnerista e sustentam ali a oposição ao macrismo.

Por outro lado, organizações e forças políticas - entre as que fazem parte da Frente de Esquerda - que sustentam uma posição independente de ambos os setores políticos. Em Buenos Aires e outras cidades, esse polo independente se expressou através do Encontro Memória, Verdade e Justiça.

Um país em movimento

Na cidade de Buenos Aires, desde o meio dia, o centro esteve ocupado por milhares de pessoas que marcharam contra a impunidade.

Um dado relevante da jornada foi a presença de milhares de pessoas não organizadas nas colunas das organizações. Famílias com crianças e gente solta, de todas as idades. Desde cedo, a Praça de Mayo esteve povoada por milhares de pessoas. Segundo diversos cálculos, o chamado das organizações relacionadas ao kirchnerismo, pelo Encontro Memória, Verdade e Justiça e as pessoas que participaram de maneira não organizada, foi cerca de 100.000 nas ruas.

Em Rosário, uma multidão de mais de 30.000 pessoas ocupou as imediações do Monumento à Bandeira. Segundo a agência DyN, “a marcha finalizou pela noite com um comunicafo repudiando a visita do presidente estadunidense”.

Em Córdoba se viu uma das maiores mobilizações dos últimos anos. Mais de 50.000 pessoas percorreram o centro da capital. Não foi somente ali. Também em Rio Cuarto, marcharam contra a impunidade aos genocidas.

Mais de 10.000 neuquinos e neuquinas tomaram as ruas dessa cidade. Fizeram para repudiar a visita do presidente dos Estados Unidos e para rechaçar o aparato repressivo do governo macrista, entre outras consignas.

A mais de 400km dali, mais de 1000 pessoas marcharam em São Carlos de Bariloche em rechaço ao presidente Obama na cidade. Ali estiveram presentes Raúl Godoy, deputado provincial do PTS-FIT em Neuquén, e Pablo López, deputado nacional do PO-FIT.

Cerca de 4000 pessoas se concentraram nas ruas da cidade de Mendoza. Ali se marchou contra a impunidade aos genocidas, mas rechaçando também o governo radical Cornejo.

Em Mar del Plata, mais de 3500 pessoas tomaram as ruas da cidade. Ali o Encontro de Memória, Verdade e Justiça marchou contra a visita de Obama, mas também contra a repressão policial que sofrem os jovens e setores da comunidade LGBT.

As mencionadas constituem somente uma parte das concentrações que se deram em todo o país.

Cidade de Buenos Aires: mobilização do Encontro de Memória, Verdade e Justiça

A mobilização central do Encontro Memória, Verdade e Justiça (EMVyJ) se deu no Congresso, às 15h30, agrupando cerca de 150.000 pessoas, que marcharam na Plaza de Mayo.

Entre as dezenas de organizações que participaram da convocatória dessa multisetorial, se encontravam a Associação de ex presos-desaparecidos; o CeProDH; HIJOS La Plata; LiberPueblo, personalidades como as Mães da Plaza de Mayo - Linha Fundadora, Nora Cortiñas, Elia Espen e Mirta Baravalle; Alberto Santillán (padre Darío); Adolfo Pérez Esquivel; María del Carmen Verdú (CORREPI), o escritor Osvaldo Bayer; a CTA (Autônoma); agrupações sindicais, a FUBA e centros de estudantes universitários, secundaristas e terciários, junto a coletivos artísticos variados.

Também ali marcharam partidos de esquerda como o PTS, PO, Izquierda Socialista, MST, Nuevo MAS, PSTU, PCR e outros.

O PTS comportou uma impactante coluna de milhares de pessoas, que foi claramente a mais numerosa da esquerda, ocupando várias quadras e cercando posteriormente na Plaza de Mayo toda a frente do Ministério de Economia. A seguinte coluna de importância foi composta pelos companheiros do Partido Obrero, marcando de conjunto uma destacada participação das principais forças da Frente de Esquerda.

O La Izquierda Diario tomou imagens da coluna do PTS, na qual se destacaram delegações de trabalhadores de gráfica, alimentação, estatais, docentes, Astillero Río Santiago, Jabón Federal, SMATA, UOM, borracha, telefonia, metrô, aeronáutica, ferrovia e centros de estudantes de distintas universidades, secundaristas e terciários. Nícolas del Caño, Myriam Bregman, Christian Castillo e Claudio Dellecarbonara participaram da frente do EMVyJ representando o PTS.

Ao chegar na Plaza de Mayo foi lido o documento consensuado pela Multisetorial. Reproduzimos alguns trechos centrais.

“Estamos na Plaza, como tivemos feito sustentavelmente durante 4 décadas, para repudiar o golpe que instalou a ditadura mais sangrenta da nossa história (...) nosso encontro é hoje com a memória rebelde, com a memória que rende homenagem a nossos 30 mil companheiras e companheiros presos-desaparecidos, a seus sonhos de conquistar um país sem opressão nem exploração, firmando o compromisso e a unidade na luta contra a impunidade de ontem e a de hoje e pelos direitos dos trabalhadores e do povo”.

“Repudiamos os grupos do poder econômico, do setor financeiro, dos grandes empresários, dos latifundiários, que planejaram e financiaram o golpe (...) Denunciamos também as patronais e dirigentes sindicais traidores que entregaram corpos de delegados, como em Ingenio Ledesma, Mercedez Benz, Ford; à maioria da burocracia da Igreja que os abençoaram, aos juízes que os ampararam, aos políticos que os respaldaram e aos grandes meios de comunicação que lavaram a cara de todos eles”.

Em outra de suas passagens, o documento se diferenciou do chamado do kirchnerismo ao assinalar que “a segunda desaparição do nosso companheiro Jorge Julio López foi encoberta pelo governo kirchnerista, que não tomou nenhuma medida para investigar, nem os serviços de inteligência. Há 10 anos, os responsáveis políticos e materiais seguem impunes. Exigimos sua aparição com vida e castigo aos culpados! Se algo descobre o duplo discurso da etapa dos governos kirchneristas é a continuidade das funções de milhares de militares, polícias, juízes, fiscais, membros do aparato de inteligência, que atuaram na ditadura. Os casos pragmáticos têm sido a nomeação do genocida Milani para a frente do Exército, a sanção das leis antiterroristas, as repressões de Berni e o projeto X”.

Ao referirse ao novo governo, no palco foi denunciado que “hoje, há 40 anos, estamos diante de um novo governo. Macri, nos primeiros 100 dias, marcou uma nítida direção de sua política: ministérios cobertos por gerentes de grande empresas e bancos. Ajuste, com demissões, tarifaços e mais inflação. Entrega, com o arranjo dos fundos abutres. Tudo para os de cima, nada para os de baixo. Repressão, com um protocolo que pretende tirar das ruas a presença combativa dos trabalhadores empregados ou desempregados e o conjunto do povo. Impunidade, atualizando a teoria dos demônios e chamando a reconciliação. A presença de Obama na Argentina, verdadeira provocação à memória coletiva, se corresponde com essa política (...) o secretariado de DD.HH., Claudio Avruj, propõe mandar os genocidas condenados para suas casa e receber os familiares dos militares genocidas como se fossem vítimas. No mesmo sentido, Lopérfido nega a existência de 30.000 presos desaparecidos”.

Por último, o documento assinalou que “hoje se cumprem 20 anos da conformação do Encontro Memória, Verdade e Justiça, verdadeira multisetorial independente dos governos e referência fundamental na luta contra a impunidade dos genocidas, contra a repressão e a criminalização de prostestos, pela vigência das liberdades democráticas. Seguimos lutando contra a impunidade de ontem e de hoje!!! Fora Obama da Argentina!!! Não ao ajuste, ao roubo e à repressão de Macri e dos governos provinciais. Mais que nunca, 30.000 companheiros e companheiras presos-desaparecidos presentes! Agora e sempre. Abertura dos arquivos da ditadura. Cárcere a todos os genocidas, por todos os companheiros”.




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