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UFABC | 5 Lições da Luta de RI para avançar o movimento estudantil rumo à greve unificada das federais

A Paralisação dos estudantes de Relações Internacionais da UFABC mostrou a força da mobilização dos estudantes e foi decisiva para derrotar o projeto de redução de oferta de vagas das disciplinas. Nós da Faísca Revolucionária fomos linha de frente desse processo junto com o Centro Acadêmico de RI e dezenas de estudantes independentes que colocaram suas energias para barrar essa medida. Agora com a aprovação da greve docente com início para o dia 30 se somando aos TAEs se colocam novos desafios. Queremos com esse texto apresentar algumas lições desse processo que aportem no fortalecimento de uma nova tradição de movimento estudantil, combativo e independente das reitorias e do governo Lula-Alckmin para avançar numa greve unificada das federais para revogar o Arcabouço Fiscal, pela recomposição integral do orçamento às universidades e por uma universidade à serviço da classe trabalhadora.

segunda-feira 29 de abril | Edição do dia

No mês de Abril, os estudantes de Relações Internacionais deram um forte exemplo de mobilização, construindo uma forte assembleia do curso que votou uma Paralisação e um Comitê de Mobilização que organizou diversas passagens em sala e debates com os estudantes e professores, garantindo a paralisação de 100% das aulas no curso, e realizando atividades de conscientização e um importante ato que deu uma enorme visibilidade às suas reivindicações. Isso garantiu, na Plenária do Bacharelado de Relações Internacionais, que esse ataque fosse cancelado. Mas mais do que isso, que essas reivindicações de contratação de mais professores se somassem às diversas outras demandas dos docentes em um documento a ser elaborado para fortalecer a greve indicada para o dia 30/04, unificando com os TAEs, para a qual os estudantes de RI já aprovaram sua incorporação.

1) Confiar nas nossas próprias forças é o caminho para construir fortes mobilizações que arranquem nossas demandas

O processo de mobilização dos estudantes de RI demonstrou de forma categórica que é possível construir fortes mobilizações desde as bases, recuperando os métodos históricos do movimento estudantil. As assembleias de Curso, como ferramentas de discussão democrática com a base do curso para refletir e elaborar coletivamente as formas de mobilização, foram uma peça fundamental para que os estudantes se sentissem sujeitos dessa luta e pudessem encontrar em seus colegas a força para organizar a sua mobilização. O Comitê de Mobilização se transformou em um instrumento fundamental para definir coletivamente o calendário de mobilizações, que contou com as passagens em sala, além do cronograma do dia de Paralisação. A dedicação de cada um que dialogou com os colegas em sala de aula, nos grupos do whatsapp e participou da oficina de cartazes, da Mesa de Conscientização da luta junto aos TAEs em greve e professores e da manifestação no período noturno, marcou a universidade que não está acostumada com ações não institucionais. Recuperar cada um desses métodos históricos do movimento estudantil foi peça fundamental para revitalizar o caminho dos estudantes de confiar nas suas próprias forças para não deixar com que o ceticismo ou a desilusão, tão alarmada pela Reitoria e pelos governos, nos impedisse de lutar. E foi a luta que garantiu a nossa vitória.

🎶🎵 Ta paralisada… Ta paralisada… Chegou RI, contra a redução das vagas…

2) Definir os nossos aliados e os nossos inimigos é fundamental para ampliar as nossas forças

Desde a Assembleia de Relações Internacionais no dia 09 de Abril, um debate fundamental que percorreu até o final dessa mobilização era qual a relação das nossas demandas com os outros cursos e os demais setores da universidade. Foi muito importante a compreensão, desde o ínicio, de que o movimento não poderia cair na armadilha de aceitar que jogassem os estudantes contra os professores, que também sofrem com a precarização da universidade. Ao não aceitarmos os professores como os nossos inimigos, apesar da proposta ter partido de uma Plenária dos Bacharelado de RI cuja maioria é composta por professores do curso, os estudantes organizados compreenderam que essa saída desesperada dos professores de reduzir a oferta de vagas das disciplinas era uma consequência da política da Reitoria de Dácio que buscava administrar os ataques do governo federal Lula-Alckmin com o Arcabouço Fiscal e os cortes de verbas para os professores, levando a uma sobrecarga de trabalho, adoecimento e desvalorização salarial. Por isso, a busca dos alunos por dialogar com os docentes, dizendo que a nossa luta precisava ser comum e unificada, inclusive com os TAEs e terceirizados que já vinham sofrendo com esses mesmos problemas, foi fundamental. Ganhar o apoio dos professores com a Paralisação foi a peça chave para a resolução desse ataque em um fortalecimento de uma luta superior por uma universidade à serviço dos trabalhadores.

Além disso, a compreensão de que esse projeto de redução de vagas acontecia em RI, mas tendia a se expandir para os demais cursos, seja pela dinâmica da interdisciplinaridade da UFABC, seja pela própria dinâmica de ingresso de novos alunos que cada vez mais super lotaria a universidade sem nenhuma expansão do campus e a contratação de novos professores, permitiu com que o movimento buscasse o mais amplo apoio dos demais estudantes de diferentes cursos, a busca pela unidade com os demais centros acadêmicos e o chamado permanente ao DCE de apoiar essa mobilização. A reflexão sobre a importância de atrair, em primeiro lugar, os estudantes do BCH, que em grande parte buscam o curso de RI como pós-BI, foi também uma importante reflexão que fica de lição para as nossas próximas mobilizações, no sentido de unificar nossas demandas que, no limite, são uma só, por contratação e permanência plena.

Assim como foi emblemático e emocionante que o ato da Paralisação tenha terminado em frente ao RU, buscando apontar uma solidariedade aos trabalhadores terceirizados que são fundamentais na nossa permanência estudantil e que, como sabemos, recebem salários baixos, não possuem direitos trabalhistas sequer de se mobilizar e, como viemos denunciando, pagam o valor integral de 15,79 para poderem se alimentar. Essa aliança com os setores mais precários da universidade pode ser explosiva e poderosa para garantir uma permanência sem precarização.

🎶🎵 É estudante com professor… Sem nenhuma confiança no REI-tor
🎶🎵 Que contradição… Se é a melhor das Federais, por quê tem terceirização?

3) Não é possível manter a nossa vitória sem uma luta decidida contra o Arcabouço Fiscal, responsável pelo estrangulamento do orçamento da educação

A clareza dos estudantes de RI em nomear o ataque do governo de frente ampla Lula-Alckmin, o Arcabouço Fiscal, foi fundamental para compreender que a redução de vagas nas disciplinas era apenas a ponta do iceberg. Na UFABC, o Arcabouço significa não apenas a falta de professores, mas também a manutenção da terceirização que precariza a nossa permanência estudantil, que além da falta de moradia que já tem um enorme custo para os estudantes vindos de outras cidades e Estados, se soma a precarização do RU - o mais caro do Estado de SP - que serve comida com larvas ou crua, além da falta de frota dos fretados, assim como a enorme insegurança dele não ter pontos de embarque nas estações, além da falta de TAEs para garantir as políticas de permanência estudantil como as bolsas e auxílios.

Sem a clareza da conexão entre as nossas demandas locais da UFABC com o principal motivo da greve nacional das universidades e institutos federais, que é o combate ao Arcabouço Fiscal, nossas reivindicações ficariam efêmeras e a nossa mobilização restrita a questionamentos parciais, uma vez que sem a revogação desse ataque e a recomposição integral do Orçamento, com mais verbas para educação, é impossível garantir a ampliação da universidade, a contratação de professores e o atendimento da reivindicação de uma permanência sem precarização. Por isso, a nossa luta não se encerrou com o recuo do projeto de redução de vagas, mas ganhou mais força, somando nossas demandas às dos professores e dos TAEs.

Agora com a aprovação da greve em docentes a partir do dia 30 de Abril, se somando a greve dos TAEs que viemos acompanhando desde o início no dia 14 de Março, se colocam novas possibilidades de transformar essas lições em uma ação prática muito superior com uma greve unificada de toda UFABC se conectando a greve das universidades e institutos federais. A hora é agora de fazer avançar cada uma dessas reivindicações da nossa universidade avancem num movimento nacional que possa questionar de conjunto a precarização da educação. Ainda que comecem o recesso entre os quadrimestres, podemos aproveitar toda a criatividade e energia daqueles que acreditam que é fundamental ter um setor de estudantes que leve até o final esses questionamentos e possa dar uma saída de fundos para os nossos problemas. E seguir o exemplo de inúmeras universidades, como a UFMG, que votam por uma greve geral dos três setores e estão pensando formas de como ampliar essa mobilização. Nós precisamos aproveitar da força que se expressou em RI pra seguir construindo nas férias a nossa greve, de modo que ela possa se conectar e fazer ecoar os gritos de lutas de milhares de estudantes, professores e funcionários em todo país!

🎶🎵 Sou estudante, sou Radical! Eu vou lutar contra o Arcabouço Fiscal

4) As entidades estudantis devem servir como ferramentas que fomentem a auto-organização e não entidades administrativas que confiem na Reitoria e blindem o governo de frente ampla Lula-Alckmin

As entidades estudantis historicamente foram ferramentas de organização da base dos estudantes para garantir a organização da sua luta. Na UFABC, a maioria dos estudantes não sentem que podem confiar nos CAs e no DCE para fortalecer a sua mobilização, bastante por responsabilidade do movimento Correnteza que há anos utiliza as entidades como ferramentas administrativas auxiliares à Reitoria em base a promover o mesmo discurso de “melhor das federais”. Viemos atuando com diversos independentes que compõem a atual gestão do Centro Acadêmico de Relações Internacionais e outros tantos estudantes que se ativaram a partir desse ataque da redução de vagas demonstrando que é possível retomar os métodos históricos do movimento estudantil.

A Assembleia do curso que contou com mais de 70 estudantes, com amplo espaço de falas e propostas, permitiu com que as Assembleias cumprissem seu papel de articulação e elaboração coletiva, o Comitê de Mobilização ampliou as forças do Centro Acadêmico permitindo com que cada estudante, com sua criatividade, suas ideias, pudessem debater os melhores caminhos da mobilização. As divergências foram saudáveis e ajudaram a encontrar os melhores caminhos para elaborar coletivamente uma resposta. A busca pela unidade com as demais entidades, chamando que cada uma pudesse seguir esse exemplo, ouvir os demais alunos e levantar suas reivindicações específicas para fortalecer uma luta comum e plural foi fundamental. Ainda que nós da Faísca tenhamos diferenças programáticas com a atual gestão do CARI, achamos que a frente única que construímos também foi fundamental para fortalecer essa luta e demonstrar que não é preciso deixar as opiniões diferentes ou a pluralidade de ideias serem um impeditivo para avançar na nossa mobilização, pelo contrário, que são saudáveis e contribuem para o amadurecimento do movimento estudantil.

Ao mesmo tempo, o papel que cumpriu o Correnteza desde o DCE e nas gestões do DALI e do CABCT, onde são a direção majoritária, é chamativo e deve servir como uma lição de duas estratégias opostas para atuar dentro do movimento estudantil, uma vez que são nesses momentos de luta onde se fica mais claro como essas diferenças não apenas levam a lugares diferentes, como em muitos casos são diretamente obstáculos ou impeditivos para alcançarmos a vitória. A atual gestão do DCE, que foram eleitos com 150 membros, não foi capaz de mobilizar sequer 5% para fortalecer a nossa luta. As gestões do DALI e CABCT sequer participaram do ato da Paralisação, e em suas assembleias de curso sequer conseguiram reunir estudantes da base para fazer com que esse debate pudesse avançar, que dirá fazer com que as nossas lutas confluíssem. Esse é o resultado de anos administrando as entidades como um braço da reitoria, sem um trabalho de base que incentivasse a auto-organização e pudesse preparar esses cursos para momentos de maiores lutas no interior da UFABC. O movimento Correnteza terminou resumindo sua atividade a convocação de mais uma Assembleia Geral esvaziada e um apoio totalmente formal baseado em vídeos para o instagram.

O dinheiro da nossa principal entidade representativa, que cotidianamente está vendendo carteirinhas da UNE, tampouco foi utilizado para expandir a nossa força. E partindo de que o Correnteza é a uma das maiores organizações da Oposição de Esquerda na União Nacional dos Estudantes, é chamativo que nenhuma dessas cadeiras esteja à serviço de que lutas como a que protagonizamos alcancem maior projeção nacional ou se conectem com a greve estudantil que ocorre na UFF, UNB, UFRN, UFRGS entre outras - várias delas dirigidas pelas mesma organização que estão no nosso DCE.

Esse debate se faz ainda mais necessário frente à possibilidade de uma greve unificada na UFABC, onde será ainda mais importante uma entidade nacional capaz de coordenar e articular as nossas mobilizações e garantir com que a força da nossa luta não fique isolada e atomizada. A incansável tentativa de não nomear o Arcabouço Fiscal ou o governo de frente ampla Lula-Alckmin nas Assembleias que estiveram à frente não permitiu elevar a consciência dos estudantes da necessidade de uma mobilização mais forte, conquistando mais aliados e facilitando o processo de mobilização geral da universidade para uma greve unificada, algo decisivo para que as nossas vitórias parciais não sejam temporárias.

5) A necessidade de construir uma juventude revolucionária que batalhe por um movimento estudantil aliado aos trabalhadores e independente da Reitoria e dos governos

Nós da Faísca Revolucionária acreditamos que pudemos contribuir para a mobilização dos estudantes de RI colocando todas as nossas energias e nossas capacidades à serviço da vitória dos estudantes, justamente porque confiamos na força dos estudantes aliada aos trabalhadores e independente dos governos e reitorias. Buscamos na Assembleia Geral dos Estudantes, assim como em cada uma das Assembleias de Curso, a unificação dos estudantes com a greve dos TAEs e incentivamos a auto-organização dos estudantes.

Isso foi facilitado pelos debates que viemos fazendo desde as eleições do DCE/CONUNE do ano passado, onde já apontávamos o significado do Arcabouço Fiscal que hoje nos faz sentir a falta de professores e a precarização em toda a UFABC. Também debatemos a necessidade de um movimento estudantil independente do governo de frente ampla Lula-Alckmin, pois a conciliação de classes fortalece a extrema direita. Isso que fica evidente quando vemos a queda na aprovação desse governo, ao mesmo tempo que em São Paulo tem se realizado um pacto Lula-Tarcísio, financiando diretamente pelo BNDES o plano de privatizações da CPTM que significa, não apenas um enorme ataque aos direitos trabalhistas desses trabalhadores, como também uma precarização dos transportes para a população e a juventude. O repasse de um terço do orçamento de São Paulo diretamente para as mãos do Tarcísio, que agora foi convidado para o 1º de Maio pelas Centrais Sindicais, mostra a contradição de cortar verbas da educação e da saúde, enquanto ajuda financeiramente os ataques da extrema-direita. Na educação os ataques se combinam com o Arcabouço Fiscal de Haddad, a manutenção do Novo Ensino Médio e a ameaça de Tarcísio de substituir professores pelo Chat GPT.

Acreditamos que a nossa contribuição para a luta dos estudantes de RI, desde a proposta de Paralisação na Assembleia, e as medidas de mobilização desde o Comitê de Mobilização, nos permite debater hoje com dezenas de estudantes da UFABC a necessidade de construir uma juventude revolucionária nacional. Sem nunca impor nossas ideias, mas buscando sempre contribuir com o marxismo revolucionário para pensar como fortalecer a nossa auto-organização, a nossa mobilização e o caminho de construir uma nova tradição de movimento estudantil, que possa nessa greve das federais batalhar para que esse exemplo de RI contamine milhares de estudantes no país inteiro. Queremos ajudar com que o questionamento à universidade de classes se torne um questionamento à sociedade de classes, e o movimento estudantil possa emergir como um ator político nacional aliado aos trabalhadores para derrotar a extrema direita no país e possa lutar por uma nova sociedade, sem opressão e exploração, uma sociedade comunista.

Por isso, queremos chamar todos os estudantes com quem viemos debatendo nos últimos meses, todos que participaram conosco desse importante processo de luta, para que possamos debater essas lições numa Assembleia Comunista Aberta da Faísca para que elaboremos coletivamente uma atuação conjunta na greve que se aproxima. A hora é agora! Podemos fazer história nos inspirando nos estudantes norte americanos que ocupam dezenas de universidades para fazer ecoar a luta do povo palestino, no coração imperialista do mundo que financia abertamente o maior genocídio do século XXI. Assim como os estudantes e trabalhadores argentinos que foram mais de 1 milhão nas ruas contra o reacionário Javier Milei, demonstrando que o caminho para enfrentar a extrema direita passa pela nossa organização e mobilização e não na confiança nos acordos de gabinete ou na conciliação de classes, que, em todos os países do mundo, só tem aumentado ainda mais a força da extrema direita que odeia a educação. E assim, como diria o Trotsky: “Aquele que se ajoelha diante de um fato consumado, não é capaz de enfrentar o futuro”.

Vem com a gente?




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