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Debate | 6 motivos do por que a UP/Correnteza é, na prática, a “oposição” que o governo gosta

Rumo ao Congresso da UNE, a Correnteza busca se pintar como "oposição de esquerda" à atual direção majoritária dessa entidade, composta pelo PT, PCdoB e Levante Popular da Juventude, que é uma verdadeira burocracia que busca subordinar a luta dos estudantes aos interesses do governo Lula-Alckmin e das reitorias. Mas, na prática, a Correnteza/UP mal consegue esconder como é uma oposição de fachada, a “oposição” que o governo gosta, enquanto Lula está aprovando seu primeiro ataque nacional com o Arcabouço Fiscal. Veja por quê:

terça-feira 11 de julho de 2023 | Edição do dia

1- Enquanto a polícia e o Estado racistas usam a farsa da guerra às drogas para encarcerar a juventude negra, a Correnteza/UP não defende a elementar legalização

Não existe no programa dessa organização a defesa da legalização das drogas, nem mesmo da maconha. Mas como isso agrada o governo? Em 2006, o governo Lula aprovou a Lei de drogas que fez explodir o encarceramento em massa da população negra como vemos até hoje, e quando foi perguntado sobre esse tema declarou que é responsabilidade do STF (o mesmo que articulou o golpe institucional de 2016) e do Congresso, que está repleto de políticos da extrema-direita e do centrão, que se apoiaram nos últimos anos no recrudescimento da violência policial. O programa da UP/Correnteza não só não questiona essa medida reacionária de um governo do PT, como, em última instância, também conduz ao fortalecimento das instituições repressoras do Estado, que se volta fortemente contra a juventude negra, já que na discussão sobre as drogas está mais perto do “Proerd” (programa "anti-drogas" da PM nas escolas) do que de uma política revolucionária que contra o falso discurso de “guerra às drogas" defenda a legalização sob controle dos trabalhadores e usuários. Afinal, essa é somente uma prova do conservadorismo de sua tradição contrarrevolucionária, que reivindica Stalin e significa conciliação com o Estado e suas instituições.

2- Dirigem importantes entidades estudantis pelo país, mas não têm um único exemplo de luta que tenha sido um contraponto à paralisia da direção majoritária. Pelo contrário, sempre estão dispostos a fazer campanha para as reitorias, chegando inclusive a apoiar o mesmo candidato que o PSDB, como foi na UFABC.

Estão em diversos DCEs, DAs e CAs do país, mas não temos notícia de um único lugar em que dirigiram uma greve ou luta que fosse um contraponto na prática à paralisia das burocracias da UNE. Enquanto nos DCEs que dirige, a Correnteza, se recusa a convocar assembleias para organizar a luta, como na USP, se mostram bastante dispostos a fazer campanha pelas reitorias em várias universidades. Na UFABC, foram a "chapa da reitoria", porque fizeram campanha para o mesmo candidato a reitor que o prefeito de Santo André, Paulo Serra do PSDB, enquanto dirigiram o DCE por cinco anos sem impulsionar uma única greve contra os cortes na educação e a precarização na universidade - e foi discutindo isso com os estudantes que nossa chapa teve 30% dos votos nesta universidade. Também na UFRJ, onde são parte do DCE há vários anos, não sabemos de qualquer exemplo combativo no período recente. É impossível ser oposição de esquerda à majoritária se subordinando às reitorias e não organizando a luta, como a UP faz nas universidades. Além disso, enquanto a direção da UNE convida reitores para o CONUNE, a Correnteza tem um programa que se limita, no máximo, a exigir diretas para reitor, para que possam fazer ainda mais campanha para as reitorias, e "maior participação" estudantil nos conselhos universitários, sem exigir nem mesmo a limitada paridade. É essa estrutura de poder das universidades que mantém as terceirizadas em condições precárias e que a Correnteza legitima e fortalece.

3- Da caravana na posse de Lula-Alckmin ao silêncio sobre como é a conciliação o que abre espaço para a extrema-direita

Organizaram uma caravana para o dia da posse da frente ampla em Brasília. E por quê? Porque adoram falar sobre a luta antifacista, mas escondem como é a conciliação de classes o que abre espaço para o bolsonarismo e a extrema direita se fortalecerem. Colocam o governo Lula como refém do centrão, quando o PT apoiou Lira e é um governo de frente ampla com a direita e os patrões, que mantém intactas as reformas e importantes ataques que passaram desde o golpe institucional de 2016. O PT deu 360 bilhões para o agronegócio e isenções bilionárias para as igrejas que lucram com a fé do povo na Reforma Tributária. Ao contrário de apontar como são esses elementos que fortalecem a extrema-direita, a Correnteza/UP organiza Caravana para comemorar o novo governo e atua para fortalecer a ideia de que, no máximo, nossa luta deve pressionar o governo e as instituições à esquerda - enquanto não organiza a luta e fecha com aqueles que impedem os trabalhadores de lutar.

4- A UP aceita cargos sempre que o PT os cede e não tem independência frente ao Estado burguês.

Desde a transição de governo, na qual a UP assumiu o cargo de conselheira do GT de Juventude dominado pelo MDB de Tebet e Temer, vemos como esse partido almeja cargos, mesmo secundários, junto ao PT. É por isso que a UP do Rio Grande do Norte assumiu o cargo de secretário parlamentar, ou seja, um cargo de confiança, no gabinete de Natália Bonavides, deputada do PT, que votou a favor do Arcabouço Fiscal. São apenas dois exemplos de como a UP aceita qualquer cargo e busca relações com os governos e o Estado burguês, e não uma política independente.

5- A UP também se absteve no rechaço ao Arcabouço Fiscal em um dos maiores sindicatos da América Latina.

Nas palavras, a UP busca tecer alguma crítica ao Arcabouço Fiscal do governo Lula-Alckmin, mesmo que limite seu programa à suspensão dos juros da dívida pública e auditoria, negando-se a defender o não pagamento da dívida pública. Garantir esse saque via dívida é o objetivo daqueles que aprovaram o Arcabouço Fiscal, por isso não é possível enfrentar a bolsa banqueiro sem levantar o não pagamento. Ainda assim, com a UP, o debate não é nem mesmo esse. Na prática, suas críticas ao Arcabouço Fiscal não passam de palavras para poucos estudantes, já que de nada querem incomodar o PT e PCdoB que paralisam nossa luta, são direção majoritária da UNE e articularam esse ataque. Diante da direção da Bebel, deputada do PT que dirige o sindicato de professores de São Paulo (Apeoesp) há décadas impedindo e enterrando as lutas e greves dessa categoria, a UP se absteve na votação sobre uma posição do sindicato contra o Arcabouço Fiscal. Não é surpresa, porque a UP apoiou a Chapa da Bebel com PSOL e PCB em várias regiões. Isso significa que um dos maiores sindicatos da América Latina não vai expressar nem mesmo uma posição de rechaço ao Arcabouço Fiscal, com a conivência da UP, o que dirá organizar a luta.

6- No metrô de São Paulo, a UP fechou com o PSB de Alckmin e os mesmos partidos da direção majoritária da UNE, contra a esquerda. Mais um exemplo de aliança com a burocracia sindical.

Já vimos como a farsa da UP como “oposição de esquerda” ao PT e PCdoB existe no máximo no movimento estudantil. No Metrô de São Paulo, a UP decidiu conformar chapa com o PT, PCdoB e até com o PSB de Alckmin, que foram responsáveis por deixar passar todos os ataques dos últimos anos e não organizar os trabalhadores contra a extrema direita na CUT e CTB. Fizeram isso mesmo com toda a esquerda unificada (PSOL, PSTU e MRT) chamando a que a UP rompesse com a burocracia para construir chapa em comum. Felizmente, sua política, que tinha como lema "priorizar o diálogo na busca de soluções e ter a greve como último recurso", que é como a burocracia propaga a desmobilização, foi derrotada pelos metroviários. De combativa, a UP não teve nem o discurso num dos sindicatos mais estratégicos do proletariado brasileiro, e esse é somente mais um exemplo das chapas que a UP faz com a burocracia, como no metrô de Belo Horizonte, na FENAMETRO, no Sindifes em Minas Gerais, no SEEPE em Pernambuco, entre outros.

EXTRA: No dia da visibilidade trans soltaram uma nota absurda falando que as pessoas trans precisam de ajuda para se tratar e nunca fizeram uma autocrítica profunda sobre isso. Mostram com essas posições transfóbicas e reacionárias também o que significa reivindicar a tradição stalinista.

Veja mais: Direção da UNE dá voz às forças do Estado burguês no CONUNE: lutemos por uma UNE independente

Como alternativa a essa oposição que o PT gosta, precisamos de uma verdadeira oposição para combater a direção majoritária da UNE, por isso, desde a Faísca Revolucionária estamos impulsionando juntamente com outros setores a necessidade de um Bloco por uma UNE Independente dos governos e das reitorias.




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