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Movimento Estudantil | A USP quer acabar com o curso de Letras: é preciso construir uma forte greve!

A USP entra na posição 85 do ranking das 100 melhores universidades do mundo. Porém, isso ocorre enquanto os estudantes denunciam falta de professores e de permanência estudantil em diversos cursos e se inicia uma mobilização estudantil contra o sucateamento da educação pública.

segunda-feira 28 de agosto de 2023 | Edição do dia

Você sabia que o curso de Letras da USP está com risco de acabar?

Há anos, o curso vem sendo desmontado pela crescente falta de professores. O abandono que sente a Letras começa desde sua estrutura, se estabelecendo em um prédio supostamente provisório “há 40 anos”. Assim como a Reitoria da USP não tem a menor intenção de reestruturar o curso em um local com capacidade para ser definitivo, ela também não tem intenção de contratar os professores necessários para salvar o curso. Anos de uma política de negligência no curso culminaram na drástica situação de necessitar de mais 80 professores. Entre as absurdas situações vividas pelos alunos da “universidade de excelência”, podemos mencionar:

No português, a habilitação que a grande maioria dos estudantes faz, é frequente a superlotação de salas, com estudantes sentando no chão para ter aula, além do de desaparecimento de várias matérias optativas (que, apesar do nome, são créditos obrigatórios para concluir a graduação). A habilitação de coreano, a única existente no país, corre o risco de acabar, pois há apenas 1 docente para toda a demanda, sustentando sozinho o peso da formação nacional em estudos coreanos. Na habilitação de espanhol, os graduandos tiveram que atrasar em um ano a própria formação, pois não havia professor para oferecer uma matéria inicial de língua espanhola. A habilitação de japonês pode deixar de existir por não ter professores, em especial no período noturno, em que a situação já é de sobrecarga de trabalho por parte dos professores, para tentar impedir que seus alunos não consigam se formar e tenham que abandonar o curso.

Esses são apenas alguns exemplos de como a falta de professores já acarreta em um ataque à permanência estudantil, com estudantes que não conseguem pegar matérias, atrasando ou impedindo a conclusão da graduação. E situação precária nas matérias que existem, como turmas lotadas com alunos assistindo aula sentados no chão. Para tentar mascarar esse enorme rombo no curso de Letras, a política da Reitoria é contratar professores temporários de maneira precária, o que só contribuiu para este desmonte. São profissionais com mestrado ganhando 1500 reais, com doutorado ganhando 1800, para formar os estudantes da melhor universidade do país. Além disso, os temporários não têm direitos e garantias da USP, podendo ocorrer o mesmo que nas Artes Visuais que iniciou o semestre com 11 disciplinas canceladas pela demissão de professores temporários do dia para a noite. Habilitações da Letras, como o inglês, só sobrevivem por esses contratos temporários e precários. Há também professores "palestrantes", que foi uma forma dos departamentos tentarem suprir a falta de professores usando a verba que seria destinada a palestras. Sobrecarga de trabalho para os professores, que pegam mais aulas para lidar com esse problema, mas são incapazes de lidar com tantas matérias. Além disso, é cada vez mais normalizada a sobrecarga de trabalho para os professores, e o adoecimento sistemático destes, que pegam mais aulas mas sozinhos são incapazes de lidar com tantas matérias. Na situação atual, não é mais possível esconder o rombo que existe na Letras, é preciso exigir a contratação titular dos 80 professores faltantes via USP e a volta do gatilho automático!

Durante o primeiro semestre de 2023, os estudantes buscaram se articular pela contratação de professores, através de assembleias e paralisações que buscavam uma resposta da Reitoria. Em uma audiência pública na ALESP, iniciativa dos estudantes, o reitor Carlos Carlotti foi obrigado a receber um dossiê, elaborado pelo CAELL (Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários) junto com estudantes, professores e departamentos, que apresentava a situação de desmonte do curso. Todas as tentativas foram ignoradas pela Reitoria, mas também pela diretoria da FFLCH. Agora, é preciso construir uma forte greve: nada nunca nos foi dado, tudo sempre foi arrancado! A única língua que a Reitoria da USP entende é a da luta, sempre foi assim. Só assim foi possível arrancar contratação, mas também cada direito conquistado de permanência estudantil, como as cotas.

O curso de Letras aprovou em assembleia estudantil uma paralisação, para os dias 29 e 30 de agosto, com indicativo de greve em setembro. Os estudantes demonstraram disposição para conquistar as contratações se organizando em comissões das diferentes habilitações, e conseguindo o apoio de seus respectivos professores. Por isso, é preciso também que a mobilização fortaleça a auto organização dos estudantes, junto com os outros dois setores que compõem a universidade. Ou seja, é preciso unificar a luta com todos os estudantes da Letras, e com os professores e funcionários, e massificar, expandindo para se articular com outros cursos, para que a Letras não fique isolada. A única maneira de construir uma luta vitoriosa é com estudantes tomando em suas mãos os rumos desta, para isso as comissões de estudantes podem cumprir o papel de chegar em cada um dos estudantes do curso, organizá-los para poder fortificar a luta da Letras rumo aos outros cursos e institutos da universidade.

Assim, confiar nas forças da auto organização também significa declarar zero confiança na Reitoria e na diretoria da FFLCH. Se a Reitoria se nega a reconhecer a situação da Letras, como faz Carlotti mas também a vice-reitora Maria Arminda (ex-diretora da FFLCH), o atual diretor da faculdade, Paulo Martins, tem lavado suas mãos e tirado seu corpo fora da responsabilidade do desmonte do curso. É preciso batalhar pela abertura do livro de contas da universidade, para que se saiba para onde vai o dinheiro da universidade, se não está indo para a contratação. Enquanto os estudantes sofrem com a falta de professores, os trabalhadores da USP sentem os impactos da falta de funcionários e da sobrecarga de trabalho. Sem falar da situação das trabalhadoras terceirizadas, que estão nos postos mais precários e não têm direito nem ao bilhete gratuito do ônibus circular da USP para poder ir trabalhar. São os estudantes, professores e trabalhadores os que sentem diariamente os impactos do sucateamento da universidade, então, é preciso questionar: para onde vão os 5,8 bilhões da USP?

Na "universidade de excelência" que subiu no ranking das melhores do mundo já são diversos cursos que sofrem risco de fechamento, além da Letras. Na EACH os estudantes entraram em greve no semestre passado pela contração de professores, além do ataque ao curso de Artes Visuais na ECA, e a falta de professores em outros cursos do instituto, como a Música. O conhecimento das humanidades está sendo atacado com um processo incisivo de sucateamento e desmonte. Aí fica claro o objetivo por trás dos ataques e a negligência das instâncias universitárias: existe um projeto de transformar a USP cada vez mais em uma universidade que sirva aos interesses dos grandes empresários e bancos. É nesse objetivo que os interesses da Reitoria e do governo de SP se alinham: não à toa o governador Tarcísio de Freitas, na semana que cometeu sua primeira chacina, foi convidado pela Reitoria para um evento na Poli. Com o Novo Ensino Médio tudo isso se conecta ainda mais: para quê cursos que fomentam as artes, a cultura e o pensamento crítico se a educação deve servir para a farsa do "empreendedorismo", que nada mais é do que um futuro de precarização da juventude? É esse novo ensino médio que o governo Lula-Alckmin já anunciou que não irá revogar.

A mobilização da Letras deve ser também pela revogação integral do Novo Ensino Médio, uma pauta que só tem a fortalecer a luta dos estudantes de Letras contra o conjunto do desmonte da educação pública. Se a reitoria e os governos pretendem rebaixar a educação pública superior, como vemos com a falta sistêmica de professores em diversos cursos, o caminho para lutar deve ser se aliar aos setores da educação que também estão sendo atacados, como os professores e os secundaristas, estudantes de ETECs. Não sempre essa ligação diz diretamente sobre o futuro dos estudantes de Letras, que em sua maioria já trabalham ou vão trabalhar na educação, mas essa demanda também seria capaz de unificar com pautas dos cursos como a Ciências Sociais, em que os estudantes estão sem perspectiva de futuro emprego devido à reforma do ensino médio.

É preciso unificar as lutas com todos os cursos que estão sendo desmontados, assim como com os demais setores da universidade, os professores e trabalhadores, para que a mobilização na Letras não fique isolada. Pelo contrário, que ela possa fortalecer a luta e impor para a reitoria e o governo a defesa incondicional da educação pública, contra o projeto privatista e a reforma do ensino médio, e por contratação imediata de mais professores, funcionários e permanência para toda a demanda! Nesse sentido, também é papel do DCE Livre da USP, composto pelo Juntos!, Correnteza e UJC que também dirigem vários Centros Acadêmicos nos campi da universidade, organizar assembleias e passagens em cada curso para disseminar essa luta.




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