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POR TODAS ELAS E A GRANDE MÍDIA | A cultura do estupro e a mídia que esconde a luta das mulheres

Depois de um dia em que os atos “Por Todas Elas” em mais de onze cidades reuniram dezenas de milhares de mulheres protestando contra a cultura do estupro, a violência às mulheres e também o governo golpista e machista de Temer, praticamente não se encontram notícias sobre isso nos principais jornais da grande mídia

quinta-feira 2 de junho de 2016 | Edição do dia

Na Folha de São Paulo, um dos jornais de maior circulação em São Paulo, podemos ver o retrato de algumas importantes lutas que ocorreram ontem na cidade. A foto principal de capa retrata o importante ato do MTST e da Frente Povo Sem Medo na Avenida Paulista, que ocupou o prédio do escritório da Presidência da República em São Paulo, foi duramente reprimido pela polícia deixando feridos e seis presos, e obrigou o governo Temer a recuar, garantindo que manterá o programa Minha Casa, Minha Vida Entidades.

A capa de seu caderno Cotidiano é dedicada inteiramente à greve da USP, particularmente a dos trabalhadores do Hospital Universitário e o desmonte que este vem enfrentando. Há números e dados que mostram concretamente aspectos desse grave ataque à saúde pública.

Contudo, o ato que reuniu cerca de 15 mil pessoas ontem na Avenida Paulista, sobretudo mulheres, e que ocorria simultaneamente a atos em diversas cidades recebeu apenas duas pequenas fotos em páginas separadas, com duas ínfimas legendas comentando essa luta fundamental.

Foto do ato na Folha ao lado de imensa propaganda das Casas Bahia.

N’O Globo, um dos mais importantes jornais cariocas, que circula na cidade onde ocorreu o estupro coletivo bárbaro que levou à organização dos atos, e cujas mulheres reuniram ontem nas ruas um número de cerca de 10 mil pessoas para manifestar seu repúdio, também mal se via menção a essas mobilizações. Parecia que tudo continuava normal.

As matérias, quando existiam, eram sobre a prisão dos suspeitos de estupro pela polícia. Porque, para essa mídia que é conivente com essa sociedade misógina, machista e reprodutora da cultura do estupro, a única resposta que se pode dar é por meio da polícia, uma instituição que é em si mesma mantenedora dessa cultura, que pratica ela mesma inúmeros estupros contra mulheres nas periferias e que permanecem impunes.

Não noticiar a importante luta das mulheres em todo o país não é um mero “erro”: é uma forma ativa de tentar boicotar a organização das mulheres para lutar, com suas próprias forças e ao lado dos estudantes e trabalhadores organizados e em combate contra os governos e patrões, as suas demandas. O fato de que em todas as manifestações as demandas contra a cultura do estupro tenham se ligado à luta contra o governo Temer é também algo preocupante para os donos dessas mídias, porque implica em uma primeira tomada de consciência de que o caminho para acabar com a opressão às mulheres passa por um questionamento mais profundo aos governos e ao regime político que sustenta essa cultura do estupro e essa opressão às mulheres.

Por isso, é fundamental fortalecermos ferramentas como o Esquerda Diário, que possa dar voz e visibilidade a essas lutas fundamentais, para que possamos cada vez mais articulá-las e lutar como um só punho contra essa mídia, esse Estado, essas igrejas e patrões que são os responsáveis por perpetuar a cultura do estupro.




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