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Greve USP | A greve geral dos estudantes da USP desmascara o projeto burguês da universidade

Nesta segunda-feira, todos os cursos da FFLCH repudiaram com piquetes e em ato a ação autoritária da direção da faculdade de fechar todos os prédios, expulsando os estudantes e professores das salas de aula. O objetivo da direção da faculdade, alinhada aos interesses da reitoria, era boicotar a organização dos estudantes de letras que iriam se reunir em assembleia no período noturno. Esta ação autoritária de Paulo Martins, diretor da faculdade, demonstra dois fatores: o projeto burguês da Universidade de São Paulo e sua direção, e o medo da mobilização dos estudantes que questionam os rumos da precarização e privatização da universidade.

sexta-feira 22 de setembro de 2023 | Edição do dia

A Universidade de São Paulo (USP) recebe condecoração dentro do campo acadêmico como melhor universidade da América Latina, ao mesmo tempo que mantém cursos com enorme falta de professores e funcionários nas unidades, avança na terceirização em todos os campi, falta de permanência e bolsas. Esta contradição é sustentada porque os objetivos da universidade não estão voltados para servir a população, pelo contrário, faz questão de manter a classe trabalhadora fora dos seus espaços, seja com o vestibular ou com as catracas e controle de acesso.

A dinâmica de decisões da universidade é realizada, em última instância, pelo Conselho Universitário (CO), um órgão antidemocrático que conta até com a representação de federações patronais como a Fiesp e a Febraban. Dentro do CO as cadeiras são distribuídas entre diretores de unidades de ensino, museus, representantes das congregações, depois três representantes para cada categoria, professores doutores, titulares e os funcionários. Os estudantes possuem apenas 15 representantes, 10 da graduação e 5 da pós. Proporções ridículas frente a composição da universidade, pois majoritariamente são estudantes, funcionário e docentes, ao passo que diretores das unidades uma ínfima minoria entre a burocracia acadêmica.

Além dessa composição no órgão deliberativo, o mercado financeiro que possui um representante, possui aliados diretos na burocracia universitária, as direções e chefes de institutos que passa a política de privatizações entregando unidades, como HU, a fundações privadas, tentam criar um fundo patrimonial (endowment) para arrecadação de doações de empresários A privatização também entra na USP com a terceirização, que contrata diferentes empresas, muitas delas do mesmo dono ou aglomerado, buscando aplicar um lógica de separação entre trabalhadores efetivos e terceirizados, pagando salários baixíssimos e péssimas condições de trabalho a estes.

No requisito formação acadêmica, vemos cada vez mais deterioração, principalmente em cursos que não são tão produtivos para lógica capitalista. A defasagem de professores, por exemplo, é geral, todos os cursos sofrem, mas o desprezo com cursos da FFLCH, ECA e FEUSP, que não vão receber muito investimento do setor privado, coloca para esses cursos o risco de inexistência. Na Letras foi oficialmente cancelado o processo de ranqueamento para a Habilitação de Coerano, o que significa que 2024 não terá uma novata turma na língua e cultura coreana, além que devemos falar que processo que acaba cumprindo o papel de segundo vestibular, que os alunos são obrigados a disputar que habilitação vão fazer.

O caso da EACH é de se indignar, um campus que foi criado de modo acelerado, com debilidades na infraestrutura durante o governo do estado de Alckmin. O Campus Leste em São Paulo, a Escola de Artes, Ciências e Humanidades, não recebeu aumento do repasse de verbas necessárias, as gestões de reitoria não garantiram repasse para os 11 cursos. Os cursos de Obstetrícia, Gerontologia e Educação Física e Saúde, que contam com grande contingente de estudantes mulheres, frente a ocupação com desmonte recebendo um justificativa sórdida por parte da reitoria, que são cursos de “humanidades” e não na área da saúde, justificando a falta de investimentos suficientes para mantê-los.

Outro risco de inexistência das humanidades, e aqueles que possam ser enquadrados, passa também pela preparação da USP para o Novo Ensino Médio, ataque neoliberal à educação pública que o governo Lula-Alckmin faz questão de não revogar, na verdade, sustentam. Se não existe mais obrigatoriedade ou é reduzido drasticamente a carga horária destas disciplinas na educação básica, consequentemente, não há necessidade de formação de professores nas diversas áreas como filosofia, sociais, história, geografia, e línguas. A relação com diversidade cultural também cai por terra, os vários campos artísticos que podem motorizar a criatividade e o senso crítico dos alunos vão perdendo espaço para itinerários que ensinam a ser “próprio empreendedor”.

A correspondência entre os objetivos da educação, seja básica ou superior, com a necessidade do mercado, é resultado da regra geral do capitalismo, como angariar mais lucro. Os termos da USP são determinados historicamente pela política do governo do estado, que hoje na figura de Tarcísio Freitas (republicanos), que busca privatizar o máximo de serviços públicos durante seu governo, o Metrô, CPTM e Sabesp passam por essa ameaça.

O medo da mobilização dos estudantes é que inflame outros setores e que haja um questionamento mais profundo do projeto burguês da universidade. Adusp em assembleia aprovou paralisação do dia 20 até dia 26/09 em apoio, o Sintusp esteve presente nas assembleias de cursos que debateram greve e os trabalhadores votaram apoio a luta dos estudantes. Na noite da terça-feira(19) na assembleia geral dos estudantes, convocada pelo DCE-livre da USP,foi aprovada a reivindicação do direito ao BUSP para as trabalhadoras terceirizadas, pauta encabeçada pelo Manifesto contra a terceirização e precarização.

A luta atual do movimento estudantil que decretou greve por mais contratações e contra a precarização, deve lutar pelo fim do projeto burguês da universidade e não confiar nesta burocracia encastelada, que faz demagogia com os estudantes por medo das mobilizações e no fim não nos garante nada. É papel do DCE-livre da USP e de todos os CAs, principalmente dos cursos que decretaram greve, desmascarar esse projeto e massificar a luta. Isso passa por não acreditar em reuniões protocolares e falsas promessas sem data. A demanda é urgente e imediata, é preciso impor a reitoria dar uma solução também imediata. Como maneira de fortalecer esta luta é necessário ir para as ruas, sair dos muros da universidade e ganhar o apoio da população, ligando com as outras lutas em andamento como Metro, CPTM e Sabesp.

Lutar contra os ataques atuais deve levar ao questionamento da estrutura de poder encastelada e antidemocrática da universidade. Lutar por uma estatuinte livre e soberana para que estudantes, trabalhadores e docentes possam decidir juntos o rumo da universidade. Deste modo podemos caminhar para uma educação e uma universidade voltada para as necessidades da classe trabalhadora e da população, opondo-se ao atual modelo que serve para precarizar, privatizar e perseguir os lutadores. Assim os filhos e classe trabalhadora possam ter acesso ao ensino superior de modo gratuito, impondo um fim no vestibular que serve como filtro social e racial.




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