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Greves na França | Airbus, Air Liquide, AIA: novas greves por 10% de reajuste seguem o exemplo das refinarias na França

Operários da Airbus, Air Liquide, Ponticelli Frères... Diversas categorias estão em greve há vários dias na França por reajuste dos salários diante da inflação que atinge a Europa. Todos têm uma coisa em comum: os grevistas exigem um aumento de 10%, como os petroleiros que vêm sendo o grande exemplo dessa luta pelos salários. Seriam os primeiros sinais de contágio da luta dos refinadores no movimento operário?

segunda-feira 24 de outubro de 2022 | Edição do dia
Fotos: NICOLAS TUCAT / AFP

Durante vários dias, diferentes setores do movimento sindical entraram em greve com várias reivindicações, mas com dois pontos em comum: o de entrar em greve renovável, como é chamado na França o processo de greves de duração decidida em assembleias de base periódicas, e a exigência de um aumento salarial de 10%, como nas refinarias da Total e Exxon.

Nesse sentido, a paralisação geral convocada na terça-feira, 18 de outubro, foi uma oportunidade para muitos setores se mobilizarem por seus salários. Por exemplo, no Atelier Industriel Aéronautique (AIA) em Clermont Ferrand, os trabalhadores estão em greve “pelo aumento dos salários e em apoio aos refinadores”. No site, os funcionários explicam que estão lutando por um bônus de €100 para todos os funcionários. “No momento, há perda de até 40% neles, especialmente entre os mais precários”, explica Bastien Laborde-Balen, vice-secretário da CGT AIA ao jornarl La Montagne. Acima de tudo, a greve dos refinadores da Total e da Exxon permitiu que eles exigissem em alto e bom som um aumento de 10% em seus salários, uma demanda que eles têm desde 2019.

Também na aeronáutica, a greve dos refinadores inspirou mais de uma fábrica. Na Daher Logistics, subcontratada da Airbus, os funcionários entraram em greve na semana passada por um aumento salarial de 10% e um “bônus Macron” de 1.000 euros. Esta semana, foi a vez da Airbus, no local da linha de montagem do A320 em Toulouse, entrando em uma greve de várias dezenas de funcionários que exigem aumento de 10%, a reavaliação dos bónus e a contratação de trabalhadores temporários.

No Canal da Mancha, foi na agência Brix da empresa Ponticelli Frères, grupo especializado em elevação, tubulação industrial ou caldeiraria nas indústrias nuclear e petroquímica, que 70% dos funcionários entraram em greve nesta terça-feira. Enquanto o faturamento desta empresa - que mantém todas as usinas nucleares na França - é estimado em 327 milhões de euros para 2022, os funcionários consideram que obter um aumento de 10% é bastante viável. “Sabemos que nossa empresa é um pequeno tesouro, que está indo muito bem. Sabemos que podemos exigir deles”, disse ao La Presse de la Manche David Cordier, representante sindical eleito da CGT. No piquete, os funcionários também fizeram conexões com a greve dos refinadores, e o sindicalista explicou, ainda ao mesmo jornal: "Temos colegas em Notre-Dame-de-Gravenchon, em Le Havre, que se solidarizam com os grevistas da Total ou da Exxon Mobil».

Para o Air Liquide, grupo industrial especializado em gases industriais que faturou 14,31 bilhões nos primeiros meses de 2022 graças ao aumento dos preços da energia, é em Isère que se ouve o descontentamento. Lá eram mais de cem na terça-feira para reivindicar um aumento de 10%, bem como o pagamento por horas de greve. “Nós, desde o início do ano, tivemos pequenos aumentos enquanto os lucros da Air Liquide são recordes. De ano para ano, a parcela dos dividendos aumenta em porcentagem”, explica Nicolas Rebutin, representante sindical da CGT, ao Franceinfo. Os trabalhadores também votaram pela renovação da greve, expressando o desejo de obter aumentos para todos.

Nos Alpes-de-Haute-Provence, em Manosque, 40 trabalhadores da clínica “Tous Aures” renovaram sua greve na terça-feira após a reunião com a direção. Como o Haute Provence Info relata, com a patronal alegando um aumento de 10%, finalmente os grevistas decidiram exigir um aumento de 20%!

Aumento de 10%: um primeiro sinal de contágio do movimento das refinarias

Mesmo sendo obviamente parciais, os fenômenos de greve descritos acima são uma expressão da situação e das potencialidades do movimento. Depois de um hiato de lutas operárias durante o período da pandemia que se seguiu à histórica batalha contra a reforma previdenciária na França, a greve dos refinadores mostrou o caminho para o método de greve renovável e para demandas pelas quais os trabalhadores e trabalhadoras sentem que vale a pena se mobilizar.

De fato, a demanda por um aumento de 10% parece ter ganhado terreno no país. Enquanto desde o início da pandemia de Covid a maioria das disputas dos trabalhadores se concentrou na obtenção ou aumento dos “bônus” como uma demanda principal, a greve dos refinadores poderia muito bem ter marcado um ponto de virada: parece ter espalhado a vontade de não apenas alcançar a inflação, mas também melhorar o padrão de vida, com a demanda por aumentos indo além da inflação. E para atender a essa demanda, as greve renováveis ​​estão em vias de se firmarem como ferramenta essencial para o estabelecimento de uma relação de forças favorável.

Por outro lado, a greve dos refinadores, mas também os poucos fenômenos grevistas que se seguiram, expressam as potencialidades de transbordamento do calendário de negociações imposto pelos empregadores. Na Ponticelli Frères, por exemplo, os funcionários pedem que as Negociações Anuais Obrigatórias (NAO) sejam antecipadas para o final de outubro em vez de serem realizadas em dezembro, demonstrando o desejo de obter aumentos salariais imediatamente. Na Air Liquide, Jérôme Delmas, eleito titular do Comitê Social e Econômico pelos trabalhadores, também manifesta o seu cansaço com o calendário de negociações, ainda ao Franceinfo : A única resposta que tivemos, foi adiantar a primeira reunião anual obrigatória, mas isso, issso concerne aos salários do próximo ano, enquanto a inflação é agora.»

Esses fenômenos expressam um radicalismo do qual os empresários e o governo estão bem cientes. Vejam os esforços para acabar com a greve dos refinadores o mais rápido possível - incluse ameaçando os grevistas de prisão - esforços também testemunhandos nos editorialistas da imprensa patronal expressando sua preocupação em ver essa greve se espalhar por todo o mundo do trabalho: "Greve: pondo fim a uma dinâmica mortífera", assim intitula uma crônica de Les Échos em que seu autor pressiona o governo Macron, perguntando-lhe: "Será que o atual executivo, ao fim, terá coragem de não ceder a essa violência organizada?»

E por uma boa razão: a multiplicação dessas greves pode começar a desferir um grande golpe nos capitalistas franceses, como já aconteceu com a greve dos refinadores da Total Energies. "A balança de poder nunca esteve tanto a favor dos trabalhadores", explica à revista

Ouest France

, é um forte exemplo de um caminho para desenvolver a luta contra o reacionarismo bolsonarista, incrustado em um regime mais à direita, e pela revogação de todas as reformas e privatizações que vêm descarregando a crise na classe trabalhadora e nos setores mais vulneráveis. Por isso nós do MRT e do Esquerda Diário chamamos às centrais sindicais como CUT, CTB, bem como a UNE (entidades nacionais dirigidas pelo PT e pelo PCdoB) a que rompam a sua trégua com os ataques e organizem um plano de lutas para, como na França, unificar a nossa classe.




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