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UFABC | Assembleia Geral da UFABC: Novos Encaminhamentos e Velhos Problemas

Na última segunda-feira (2), depois da pressão dos estudantes por quererem respostas concretas frente ao aumento do RU e a proibição de assistir aulas no contraturno, finalmente ocorreu a Assembleia Geral dos Estudantes da UFABC, mas a pergunta que ficou é: como fazer com que a UFABC se mobilize, seguindo o exemplo da USP, e agora Unicamp, retomando os métodos de greve, piquete, ocupações para fazer com que nossas reivindicações sejam ouvidas?

EnneEstudante de BCH/Filo/RI na UFABC e militante da Faísca Revolucionária

Gab CostaEstudante de LCH na UFABC e militante da Faísca Revolucionária

quarta-feira 4 de outubro de 2023 | Edição do dia

Na última segunda-feira (2), depois da pressão dos estudantes por quererem respostas concretas frente ao aumento do RU e a proibição de assistir aulas no contraturno, finalmente ocorreu a Assembleia Geral dos Estudantes da UFABC, chamada pelo DCE (Correnteza, UJC e Psol) junto com os CAs, fruto de uma reunião das entidades que ocorreu depois de uma ampla campanha da juventude Faísca questionando a não implementação das resoluções da Assembleia de 09 de Agosto. Além dos CAs, por iniciativa da Faísca, as licenciaturas tiveram um Comitê de Mobilização que passou nas salas de aula, construiu um debate com os estudantes e buscou conectar as demandas mais sentidas na base com as lutas dos metroviários, ferroviários, trabalhadores da Sabesp e estudantes da USP em greve. Nessa nova Assembleia, que reuniu cerca de 80 alunos, aprovaram-se diversos encaminhamentos, mas a pergunta que ficou é: como fazer com que a UFABC se mobilize, seguindo o exemplo da USP, e agora Unicamp, retomando os métodos de greve, piquete, ocupações para fazer com que nossas reivindicações sejam ouvidas?

O retorno das aulas nesse 3° quadrimestre foi marcado pelo aumento abusivo do preço do RU, a falta de professores que ocasiona a falta de disciplinas para que os estudantes possam se formar, levando aos chutes e a proibição de assistir aulas no contraturno das matrículas, uma decisão da Prograd para “evitar superlotação” nas salas de aula, além da continuidade da falta de bolsas socioeconômicas e longas filas dos fretados. Apesar da Assembleia de 09 de Agosto, no final do quadrimestre passado, ter indicado assembleias gerais em frente ao RU e proposta de catracaços, a gestão ‘Estudantes de luta - Oposição do DCE’ não garantiu a implementação, assim como a exigência à UNE aprovada apesar do Movimento Correnteza. No lugar disso, se realizou um fracassado ato político com entrega de marmitas por um único dia, uma ação simbólica que servia apenas para tirar fotos deles mesmos comendo enquanto se naturalizavam os ataques à permanência estudantil. Isso se agravava pela audiência pública fake da Reitoria, onde o Reitor sequer apareceu (provavelmente se preparando para ir a Roma se encontrar com o Papa), deixando claro que não haverá negociação ou atendimento das reivindicações até que se sinta obrigado a fazê-lo.

Motivos para se mobilizar não faltam na UFABC: sem moradia estudantil, tendo o RU mais caro do Estado de São Paulo e com o aumento dos chutes das disciplinas, centenas de estudantes estão sentindo na pele a precarização da educação que vem desde os cortes da "Pátria Educadora" no governo Dilma, mas que se intensificaram com o golpista Temer, e nem falar do bolsonarismo. O governo de frente ampla Lula-Alckmin, por sua vez, bloqueou mais de 300 milhões da educação e mantém as reformas trabalhista, da previdência que se combinam a Reforma do Ensino Médio, que busca desenvolver um projeto de educação que corresponda ao projeto de país do Golpe Institucional, no qual a juventude não tem direitos trabalhistas, direito à aposentadoria e precisa desenvolver uma ideologia de empreendedorismo, em que cada indivíduo se responsabilize pela sua vulnerabilidade social. Um ataque que aprofunda o abismo entre educação pública e privada no Brasil, enfraquece a formação dos alunos filhos da classe trabalhadora e que se relaciona com a liberação de mais de 6 bilhões para o Lehman Brothers dominar parte do MEC favorecendo as iniciativas privadas, daqueles que defendem até a cobrança de mensalidade nas universidades públicas.

Novos encaminhamentos, velhos problemas

A Assembleia então ocorreu em meio a processos interessantes, como a reorganização dos CAs e um papel ativo de convocação dos estudantes, além da realização do Comitê de Mobilização que, apesar dos esforços de unidade para uma atuação conjunta de mobilizar os estudantes, não contou com a atuação do movimento Correnteza.

Embora reunisse cerca de 80 estudantes, mostrando uma ampliação dos setores que vinham nas últimas assembleias, a condução desse espaço, que deveria ser de máxima democracia do movimento estudantil, foi extremamente burocrática, com uma mesa que durou mais de uma hora, enquanto a proposta inicial era que a base dos estudantes falasse apenas 2 minutos. O que não se resolvia com a ampliação para 3 minutos, já que, ainda assim, o movimento Correnteza fez questão de inscrever diversos militantes seus para repetir as mesmas ideias, esvaziando a assembleia na votação das resoluções, em um momento no qual os estudantes não puderam se comprometer com levar adiante as resoluções.

Aqui a forma e o conteúdo estão relacionados. A forma é burocrática, de cima pra baixo, sem dar vazão à raiva e às angústias dos estudantes, porque no conteúdo querem seguir sendo uma gestão de conciliação com a Reitoria, em que seu poder de negociação não está baseado na nossa auto organização e capacidade de mobilizar para impor pela nossa luta as nossas reivindicações, mas, sim, na sua capacidade de contenção do nosso movimento, buscando institucionalizar as pautas em ilusões de que a burocracia universitária supostamente poderia atender às nossas reivindicações se tivermos "um plano concreto" que se paute nas informações que a própria reitoria oferece para justificar a sua própria conduta de “administradora dos ajustes do governo federal”.

Mesmo com todas as tentativas de descomprimir a raiva e questionamentos à Reitoria, muitos estudantes se expressaram indignados com a provocação da reitoria de, mesmo com a greve dos transportes confirmada, manter as aulas permitindo que muitos estudantes fossem prejudicados. Mas não se tratava simplesmente de aprovar mais uma resolução ou de resoluções "mais radicais", se o debate do "como fazer" não se colocar de forma prioritária.

É preciso uma nova tradição de movimento estudantil que confie na nossa auto organização para enfrentar os ataques da Reitoria e do governo

Como colocou Jenifer Tristan, estudante da LCNE e militante da Faísca Revolucionária, apesar da visita de Lula à UFABC inaugurando o prédio do Zeta, não temos professores para ocupar o prédio. O RU e os Fretados seguem sustentados pela precarização do trabalho terceirizado, no qual a Reitoria aposta que os estudantes busquem planos alternativos para não lidar com a falta de estrutura e de funcionários. É urgente que as entidades estudantis se organizem como ferramentas para incentivar a auto organização dos estudantes por curso, podendo cada estudante se sentir parte da construção dessa luta, com espaços verdadeiramente democráticos, onde possam se expressar e definir os rumos do movimento.

Por isso, as assembleias de curso são tão fundamentais, pois são mecanismos mais próximos de cada estudante, nas quais suas demandas mais sentidas e mais imediatas podem ser debatidas e conectadas com as pautas gerais e mais amplas. Para colocar de pé essas assembleias, é preciso de um esforço consciente e um diálogo com gerações de jovens que nunca estiveram em uma assembleia como essa e não conhecem os métodos históricos de luta do movimento estudantil, ainda mais numa universidade tão recente de apenas 17 anos e que sempre teve a frente grupos como o Correnteza que não alentam essa alternativa.

Para quem ler as resoluções da assembleia ou se for um estudante grevista da USP e ouvir a fala da Isis Mustafa, pode-se achar que a assembleia aprovou o início de uma mobilização. Aprovou-se a paralisação, porém… a UFABC paralisou? Não. Apesar da assembleia votar a paralisação, as ações não dependem de uma boa formulação ou uma boa fotografia, mas, sim, da construção de uma força material e orgânica que leve adiante essas resoluções. Sem centenas de estudantes que assumam para si a necessidade de paralisar as aulas, bloquear com piquetes as entradas dos prédios, dialogar com seus colegas de sala, ganhar o apoio dos professores e funcionários e buscar dialogar com a população demonstrando que somente os estudantes organizados podem defender a educação pública - já que a reitoria só se importa com os hackings internacionais enquanto passamos fome ou ficamos sem condições de chegar no campus - não há paralisação. São novas resoluções para os velhos problemas de que nada é levado a sério por essa gestão, tudo acaba sendo simbólico ou uma grande comemoração descabida, enquanto os nossos problemas seguem vigentes.

Por isso, frente às eleições para o Diretório Acadêmico das Licenciaturas, o DALI, nós da Faísca vamos batalhar por uma chapa comunista que busque tirar lições dessa experiência recente conectando com as experiências mais profundas do movimento estudantil dos últimos anos. Nos apoiando no Movimento Nossa Classe Educação, hoje à frente da Subsede de Santo André da APEOESP, e queremos debater com os estudantes a necessidade de uma luta conjunta entre os licenciandos e os professores numa única luta em defesa da educação à serviço da classe trabalhadora.

A todos que concordam com essas reflexões que buscamos socializar para fortalecer um movimento estudantil independente dos governos e das reitorias para arrancar as nossas reivindicações, pedimos o seu apoio para fortalecer essa nova tradição nas próximas eleições, assim como em cada assembleia de curso que vamos batalhar para que não fique apenas no papel, mas seja o pontapé da nossa verdadeira organização.




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